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Arnaldo César (*)

Charge recebida pelo WhatsApp, autoria desconhecida

Até o mais otimista de todos os otimistas concorda que o Brasil vive momentos estranhos. Ou para ficar com um adjetivo do ministro do STF, Marco Antônio Mello, “dias sombrios”. O quadro só não é mais nebuloso por que os três poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário – continuam funcionando. É bem verdade que aos trancos e barrancos.

Proteger a Corte máxima da Justiça brasileira e o estado democrático de direito é garantir um fiapo de segurança institucional. Imagina-se que tal proteção não cabe apenas aos cidadãos de boa vontade. Os próprios ministros que compõem o STF deveriam ser os primeiros a sair em sua defesa. Numa hora dessas, não há espaços para tibiezas ou discursos bem-comportados.

Na noite de sábado passado (20/10), um edificante vídeo do deputado reeleito Eduardo (PSL-SP), filho do presidenciável Jair Bolsonaro, começou aparecer nas redes sociais. Nele, explica que apenas um cabo e um soldado seriam suficientes para fechar as portas do Supremo e botar seus membros para correr. No jeitão autoritário e sínico que caracteriza a família concluiu: “nem um jipe seria necessário”.

A ministra Rosa Weber foi a primeira a tocar no assunto, no final da tarde de domingo (dia 21/10). Ou seja, quase 24 horas depois. No velho e bom estilo pendular daqueles que adoram uma zona de conforto e odeiam conflitos, a ministra tentou colocar panos quentes na questão, dando a entender que o pai do deputado falastrão já havia desautorizado o filho. E, o dito ficou pelo não dito.

No interior do Rio Grande do Sul, onde a ministra nasceu, foi criada e fez sua carreira como jurista seus conterrâneos (especialmente os que vivem nos pampas) usam a expressão “acadelar” para designar aqueles que não são suficientemente corajosos. A favor da ministra Rosa Weber pode-se dizer que fez o que podia.

Ministros do STF, diante das ameaças, ficaram “dando volta em torno do toco”. (Foto: Nelson Jr. SCO/STF)

No momento em que falou sobre os ataques disparados pelo filho do presidenciável, Rosa Weber estava numa outra saia justa. Tentava convencer um grupo de jornalistas que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), por ela presidido, tinha sido “impecável” na proteção dos eleitores e dos candidatos dos implacáveis ataques cibernéticos a que este pleito foi submetido.

Quando o vídeo do filho de Bolsonaro começou a ser exibido nos telejornais e mereceu matéria de quase cinco minutos no “Fantástico”, ministros do Supremo começaram a dar sinais de saírem da letargia. Sinais tímidos, é verdade. Na ausência do presidente da Corte, Dias Toffoli, em viagem à Veneza, coube ao decano, Celso de Mello, a primeira manifestação. A fez por escrito, para Mônica Bérgamo, da “Folha de S.Paulo“, na qual diz:

Essa declaração, além de inconsequente e golpista, mostra bem o tipo (irresponsável) de parlamentar cuja atuação no Congresso Nacional, mantida essa inaceitável visão autoritária, só comprometerá a integridade da ordem democrática e o respeito indeclinável que se deve ter pela supremacia da Constituição da República!!!!

Coube a Marco Aurélio Mello chamar a atenção para os “dias sombrios” e os “tempos estranhos” que estamos vivendo com as instituições sendo ameaçadas. Já na segunda-feira, Alexandre de Moraes defendeu que a Procuradoria-Geral da República (PGR) – que estranhamente silenciou-se sobre o caso – investigasse o parlamentar pelas “asneiras” ditas de forma “absolutamente irresponsáveis”.

A expectativa, porém, estava no retorno do presidente da Corte que, na tarde de segunda-feira, manifestou-se por nota destacando o que todos já falam há muito tempo e, ao que parece, os ministros do STF, na letargia que lhe é peculiar, somente agora começam a descobrir. Sua nota chove no molhado:

O Supremo Tribunal Federal é uma instituição centenária e essencial ao Estado Democrático de Direito. Não há Democracia sem um Poder Judiciário independente e autônomo. O País conta com instituições sólidas e todas as autoridades devem respeitar a Constituição. Atacar o Poder Judiciário é atacar a Democracia“.

