A coluna do domingo passado do ombudsman da Folha, Vera Guimarães, reacendeu uma discussão que vem tirando o sono dos jornalistas. “Os veículos impressos estão morrendo?” questionam-se esses profissionais, desde meados dos anos 90, quando as comunicações digitais começaram a ganhar força pelo mundo.
O fatalismo sempre acompanhou esse debate. A cada “passaralho” (termo criado nas redações para designar demissões em massa) vinha logo à conclusão: a tecnologia digital matou os jornais ou as revistas. Ao simplificar esse fenômeno, deixamos de entendê-lo plenamente. Talvez, a questão não seja de vida ou morte.
Vejam o que aconteceu com os livros. A indústria de edição, impressão e comercialização de livros nunca experimentou um momento tão promissor, desde quando Gutemberg inventou a tipologia, como o que está vivendo nesta era de rede sociais.
Não só o fenômeno da “calda longa” permitiu o surgimento de autores aos borbotões, como os “Facebooks” e “Twitters” transformaram-se em eficientíssimo meio de divulgação boca a boca das obras já existentes e das que estão sendo lançadas.
Esta é uma constatação de que o problema não se resume em “quem irá matar quem”. Mas sim, ao conteúdo. Aí está o nó de toda essa conversa. Para os consumidores de informação não importa a maneira como terão acesso a elas. A plataforma é o de menos. Querem novidades. Desejam sempre serem surpreendidos. Tudo isso embalado por textos muito bem escritos, precisão nas informações e ilustração imaginativas, sem abrir mão nunca da credibilidade.
Os grandes jornais e revistas norte-americanos, europeus e japoneses seguem nessa direção para garantirem a sua sobrevivência. A conservadora revista inglesa “The Economist” tem a nova onda com relativa serenidade. Em momento algum abriu mão da qualidade dos textos que manda para as bancas.
O mesmo poderia ser dito do matutino japonês “Asahi Shimbum” e sua espantosa circulação de 12 milhões de exemplares diários. Aliás, na Ásia, entre 2006 e 2014, os impressos tiveram aumento de circulação de 16%.
Um ponto em comum entre essas duas publicações. Ambas usam com extrema inteligência a mobilidade, instantaneidade e capilaridade da Internet para promover as matérias, reportagens e análises de suas edições. Instigam a curiosidade dos leitores com “flashes” nas redes sociais do que tem de melhor naquele dia ou semana.
Há um interesse considerável em saber o que o mago da Amazon, Jeff Bezos, irá fazer com o respeitado “The Washington Post”, comprado por ele em 2013. Por enquanto, nada de extraordinário. Apenas mandou seus editores mergulharem de corpo e alma na “qualificação do conteúdo”.
Os impressos, com certeza, não morrerão. Terão isto sim, uma nova cara. Exclusividade, qualidade e inteligência passarão a ser a característica predominante nestes veículos. Vão ter que se acostumar a tratar com um público menor e muitíssimo mais exigente. Provavelmente, custarão mais caro.
Ocorre que os veículos brasileiros resistem a esta trivial receita de bolo.
O tão decantado empobrecimento do jornalismo brasileiro também tem a ver com essa opção equivocada de modelo de negócio que privilegia a redução dos custos na produção dos conteúdos. Infelizmente, nivelaram-se por baixo e dragaram para dentro das redações a pasmaceira que estamos vendo por ai.
No início deste mês, tivemos um congresso da WAN – World Association of Newspappers -, em Washington. Em maio, em Nova Iorque, foi o da INMA – International News Media Association. As duas reúnem jornalistas, editores e donos de empresas de comunicação de 76 diferentes países.
As recomendações tiradas nestes dois últimos eventos são praticamente as mesmas que vem fazendo, há dez anos. “Só sobreviverão os impressos que souberem tirar proveito da digitalização da mídia para produzir e distribuir conteúdo de qualidade”.
Para quem não entendeu algo tão singelo, fica o recado.
2 Comentários
Um dado de que eu sinto falta em toda essa discussão, mas que acho fundamental, é o seguinte: editoras e empresas de comunicação são entidades que precisam de lucro pra seguirem no mercado. E o papel não dá lucro pra essas entidades – ao contrário, é sempre uma fonte de gasto, aliás um dos maiores gastos que têm. Penso que, à parte a questão fundamental da qualidade, não dá pra deixar de lado que um dia esses empresários vão ter de calcular se vale a pena seguir gastando o que gastam com papel. Então não basta ficar considerando os meios digitais simplesmente como o ambiente da baixa qualidade versus a alta qualidade do meio impresso. Vamos discutir mais como implementar qualidade de forma e conteúdo na internet ou nos outros meios eletrônicos de comunicação que estão vindo por aí, enquanto seguimos manipulando os livros e revistas de papel que tanto prazer nos dão. Nossos desejos (por mais que os embasemos em ideias racionais) não definem o futuro tanto quanto gostaríamos.
Não adianta faculdade, mestrado , ou doutorado em jornalismo, se não há talento.
A internet está fazendo com que o jornalismo fique cada vez mais homogêneo, para os veículos, parece ser necessário publicar aquilo que todos publicam, os jornalistas se conformam com a idéia de que algo está na capa de sete jornais não esteja na capa do seu. Então, a reação é ir atrás do mesmo. Quando publicamos notícias e fotos, ampliamos o efeito de atos violentos, há limites a ser discutidos, sob o risco de ampliarmos a própria violência. Quando surgiu a fotografia,, a pintura recobrou recursos que a diferenciasse dela. O mesmo se passa com o jornalismo diante das novas tecnologias. E a crônica , acho, é o melhor recurso que o jornalismo tem para enfrentar esses novos tempos. É a mescla da informação com a emoção , do mundo subjetivo público, com o mundo privado ou íntimo.