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Lauro Jardim entrega sua fonte: os procuradores. E agora, dr. Janot?

Marcelo Auler

Na coluna de Lauro Jardim o anuncio da promessa feita por um delator aos procuradores. Quem vazou?

Na coluna de Lauro Jardim o anuncio da promessa feita por um delator aos procuradores. Quem vazou?

No mesmo sábado (11/06) em que o jornal O Globo, na sua página 4, publicou declarações do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, desmentindo que vazamentos partam da Procuradoria Geral da República (PGR), a coluna de Lauro Jardim, no site do jornal, apontou os procuradores da República como a fonte de informação de delação na Operação Lava Jato. Mais grave, delação que ainda acontecerá. Ou seja, nem no papel está.

A notícia foi explorada no domingo (12/06) pelo próprio O Globo, em sua Manchete e já foi alvo de comentário do Fernando Brito em O TijolaçoMarina, o “caixa 2 da OAS” e o castigo da hipocrisia. No meu entendimento, porém, mais grave que qualquer hipocrisia de Marina, é a questão de onde surgiu o vazamento: da Procuradoria. Senão vejamos.

Na coluna, Lauro Jardim diz claramente que o “ex-presidente da OAS se comprometeu com os procuradores a falar do caixa dois que, segundo ele, irrigou a campanha de Marina Silva à presidência em 2010” (grifei).

Normalmente, notícias como esta são atribuídas genericamente. Não se costuma especificar se a fonte foi procurador, delegado, agente, juiz ou advogado. Não se sabe se por descuido ou por algum outro interesse, Jardim não se referiu, por exemplo, a “investigadores”. Se usasse esta expressão, dissimularia de quem partiu a informação pois poderia ser alguém da Polícia Federal, do Ministério Público Federal ou do Judiciário. Mas ele cravou: “procuradores”.

Trata-se de uma conversa privada, que antecede a um depoimento, na qual acertam-se detalhes do que a testemunha tem a falar para que o(s) procurador(es) avalie(m) o real interesse da “delação”. Diálogo que só deveria ser do conhecimento de duas partes: quem fala e quem ouve. Admitamos que o delator estivesse acompanhado de seu advogado e que a conversa tenha sido com mais de um procurador. Ainda assim, são apenas duas partes: acusado/defesa e acusadores.

Obviamente, ao delator não interessa vazar nenhuma informação deste tipo, até para não comprometer a própria delação que algum beneficio lhe trará. Tanto ele como sua defesa sabem que o vazamento pode até melar a delação. Principalmente algo que é apenas promessa. Ou seja, não foi colocado no papel e, por isso mesmo, ainda está longe de valer oficialmente. Como se sabe, não basta apenas colocar no papel. A delação, depois de feita, precisa ser homologada judicialmente.

O próprio Janot questiona: "a quem esse vazamento interessa?"

O próprio Janot questiona: “a quem esse vazamento interessa?”

Realisticamente, não há porque imaginar que o vazamento tenha partido do empresário ou da sua defesa. Resta(m) então o(s) procurador(es). Admita-se até que nenhum procurador que estivesse na conversa tenha falado com Jardim. O jornalista pode ter recebido a informação por terceira pessoa. Um outro procurador? Um delegado da Polícia Federal? Alguém do Judiciário? A  mulher/namorada de quem esteve na conversa? Um assessor? Um amigo de confiança com quem o(s) procurador(es) foi(foram) beber no bar ou encontrou-se (encontraram-se) em algum local?

O indiscutível é que só quem ouviu a conversa pode ter passado adiante, seja para o jornalista, seja para a terceira pessoa que levou ao conhecimento do jornalista. Independentemente da hipótese pela qual a notícia chegou à coluna, alguém vazou. Se a conversa/promessa foi com procurador(es), ele(s), muito provavelmente, foi(foram) o(s) autor(es) do vazamento.

Quando, na sexta-feira, o procurador-geral da República negou “peremptoriamente” – termo que ele usou – que a PGR tenha vazado a informação a respeito do pedido de prisão dos senadores Ranan Calheiros, Romero Jucá e do ex-presidente José Sarney, fez a conhecida e velha pergunta:

A quem esse vazamento beneficiou? Ao Ministério Público não foi”.

