” Lutar contra esse golpe liderado por homens brancos, conservadores, de elite e dissociados das pautas das minorias é obrigação para nós feministas de esquerda, para que possamos impedir os retrocessos que a sociedade machista quer impor aos nossos corpos“.
O recado acima foi dado segunda-feira (20/06) à noite, na Casa de Portugal, em São Paulo (SP), durante o ato de lançamento do livro “Resistência em tempos de golpe” que relata, em diversos artigos, a luta contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff, eleita com 54 milhões de votos.
Na obra, com 450 páginas, 104 profissionais entre advogados, professores, jornalistas, cientistas políticos, artistas, escritores, arquitetos, lideranças partidárias e de movimentos sociais, brasileiros e também estrangeiros, reúnem argumentos em 103 artigos para denunciar a quebra da institucionalidade democrática que ocorre no Brasil.
A advogada e militante feminista Yasmin Cascone, representante da Rede Feminista de Juristas, que reúne cerca de 100 mulheres operadoras do Direito com posições políticas à esquerda, foi quem levou o recado transcrito acima. Segundo deixou claro, para a Rede Feminista de Juristas:
“é impossível não analisar o caráter machista do golpe político institucional ocorrido no Brasil“
Reproduzo abaixo o vídeo da fala de Yasmin que divulgo sem ter tido oportunidade de editá-lo. Adiante, vai a íntegra do que ela falou.
“Para nós da Rede Feminista de Juristas, é impossível não analisar o caráter machista do golpe político institucional ocorrido no Brasil.
A contínua violência contra a maior autoridade do país foi motivada essencialmente pelo fato dela ser mulher.
Não significa, para nós, claro, que toda critica ao seu governo seja machista. Porém, é nítido que o tratamento institucional e midiático de sua imagem e de sua atuação publica contribuiu para o enfraquecimento de sua condição como chefe de Estado – representando graves perdas à democracia e aos direitos das mulheres (especialmente com a extinção do ministério das mulheres, da igualdade racial e o rebaixamento do ministério dos Direitos Humanos).
A presidenta Dilma, para nós, foi constantemente reduzida aos estereótipos que o patriarcado dissemina sobre as mulheres.
Para ilustrar, tivemos uma construção, inclusive encampada pela própria esquerda (e é necessário que essa crítica seja feita), de uma figura maternal (ao criar, o jargão “mãe do Pac/Dilmãe”), mais acessível ao estereótipo de gênero feminino difundido e esperado de nós mulheres, que é majoritariamente ocupar o ambiente privado, o ambiente do lar e a figura maternal tradicional.
A desconstrução de Dilma foi tão intensa que podemos separar sua atuação em dois momentos distintos: um, no ano de 2009, ao responder de forma enérgica e assertiva ao Senador Agripino Maia, defendendo sua atuação à época da ditadura cívico-militar.
E, outro, em seus discursos atuais, amplamente criticados por diversos setores, que demonstram a desconstrução de sua imagem para adaptá-la aos moldes da sociedade machista, retirando sua “potencia” e buscando aumentar sua aceitação social e eleitoral.
No entanto, como sabemos, a aceitação social foi momentânea.
A violência de gênero que sofremos tem raízes muito profundas e só iriam cessar a partir do momento que Dilma saísse do posto que historicamente não pertence às mulheres.
Essa violência simbólica não irá diminuir enquanto não ocorram mudanças estruturais na política e que permitam o acesso de mais mulheres aos cargos de decisão, inclusive com maior destinação dos fundos partidários às candidaturas femininas, que hoje são irrisórios.
É inconcebível que apenas 6% dos cargos do Senado, 5% da Câmara e apenas 10% das prefeituras sejam dirigidas por mulheres. Isso reflete nas políticas publicas e na falta de vontade legislativa, por exemplo, para ampliar os serviços prestados pelas delegacias da mulher, que hoje não abrem aos finais de semana – período em que já foi constatada maior incidência de violência doméstica.
Em um pais onde a cada 2 minutos, aproximadamente 5 mulheres são espancadas e que 13 mulheres são assassinadas por dia, as violências de gênero precisam ser atacadas. E é por isso que lutar contra esse golpe liderado por homens brancos, conservadores, de elite e dissociados das pautas das minorias é obrigação para nós feministas de esquerda, para que possamos impedir os retrocessos que a sociedade machista quer impor aos nossos corpos. Nenhuma mulher merece ser violentada, somos resilientes e por todas nós seguimos em luta“.
2 Comentários
A verdade é que estamos tendo o desprazer de assistir uma série de barbáries, e a questão do machismo reaflorando neste efeito manada que contaminou a Nação é uma das coisas mais evidenciadas, sendo o principal catalisador deste momento insano que passa o país. Basta assistir a um debate entre senadores pela TV Senado que em poucos instantes fica parente o quanto alguns subjugam aquelas senadoras que “ousam” contestar suas concepções retrógradas. Esta matriz parlamentar brasileira, que mal é renovada, mas, basicamente, substituída pelos filhos, netos, bisnetos, etc, que, a reboque, trazem consigo todos os vícios de uma elite escravagista e de práticas abomináveis.
O teu mecanismo de Contato não está funcionando então posto aqui . . . .
Marcelo, . . . .
Assim que deu o Golpe, Temer pediu um tradutor para árabe, e agora com o Padilha trazendo às luzes a negociação da Oi, uma pulga atrás da minha orelha, um pulgão enorme, está a gritar que, se a gente ligar para a Oi, do outro lado quem atende o telefone já é o Temer. Na cara dura, mais uma patranha da Oi.