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Marcelo Auler

Lula continuará recebendo a solidariedade do povo nordestino que sairá em caravana de Caetés (PE) para Curitiba. Foto Ricardo Stukert.

Quando, na segunda-feira (14/05), reafirmou ao monge beneditino que o visitou para a chamada “Assistência Espiritual”, que não renunciará à disputa pela presidência da República, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não tinha informações da pesquisa a CNT/MDA divulgada na mesma segunda-feira.

Pela pesquisa, que consultou eleitores entre os dias 9 e 12 de maio – portanto, com Lula recolhido à Polícia Federal há mais de um mês – o candidato do PT mantém-se à frente em todos os cenários  apresentados pelos pesquisadores, com mais de 32% dos eleitores. Vence todos os demais concorrentes, até mesmo no segundo turno.

Nas explicações que Barros deu ao Blog, eles não falaram sobre a pesquisa, Ainda assim, Lula reafirmou sua disposição de se manter candidato, insistindo que é vítima de uma armação política: “O presidente está muito sereno, mas cheio de indignação, o que é normal, pela injustiça. Ele não renuncia, está firme e está com esperança. Ele diz”:

“Diga a todo mundo que estou consciente de ser vítima de uma armação política e impotente no sentido de não poder reagir a ela, que quebra toda a ordem jurídica, toda a ordem constitucional. E estou, nesse sentido, vivendo o que muitos brasileiros e brasileiras viveram na História. Não é uma coisa unicamente comigo, isto acontece muito. Estamos juntos. Eu vou resistir, me sustento neste apoio que recebo do Brasil inteiro e aqui dos acampamentos. Não vou renunciar, porque se eu renunciasse estaria de alguma maneira admitindo culpa. Então vou até o fim”.

Na charge de Laerte, a “nova primavera com Lula”, como descreveu Milton Alves nas redes sociais.

Na verdade ele é vítima de duas armações políticas. A primeira aquela que lhe tirou a liberdade através de um processo – no mínimo – duvidoso, com uma condenação sem provas por conta de um apartamento que não lhe pertence e nem mesmo fez uso. Sem falar no fato de o julgamento ter sido um dos mais céleres que se tem notícia e dele estar cumprindo pena antes do trânsito em julgado da decisão.

Há ainda outra armação que é quererem barrar a sua candidatura antes da hora, mesmo quando as pesquisas mostram ser ele o candidato com maior aprovação pelo eleitorado. Uma armação que ultimamente conta também com a participação de diversos setores da esquerda que, em nome de viabilizarem candidaturas outras, pressionam para que ele desista de concorrer antes mesmo do jogo eleitoral iniciar.

Embora consciente de que não será fácil lhe darem a liberdade, Lula tem esperanças em ganhar a liberdade tanto que quando Barros disse que ao retornar da Itália – onde estará na semana que vem – pretende ir visitá-lo novamente, Lula reagiu com ironia: “aqui não, aqui eu já estou fora. Você vindo me ver vai me visitar em outro lugar, aqui eu não quero mais não”.

“Ele está querendo sair da prisão, não de Curitiba apenas”, explica Barros, deixando claro que todos têm consciência de que se trata cada vez mais de uma questão difícil, justamente por conta da perseguição política que, entretanto, no entendimento do monge, não irá conseguir afastar sua influência do próximo pleito eleitoral:  .

“Não querem o Lula nem como candidato, nem como eleitor, nem como alguém que mesmo não sendo candidato,  lá fora, vai influir demais na eleição. É burrice, porque não estão vendo que de dentro da cadeia ele está influindo tanto quanto. Ou até mais, simbolicamente”.

O monge foi a segunda visita para assistência espiritual que Lula recebeu. A primeira, na segunda-feira anterior (07/05) foi do teólogo Leonardo Boff, como mostramos aqui em Dona Lindu fez Lula e Boff chorarem abraçados. Na visita desta segunda-feira dona Lindu, mãe de Lula, voltou a ser lembrada, como relatou Barros no texto que produziu após deixar a Polícia Federal e que reproduzimos abaixo. No texto, Barros explica como ela surgiu na conversa:

“Ele começou a me contar a história de sua infância. Contou como, depois de se separar do marido, dona Lindu saiu do sertão de Pernambuco em um pau de arara com todos os filhos, dos quais ele (Lula) com cinco anos e uma menina com dois.