Aliás, sobre este episódio do vazamento das informações do pedido de prisão dos dois senadores e do ex-presidente, vale aqui lembrar o que bem colocou neste domingo (12/06) Janio de Freitas, em sua coluna Depois dos vazamentos, na Folha de S. Paulo. A Janot não é dado o direito apenas de negar, ele tem poderes para apurar.:

“O que desagradou a Janot, com razão, não é suficiente para dispensá-lo, já que houve o vazamento parcial, de proporcionar à opinião pública os esclarecimentos convenientes. No mínimo, por dever de servidor público. Também porque, afinal de contas, o vazamento só poderia vir do conjunto de áreas e servidores de que Rodrigo Janot é um dos responsáveis maiores.

Além disso, foi Janot quem divulgou uma advertência lúcida (Leia, a propósito, Janot: não ao messianismo, ao individualismo e à radicalização) sobre a necessidade de contenção da vaidade e da prepotência nos que lidam com Justiça”.

Mas, a mesma questão que o procurador-geral levantou – “a quem esse vazamento beneficiou?” – pode ser repetida neste caso em que Jardim entregou a fonte. Não estamos aqui questionando o papel do jornalista que, por lei, não está sujeito ao segredo de Justiça em processos que ele não manipula. As informações ali contidas, normalmente, lhes chegam por algum dos “operadores do direito” que acessaram os autos. E é com relação a este que se levanta o questionamento; qual o interesse nesse vazamento? Não será apenas informar à população.

Na questão relacionada aos pedidos de prisões outras dúvidas ficaram no ar. Uma é a desconfiança de se os diálogos captados realmente demonstram uma intensão concreta de tentativa de obstrução da Justiça? Provavelmente, não. È capaz de Janot possuir mais informações. Mas, também fica, no mínimo a curiosidade de saber o por que desses pedidos de prisões preventivas terem sido feitos há duas semanas e somente agora divulgados, quando se sabe que as gravações de Sérgio Machado surgiram em março. Já e o pedido encaminhado ao Supremo, segundo revelou O Globo, ocorreu apenas no final de maio, início de junho. Ou Janot ficou este tempo todo juntando mais provas, ainda não apresentadas, ou deixaram para vazar em um momento politicamente interessasse. Aliás, algo parecido acaba de acontecer também com relação ao ex-presidente Lula.

Nora Teixeira Martins  11.06.2016Na sexta-feira, a TV Globo divulgou que Janot pediu ao Supremo que encaminhasse o inquérito de Lula para as mãos do juiz Sérgio Moro. Assunto já abordado tanto no Tijolaço de Fernando Brito – Dr. Janot, vazar contra o Lula pode? Porque disso o Gilmar não vai reclamar…., como no Jornal GGN de Luis Nassif – Enquanto Janot discursa, novo documento é vazado à Globo

O pedido que a TV Globo noticiou sexta-feira passada já estava em poder do Supremo desde 23 de maio e mereceu pronta contestação quatro dias depois, como explica a nota dos advogados de Lula (veja ao lado). Vazaram o pedido sem repassarem a contestação. Por quê?

Uma das explicações claras, principalmente para quem acompanha a Operação Lava Jato, é o uso de informações confidenciais, ou sob segredo de Justiça, como forma de intimidação, ou de pressão. Isto foi destacado pela nota que os advogados de Lula divulgaram no sábado (11/06). Ali, no antepenúltimo parágrafo, consta:

Vemos, portanto, uma notícia velha ser requentada apenas para tentar transferir o tema do jurídico, palco natural da discussão, para o âmbito da imprensa, com o claro intuito de usar a opinião pública como elemento de pressão“.

Repete-se assim, o vazamento das conversas entre Lula e Dilma, grampeadas – ilegalmente, pois depois da ordem do juiz Sergio Moro suspendendo o grampo – cuja divulgação serviu claramente para instigar o clima político criado anti-Lula, anti-Dilma e anti-PT.

