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De Claudio Fonteles: “Falta serenidade”

 Marcelo Auler

Sem dúvida que a referência de Fonteles à mulher descabelada é o episódio envolvendo a advogada Janaina Paschoal na Faculdade de Direito da USP, no Largo de São Francisco (São Paulo).

Sem dúvida que a referência de Fonteles à mulher descabelada é o episódio envolvendo a advogada Janaina Paschoal na Faculdade de Direito da USP, no Largo de São Francisco (São Paulo).

Em artigo publicado neste final de semana em seu blog, Claudio Fonteles, o ex-procurador-geral da República do primeiro governo Lula, que não se deixou morder pela mosca azul e recusou um segundo mandato, faz uma análise dos dias atuais e constata que nos “falta serenidade”.

Seu texto cita, sem nomeá-los, alguns personagens. Ao se referir à “mulher descabelada em palco a berrar” é fácil constatar que se refere à advogada Janaiana Paschoal e à sua já famosa manifestação nas Arcadas de São Francisco, na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).

Também não é difícil identificar os “promotores de justiça em exposição midiática para agitar pedido de prisão preventiva contra determinado líder político“. São os três membros do Ministério Público paulista que correram a denunciar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, antes que os procuradores da República de Curitiba o fizessem, mas acabaram atropelando a lei: Cássio Roberto Conserino, José Carlos Guillem Blat, Fernando Henrique de Moraes Araújo.

Por fim, parece pouco provável que ao se referir ao “jovem magistrado que não hesita em expor-se, publicamente, em protesto político contra pessoa determinada e, assim mesmo, chama a si holofotes para julgar pleito contra ato dessa mesma pessoa” ele não esteja falando do juiz Sérgio Moro.

Na sua mensagem ele não menciona o seu sucessor no cargo da PGR, mas o recado dado certamente também lhe cai bem, assim como ao pessoal da Força Tarefa da Lava Jato. É possível sim combater a corrupção dentro da lei e da serenidade.

O que se destaca da mensagem, na verdade é a conclusão dele, antes de partir para a indicação dos rumos a serem tomados com base na fala do papa Francisco, sobre o momento em que vivemos.  Ele defende que “há sempre o fio condutor, ou mais de um fio condutor, no que se passa” para em seguida questionar e logo depois responder: “E qual é o fio condutor nos três fatos, acima abordados?”

“A total falta de serenidade no responder às indagações do cotidiano”.

Católico e franciscano, Fonteles busca na religião ensinamentos que podem ser úteis a todos os chamados homens de boa vontade, com ou sem fé. Nesse ponto, ressalta um antigo ensinamento – “Trata-se da convicção de que “quanto menos, tanto mais”.”

Ao compartilhar seu texto com o título original, me veio à mente os tempos de aluno marista nos anos 70 quando, pela primeira vez ,me deparei com uma imagem que hoje reproduzo. Com ela segue sempre a explicação: “Quem me vê, jamais esquece”.

Acho que todos conseguirão enxergá-Lo. Espero que não O esqueçam neste momento de turbulência. Ou, ao menos, aos seus ensinamentos, em especial o de amar ao próximo como a si mesmo, independentemente de coloração partidária, posicionamento político, gênero, raça ou opção sexual. A intolerância não precisa prosperar entre nós.

ALGUÉM ESTEVE, E ESTÁ, NO MEIO DE NÓS

Claudio Fonteles

Claudio Fonteles na Igreja de São Francisco de Assis - Reprodução revista Isto é Gente

Claudio Fonteles na Igreja de São Francisco de Assis – Reprodução revista Isto é Gente

Mulher descabelada em palco a berrar frases e palavras de ordem, que vociferam a carga pesada da virulência, aplaudida por um tímido nonagenário.

Jovem magistrado que não hesita em expor-se, publicamente, em protesto político contra pessoa determinada e, assim mesmo, chama a si holofotes para julgar pleito contra ato dessa mesma pessoa.

Holofotes também são acionados por promotores de justiça em exposição midiática para agitar pedido de prisão preventiva contra determinado líder político e, quando a magistrada não recebe tal pleito, dizendo-os sem atribuições funcionais ao que ajuizaram, calam-se esses promotores de justiça, nada dizem, e desaparecem.

                São tempos difíceis, mas não devemos temer os tempos difíceis, desde que nós os consideremos como propícios ao aprendizado.

Mas que aprendizado podemos extrair da balbúrdia, do grotesco, do sensacionalismo direcionado e superficial?