Lembrou que quando era menino, por um tempo, ajudava o tio em uma venda. E queria provar um chiclete americano que tinha aparecido naqueles anos. Assim como na feira, queria experimentar uma maçã argentina que nunca havia provado. No entanto, nunca provou nem uma coisa nem outra para não envergonhar a mãe. E aí ele prosseguia com lágrimas nos olhos:

Agora esses moleques vêm me chamar de ladrão. Eu passei oito anos na presidência. Nunca me permiti ir com Marisa a um restaurante de luxo, nunca fiz visitas de diplomacia na casa de ninguém… Fiquei ali trabalhando sem parar quase noite e dia… E agora, os caras me tratam dessa maneira...”, disse Lula no relato de Barros.

Luta contra o ódio – Mas, desta vez, a emoção do visitante e do visitado se deu no momento em que o monge beneditino apresentou a hóstia consagrada para dar a comunhão a Lula. Ao reparar que havia duas, o ex-presidente mostrou-se curioso. No texto o monge explicou:

“Eu lhe dei a comunhão e ele me deu também para ser verdadeiramente comunhão. Em um instante, eram vocês todos/as que estavam ali naquele momento celebrativo e eu disse a ele: ‘Como uma alma só, uma espécie de espírito coletivo, muita gente – muitos companheiros e companheiras – estão aqui conosco e estão em comunhão e essa comunhão eucarística representa isso‘”.

Depois da visita ao Lula, Barros esteve com seu amigo e ex aluno de teologia, Rozalvo Finco, com quem gravou alguns vídeos relatando o encontro com Lula. No primeiro, descreve como encontrou o ex-presidente e diz que o que mais lhe tocou foi ver “a luta interior do Lula para se ver livre do ódio. Estamos vivendo no Brasil de hoje um momento de muita intolerância e muito ódio”. Na conversa, lembrando passagens bíblicas, o religioso comentou :  “você tem o direito de se indignar. Na bíblia chama-se indignação profética. Jesus se indignou muito. Houve momentos do evangelho em que dizia  Jesus olhou para aqueles fariseus com muita raiva. Esta raiva não é ódio. É indignação”.

Vítima da armação política – No segundo vídeo ele relata quando Lula se disse vítima de uma armação política “para impedir que eu exerça meu direito de cidadão, meu direito de me candidatar e que eu possa ser para o povo um símbolo da esperança de um Brasil diferente”. Mas não comentaram a pressão dos partidários da esquerda que pressionam pela sua desistência.

Caravana do semiárido – Mais uma vez o ex-presidente agradeceu a solidariedade do povo que vem se manifestando, não apenas no acampamento, a seu favor. Depois de confirmar que mesmo sem a aparelhagem de som – destruída pelo delegado federal Gastão Schefer Neto como mostramos em DPF que atacou vigília pró-Lula levou bomba no psicotécnico, Lula disse: “Eles significam muito para mim porque com uma alma coletiva que me ajuda a resistir. Eu sei que no Brasil inteiro, não só aqui,outros acampamentos, movimentos, encontros, caravanas, manifestações estão se fazendo no mesmo espírito. É importante que isso se mantenha e se fortaleça”.

Foi informado então da caravana que sairá, no próximo dia 13 de junho, da sua terra natal, Caetés (PE), com destino a Curitiba, para promover uma festa junina para Lula na porta da Polícia Federal. No caminho, os três ônibus irão parar nas cidades para conversar com os moradores e animar a militância. “Ele querem fazer um São João nordestino para o Lula da prisão escutar”, explicou Barros.

Benção conjunta e a todos – Ao final do encontro, tanto o monge benzeu Lula como pediu a benção a Lula. No relato de Barros, ao lhe benzer, o ex-presidente, preso, estava benzendo a todos os que, do lado de fora da prisão, indignados, lutam pela sua liberdade.

A indignação profética de quem ama

Marcelo Barros, monge beneditino.

Desde que a justiça liberou visitas religiosas, fui o segundo a ter graça de visitar o presidente Lula em sua prisão. (Quem abriu a fila foi Leonardo Boff na segunda-feira passada).