Ou como bem definiu o delegado federal aposentado Armando Rodrigues Coelho Neto, no artigo Quem não seguir o script do golpe vai preso, publicado nesta segunda-feirsa, no JornalGGN:

Já no Brasil, que adotou espontaneamente as mesmas leis, rompeu-se a ordem jurídica, assassinaram reputações, usaram prisões temporárias como forma de coação, delações foram adrede vazadas, prenderam empresários e quebraram empresas. Agravaram a crise – outro item do golpe, e para completar, tentam derrubar a Presidente da República. Com o país nas mãos de uma quadrilha, parte dela vive sob ameaça de prisão. Quem não seguir o script do golpe vai preso e as prisões já pedidas seriam meras coincidências“.

Uma questão que, sem dúvida, deverá ser abordada na tarde desta segunda-feira (13/06) na palestra/debate que o subprocurador da República, Eugênio Aragão, ex-ministro da Justiça de Dilma, fará na Faculdade Nacional de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Com a organização do Programa de Pós-Graduação da Faculdade Nacional de Direito, o evento terá o tema “O Ministério Público na crise de 2016”. Veja mais informações abaixo.

palestra do Eugenio aragão UFRJOs vazamentos, entre outras medidas, fazem parte, na verdade, de uma estratégia que vem sendo adotada em toda a Operação Lava Jato como forma de “mobilizar” a opinião pública a favor das investigações e contra qualquer espécie de interferência política. Algo, porém, que pode ser considerado uma faca de dois gumes, pois torna os “investigadores” (no caso, policiais federais, procuradores e o próprio judiciário) imune às críticas, inclusive aquelas referentes aos possíveis deslizes e/ou ilegalidades.

A propósito, vale repetir aqui o que constou do editorial da Folha de S. Paulo, em 02 de junho, ao criticar a censura imposta a este blog (Da Folha de S.Paulo: Operação Censura):

“(…) a disposição autoritária sem dúvida se camufla em meio ao ânimo messiânico e justiceiro que se cria em torno das necessárias —e sempre louvadas— ações contra a corrupção.

Nada seria melhor para as autoridades da Lava Jato, todavia, do que se mostrar imune a críticas —e não procurar silenciá-las, como se delas tivessem efetivo receio”.

Críticas, inclusive, a alguns dos métodos adotados, que colidem com o Estado Democrático de Direito, elencadas por Coelho Neto em seu artigo.Entre elas, os vazamentos. Repito aqui trecho de uma postagem que fiz em 26 de setembro, na matéria “Grampo da discórdia da Lava Jato” na qual me referi à reportagem que aquela semana saiu na revista CartaCapital, em especial ao parágrafo final, inserido em São Paulo ao editarem o material:

“Só o completo esclarecimento do tal grampo poderá demonstrar que a Lava Jato não ultrapassa os limites da legalidade em seu ímpeto louvável de punir a corrupção no Brasil. Para quem está imbuído da missão de limpar o País, a transparência não é só recomendável. É essencial”.

Por tudo que vemos, continua faltando transparência em todo este caso. Mas, sobram dissimulações. E os vazamentos.

20 Comentários

  1. Antonio Camelo da Silva disse:

    Após ler e reler a magnífica matéria do ilustre Repórter, Marcelo Auler, bem como das senhoras e senhores cidadães que tecem comentário sobre a matéria, parabenizo todos pela ótica real, nítida e racional presente na realidade brasileira que se apresenta. Os conteúdos acima apresentados descrevem em cores o que está em curso no brasil hoje, porém imperceptivel à grande massa da sociedade, infelizmente.

    Parabéns!

  2. C.Pimenta disse:

    A lava jato vem cumprindo fielmente as ordens emanadas da plutocracia, a saber:

    1. Destruir a indústria brasileira pesada para abrir caminho para as empresas transnacionais. Cumprida.

    2. Extinguir a classe política para dar espaço para o advento de um ditador, tipo um Berlusconi, viabilizado pela Operação Mãos Limpas na Itália. Ordem em fase de cumprimento

    3. Condenar o líder José Dirceu à prisão perpétua. Cumprida.

    4. Desconstruir a liderança absoluta do ex-Presidente Lula para torná-lo inelegível. Prestes a ser cumprida.

    Resta saber quem e o quê cada um dos membros desta farsa está ganhando com isto. O Brasil certamente está perdendo de goleada.

