Por Lula, movimentos populares chegam a POA
22 de janeiro de 2018
POA: a capital da Democracia
23 de janeiro de 2018

Arnaldo César (*), de Porto Alegre (RS)

“Diálogos Internacionais sobre a Democracia” atraiu mais de 2.000 pessoas. (Foto: Arnaldo César)

Durante algum tempo se questionou no Brasil quem eram  os articuladores do golpe que arrancou Dilma Rousseff do poder e colocou no lugar dela gente tão inexpressiva como Temer e a sua camarilha de ladravazes.

Não são muitos nos meios políticos e mesmo na imprensa brasileira os que já ouviram falar ou escreveram sobre o sigiloso “Plano Atlanta”.

Nesta última segunda-feira (dia 22/01), ativistas políticos, juristas, intelectuais e acadêmicos que se encontram em Porto Alegre para acompanhar o julgamento do recurso da sentença de Lula, no TRF-4, reunidos na Confederação dos Sindicatos dos Bancários do Rio Grande do Sul, no denominado Diálogos Internacionais sobre a Democracia, começaram a levantar o véu que ainda cobre a desconhecida articulação.

O encontro aconteceu, em um hotel da cidade de Atlanta (EUA), em meados de dezembro de 2012,  reunindo líderes políticos e lobistas norte-americanos com notórios direitistas sul-americanos.

O Departamento de Estado dos Estados Unidos não esteve lá. Mas abençoou a iniciativa, bancada por grandes conglomerados americanos, especialmente os que atuam na área de óleo e gás.

Sem falar, é claro, na “John Birch Society”, mantida pelos irmãos Charles e David Koch, donos de uma fortuna de US$ 43 bilhões e que financiam movimentos de ultradireita em todo o mundo. Aqui no Brasil, ajudaram a fundar e bancam o MBL – Movimento Brasil Livre.

Em recente entrevista a André Barrocal, da CartaCapital “Lula é a joia da coroa do Plano Atlanta” -, Manolo Pichardo, político da República Dominicana, revelou alguns detalhes deste encontro em Atlanta. Ele é de centro-esquerda e foi convidado, por engano, para participar deste convescote de golpistas.

Manolo Pichardo, presidente da COPPPAL

Atualmente, Pichardo preside a influente COPPPLA – Conferência Permanente de Partidos Políticos da América Latina. À publicação brasileira o dominicano contou do incômodo dos presentes com o avanço dos governo de esquerda no continente sul-americano. Naquela época, a presidente Dilma Rousseff estava completando o segundo ano do seu primeiro mandato e já começava se falar da sua reeleição.

De acordo com Pichardo, o grande alvo dos lobistas reunidos em Atlanta era o ex-presidente Lula. “Temos que nos organizar para não deixar Lula e a esquerda se perpetuarem no poder”. O político dominicano escreveu um livro sobre o “Plano Atlanta”. Talvez, por prudência não revelou a maioria dos nomes dos pesos-pesados que lá estiveram. Fala-se que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso era um dos presentes. Mas, isso jamais foi confirmado.

No fórum desta segunda-feira (22/01) em Porto Alegre, com a participação ao longo do dia de mais de 2.000 pessoas, o primeiro a mencionar o “Plano Atlanta” foi o ex-presidente do PCdoB, um dos principais ideólogos do partido e hoje presidente da Fundação Maurício Grabois, Renato Rabelo.

Não tenho dúvidas de que Atlanta foi determinante no golpe que derrubou Dilma e vários outros líderes de centro e de esquerda na América Latina”, enfatizou Rabelo ao Blog.

O líder comunista brasileiro ressalta que as maracutaias engendradas pelos direitista de Atlanta têm características totalmente diferente dos golpes aos que os brasileiros estavam acostumados.

Antes era o estado de exceção pura e simples. Agora cria-se um estado de exceção mascarado por um falso estado de direito. Tiraram os militares e colaram os juízes no lugar”.

Renato Rabelo, presidente da Fundação Maurício Grabois (Foto: Arnaldo César)

Victor Baéz, vice-presidente da Confederação Sindical das Américas, um instituição que representa 50 milhões de trabalhadores, recorreu a uma antiga lenda criada pelo então secretário de Estado americano, Henry Kissinger, para explicar a razão pela qual os golpistas de Atlanta miram tanto no Lula e no PT. “Essa gente continua concordando que para onde vai o Brasil, segue o resto da América Latina”.

