Os golpistas, agora suspeitos ladravazes da República, vão à luta
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Marcelo Auler

monica-bergamo-13-12-16A coluna desta terça-feira (13/12), da sempre muito bem informada Mônica Bergamo, na Folha de S. Paulo (veja ao lado), já mereceu um desmentindo forma da equipe de procuradores da Operação Lava Jato. Trata-se de um grupo que tem atuado como se fosse um setor à parte da Procuradoria Geral da República, visto que fala por si, age diretamente – como nas pressões ao Congresso Nacional – e demonstra ser independente da tutela do Procurador Geral da República (PGR), Rodrigo Janot. Do contrário, a Nota de hoje sairia institucionalmente pela Comunicação Social da PGR. Pela pressa do desmentido, Mônica pegou na veia. Não resta dúvida quando ela afirma que:

“Na opinião de interlocutor dos procuradores, o que eles puderem fazer para “derreter” o governo, será feito“.

Não existe evidência maior de tal determinação do que o vazamento da delação premiada de Cláudio Melo Filho, ex-diretor de relações institucionais da Odebrecht. Relata o pagamento pela empreiteira, entre 2006 e 2014, de mais de 80 milhões de reais em propina, caixa dois e doações legais de campanha a quase 50 políticos, como noticiado por toda a grande imprensa, como na reportagem de CartaCapital. O raciocínio é primário: só os procuradores sabiam da delação, negociada há tempos com a Procuradoria Geral da República, tanto em Curitiba como em Brasília. Quando o procurador-geral Janot fala em investigar o vazamento – mais uma promessa, será que alguém ainda acredita? – ele, obrigatoriamente, terá que o fazê-lo dentro de casa. Vejamos o que diz a nota distribuída por e-mail:

Nota da força tarefa da Lava JatoDiante da coluna publicada hoje por Mônica Bergamo (“Procuradores da Lava Jato consideram Temer principal inimigo do MPF”), no jornal Folha de S. Paulo e no portal UOL, a Força-Tarefa Lava Jato do Ministério Público Federal no Paraná esclarece que nenhum de seus integrantes conversou com a colunista ou outro “interlocutor” sobre os temas abordados e que o conteúdo da publicação é inverídico. O trabalho realizado pela força-tarefa é técnico, impessoal e sem qualquer viés político-partidário, e continuará sendo feito desta forma. A atuação da Força Tarefa se pauta pela Constituição e pelas leis, tendo por objetivo investigar fatos que caracterizam atos de improbidade administrativa e crimes, especialmente corrupção e lavagem de dinheiro“.

Quando, em 29 de novembro, publicamos aqui o artigo “E agora Golpistas?“, alertamos:

e-agora-golpistasO país vive diversas crises, a começar pela crise de credibilidade das suas lideranças políticas. Crise esta que atinge até quem participou da equipe do presidente que assumiu com um golpe.

Esta crise de credibilidade, na verdade, atinge também toda a equipe da Força Tarefa da Lava Jato, a começar pelo juiz Sérgio Moro, quando toma atitudes em interrogatórios que soam bastante parciais, como noticiou Cíntia Alves, no GGN  O Jornal de todos os Brasis, na postagem Aos berros, Moro diz que tem “poder” para “cassar a defesa” de Lula.

Esbarra também no trabalho da Polícia Federal do Paraná que cada vez mais se mostra parcial, como demonstra a reportagem, também do GGNDelegado que apoiou Aécio montou acusação contra Lula em menos de um dia útil.

No caso dos procuradores da República na Força Tarefa, na própria nota que divulgaram nesta terça-feira, transcrita acima.

Porque não confiar – Nela, afirmam que “O trabalho realizado pela força-tarefa é técnico, impessoal e sem qualquer viés político-partidário, e continuará sendo feito desta forma”. Algo bastante duvidoso ao longo de todos estes dois anos e oito meses da exposição da Operação Lava Jato, quando os alvos principais foram sempre personagens ligadíssimos aos governos Lula e Dilma, excetuando aqueles que são (eram) do PMDB e que hoje se mostram muito mais encalacrados do que diversos petistas atingidos.

Também não é possível levar a sério quando dizem que

A atuação da Força Tarefa se pauta pela Constituição e pelas leis, tendo por objetivo investigar fatos que caracterizam atos de improbidade administrativa e crimes, especialmente corrupção e lavagem de dinheiro”.