  3. C.Pimenta disse:

    Concordo com sua desconfiança pois o queridinho do PIG é gilmar e muito abaixo da fila de preferências vem o janot que só serve à plutocracia quando acusa Dilma ou Lula.

  4. C.Pimenta disse:

    Com a devolução da “investigação” à lava jato pelo ministro(sic) Teori, significa que recomeçará a perseguição da lava jato ao Presidente Lula com o único e exclusivo objetivo de torná-lo inelegível nas eleições para presidente, já que ele é o favorito. A plutocracia mandou a “força-tarefa” obedece e pronto. É assim que as coisas funcionam por aqui.

  5. Naz Petriz disse:

    Fácil de entender …. Governo com viés social … achata a pirâmide portanto, tanto qto no século passado como agora, o Cume … ao ver o “gelo” derreter …. deprava o Alpinista chefe. Onde já se viu? . .. distribuição da” água” aqui reservada ….. Tem muitos preservadores de benesses no cume

  6. Fedrigo Javôt disse:

    Coitado do Deltroll Da-lãhól, ele os capitães do mato da pÊefi de curitiba, vão começar a ser vítimas do massacre dos grandes veículos de mídia.
    DEMOROU!

    PS. Imaginem a hora que for escancarado o sistema de extração a jato de delações na laje fria de concreto da pÊefi do paraná…. e mais, os vários grampos ilegais e fraudes praticados por essa canalha… aí ninguém segura os cães raivosos da mídia do PIG, eles não tem dó, não tem ética, não tem moral e não devem nada pra esses falsos heróis que criaram. Vai voar mecônio pra todo lado!

  7. SILVIO disse:

    tem mais …

    Vá estudar, Dallagnol! As suas intenções são boas. A sua bibliografia pede mais dez anos de leitura
    Alguns procuradores se dizem inconformados que a sua ação tenha resultado no governo Temer, que não representa seus anseios

    Por: Reinaldo Azevedo 10/06/2016 às 23:42
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    Cada um faça a análise que quiser do comportamento recente de membros do Ministério Público Federal. Tenho a minha e me atenho à objetividade dos fatos. Se Dilma e o PT anunciam que se deu “um golpe” no Brasil para controlar a Lava-Jato e se o procurador Deltan Dallagnol concede uma entrevista à Folha fazendo essa mesma acusação, é impossível não agrupá-los.

    Mas sou prudente. Eu os agrupo com nuances. Cada um deles conta a história furada que serve a seu propósito; cada um deles adota a mentira por motivos específicos.

    Ao PT interessa acusar um golpe para minguar a Lava-Jato porque, se essa história pega, é claro que a credibilidade do novo governo é atingida em cheio.

    Ao MPF interessa acusar um golpe para minguar a Lava-Jato porque seus membros estão convencidos — e isso já me tinha sido assegurado há tempos por pessoas que convivem com os bravos — de que estão no meio de uma onda revolucionária. E, a exemplo de toda revolução, esta também teria de ir além dos limites meramente institucionais.

    Assim, PT e Dallagnol — com Rodrigo Janot — se unem episodicamente, ainda que tenham horizontes distintos; ainda que os petistas também detestem a Lava-Jato. Acontece que esse ódio do partido aos procuradores provocou um estranho efeito nos homens de negro.

    Conversas
    Sei de fonte segura que alguns jovens procuradores estão insatisfeitos porque têm a consciência de que colaboraram, sim, para a desestabilização do (des)governo Dilma. Como? Expondo o que os petistas fizeram.

    Só que alguns procuradores se dizem inconformados que a sua ação tenha resultado no governo Temer, que não representa seus anseios.

    Olhem aqui: em primeiro lugar, os bravos rapazes não deveriam superestimar o seu papel. É claro que são personagens centrais deste momento, mas não são únicos.

    Em segundo lugar, os senhores procuradores não estão numa missão privada ou pessoal. Eles são homens de estado. Dallagnol não é dono da investigação. Rodrigo Janot não é dono da investigação. Os outros membros do MPF não são. Eles não podem conduzir a operação segundo as avaliações que fazem do cenário político.

