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Marcelo Auler

Dom Orani foi rezar com Michel Temer pela PEC 241. Isso não é partidarismo?

Dom Orani foi rezar com Michel Temer pela PEC 241. Isso não é partidarismo?

No último dia 3 de setembro, ao inaugurar a imagem de Nossa Senhora Aparecida nos jardins do Vaticano, o Papa Francisco convidou a todos a rezarem  para que a Virgem Maria “continue protegendo todo o Brasil, todo o povo brasileiro, neste momento triste”.

Referia-se, como o mundo inteiro interpretou naquele momento, ao golpe, por meio de um impeachment, que o parlamento brasileiro estava aprontando contra a presidente eleita Dilma Rousseff. Três meses antes, em um congresso organizado pela Pontifícia Academia das Ciências Sociais, Francisco recorreu a seu antecessor, Paulo VI, para defender a política como “uma das formas mais elevadas de amor, de caridade, em face da qual não podemos “lavar as mãos”, como Pilatos o fez”.

Posteriormente, o Papa – com uma desculpa muito conhecida de problema de agenda – cancelou a visita que faria ao Brasil em 2017. Mais uma vez não faltaram os que apontaram como real motivo “o momento triste” a que se referira anteriormente.

Apesar destas duas manifestações do Papa Francisco sobre a situação do Brasil, no último dia 12 de outubro, os cardeais arcebispos do Rio de Janeiro, dom Orani Tempesta, e de São Paulo, dom Odilo Pedro Scherer, foram ao Palácio do Alvorada rezar com Michel Temer, o presidente golpista. Oraram pela PEC 241. A mesma emenda constitucional que, sete dias depois, foi duramente criticada por nota oficial da Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz.

Curiosamente, na noite de terça-feira (25/10), diante do apoio de padres cariocas a Marcelo Freixo, do PSOL, à prefeitura da cidade Rio, como divulgamos em Seguindo orientação do Papa, padres cariocas optam por Freixo e Luciana, o cardeal arcebispo do Rio de Janeiro, dom Orani Tempesta, criticou-os. Através de nota oficial, ele reafirmou a posição da arquidiocese como “organismo apartidário, que defende os princípios da Igreja Católica de acordo com as orientações assumidas pelo Regional Leste 1 da CNBB e das quais foi dada ampla divulgação”. Ou seja,

Rezar com o presidente que conquistou a cadeira com um golpe que provocou manifestação do próprio Papa, por uma Emenda Constitucional que seus irmãos bispos criticam e condenam, pode. Não é tomar partido na política brasileira. Mas, posicionar-se sobre duas candidaturas, sem lavar as mãos como Pilatos, é partidarismo e não pode.

Pela posição adotada por dom Orani e o chamado Governo da Arquidiocese do Rio de Janeiro – bispos auxiliares e vigários episcopais -, os católicos acabarão se omitindo, através do voto nulo, em branco ou da abstenção, no próximo domingo. Será esta a posição política que o Papa Francisco pregou ao falar que não se pode lavar as mãos como Pilatos? (confira na nota abaixo)

Nota Oficial da Arquidiocese do Rio de Janeiro

A Arquidiocese não pode esquecer que, mesmo querendo ser apartidária, não pode ser apolítica e pregar a omissão dos católicos. Sob o risco de fazer letra morta a advertência do Papa. Neste momento, não há discussão, ou se faz a opção por uma candidatura ou, como Pilatos, lava-se as mãos.

Resta, então, aos católicos – como, aliás, a todos eleitores, independentemente de credo religioso -, analisarem as duas candidaturas. Vamos eleger um prefeito, não um líder de seita. Um administrador da cidade, não um chefe do legislativo federal que poderá modificar leis como Eduardo Cunha o fez, diante do silêncio obsequioso da Igreja, em um momento crítico da vida política nacional.