Eram exatamente 16 horas quando cheguei na dependência da Polícia Federal onde o presidente está aprisionado. Encontrei-o sentado na mesa devorando alguns livros, entre os quais vários de espiritualidade, levados por Leonardo.

Após visitar Lula, o monge Marcelo Barros esteve na Vigília Lula Livre falando de como encontrou o ex-presidente Foto: Eduardo Matysiak

Cumprimentou-me. Entreguei as muitas cartas e mensagens que levei, algumas com fotografias. Mensagem do Seminário Fé e Política, de um núcleo do Congresso do Povo na periferia do Recife, da ASA (Articulação do Semi-árido de Pernambuco) e de muitos amigos e amigas que mandaram mensagens.

Ele olhou uma a uma com atenção e curiosidade. E depois concluiu:

– De saúde, estou bem, sereno e firme no que é meu projeto de vida que é servir ao povo brasileiro como atualmente tenho consciência de que eu posso e devo. Você veio me trazer um apoio espiritual. E o que eu preciso é como lidar cada dia com uma indignação imensa contra os bandidos responsáveis por essa armação política da qual sou vítima e ao mesmo tempo sem dar lugar ao ódio.

Respondi que, nos tempos do Nazismo, Etty Hillesum, jovem judia, condenada à morte, esperava a hora da execução em um campo de concentração. E, naquela situação, ela escreveu em seu diário:

“Eles podem roubar tudo de nós, menos nossa humanidade. Nunca poderemos permitir que eles façam de nós cópias de si mesmos, prisioneiros do ódio e da intolerância”.

Vi que ele me escutava com atenção e acolhida. E ele começou a me contar a história de sua infância. Contou como, depois de se separar do marido, dona Lindu saiu do sertão de Pernambuco em um pau de arara com todos os filhos, dos quais ele (Lula) com cinco anos e uma menina com dois.

Lembrou que quando era menino, por um tempo, ajudava o tio em uma venda. E queria provar um chiclete americano que tinha aparecido naqueles anos. Assim como na feira, queria experimentar uma maçã argentina que nunca havia provado. No entanto, nunca provou nem uma coisa nem outra para não envergonhar a mãe. E aí ele prosseguia com lágrimas nos olhos:

“Agora esses moleques vêm me chamar de ladrão. Eu passei oito anos na presidência. Nunca me permiti ir com Marisa a um restaurante de luxo, nunca fiz visitas de diplomacia na casa de ninguém… Fiquei ali trabalhando sem parar quase noite e dia… E agora, os caras me tratam dessa maneira…”

Eu também estava emocionado. O que pude responder foi:

Barros circulou pela vigília e pelo acampamento Marisa Letícia. Foto Eduardo Matysiak

“O senhor sabe que as pessoas conscientes, o povo organizado em movimentos sociais no Brasil inteiro acreditam na sua inocência e sofrem com a injustiça que lhe fizeram. Na Bíblia, há uma figura que se chama o Servo Sofredor de Deus que se torna instrumento de libertação de todos a partir do seu sofrimento pessoal. Penso que o senhor encarna hoje, no Brasil essa missão”.

Comecei a falar da situação da região onde ele nasceu e lhe dei a notícia de que a ASA (Articulação do Semi-árido) e outros organismos sociais estão planejando um grande evento para o dia 13 de junho em Caetés, a cidadezinha natal dele. Chamar-se-á “Caravana do Semi-árido pela Vida e pela Democracia” (contra a Fome – atualmente de novo presente na região – e por Lula livre).

A partir daquela manifestação, três ônibus sairão em uma caravana de Caetés a Curitiba para ir conversando com a população por cada dia por onde passará até chegar em Curitiba e fazer uma festa de São João Nordestino em frente à Polícia Federal.

Ele riu, se interessou e me pediu que gravasse um pen-drive com músicas de cantores de Pernambuco, dos quais ele gosta. Música de qualidade e que não estão no circuito comercial.
Vergonha. Nunca tinha ouvido falar de nenhum e nem onde encontrar. Ele me disse que me mandaria os nomes pelo advogado e eu prometi que gravaria.

Distenção feita, ele quis me mostrar uma fotografia na parede na qual ele juntou os netos. Explicou quem é cada um/uma e a sua bisneta de dois anos (como parece com dona Marisa, meu Deus!).