Até a hora em que esse artigo foi editado, os posicionamentos dos demais ministros continuavam sendo um mistério.

Nem todos parecem concordar com estas ameaças. O presidente de outra corte, o Superior Tribunal de Justiça – STJ -, o também ministro João Otávio de Noronha, preferiu debitar toda a balburdia que se formou em torno do boquirroto parlamentar “ao exagero e ao superdimensionamento com que as pessoas estão tratando do assunto”. E, para calar os críticos, que classificou de “exagerados”, emendou: “nitidamente, não vi nenhum interesse de ameaça. A democracia não foi arranhada”.

Apropriando-se de outra expressão típica da terra da ministra Rosa Weber, seus colegas ficaram “dando volta em torno do toco” e não tomaram as providências necessárias para proteger a Corte e coibir que ataques desta natureza fosse repetido por quem quer que seja.

Estimulado pela falta de empenho dos principais magistrados do Judiciário pátrio, outro militante das fileiras dos Bolsonaro, ocupou as redes sociais para despejar uma jamanta de novos impropérios e ameaças aos digníssimos ministros do STF.

Coronel Lima Filho tratou a presidente do TSE como “salafrária, corrupta, ministra corrupta e incompetente”.

Trata-se do coronel Carlos Alves de Lima Filho. Igualmente, boquirroto e autoritário, ele tratou a ministra Rosa Weber como “vagabunda”. E, mais: alertou que “se Jair Bolsonaro não for eleito, no dia 28 vindouro, haverá um banho de sangue neste País, antes do fim do ano”.

O vídeo, bem recente, gravado provavelmente na sexta-feira (19/10), do coronel Carlos Alves é longo. Há impropérios e agressões para todos os tipos e gostos. Trata, por exemplo, a ministra Rosa Weber como “salafrária, corrupta, e incompetente”.

Ele se referia à reunião que ela teve com advogados do PT e do PDT, quando foram pedir investigações em torno das denúncia feita pela Folha, aqui noticiada em “Fake News”: a tragédia anunciada.

Alves não é um inocente qualquer. Uma consulta ao currículo Lattes do coronel percebe-se que ele é graduado e pós-graduado em todos os principais cursos existentes no Brasil nas chamadas “ciências militares”. Portanto, não deveria desconhecer que como magistrada, mais ainda como presidente de um tribunal, é obrigação dela receber as partes de uma causa. Preferiu, porém, partir para o ataque e fazer novas ameaças.

Ameaças, ódio e a truculência tornaram-se o principal fermento dessa sucessão presidencial por conta do candidato Bolsonaro e de suas tropas. Tudo, diga-se de passagem, devidamente avalizado pelas classes dominantes, a classe média alta e pela própria corporação que domina o judiciário brasileiro.

Dá para entender as razões pelas quais, estes altos servidores públicos, que deveriam ser os primeiros a sair em defesa do Poder Judiciário e demais instituições da República, acadelaram-se de maneira tão canhestra.

(*) Arnaldo César é jornalista e colaborador deste blog.

 

 

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6 Comentários

  1. JOSE GOMES DOS SANTOS disse:

    Muita atenção hoje na apuração dos votos. No primeiro turno a votação de Bolsonaro foi de 49.277.010 e de HADDAD foi de 31.342.051, uma proporção de 1,57 que representa aproximadamente 60% por 40% da soma dos votos dois candidatos mais votados. Portanto, 60/40 dá 3/2 que é igual a 1,5. Observe que os institutos de pesquisas contratados pela GLOBO, ESTADAO e FSP na primeira semana após o primeiro turno já estampavam, disfarçadamente, o mesmo percentual: IBOPE – Bolsonaro 59% e HADDAD 41% e DATAFOLHA – Bolsonaro: 58% e HADDAD: 42%. Ora, o segundo turno é uma nova eleição onde os votos dos candidatos menos votados migram para um dos lados. Num passe de mágica o IBOPE e o DATAFOLHA adivinharam o montante de cada um a fim de manter a mesma proporção do primeiro turno. Viu! Para manter isso aí o Bolsonaro tem que ter 1 vez e meia da quantidade de votos do adversário. Olho vivo: não vivemos mais os tempos de contagem manual de votos e fechamento de mapas de apuração de resultados eleitorais, o momento agora é de armazenamento em pen drives, transmissão de dados para unidades centralizadoras, que depuram as informações obedecendo o programa instalado. Tudo virtual, onde o Sr.SISTEMA é infalível e a prova de fraude. Porém, a matemática somente é exata naquilo que ela quer provar. Os algoritmos estão aí para serem usados à vontade.