    A mim não me interessa se os doutores gostam ou não do governo Temer; se acham que a posse definitiva do atual interino é ou não do seu gosto. Como cidadão, cada um pense o que quiser. O que não é possível é Dallagnol conceder uma entrevista em que faz proselitismo aberto de uma questão que está sob juízo do Supremo. O que não é possível é o agente que acusa ser também aquele que julga, apelando à opinião pública.

    Novas eleições
    Vamos ser claros? A tese das novas eleições contamina hoje boa parte dos membros da Lava-Jato. E é nesse ponto que a aliança desses setores com franjas do petismo vai além de um simples alinhamento objetivo. É claro que voltarei ao tema.

  8. SILVIO disse:

    Até a Veja ja viu aonde vai parar essas sacanagens de Curitiba, pularam do barco.

    Chilique de Janot é irrelevante; ele deveria ter advertido Dallagnol, que abraçou a tese do PT!
    Procurador-geral fica indignado, fala grosso, mas não diz nada. Pior: ele se calou sobre a entrevista despropositada de Dallagnol

    Por: Reinaldo Azevedo 10/06/2016 às 16:34
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    Muito ruim a entrevista de Rodrigo Janot, procurador-geral da República, sobre o vazamento dos pedidos de prisão de José Sarney, Romero Jucá e Renan Calheiros. Ele sabe que a coisa caiu como uma bomba nos meios jurídicos, e, para muita gente, uma luz amarela se acendeu: resta a firme impressão de que o Ministério Público Federal se entende como um Poder acima dos Poderes. Desde quando, numa democracia, dez ministros do Supremo são informados pela imprensa que o MPF quer prender, entre outros, o presidente do Poder Legislativo? Renan pode até merecer. Mas não é assim que se faz.

    Janot negou que o vazamento tenha partido da Procuradoria-Geral da República, mas disse que vai apurar a origem. Se for o MPF, prometeu, haverá punições. Mas aproveitou para mandar um recado malcriado ao ministro Gilmar Mendes, sem citar o nome, cobrando serenidade e isenção. Qual? Aquela que se tem percebido no Ministério Público? Devagar com o andor, doutor! O pedido de prisão era conhecido pelo MPF e por Teori Zavascki. Todos sabem que não foi o ministro que vazou. Goste-se ou não dos seus juízos, ele não antecipa nada nem ao próprio espelho. É evidente que a fonte de vazamento é o MPF.

    Janot fez uma coisa estranha: negou que seja candidato à Presidência da República. Como quase ninguém fala disso; como essa é uma hipótese considerada por muito pouca gente; como seu nome não aparece nem nas simulações de pesquisas eleitorais; como, que se saiba, ele não tem nem filiação partidária, praticamente ninguém lida com essa possibilidade.

    Ou por outra: ao negar, Janot se lança candidato à Presidência da República. Atenção! O Ministério Público Federal começou a se enrolar na sua própria onipotência.

    Cadê a bronca?
    Janot deveria ter aproveitado o seu momento de destampatório para dar uma bronca pública em Deltan Dallagnol, o jovem e buliçoso procurador que precisa envelhecer um pouco com urgência. O rapaz tem de saber que o diabo é diabo porque é velho, não porque é sábio. E ele foi um tolo na entrevista que concedeu à Folha desta sexta.

    Dallagnol, na prática, justificou os vazamentos que Janot condenou e os chamou de “crimes”; deixou claro que só reconhece como legítima uma resposta do Supremo — dizer “sim” às prisões —, fez a defesa de um projeto de lei, deu-se a digressões sobre o papel do Congresso, chamou prerrogativas de parlamentares de ardil criminoso e, pior de tudo!, aderiu à tese petista de que um grupo de atuais governistas quer interferir na Lava-Jato, o que, até agora, não se verificou.

    Com a vocação dos messiânicos, Dallagnol deixou claro que ninguém presta — nem o Supremo caso não faça o que ele quer — e que a única segurança dos brasileiros é o Ministério Público.

    É evidente que é preciso repudiar tal postura. Já afirmei aqui e reitero: ela não desestabiliza o governo Temer, como apostam os petistas. Ela desestabiliza a democracia. Daqui a pouco, Dallagnol vai quer ser o único membro de um quarto Poder: o SPF (Supremo Procurador Federal).