O sindicalista latino-americano entende que a condenação de Lula tem por objetivo não só destruir, o PT, uma força política legítima no Brasil. “Visa também quebrar as pernas dos governo de esquerda no Continente”.

O vice-presidente da COPPPAL, o argentino Francisco Cifiero, reforça o discurso de Baéz ao contar que o governo do presidente da Argentina, Maurício Macri, não se satisfaz em perseguir seus opositores. Agora, em articulação combinada com a Justiça, começa a mandá-los para a cadeia. Refere-se ao caso do líder sindical e jornalista Victor Santa María acusado, sem qualquer prova, de ter feito remessas ilegais de dinheiro para Suíça.

A presidenta Dilma Rousseff, em sua participação no evento na Confederação dos Bancários do Rio Grande do Sul, argumentou que o julgamento de quarta-feira (24/01) poderá ser um segundo golpe no povo brasileiro. Para ela, a reação acontecerá nas urnas, em outubro próximo:

Novamente, eles serão derrotados. Estão desmoralizados perante os eleitores que entenderam rapidamente que o golpe não era só contra mim, mas também contra o povo”.

Dilma Rousseff: “Novamente, eles serão derrotados”. (Foto: Arnaldo César)

A ex-presidente reportava-se a monumental perda de direitos e de conquistas sociais dos brasileiros desde que os golpistas se aboletaram no Palácio do Planalto.

Ministro chefe da Secretaria Geral da Presidência da República tanto de Dilma quanto de Lula, Gilberto Carvalho concorda que Porto Alegre será um marco da reação contra os neoliberais, independente do resultado do julgamento de Lula. Ele tem coordenado ações do PT junto às lideranças latino-americanas e europeias.

Em todos estes continentes a direita age de maneira avassaladora contra os trabalhadores e às populações mais pobres. O que estão fazendo aqui no Brasil contra a Dilma e o Lula indignou aos homens de bem. Ninguém vai ficar de braço cruzado”.

Carvalho faz, contudo, uma observação curiosa. O PT, desde que passou a se perseguido por juízes como Sérgio Mouro só tem se fortalecido dentro e fora do País. Nos últimos 10 meses criou mais de 2.500 diretórios.

Hoje somos um novo PT. Sabemos exatamente os erros que comentemos. Aprendemos para chegar em outubro mais fortes para as eleições”.

A reação aos golpistas de Atlanta não ficará apenas nos discursos de Porto Alegre. Antes da Copa do Mundo, o Fórum de São Paulo se reunirá em Havana, Cuba, para aprimorar as estratégias com as quais estes militantes da esquerda pretendem enfrentar e derrotar os direitistas com a força do voto em todas as eleições que vierem a acontecer na América Latina.

(*) Arnaldo César é jornalista e colaborador do Blog.

 

 

O Blog em POA – O Blog está Porto Alegre (RS). Marcelo Auler e Arnaldo César Ricci relatam da capital gaúcha alguns dos muitos acontecimentos em torno do julgamento, na quarta-feira (24), do recurso apresentado pela defesa do ex-presidente Lula ao TRF-4. Esta viagem está sendo possível graças à colaboração dos nossos leitores e apoiadores, com contribuições em qualquer valor, que ajudam a bancar nossas despesas. Caso queira incentivar e investir nesse nosso trabalho, confira no quadro ao lado como fazer sua contribuição. Aos que já colaboraram, renovamos nossos agradecimentos.

5 Comentários

  1. […] Marcelo Auler | Por Arnaldo César, de Porto Alegre | 23 de janeiro de 2018 […]

  2. MARCOS ANTONIO DE PAULA disse:

    Engracado que dizem que colocaram golpistas…o ditos golpista era vice na chapa Dilma…

  3. Cícero de Paulo Monteiro Lobato disse:

    Isso parece coisa de maçonaria. Antes do golpe os maçons disseram que era chegada a hora de entrarem na política. A serviço de quem eles estariam, somente a confraria sabe.

  4. Eudes Gouveia disse:

    Pior que a Conexão Atlanta é a Rede Atlas (talvez a Rede Atlas seja a verdadeira Conexão Atlanta operacional) que financia o MBL e outros think tanks de direita: https://theintercept.com/2017/08/11/esfera-de-influencia-como-os-libertarios-americanos-estao-reinventando-a-politica-latino-americana/

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