Youssef e o grampo que descobriu na cela da SR/DPF/PR cuja sindicância que apurou responsabilidades vem sendo mantida na gaveta.

Youssef e o grampo que descobriu na cela da SR/DPF/PR cuja sindicância que apurou responsabilidades vem sendo mantida na gaveta. Até hoje, o MPF do Paraná nada fez a respeito.Isto é agir dentro da lei?

Como já mostramos nem diversas postagens neste blog desde agosto de 2015 quando da nossa primeira reportagem sobre o assunto – Lava Jato revolve lamaçal na PF-PR -, há casos de possíveis crimes cometidos pelos agentes da Força Tarefa da Lava Jato que jamais foram investigados ou explicados pelo Ministério Público Federal do Paraná, que tem como missão constitucional o controle externo da Polícia Federal e a atuação como fiscal da lei.

Podemos ficar em apenas dois: O famoso grampo encontrado na cela de Alberto Youssef, em março de 2014, e a denúncia de que “policiais da Força Tarefa da Lava Jato tentaram obter dados sigilosos de pessoas com foro privilegiado. Tudo sem a autorização da Justiça Federal”, conforme relatado em dois depoimentos à delegada federal Tânia Fogaça, da Corregedoria Geral do Departamento de Polícia Federal (COGER/DPF) no Inquérito Policial 737. Tudo por nós noticiado, em 6 de dezembro de 2015, em Lava Jato: surge nova denúncia de irregularidade. Na reportagem o juiz estadual José Orlando Cerqueira Breme se disse traído, caso tivessem usado o alvará que ele expediu para uma investigação sobre tráfico de drogas na Operação Lava Jato. Isto aconteceu e jamais foi apurado pelo MPF.

Como então acreditar quando os procuradores do Paraná afirmam que “A atuação da Força Tarefa se pauta pela Constituição e pelas leis”?

Quem é quem? Na verdade, pelo que se tem visto, a Força Tarefa como um todo trabalhou para derrubar o governo petista de Dilma Rousseff . Contou com a inestimável ajuda dos vazamentos para a mídia tradicional. Esta, por sua vez, utilizou tais fatos em matérias alarmistas ajudando a criar um clima de terror no país. Chegaram ao impeachment de uma presidente eleita com 54,5 milhões de votos. Alegou-se, à época, que o governo dela estava tentando paralisar a Força Tarefa.

Na postagem que fiz em 30 de maio, Fantástico: Michel Temer coloca a raposa para cuidar do galinheiro, falava sobre a denúncia da TV Globo da tentativa do então ministro da Transparência, Fiscalização e Controle, Fabiano Silveira, ainda como consultor do Senado, orientando seu padrinho político, Renan Calheiros, como responder às questões da Lava Jato sem se comprometer. Ali, ficava clara a tentativa de interferir nas investigações. No artigo eu até lembrei a coluna de Miriam Leitão, em 23 de março, em O Globo acusando Eugênio Aragão, então ministro da justiça de algo que ele não fez:

Minha colega e ex-chefe, Miriam Leitão, por exemplo, escreveu a coluna “O homem amigo“, em O Globo, acusando o então novo ministro de “buscar um pretexto para intervir na equipe da Lava-Jato. Mesmo sem ter tido sequer cheiro de vazamento, ele continuou. Circulam rumores de que ele tem uma lista das cabeças que cortará. O “Valor” ontem falou de duas dessas cabeças: Rosalvo Ferreira, superintende da Polícia Federal no Paraná, e Igor Romário de Paula, diretor de combate ao crime organizado no Paraná. Além, claro, do diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Daiello”.

os-golpistas-da-lista-da-odebrecht

Na lista de beneficiados pelas propinas da Odebrecht a maioria está no governo de Michel Temer, ele próprio um acusado de pedir R$ 10 milhões.

Golpe dentro do golpe – Hoje, está evidente a tentativa do governo golpista em tentar melar a delação premiada da Odebrecht que o atingiu em cheio. Diria até que mais do que aos petistas. Portanto, não há porque se duvidar de Mônica Bergamo quando ela diz que procuradores da Lava Jato têm em Temer um inimigo do trabalho que estão fazendo. Pena que a ficha está caindo agora. E todos os que foram às ruas de verde e amarelo lutar contra a corrupção, vão sentir que ajudaram a colocar no Planalto um governo com muito mais pessoas envolvidas em, digamos, “mal feitos”, para usar as palavras da presidente Dilma. E bota mal feitos nisso.