    Infelizmente, a entrevista de Janot diz uma coisa, e a de Dallagnol, o seu contrário. Um diz falar em nome do império da lei; o outro, claramente, flerta com atalhos. Aliás, a própria entrevista já é um desses atalhos lamentáveis.

    Esse rapaz pode e deve trabalhar mais. Mas deveria fazer um silêncio obsequioso. O seu negócio é investigar e buscar provas. Ele pode abrir mão de sua vocação pastoral ou sacerdotal. Para ser um teórico da democracia, ainda tem de comer muito feijão.

    Se der para não repetir as bobagens do PT, melhor!

    • C.Pimenta disse:

      Citar reinaldo azevedo é fim de linha em matéria de leitura. É incompatível ler esse energúmero e o admirável Marcelo Auler ao mesmo tempo.

  9. Márcia Figueiredo disse:

    É impressionante tudo o que está acontecendo. Ministério Público, Polícia Federal, Judiciário. … Não dá pra confiar em ninguém. Vazam informações livremente e nada acontece. Bastaria uma mínima investigação para se descobrir a fonte do delito. Mas, não. Preferem deixar correr solta a máquina desgovernada do Estado, onde grupos se atracam por interesses particulares e imediatistas. A impunidade corre solta em todas as esferas. E tentam desmoralizar e criminalizar a política, única saída possível para um processo civilizatório. Como se a história já não nos tivesse demonstrado com provas fartas, que esse caminho sempre termina com horrores e sofrimento para todos.

  10. […] Auler, de cujo olhar pouca maracutaia escapa, mostra lá, em seu blog que “no mesmo sábado (11/06) em que o jornal O Globo, na sua página 4, publicou […]

  11. João de Paiva disse:

    Prezado Marcelo Auler, prezados leitores.

    Há três anos leitor do Tijolaço, foi através desse blog que tive acesso às reportagens de Marcelo Auler, depois que ele deixou os chamados ‘tradicionais’ veículos de comunicação. Desde a primeira reportagem por ele postada, tive a impressão de estar diante de grandes reportagens, há muito deixadas de produzir por jornais e revistas. Atualmente, é com ansiedade que zapeio várias vezes ao dia o blog de Auler. O trabalho solitário dele não lhe permite produzir em quantidade. Em compensação a qualidade das reportagens chama a atenção de qualquer leitor mais exigente; até os jornalistas do PIG, com opinião e linha editorial oposta, lêem e admiram o trabalho do repórter. Quando Auler publicou a primeira reportagem sobre as ilegalidades criminosas na SR/DPF/PR, intitulada “Lava a Jato revolve lamaçal na PF-PR”, eu a retransmiti a colegas e lhes disse que se tratava de uma reportagem demolidora, que causaria estragos e traria grande repercussão.

    À primeira reportagem se seguiram outras sete, tão impactantes e demolidoras como a primeira. Dada a grande repercussão dessas reportagens, os delegados envolvidos nas ilegalidades criminosas nelas denunciadas se voltaram contra o jornalista e tentam sufocá-lo financeiramente, por meio de infundadas ações judiciais por danos morais. Uma delegada denunciada nas reportagens faz uso dos serviços de advogacia prestados por uma irmã e tenta calar o jornalista. Outro delegado denunciado nas reportagens tenta impor censura prévia ao blog. Lamentàvelmente, uma juíza incompetente ou mal intencionada acolheu as ações dos reclamantes e obrigou o jornalista a retirar as reportagens do blog. Tão importantes considero as reportagens de Marcelo Auler que as tenho todas em meu arquivo. Da minha parte tomei a iniciativa de divulgá-las e outros canais da internet.

    Esta reportagem é mais um desmascaramento do PGR, Rodrigo Janot, uma prova inconteste de que a PGR e o MP vazam para veículos de mídia informações que deveriam estar em segredo de justiça. Os mais atentos e observadores não se surpreendem com isso, pois já sabem que a indústria de vazamentos existe não apenas na PF (como já demonstrado nas reportagens publicadas aqui, corroboradas pela prisão do ‘japonês da federal’, condenado por corrupção, que recentemente se entregou à própria PF; há relatos de que esse agente da PF vendia, em troca de ‘cascalho’, informações a veículos da grande mídia, como a revista Veja).

