Marcelo AulerVim ao mundo em agosto de 1955 na extinta maternidade Nossa Senhora de Lourdes, no Boulevard Vinte e Oito de Setembro. Portanto, não sou apenas carioca da gema, mas oriundo de Vila Isabel, terra de Noel, de Martinho da Vila, do samba. Minha criação, junto com seis irmãos, ocorreu na Tijuca, em uma família típica de classe média: minha mãe professora primária do Estado, meu pai arquiteto, projetista.

Com uma rígida formação religiosa e bastante conservadora, um dia até pensei em ser padre, mas a vocação sacerdotal falou mais alto em meu irmão, o hoje monsenhor Gustavo Auler, que desde 1981, quando foi ordenado, dedica-se à vida religiosa.

A queda pelo jornalismo surgiu no chamado científico (hoje ensino médio), no Colégio Marista São José, da Rua Barão de Mesquita, na Tijuca. Ali, na condição de relações públicas do grêmio, me incumbiram do boletim de notícias das olimpíadas internas, ao mesmo tempo em que frequentei diversas redações de jornais, rádios e televisões para divulgar as atividades estudantis, como o Festival da Canção do Passarinho.

Vivíamos os anos de chumbo da ditadura militar que minha família sempre apoiou. Mas, nos bancos do colégio da Rua Barão de Mesquita, entre os anos de 1971 e 1972, surgiu minha conscientização política, graças ao então capelão, Padre Bruno Trombetta – que mais do que um professor, tornou-se grande amigo – assim como um quarteto de irmãos maristas – Aleixo Maria Autran, Carlos Eduardo Zanatta. Roberto Simão e Roberto Cheib, o único que ainda está entre nós. A situação política do país, nesse anos de chumbo, era discutida na Missa do Porão, uma celebração feita por Trombetta, às 18H00 de domingo, no porão da Igreja Nossa Senhora da Conceição, na Usina da Tijuca.

Que eu lembre, não se falava ainda de Teologia da Libertação ou Comunidades Eclesiais de Base, mas aprendemos que a prática religiosa ocorria com o engajamento social e a preocupação em lutar por um mundo mais justo e fraterno.

O ingresso na Rádio Globo como estagiário surgiu como um desafio do então redator Edson Nequetti. Para desestimular meu interesse pelo jornalismo, surgiu o convite em uma das minhas idas ao prédio da Rua do Russel: “nas férias vem fazer um estágio aqui e ver como isto é uma merda”. Foi em 1972, mas só consegui a vaga em 1974 depois de, em janeiro de 1973, ser barrado pelo então diretor de jornalismo, Mário Franqueira, com o argumento de que menor de idade não podia entrar na rádio, considerada um “ambiente de prostituição”. Ao estrear como rádio-escuta, em pleno feriado estadual (na época, vivíamos na Guanabara) de 20 de janeiro, além da maioridade eu já estava matriculado na Faculdade de Comunicação Hélio Alonso.

Muito me ajudou na formação profissional o trabalho em três cidades diferentes – Rio, Brasília e São Paulo -, que me permitiu testemunhar passagens importantes da nossa história contemporânea assim como participar de grandes coberturas em momentos fundamentais do nosso jornalismo.

Da mesma forma, robusteci meu currículo e meu aprendizado ao trabalhar nos principais órgãos de comunicação do país, fosse como contratado ou mero colaborador: Rádio Globo, O Globo, O Pasquim, Jornal Movimento, Revista Manchete (no Rio, entre 1974 e 1978); Sucursal do Jornal do Brasil e Jornal de Brasília (Brasília de 1978 a 1980); Folha de São Paulo, Jornal Informática Hoje, revistas Balanço Financeiro e Isto É (São Paulo de 1980 a 1986); Revistas Administração & Marketing e Isto É, Jornal Retrato do Brasil, Jornal do Brasil, Revista Veja, Jornal O Dia, Carta Maior (site) no mínimo (site), TV Alerj, sucursal de O Estado de S. Paulo, ACERP/TV Escola, Consultor Jurídico (site), Revista Carta Capital, Jornal Lance!, Jornal do Brasil (on line). Estes, entre 1986 e 2013, no Rio de Janeiro.

Fora das redações, foram três experiências: assessor para assuntos comunitários na Secretaria Estadual de Educação em São Paulo, com o secretário Paulo de Tarso Santos, no governo de Franco Montoro (1982); Assessor de Imprensa da diretoria da Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social – Dataprev (2003/2005) e, finalmente, Assessor da Comissão estadual da Verdade do Rio de Janeiro (2013).

Em 2008, por iniciativa de Pedro Paulo Negrini, uma antiga fonte que se tornou grande amigo, fiz minha primeira incursão no campo editorial ao participar com ele e Renato Lombardi da confecção da segunda edição do livro “Enjaulados – Presídios, Prisioneiros, Gangues e Comandos” (Editora Gryphus). A mim coube escrever sobre as facções criminosas do Rio. Quatro anos depois, com o também amigo Antônio Carlos Biscaia, lançamos “Biscaia” (Editora Cassará), uma biografia autorizada.
Fica a convicção de ter dado o melhor de mim, mas também a certeza de que ainda há como contribuir com o jornalismo, depois de tudo o que aprendi e acumulei ao longo desses anos. Nesta contabilidade, sem dúvida que posso me vangloriar das amizades conquistadas, sejam as talhadas nos bancos escolares, que perduram até hoje, entre os colegas de profissão, ou mesmo com as muitas fontes que me alimentaram com informações.  Para isso, foi fundamental seguir à risca a máxima de Cláudio Abramo: “o jornalismo é o exercício diário da inteligência e a prática cotidiana do caráter”.

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