Agora, aqueles que colaboraram com o golpe, verão a segunda parte da história. O golpe dentro do golpe. Depois de usarem a massa humana para pressionar pelo impeachment de uma presidente legitimamente eleita e colocarem no lugar “uma suspeita camarilha de grandes ladravazes”, como definiu Arnaldo César, aqui no blog, no artigo Os golpistas, agora suspeitos ladravazes da República, vão à luta, agora vão tratar de detoná-los. Afinal, há muito mais envolvidos em corrupção dentro do Palácio do Planalto do que havia antes.

A segunda parte ocorreu nesta terça-feira (13/12) com a aprovação da Emenda Constitucional que congela gastos e afetará de forma brutal os mais pobres. Ela já foi suficiente para gerar novos protestos em diversas capitais, gerando o clima de convulsão social necessário para desestabilizar ainda mais um governo que já capengava desde o vazamento da deleção de Melo Filho, o chefe dos lobistas da Odebrecht.

Mas o golpe perfeito ainda está por acontecer, a partir de janeiro. Seja por um novo impeachment, seja por votação no Tribunal Superior Eleitoral – no domingo (11/12) no Estadão, o ministro Herman Benjamin, anunciou para fevereiro o julgamento do processo que analisa as contas da campanha da chapa Dilma Rousseff e Michel Temer, em 2014 – ou meso, pela improvável renúncia de Temer, o certo é que o governo não resistirá. A pressão será grande para completar o golpe.

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Será que o desfecho que está sendo armado, de um golpe dentro do golpe, é o que imaginavam os que foram às ruas e bateram panelas pelo impeachment de Dilma Rousseff?

Ele – o golpe -se fechará com a queda de Temer e a possibilidade de eleições indiretas como prevê a Constituição. Por este Congresso que está aí, capaz de fazer chantagens até com relação à nomeação do sucessor de Geddel Vieira Lima. Ou seja, boa coisa não se pode esperar. Os tucanos se preparam para tentar voltar ao Planalto, pelo voto indireto, já que nas urnas não conseguiram nos últimos 13 anos.

Contra isso, só há uma saída: pressão popular para que se mude a Constituição e se faça eleição direta. Mas, é algo improvável pois, ainda que o Congresso se curve a esta pressão e aprove, o Supremo estará a postos para dizer que é inconstitucional a mudança. Ou seja, ajudará na tentativa de devolver o governo ao PSDB. Seja através de Fernando Henrique Cardoso ou de personalidades próximas, como o ex-ministro Nelson Jobim, que já foi PMDB, mas sempre manteve um pé no tucanato.

Será que era isto que todos aqueles que foram às ruas bater panelas e defender o golpe contra a presidente legitimamente eleita imaginavam acontecer? É o caso de se perguntar, novamente, E agora golpistas?

10 Comentários

  1. C.Poivre disse:

    O “apoio maciço” que o falso “juiz” da Farsa a Jato ainda dispõe em Curitiba:

    https://caviaresquerda.blogspot.com.br/

  2. mulher disse:

    Os golpistas cometeram um erro básico ao não considerar que “a mentira tem pernas curtas”. E por conta disso toda a narrativa mentirosa dos golpistas vai caindo por terra à medida que a verdade vai aparecendo, inexoravelmente. Outro erro deles foi achar que poderiam ficar indefinidamente engabelando a consciência popular para que continuassem a acreditar na falsa narrativa dos golpistas que acham que todos são idiotas e que eles são os únicos intelectualmente privilegiados. – See more at: https://marceloauler.com.br/e-agora-golpista-ii/#comments

  3. C.Poivre disse:

    “UMA MENTIRA REPETIDA MIL VEZES TORNA-SE VERDADE” (Joseph Goebbels, ministro da propaganda da Alemanha nazista):

    https://youtu.be/x9HkUSSABms

  4. C.Poivre disse:

    Os golpistas cometeram um erro básico ao não considerar que “a mentira tem pernas curtas”. E por conta disso toda a narrativa mentirosa dos golpistas vai caindo por terra à medida que a verdade vai aparecendo, inexoravelmente. Outro erro deles foi achar que poderiam ficar indefinidamente engabelando a consciência popular para que continuassem a acreditar na falsa narrativa dos golpistas que acham que todos são idiotas e que eles são os únicos intelectualmente privilegiados.

