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“No sofrimento é que se firma a Esperança!”

Marcelo Auler

dom-paulo-evaristo-arns-despedida-editadaSem a menor dúvida que 2016 foi um ano dificílimo. No coletivo e, para muitos, também no individual. Em casa, no bairro, na cidade, no estado, no país e no mundo. Em todos os lugares algo de ruim aconteceu, machucou, feriu, doeu, magoou. Enfim, marcou. E marcou, na maioria das vezes, de forma trágica, dolorosa. No Natal, época em que renovamos nossas Esperanças a partir da comemoração do renascimento do menino Deus – ou, para quem não crê em nada disso, a renovação ocorre nas confraternizações e comemorações -, é hora de depositarmos fé que podemos sim, mais do que acreditamos, provocar mudanças, sem desanimar. Afinal, lembrando p místico Dom Paulo Evaristo Arns, que recentemente foi ao encontro do Pai,

A dor serve, para fazer dos fracos, os mensageiros da Esperança!”

E para sermos “mensageiros da Esperança”, um caminho é praticar algo simples: o respeito e a solidariedade entre os homens. Uma solidariedade muito bem definida por aquele que tem se tornado o maior líder mundial da atualidade, o Papa Francisco. É dele a explicação:

É pensar e agir em termos de comunidade, de prioridade de vida de todos sobre a apropriação dos bens por parte de alguns. Também é lutar contra as causas estruturais da pobreza, a desigualdade, a falta de trabalho, de terra e de moradia, a negação dos direitos sociais e trabalhistas. É enfrentar os destrutivos efeitos do Império do dinheiro: os deslocamentos forçados, as migrações dolorosas, o tráfico de pessoas, a droga, a guerra, a violência e todas essas realidades que muitos de vocês sofrem e que todos somos chamados a transformar. A solidariedade, entendida em seu sentido mais profundo, é um modo de fazer história, e é isso que os movimentos populares fazem” (Papa Francisco no Encontro Mundial dos Movimentos Sociais, 28 de outubro de 2014).

Nas imagens do vídeo acima, que recebi de Armando Rodrigues Coelho Neto, são a demonstração trágica do que a Humanidade ainda é capaz de gerar e de suportar. Mas, lembro que não é preciso buscar os exemplos da África para sentirmos as injustiças do mundo. Elas ocorrem ao nosso lado, na calçada por onde caminhamos todos os dias, no entorno de nossas residências e já nem comovem mais. Em cada um destes espaços onde vivemos e convivemos que devemos nos esforçar, no novo ano, para provocarmos as mudanças que desejamos.

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Nas ruas das nossas cidades, a moradia improvisada, como este flagrante feito em São Paulo, cidade mais rica do país. Tudo à nossa vista.

Mudanças que, recorrendo novamente às palavras do Papa aos Movimentos Sociais, na reunião de 2015, na Bolívia, devem começar na área econômica, como ele conclamou:

Os seres humanos e a natureza não devem estar ao serviço do dinheiro. Digamos NÃO a uma economia de exclusão e desigualdade, onde o dinheiro reina em vez de servir. Esta economia mata. Esta economia exclui. Esta economia destrói a Mãe Terra”.

Ele prosseguiu:

A economia não deveria ser um mecanismo de acumulação, mas a condigna administração da casa comum. Isto implica cuidar zelosamente da casa e distribuir adequadamente os bens entre todos. A sua finalidade não é unicamente garantir o alimento ou um «decoroso sustento». Não é sequer, embora fosse já um grande passo, garantir o acesso aos “3 T” – Terra, Teto e Trabalho – pelos quais combateis. Uma economia verdadeiramente comunitária – poder-se-ia dizer, uma economia de inspiração cristã – deve garantir aos povos dignidade, «prosperidade e civilização em seus múltiplos aspectos». Isto envolve os “3 T”, mas também acesso à educação, à saúde, à inovação, às manifestações artísticas e culturais, à comunicação, ao desporto e à recreação”.