    Quem acompanha a atuação de Gilmar Mendes desde que era AGU, e depois quando foi colocado no STF para proteger FHC de processos e condenações, e sabe das relações desse ‘ministro do STF’ com o PIG, já deve ter percebido que a suprema côrte é, também, uma promissora fonte de vazamentos seletivos. Nunca podemos esquecer a relação promíscua entre veículos do PIG (sobretudo Veja, O Globo, OESP e FSP, IstoÉ, TV Globo), quadrilhas como a de Carlinhos Cachoeira e alguns ministros do STF. O caso do grampo ‘sem áudio’, protagonizado por Gilmar Mendes e a revista Veja, levou o ex-presidente Lula a ser ‘chamado às falas pelo ministro do STF militante do PSDB-MT e a exonerar Paulo Lacerda da ABIN. A ação de Gilmar Mendes em favor do banqueiro Daniel Dantas – envolvido em negociatas com a privatização das teles -, levando à anulação da Satiagraha, mostra que esse ‘ministro’ opera dos dois lados do balcão, dependendo de quem sejam os investigados ou acusados. Salutar que não esqueçamos os dois HCs concedidos a Daniel Dantas em menos de 48h a DD e outro HC, concedido ao médico Roger Abdelmassih, acusado de estuprar 56 pacientes; esses HCs são da lavra do mesmo Gilmar Mendes.

    Enfim: apenas os ingênuos, incautos, de má-fé ou que fazem do auto-engano um projeto de vida não percebem que TODAS as instituições brasileiras estão apodrecidas, que elas ou não funcionam ou funcionam mal, de forma distorcida, manipulada e atendendo interesses da plutocracia. Ao PIG interessa desmoralizar o sistema político por uma razão simples: fica muito mais fácil chantagear governos e parlamentares fracos e desacreditados e deles conseguir bilionária verba publicitária e/ou uma legislação leniente. A chamada grande mídia comercial brasileira (que em tempos recentes pode e deve ser chamada de PIG – Partido da Imprensa Golpista – ou PPV – Partido da Propaganda Vulgar, dependendo de o governo ser de Esquerda ou de Direita), ao lado do Judiciário, é secularmente representante da oligarquia plutocrata herdeira da casa grande. As oligarquias políticas que vemos em partidos fisiológicos ou de centro-direita e de direita (PMDB, PSDB, PSD, PPS, DEM), assim como os fundamentalistas evangélicos abrigados em legendas como PSC, PR, PRB, etc., representam não só um atraso mas um risco à civilização, ao Estado Democrático, à inclusão social e ao desenvolvimento soberano do Brasil

  12. Armando Coelho Neto disse:

    Senhor Jornalista. O senhor já deveria estar preso por mentir tanto. Mas, se está solto, é porque escreve fatos verdadeiros. E aí fi co a me perguntar, por que meus colegas da Polícia Federal têm dúvidas de que estamos diante de um golpe e que existe uma grande farsa em torno dessas investigações aparentemente dirigidas? Outro dia me perguntaram se a PF é conivente com os demais partidos ou se é incompetente para com os demais partidos.
    Se não é nada disso, por que ninguém vem, de público, desmentir e apresentar a sociedade o que existe efetivamente sério?
    Honestamente, não sei o que fazer com o que até então eu chamava de orgulho de ser Policial Federal, única e exclusivamente por falta de informação honesta, isenta.

    • Ricardo Novaes disse:

      Sr. Policial, é com grande espanto que leio seu comentário neste distinto blog. Nós mortais aqui “de fora” nos fazemos constantemente a pergunta que o Sr. colocou “porque os colegas da Polícia Federal têm dúvidas de que estamos diante de um golpe e que existe uma grande farsa em torno dessas investigações aparentemente dirigidas?”. Achas impossível que tudo isso seja um imenso teatro?? Talvez se conseguir olhar o “palco” de uma distância um pouco maior possas compreender o que se passa…as respostas que procuras podem estar nas famigeradas confissões do Sr. John Perkins. Deixemos para uma próxima conversa discutir os “porquês” de quem age em nome do golpe…

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