Silêncio agora quebrado diante da PEC-241 – pela qual dom Orani orou – que, como lembraram os bispos da Comissão Episcopal Pastoral Para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz, prejudicará justamente os mais pobres e necessitados Exatamente aqueles pelos quais o Papa Francisco orou quando benzeu a imagem de Aparecida no Vaticano. Na época, sua oração, segundo divulgou a a insuspeita Radio do Vaticano, foi:

papa-reza-pelo-brasil-03-09-foto-radio-vaticano“Que Nossa Senhora proteja os descartados que se encontram nas mãos dos exploradores de todo tipo; que salve o seu povo com a justiça social e com o amor de Jesus Cristo, seu Filho”.

São esses “descartados que se encontram nas mãos dos exploradores de todos os tipos” os prejudicados pela PEC-241 pela qual dom Orani rezou. É o que diz a nota assinada por Dom Guilherme Werlang, Bispo de Ipameri (GO), Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz:

“Entendemos que as propostas de reforma trabalhista e terceirização, reforma do Ensino Médio, reforma da Previdência Social e, sobretudo, a Proposta de Emenda Constitucional, PEC 241/2016, que estabelece teto nos recursos públicos para as políticas sociais, por 20 anos, colocam em risco os direitos sociais do povo brasileiro, sobretudo dos empobrecidos.

Em sintonia com a Doutrina Social da Igreja Católica, não se pode equilibrar as contas cortando os investimentos nos serviços públicos que atendem aos mais pobres de nossa nação”. (veja íntegra abaixo):

Nota da Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço da Caridade

Na contramão do Papa – Depois de abençoar a PEC, dom Orani praticamente prega a abstenção no próximo pleito de domingo. E faz isso sabendo que um dos candidatos é ligado a uma igreja evangélica. Não qualquer igreja, mas a Universal do Reino de Deus, do bispo Edir Macedo, que, reconhecidamente, se utiliza da fé dos incautos para enriquecer. Aliás, o mesmo candidato que no primeiro turno, sem sua autorização, utilizou-se de uma foto dos dois para ficar bem perante os católicos.
Não se trata de pré-conceito, mas sim de um pós-conceito.
A imagem do bispo Sérgio von Helde, da Igreja Universal ainda está na memória de muitos, 21 anos depois.

Vinte e um anos depois, a imagem do bispo da Universal chutando Nossa Senhora Aparecida continua viva na memória de católicos e não católicos.

Prefeitura como trampolim – Afinal, o chute na imagem de Nossa Senhora, apesar de decorridos 21 anos, continua na lembrança de todos, católicos e não católicos. Como agora também ficarão na lembrança os escritos de Crivella falando da posição demoníaca da Igreja Católica. Mas, a Cúria do Rio de Janeiro, em nome de um apartidarismo, cala-se sobre tais questões.

Na verdade, por tudo o que se conhece, há motivos para temer a Igreja Universal à frente da prefeitura do Rio de Janeiro. Isso significará mais do que quatro anos de administração da cidade pelo pastor licenciado Marcelo Crivella.

Como muito bem lembrou Leonardo Boff – ao citá-lo, sei que na Arquidiocese este nome é maldito, mas ele, queira-se ou não, é coerente e tem visão política, o que parece faltar dentro da Cúria Metropolitana – a prefeitura é o trampolim para chegarem ao governo do Estado e, quiçá, à presidência da República. Basta ver que hoje, a bancada evangélica no Congresso – e, aqui, cabe admitir que nem todos evangélicos são do mesmo naipe, há bons e ruins, como entre os católicos – supera em muito à católica. Vira e mexe ela impõem suas vontades.

Bispo Macedo e o aborto – A nota da Arquidiocese, embora não cite nomes, critica posições. Como, por exemplo, a defesa de Freixo da legalização do aborto, o que vai contra a regra da Igreja. Respeite-se a posição católica, mas cabe lembrar que um prefeito pode fazer muito pouco ou quase nada por essa legalização. Trata-se de uma questão federal, a ser votada no Congresso. A disputa é para administrar uma cidade.