Começou a falar mais da família e especialmente lembrou um irmão que está com câncer. Isso o fez lembrar que quando Dona Lindu faleceu, ele estava na prisão e o delegado Tuma permitiu que ele saísse da prisão e com dois guardas fosse ao sepultamento da mãe. No cemitério, havia uma pequena multidão de companheiros que não queriam deixar que ele voltasse preso. Ele teve de sair do carro da polícia e falar com eles pedindo para que deixassem que ele cumprisse o que tinha sido acertado. E assim voltou à prisão.

A hora da visita se passou rápido. Perguntei que recado ele queria mandar para a Vigília do Acampamento e para as pessoas às quais estou ligado.

Ele respondeu:

“Diga que estou sereno, embora indignado com a injustiça sofrida. Mas, se eu desistir da campanha, de certa forma estou reconhecendo que tenho culpa. Nunca farei isso. Vou até o fim. Creio que na realidade atual brasileira, tenho condições de ajudar o Brasil a voltar a ser um país mais justo e a lutar para que, juntos, construamos um mundo no qual todos tenham direitos iguais”.

Para concluir a visita, propus ler um texto do evangelho e ele aceitou.

Li o evangelho do próximo domingo – festa de Pentecostes e apliquei a ele – os discípulos que estão em uma sala fechada, Jesus que se deixa ver, mesmo para além das paredes que fechavam a sala. E deu aos seus a paz, a alegria e a capacidade de perdoar no sentido de discernir o julgamento de Deus sobre o mundo. E soprando sobre eles lhes deu a vida nova do Espírito. Segurei em suas mãos e disse:

“Creio profundamente que isso se renova hoje com você”.

Vi que ele estava emocionado. Eu também fiquei. Abri o pequeno estojo e lhe mostrei a hóstia consagrada que lhe tinha trazido da eucaristia celebrada na véspera. Oramos juntos e de mãos dadas o Pai Nosso.

Eu tinha trazido duas hóstias. Eu lhe dei a comunhão e ele me deu também para ser verdadeiramente comunhão.

Em um instante, eram vocês todos/as que estavam ali naquele momento celebrativo e eu disse a ele:

“Como uma alma só, uma espécie de espírito coletivo, muita gente – muitos companheiros e companheiras – estão aqui conosco e estão em comunhão e essa comunhão eucarística representa isso”.

Eu lhe dei a bênção e pedi a bênção dele para todos vocês.

Foi isso.

Quando o policial que me foi buscar me levou para fora e a porta se fechou atrás de mim, me deu a sensação profunda de algo diferente.

Senti como se eu tivesse saído de um espaço de liberdade espiritual e tivesse entrando na cela engradeada do mundo que queremos transformar.

Que o Espírito de Deus que a celebração desses dias invoca sobre nós e sobre o mundo nos mergulhe no amor e nos dê a liberdade interior para irmos além de todas essas grades que aprisionam o mundo.

 

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7 Comentários

  1. […] O que a cada dia fica mais claro para os golpistas que depois de retirarem do poder a presidente Dilma Rousseff, legitimamente eleita e sem nenhuma mácula que a condenasse, completaram o golpe com a condenação apressada e sem provas de Lula, é que não será tão fácil mantê-lo distante das próximas eleições. Como explicou aqui no Blog o monge beneditino Marcelo Barros na postagem Lula vítima de armação política até pela esquerda: […]

  2. Sergio Sete disse:

    Todos os argumentos da seita se resumem a “preso político” e “não provaram que o apartamento é dele”.
    A contra partida é válida também: ninguém da seita prova que ele não é preso político (bravatear em blogs não é prova) e que o apartamento não é dele.

    • Dio disse:

      Como assim não foi provado que o apartamento não é dele?
      Pelo menos 80 testemunhas o inocentaram, e ainda diversos documentos mostram o que o apartamento é da oas penhorado a caixa.
      Como não temnprova de que ele é inocente?

  3. Edna Teixeira disse:

    É Lula ou Nada. Lula é um preso político. INjustiça. #LulaInocente

  4. C.Poivre disse:

    O mais indignante das armações denunciadas pelo Presidente Lula é a que provém de setores que se dizem de esquerda, impacientes para herdarem os votos dos lulistas, assim como os abutres voam circulando a vítima enquanto ela ainda vive.
    É Lula ou nada. Não contem comigo para votar em hienas.

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