  5. João de Paiva disse:

    Prezados,

    Esta é mais uma reportagem-análise com o selo de qualidade que caracteriza os trabalhos do Jornalista Marcelo Auler. O vedetismo e a assunção da chefia de um 5º poder, por parte do MPF e da força-tarefa da Fraude a Jato, estão mais do que evidentes. Como eu tenho dito, a Fraude a Jato não é uma operação policial-judicial com objetivo de combater a corrupção, mas uma organização criminosa enquistada e encastelada na burocracia do Estado. O mal e os prejuízos causados pelo golpe de Estado, pela ação da Fraude a Jato, pela tomada do Executivo Federal pelas quadrilhas políticas do PSDB e do PMDB, pela quadrilha do PIG/PPV, estando todas essas quadrilhas tupiniquins a serviço do alto comando internacional do golpe – que fica nos EUA – são INFINITAMENTE MAIORES do que os alegados recursos recuperados a partir da operação que significou a ruína da economia e do estado de bem-estar social conseguidos pelo Brasil durante os governos e Lula e Dilma.

    As ORCRIMs institucionais – como a Fraude a Jato – tem penas de tucano, bico de tucano e rapinagem de tucano. Já está claro que os concurseiros da PF, do MP e a maior parte dos juízes são , em sua imensa maioria, representantes das oligarquias plutocráticas que pensam o país apenas para si, para a manutenção dos privilégios de nascimento, de classe e de casta. O criminoso juiz sérgio moro é preposto dos EUA, como o sabem agora até os grãos de areia da praia e o mundo mineral. Como afirmei há mais de um ano: “O STF é o golpe”, pois coonestou TODAS as ilegalidades criminosas dos golpistas, os crimes de sérgio moro e dos seus comparsas de Fraude a Jato.

    Luís Nassif foi primeiro jornalista a afirmar que a PGR e o PGR constituem o alto comando nacional do golpe; depois ele recuou; mas diante das evidências e provas cada vez mais freqüentes e das observações críticas dos leitores, ele não só retomou o raciocínio que formulou, mas o reforçou com argumentação e fatos irrefutáveis. Os golpistas (aí inclusos os integrantes das quadrilhas políticas e das quadrilhas enquistadas na burocracia do Estado) estão nus, com a mão no bolso; eles têm a força, os poderes do Estado, mas perderam a narrativa; o mundo sabe que ocorreu um golpe de Estado no Brasil. É impossível negar que o golpe foi pensado e arquitetado nos e pelos EUA. O grupo, ou melhor, a quadrilha política que representa os interesses estadunidenses no Brasil é a do PSDB; isso está cristalino. Os historiadores, cientistas políticos e sociais, jornalistas de boa índole, além de outros intelectuais e a parcela mais bem informada, atenta e observadora da sociedade estão denunciando o golpe há mais de uma ano, quando ele estava longe de se consumar. O golpe de 2016 é mais perverso que o de 1964, mas contra ele existe a instantaneidade da informação e os veículos alternativos de comunicação; se a internet permite a vigilância, espionagem e monitoramento dos cidadãos, ela também permite que a informação não oficial circule, que as manipulações sejam desmascaradas e denunciadas quase instantaneamente. Essa deve entendida como a razão pela qual o golpe deve ter vida curta.

  6. Mineirim disse:

    Minha reação após ler a nota da força tarefa: kkkkkkkkkkkkk.

  7. Luiz Carlos P. Oliveira disse:

    É técnico? E o Serra e o Aécio, con 23 e 15 milhões, respectivamente, não merecem nenhuma investigação? Ah, tá. Me convenceram

  8. Paulo disse:

    Caro Auler.
    Parabéns pelo brilhante trabalho.
    Acho que os batedores de panela que desceram de suas varandas gourmet fantasiados de CBF na verdade não estão nem aí pra moralidade política ou corrupção entre público e privado. A obsessão deles era tirar o governo das mãos do PT e acabar com tal partido. Pronto! Feito isto, pouco importa o que acontecer sentir-se-ão realizados e felizes.
    Abraço.

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