Nesta questão, o que o arcebispo deveria colocar acima de tudo é a posição laica do Estado. Que os católicos não pratiquem o aborto, caso ele seja legalizado. É uma questão de foro íntimo.

O que não se pode é impedir que a legalização ocorra ou deixe de ocorrer por conta de uma parcela da população, seja ela evangélica, católica, judaica, ou budista. Não importa. O que deve prevalecer é a vontade da maioria. E o que deve estar em jogo é o respeito à vida também das gestantes, não apenas dos fetos. Afinal, não se pode ignorar neste debate o número de mulheres que padecem nas mãos de aborteiros de fundo de quintal. É questão de saúde pública, humanitária, para a qual a Igreja não deveria fechar os olhos.

Ainda assim, convém lembrar ao chamado Governo da Arquidiocese do Rio, que Freixo e Luciana defendem o direito de cada mulher decidir o que fazer ao engravidar. Católicas terão o direito à escolha, e podem perfeitamente seguir os mandamentos da Igreja. Não se trata de imposição, nem tampouco de defesa de uma espécie de Eugenia.

Isso, ao que consta, quem já defendeu foi o bispo Edir Macedo, tio de Crivella e chefe da Universal, embora os católicos não falem disso. Para ele, o aborto é “uma arma contra a criminalidade, para não nascerem crianças revoltadas”.

Basta ver o vídeo abaixo: Bispo Edir Macedo apoia o aborto.

O que realmente interessa – Há ainda a questão das drogas, que a Igreja acusa Freixo de defender a liberação. Mas não apenas ele, grande parcela da população debate esse assunto que não pode e não deve ser jogado para debaixo do tapete. Não tem como fugir à discussão. Só que, cabe lembrar novamente, não é para decidir sobre isto que estamos elegendo um prefeito, mas para  administrar a cidade em que vivemos

Então, questiona-se, deve ser empecilho ao voto? Deve ser a prioridade na hora de se decidir em quem votar? O mesmo cabe para a discussão do casamento de pessoas do mesmo gênero que, queira ou não qualquer igreja, é uma realidade. Ao que parece, o Papa Francisco lida melhor com esta questão do que a Arquidiocese do Rio.

Na verdade, no próximo domingo, quando todos os cariocas com direito a voto forem às urnas – e, espera-se que a omissão de Pilatos não predomine para prevalecer a vontade da maioria – o que estará em jogo são questões muito mais concretas e palpáveis no dia a dia dos moradores da cidade. Questões diretamente ligadas à prefeitura em si e ao jogo político no Rio de Janeiro.

Ninguém está se dando conta de que este segundo turno trouxe um aparente ganho para o Rio: o afastamento do PMDB dos Piccianis, Moreira Franco, Sérgio Cabral, Eduardo Cunha. Um grupo que domina a política do Estado faz tempo, independentemente de siglas partidárias, pois já foram PDT, PSDB e serão de qualquer outra sigla que interesse naquele momento. Muitos deles, embora tenham vivido exclusivamente da política, enriqueceram nestes últimos anos. Como se sabe, os Piccianis, Moreira Franco, Cabral, assim como Cunha, já apareceram nas denúncias da Lava Jato e/ou outras operações em curso. Sem falar que foram eles que levaram estado e município – aí com a ajuda de Eduardo Paes – à bancarrota que se vive hoje.

Certamente, não será a Freixo que eles apoiarão, apesar de alguns terem espalhado que com ele terão mais chances de voltar. A experiência mostra que com Crivella, os entendimentos serão mais fáceis, como já foram.

Ao perder as eleições para governador há dois anos, Crivella alegou querer distância de Pezão, convencido que estava que sua derrota foi armada, seja lá o que isso signifique. Meses depois já tinha se entendido com o governador. Com Freixo, esta é uma possibilidade muito mais difícil de acontecer.

