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Carlos Franco (*)

Porque aquele que não ama seu irmão, a quem vê, é incapaz de amar a Deus, a quem não vê.  (João 4:20)

Sites e serviços de informação em tempo real, que da especulação se alimentam e por ela são alimentados, destacaram nesta última sexta-feira, 20 de novembro de 2020, o fato de as ações do Carrefour (CRFB3) terem fechado com alta de 0,49% enquanto o Ibovespa (o índice da Bolsa de Valores de São Paulo) fechou em baixa 0,59%.

Os indicadores no Dia da Consciência Negra, lamentavelmente quando o Brasil, estarrecido, assistiu na véspera ao assassinato de um brasileiro negro – João Alberto Silveira Freitas, o Beto, de 40 anos -, nas dependências de uma loja do Carrefour, em Porto Alegre (RS), levaram a uma conclusão para serviços especializados como o Infomoney de que investidores estão de olho apenas em resultados. Isto é, não estão nem aí para as práticas e critérios de gestão ambientais, sociais e de governança corporativa, ou seja, ESG no linguajar do mercado financeiro e de seus analistas.

Faz sentido e não faz. O que faltou a estes especializados foi justamente aquilo que se chama reportagem, jornalismo sério o qual não se pode exigir dos que atuam em tempo real. Eu mesmo, durante o período em que fiquei pratica e exclusivamente trabalhando na Broadcast da Agência Estado, no Rio de Janeiro e em Brasília (quando a capital federal entrou para o escopo do serviço em 1995) sequer tinha tempo de respirar, muito menos de pensar nos vários ângulos que uma notícia envolve e impacta.

A falsa ideia: “estamos todos bem”

Isso deveria ser o dever do jornalista: destrinchar, buscar nas frestas a luz e nos subterrâneos as trevas, ainda que os veículos para os quais trabalhem tenha pacto hora com a luz, hora com as trevas.

E o que não faz sentido numa leitura ligeira da alta de uma ação de empresa exposta em seus esgotos ao público e a queda do conjunto de ações das demais empresas de capital aberto à espera do investimento do respeitável (pero nem tanto) público?

Elementar, diria o bretão Sherlock Holmes ao seu caro Watson: temendo a queda das ações, quando envolvidas em escândalos, as empresas correm para dar ordem de compra dos seus ativos.

Assim, com essa jogada, a empresa e seus gênios corporativos criam a falsa ideia de que “estamos todos bem”. Ainda que, como neste caso, com as mãos manchadas de sangue e expondo o conjunto de investidores ao ridículo. Daí o pero nem tanto que aqui usamos para classificar esse respeitável público que vive e pulula na especulação do mercado.

Por diversas vezes, em que as falcatruas ou as pequenas pontas de um imenso iceberg começavam a emergir, executivos da Enron davam ordens de compra de ações e estas subiam e seduziam analistas de plantão e investidores até que todos naufragaram num mar de perdas abissais.

Não que a especulação seja um pecado, ela é parte inata dos negócios com ações. É a especulação que movimenta as bolsas, para o bem ou para o mal, além do bem e do mal. Afinal, perdas e ganhos são o atrativo principal das bolsas e, algumas vezes, essas jogadas contemplem aqueles que seguem os critérios de respeito ao meio ambiente, ao ser humano em sua integridade física e mental, a transparência e responsabilidade de seus gestores.

É claro que isso deveria ser regra, mas como ainda é exceção a empresa acaba virando notícia, ganhando destaque e de quebra tem tremendo ganho de imagem e o seu valor de mercado sobe.

Bolsonaro é a própria personificação do ódio

Infomoney, porém, se redime da análise curta, ao destacar, diante desse resultado da bolsa no Dia da Consciência Negra, a irônica pergunta de Fábio Alperowitch, fundador da Fama Investimentos, em seu Twitter: “ESG no Brasil? Conta outra.”

O especializado Infomoney fez ainda melhor: endereçou seus leitores para o brilhante artigo publicado por Alperowitch no Brazil Journal, veículo também de mercado que tem no comando um profissional brilhante, Geraldo Samor, que durante anos apresentou o Brasil aos investidores nas páginas de The Wall Street Journal.

Neste artigo, Alperowitch traz à tona cena do excelente filme O ódio que você semeia (The Hate U Give) em que o personagem Cris, um adolescente branco, fala para sua namorada negra Starr: “Branco, negro, o que importa? Somos todos iguais (…) eu não vejo cor, eu vejo as pessoas como elas são” e ela responde: “Se você não enxerga a minha negritude, você não me enxerga”.

Se tivesse lido o artigo de Alperowitch ou mesmo visto o filme dirigido por George Tillman Jr., o presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro não teria dito que é daltônico e não vê diferença de cor sob o risco do ridículo ao qual, evidentemente, um presidente sem decoro nada tem a temer. Bolsonaro é a própria personificação do ódio.

Portanto, como bem pontua o apóstolo João no versículo 4:20 da Bíblia, “aquele que não ama seu irmão, a quem vê, é incapaz de amar a Deus, a quem não vê”.

O presidente eleito pelo ódio já demonstrou que não tem fé em Deus, menos ainda no Brasil e nos brasileiros. É a pátria abaixo de tudo e Deus abaixo de todos, nos subterrâneos por onde passa a boiada abrindo caminho para uma terra arrasada pelo ódio e a hipocrisia

(*) Carlos Franco é jornalista especializado na cobertura de economia

 

 

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