E acrescentou:

papa-franciusco-e-os-tres-t“Uma economia justa deve criar as condições para que cada pessoa possa gozar de uma infância sem privações, desenvolver os seus talentos durante a juventude, trabalhar com plenos direitos durante os anos de atividade e ter acesso a uma digna aposentadoria na velhice. (grifei) É uma economia onde o ser humano, em harmonia com a natureza, estrutura todo o sistema de produção e distribuição de tal modo que as capacidades e necessidades de cada um encontrem um apoio adequado no ser social. Vós – e outros povos também – resumis este anseio duma maneira simples e bela: «viver bem»”.

Ao me dirigir a leitores, colegas, amigos, fontes e todos aqueles que ao longo de seis décadas me ajudaram a chegar aqui profissionalmente e ainda a todos os que, desde abril de 2015 me prestigiam acompanhando este Blog com a leitura, críticas, sugestões e também colaborações pecuniárias, faço votos que em 2017 deixemos o pessimismo de lado e, juntos, sem esmorecer, continuemos a luta por Democracia – sem golpes e golpistas -, Justiça – sem favoritismos ou perseguições -, e Dignidade – que inclui condições de vida digna para todos, com a distribuição dos bens materiais e de Direitos de forma isonômica, sem distinção de raça, gênero, ou condição social.

No Brasil, isso passa, sem dúvida, por um restabelecimento da Democracia, golpeada em 2016, a autonomia do Judiciário, sem que recorram a decisões “na base do jeitinho brasileiro”, a luta contra a corrupção dentro das normas legais e constitucionais e, principalmente, pelo respeito à vontade popular.

Mas o que temos visto é justamente o contrário do que prega o Papa Francisco: priorizarem a economia de mercado em prejuízo aos cidadãos; congelaram gastos sociais e prometem mexer nas Leis Trabalhistas assim como uma reforma da Previdência, o que certamente impedirá

“(…) que cada pessoa possa gozar de uma infância sem privações, desenvolver os seus talentos durante a juventude, trabalhar com plenos direitos durante os anos de atividade e ter acesso a uma digna aposentadoria na velhice”.

Que na comemoração do Renascimento de Jesus neste Natal, nos venha luz e força para enfrentarmos o ano de 2017, aluta necessária, sem perder a ternura e o respeito ao próximo e ao diferente, para conseguirmos alcançar o que o Papa Francisco prega: uma sociedade mais justa, mais fraterna, mais igualitária.

Que a SOLIDARIEDADE reine entre nós, independentemente de cor, raça, credo, posição social, ideologia ou opção de vida.

São os nossos votos junto com nossos agradecimentos por todo apoio recebido, inclusive e, principalmente, nas horas difíceis, quando da censura que nos foi imposta em 2016.

Ao encerrar renovando votos de Feliz Natal e um Ano de 2017 de mudanças e prosperidade para todos, recorro novamente aos pensamentos de dom Paulo Evaristo Arns:

“O que mais endurece o coração é a ambição!”

“No sofrimento é que se firma a Esperança!

PAZ & BEM a todos!

5 Comentários

  1. Paulo Cezar Soares disse:

    A despeito de tudo que estamos enfrentando no nosso país, não podemos perder a esperança, como ressalta o seu texto nas palavras de Dom Paulo Evaristo Arns e também do papa Francisco.. Desejo ao companheiro um 2017 repleto de realizações, principalmente no desenvolvimento do seu blog
    Deus o abençoe e o guarde.

  2. Leonardo Leão disse:

    Quando a irresponsabilidade e a canalhice dominam a política, a justiça, o MP e a mídia empresarial, uníssonas no interesse dos financistas, há a miséria explícita nas ruas e praças das cidades e nos campos do país.
    Não consigo entender como mantém essa quantidade de fanáticos vomitando bile e atuando contra eles mesmos, sua gente e seus descendentes.
    É muito triste isso. 2016 foi o amo da tristeza e da canalhice.

  3. Resposta disse:

    A ganância pelo poder de funcionários públicos é tão venal quanto a ganância pelo dinheiro através da corrupção.

  4. Bia Veras disse:

    Nossas esperanças se renovam nas palavras de dom Paulo, nosso papa Francisco e também nas suas Marcelo… na seriedade e dignidade de seu trabalho mantemos nossas esperanças no jornalismo sério, comprometido e verdadeiro. Um abraço e Boas Festas!

  5. Antonio Carlos Ribeiro Fester disse:

    Ótima matéria. Abração natalino.

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