Portanto, na hora de orientar seus fiéis – e não há mal em fazê-lo, desde que de forma consciente e conscientizadora – a Igreja Católica deveria se preocupar muito mais com questões palpáveis do que com esteriótipos. Voltar-se para compromissos sociais e políticos, como a defesa dos mais pobres e dos Direitos Humanos, do que se perder na discussão fora de época e de propósito sobre casamentos gays, liberação das drogas ou manifestação de black bloc. Ter uma visão mais longínqua, do que pode significar a vitória da Igreja Universal nesta eleição, não apenas para a cidade e o Estado do Rio de Janeiro, mas para o Brasil como um todo.

Se nada disso bastar, ela poderia apenas tentar seguir as orientações do Papa Francisco. Mas, isto, ao que parece, fizeram os padres, ao defenderem um posicionamento, contra a omissão, e que acabaram criticados pela governança da Arquidiocese.

Caberá aos fiéis eleitores decidirem o que teclar na urna eletrônica: apostar em um novo futuro para a cidade e, possivelmente o Estado, ou manter tudo como está. Por preguiça ou omissão. Neste caso, lavando as mãos como Pilatos e indo contra à pregação do Papa.

3 Comentários

  1. Fabio Brito disse:

    O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO NESTE MOMENTO VAI IMPEDIR QUE ESTE GOLPE SE CONSOLIDE?

    Sejamos sinceros, de que adianta compartilharmos notícias cobrando MORO um tratamento igual entre todos que estão na LAVA JATO?

    De que adianta ficar a chamar os GOLPISTAS de golpistas e traidores?

    De que adianta compartilharmos abaixo assinados para o STF ou o raio que o parta, pedindo afastamento de Gilmar Mendes, Sérgio Moro, ou para ANULAR O GOLPE???

    É chegada a hora do amadurecimento e, às vezes, a dor nos ensina mais que anos de estudo. Se não aprendermos agora dificilmente aprenderemos, no entanto, para que as pessoas entendam o que se passa, não podemos esquecer nosso papel nisto, afinal, todos somos responsáveis.

    Não cabe mais ficarmos a chamar as pessoas que não tiveram a mesma compreensão que nós tivemos, lá atrás, de burros, de coxinhas ou coisas do tipo, porque se tem uma coisa que devemos entender, de uma vez por todas, é a força que tem a manipulação das informações levadas a cabo por, não só a GLOBO, mas todo o aparato de mídia criminosa de nosso país.

    Leia em Rebelde Silente como fazer para DERROTARMOS O GOLPE, DEPOR TEMER E REEMPOSSAR DILMA!!!

    #MarchaBrasiliaDeporTemerReempossarDilma

    https://rebeldesilente.wordpress.com/2016/11/01/comoimpedirqueogolpeseconsolide/

  2. C.Poivre disse:

    Segundo Marcos Coimba, do Vox Populi, o crescimento do Presidente Lula na preferência popular deveu-se à perseguição midiático-judicial, portanto, devemos agradecer à velha mídia por ter enfim prestado um bom serviço à nação colocando em destaque ainda maior o nosso maior líder, o Presidente Lula. Espero que esta mídia comercial continue a malhar Lula 24 horas por dia para ele crescer mais ainda na preferência popular.
    Quanto à Farsa a Jato também temos que agradecer aos seus membros, pf, mp e o juizado da Guantánamo brasileira pelo crescimento da liderança do ex-Presidente. Na sua infinita criatividade, esperamos que o mp de Curitiba continue com suas ilações, presunções e pressuposições para alçar ainda mais o admirável Lula como nosso candidato preferido.

    Obrigado velha mídia! Obrigado Farsa a Jato!

  3. C.Poivre disse:

    Começou a campanha prometida pelo golpista Temer para calar os blogueiros “sujos”. Quem será o próximo?

    http://www.conversaafiada.com.br/

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