  2. C.Poivre disse:

    “Ao que parece muita gente não entendeu o resultado do primeiro turno das eleições, então vou tentar explicar de uma forma bem didática. Bolsonaro teve 46% dos votos VÁLIDOS. Ele não teve 46% dos votos de todos os brasileiros. Entendam: Somos quase 150 milhões de eleitores. O “coiso” não teve nem 50 milhões de votos, ou seja, cerca de 100 milhões de pessoas não votaram nele. O problema é que quase 40 milhões de pessoas deixaram de votar ou votaram nulo ou em branco. Os outros quase 60 milhões votaram em candidatos diversos como Ciro, Haddad, Alckmin, Marina, Boulos etc. Resumindo: de cada 3 brasileiros com direito a voto, só um votou em Bolsonaro. O problema é que a galera dele, mesmo sendo minoria, compareceu em peso pra votar, enquanto da galera que é contra ele, metade preferiu ir para a praia. Se todo mundo tivesse ido votar, os votos dele mal chegariam a 32% do total. Talvez ele nem tivesse ido pro segundo turno. Vejam: se todo mundo que não votou ou que votou em outro candidato se unir contra ele, ele não apenas perde, como leva uma lavada de 68% no lombo. Entendam: o eleitor dele é MINORIA. Uma minoria barulhenta e violenta, mas continua sendo uma minoria. Só que não adianta apenas dizer que não concorda com as barbaridades que ele fala se no dia da votação você não for lá na urna e votar CONTRA ele. E votar contra ele, agora, significa votar em Haddad. Vejam meus amigos, a tragédia ainda pode ser evitada. Se você, como eu, votou em outro candidato no primeiro turno, não anule seu voto. A única forma do coisa ruim não vencer a eleição é votarmos no outro candidato. Mesmo que você tenha restrições ao PT, como eu também tenho, é preciso entender que o Brasil é maior do que isso. Precisamos agir com a cabeça e não com o fígado. Não podemos entregar o país nas mãos de um psicopata totalmente despreparado por conta de mágoas com o PT. Se você anulou seu voto ou votou em branco no primeiro turno é sinal de que não concorda com as atrocidades que saem da boca desse demente. Sendo assim, faça sua parte e ajude a impedir essa tragédia. Mais do que nunca o país precisa de você. A única forma dele não vencer é se as pessoas que não votaram no primeiro turno comparecerem em peso e votarem CONTRA ele. Não podemos deixar que uma minoria irracional decida os destinos de nosso país graças ao descaso de uma maioria que decidiu lavar as mãos. Não seja essa pessoa. A omissão nesse momento pode custar muito caro ao futuro de todos nós. Não deixe de votar, não vote em branco e não anule seu voto. Ajude a salvar o Brasil.

    Jesse Fernandes”

  3. João de Paiva disse:

    Esse judiciário, sobretudo em sua cúpula, está tão acanalhado, omisso, cúmplice e conivente com abusos, ilegalidades e crimes, como o de não só chancelar, mas participar de uma trama golpista, que os impropérios ditos pelos Bolsonaro – que sapateiam, escarram, cospem, urinam e defecam (metaforicamente) nos integrantes dos tribunais judiciários – par’cem ‘justos’ e ‘normais’, aos olhos da patuléia. E o generalato, que como junta militar comando o Brasil desde o golpe de 2016, dá guarida aos Bolsonaro, que se sentem encorajados a esculhambar poderes e instituições republicanas apodrecidas.

  4. C.Poivre disse:

    O horror bate à nossa porta. Vamos deixá-lo entrar?

    https://youtu.be/y-eODs-LO-w

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