Ora, o passo a se dar é justamente esse, posto em indagação: inserir os episódios, que acontecem, num fio condutor, ou dizê-los atomizados, sem qualquer ligação entre si?

Tenho para mim que, na vida, tudo está em contínua interação. Mesmo quem se põe alheio não deixa de fazer referência ao do que se afasta.

Portanto, há sempre o fio condutor, ou mais de um fio condutor, no que se passa.

E qual é o fio condutor nos três fatos, acima abordados?

A total falta de serenidade no responder às indagações do cotidiano.

Realmente, a velocidade é a marca do comportamento do que se convencionou chamar de pós-modernidade: um toque, o digitalizar e o resultado é imediato; consome-se, no ato; usam-se, pessoas e coisas, no instante. O cenário, que assim surge, é o da informação avassaladora, ininterrupta, destituída de qualquer análise ponderada, fundamentada e consistente.

Nunca se informou tanto; se formou tão pouco e se deformou em demasia.

"Quem Me vê, jamais esquece"

“Quem Me vê, jamais esquece”

O Papa Francisco, em seus escritos tão cheios de sabedoria, tem nos ensinado muito.

Colho, e ofereço-lhes amigas e amigos leitoras e leitores, trecho presente na Carta Encíclica “Laudato Si”, que considero pertinente:

“222. A espiritualidade cristã propõe uma forma alternativa de entender a qualidade de vida, encorajando um estilo de vida profético e contemplativo, capaz de gerar profunda alegria sem estar obcecado pelo consumo. É importante adotar um antigo ensinamento, presente em distintas tradições religiosas e também na Bíblia. Trata-se da convicção de que “quanto menos, tanto mais”. Com efeito, a acumulação constante de possibilidades para consumir distrai o coração e impede de dar o devido apreço a cada coisa e a cada momento. Pelo contrário, tornar-se serenamente presente diante de cada realidade, por menor que seja, abre-nos mais possibilidades de compreensão e realização pessoal. A espiritualidade cristã propõe um crescimento na sobriedade e uma capacidade de se alegrar com pouco. É um regresso à simplicidade que nos permite parar e saborear as pequenas coisas, agradecer as possibilidades que a vida oferece, sem nos apegarmos ao que temos nem nos entristecermos por aquilo que não possuímos. Isto exige evitar a dinâmica do domínio e da mera acumulação de prazeres.” ( leia-se Laudato Si – pg. 177 ).

Vejam vocês que nos dias de hoje, e para refrear arroubos emocionais, destemperos apressados, e chamar a atenção daquele que assim se conduz para o equilíbrio no ser, dizemos, popularmente: “menos Fulano, menos…

Assim, aquela mulher não teria se escabelado e vociferado; o magistrado não teria se exposto desnecessariamente e os promotores de justiça não teriam protagonizado incoerência.

Mais uma eloquente passagem da “Laudato Si”, tão apropriada:

“225. Por outro lado, ninguém pode amadurecer em uma sobriedade feliz, se não estiver em paz consigo mesmo. E parte de uma adequada compreensão da espiritualidade consiste em alargar a nossa compreensão da paz, que é muito mais do que a ausência de guerra. A paz interior das pessoas tem muito a ver com o cuidado da ecologia e com o bem comum, porque, autenticamente vivida, reflete-se em um equilibrado estilo de vida aliado com a capacidade de admiração que leva à profundidade da vida. A natureza está cheia de palavras de amor; mas, como poderemos ouvi-las no meio do ruído constante, da distração permanente e ansiosa ou do culto da notoriedade? Muitas pessoas experimentam um desequilíbrio profundo, que as impele a fazer as coisas a toda a velocidade para se sentirem ocupadas, em uma pressa constante que, por sua vez, as leva a atropelar tudo o que têm a seu redor.” ( leia-se: Laudato Si – pg. 179 ).

Realmente, é fundamental desejar bom-dia para quem pensa de modo diverso do nosso pensar; desenvolver a paciência de ouvir, sem se apressar em redarguir aquele que fala, mesmo que seu falar seja lento, ou repetitivo; por-se no lugar de quem é diferente de nós e, assim, viver o próximo não como alguém que está fora de nós, mas que é o nosso “outro eu”, por isso que nos envolvemos com ele.

Alguém esteve, e está, no meio de nós, sempre nos oferecendo o seu viver: Jesus Cristo.

Paz e Bem!

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