Todo ano é tudo sempre igual. Uma festa bonita em que alguns são mais bem aquinhoados do que outros quando convidados para a área Vip, no dia da inauguração. Mas, não deixa de ser uma atração turística para a cidade a Árvore de Natal gigantesca que a Bradesco Seguros arma dentro da Lagoa Rodrigo de Freitas, na zona Sul do Rio de Janeiro.
Uma questão, porém, está sendo ressaltada por Agostinho Vieira – especialista em meio ambiente – no seu Projeto COLABORA. O que já se gastou com o arma e desarma desta Árvore, – por ele denominada cereja colocada em um bolo que vem sendo estragado há décadas pela poluição, cheira mal e ninguém faz nada para evitar essa mazela – seria mais do que suficiente para despoluir a Lagoa. Isto sim, traria um “legado” (para utilizar um termo que virou moda todos falarem) à cidade e aos cariocas.
O dinheiro investido nos últimos 20 anos daria para despoluir a Lagoa três vezes
Toda a festa é bancada pelo Bradesco Seguro. Trata-se de um marketing, sem a menor dúvida.Mas aqui levanto uma outra questão que Agostinho Vieira não tocou. Acho que foi em 1985 que eu, escrevendo para a extinta revista Balanço Financeiro, do Grupo Gazeta Mercantil, sob a batuta de Klaus Kleber,fiz uma grande reportagem sobre o Bradesco. Na época, o seu atual presidente, Luiz Carlos Trabuco Cappi, cuidava da comunicação social do banco e foi por meio dele que cheguei ao todo poderoso Amador Aguiar, para uma longa conversa, na Cidade de deus, em Osasco.
Nesta conversa ele falou com carinho especial da Fundação Bradesco, que já funcionava em diversos estados brasileiros, mas somente em 1986, com as inaugurações das Escolas de Ceilândia (DF) e de Bodoquena (MS), passou atuar em todas as regiões do país.
Nas palavras de Amador Aguiar, o Bradesco Seguros foi criado para dar sustentação à Fundação e às suas obras beneficentes. Não sei se isso perdura até hoje. Mas, me fica a dúvida do imenso gasto com a árvore e o retorno de um investimento deste porte para o objetivo maior que da seguradora na definição do fundador do banco: a Fundação e seu trabalho educacional. É óbvio que a começar por Trabuco, que além de dirigir a área de marketing do banco, presidiu e impulsionou a seguradora, a diretoria do Bradesco deve saber o que faz e o retorno tende a ser alto, por menos que a gente entenda como isso se dá. Afinal, como sabemos, banqueiro não joga dinheiro fora.
por Agostinho Vieira
“Aparentemente, nas últimas duas décadas ninguém se interessou em saber o custo da maior árvore de Natal flutuante do mundo. Em 2011, uma revista semanal chegou a publicar uma lista com “dez fatos inusitados sobre o ícone carioca”. Nenhum envolvia dinheiro. Inusitado. (…)
(…) Só em 2015, antes do acidente que destruiu parte da estrutura, seriam 2,5 milhões de microlâmpadas, 105 km de mangueiras luminosas, seis geradores embarcados, 25 km de estruturas tubulares, 350 toneladas de peso, 53 metros de altura, 17 andares, 11 flutuadores de 12 toneladas, 1.500 pessoas.
Talvez essas informações todas possam dar uma pista do tamanho do investimento. Será? Uma pesquisa rápida no Mercado Livre revela que 100 microlâmpadas de LED custam R$ 25,88. A boa e velha regra de três simples indica que 2,5 milhões valeriam R$ 645 mil. Interessante. Vamos em frente. Mais 40 minutos de Google e ligações telefônicas são suficientes para descobrir quase todos os valores: 105 km de mangueiras luminosas, R$ 660 mil; 1,7 mil estrobos, R$ 165 mil; 168 refletores de LED, R$ 128 mil; 25 km de estruturas tubulares, R$ 750 mil; 6 geradores de 500 kVA, 100 kVA e 30 kVA, R$ 70 mil.
E se as 1.500 pessoas envolvidas ganhassem 1 salário-mínimo para fazer esse trabalho? Pouco? É verdade. Estamos falando de engenheiros, técnicos, produtores. Mas é melhor ser conservador. Aí teríamos mais R$ 1.2 milhão. Até agora estamos em quase R$ 4,5 milhões. Mas ainda falta muita coisa: flutuadores de 12 toneladas, fogos de artifício, licenças, artistas, área VIP. Fora todo o trabalho de concepção criativa da festa que, certamente, não é barato. E nem deveria ser.
Melhor tentar um outro caminho. A prefeitura deve ter um número. Indagada na segunda-feira, no entanto, não respondeu quanto cobra e nem quanto arrecada com a festa. Que tal procurar alguns dos 1.500 envolvidos? De preferência, aqueles que assinam papéis. Talvez eles tenham um valor mais próximo da realidade. Bingo. Obviamente, ninguém quis se identificar e os dados não são um exemplo de precisão. Afinal de contas, temos vários enfeites nessa árvore: o projeto, a cenografia, a estrutura, a festa, os fogos, a divulgação etc. Mesmo assim, foi possível chegar a algo mais condizente com o tamanho do evento. A festa da Árvore da Lagoa custaria, em média, por ano, alguma coisa entre R$ 9 milhões e R$ 20 milhões. Pronto. E daí?
Quem chegou até aqui deve estar achando que eu não gosto da árvore da Lagoa, que sou daqueles que reclama dos engarrafamentos e da multidão que vai visitá-la. Não é verdade. Todos os anos dou um jeito de ir até lá e sempre me encanto com as luzes e com a beleza dos desenhos. Acho a festa democrática e creio que os carros deveriam ficar em casa para permitir que mais gente fosse, de ônibus, ver o espetáculo.
No entanto, enxergo, pelo menos, dois problemas sérios nesta história. O primeiro é a falta de transparência. Um evento organizado por uma empresa privada, num dos mais belos cartões postais da cidade, deveria ter os seus números abertos. Até para a população poder discutir se é isso mesmo que ela quer. Para mim, por exemplo, a árvore é uma bela cereja colocada sobre um bolo lindíssimo criado pela natureza. Acontece que esse bolo vem sendo estragado, há décadas, pela poluição, cheira mal e ninguém faz nada para evitar essa mazela. Este é o segundo problema.
(…) Há seis anos repousa nas gavetas da prefeitura um projeto que permitiria acabar de uma vez por todas, por exemplo, com a mortandade de peixes. Conhecido como “dutos afogados”, ele uniria o Jardim de Alah ao mar, permitindo a troca subterrânea de água entre o oceano e a lagoa. Desenvolvida pela equipe do professor Paulo Rosman, do Departamento de Engenharia Costeira da Coppe, a proposta chegou a ter o seu EIA/RIMA aprovado e foi objeto de várias reuniões, inclusive com a presença do prefeito Eduardo Paes.
(…) E a árvore? Bem, se ela custa R$ 9 milhões por ano, como dizem alguns, em 20 anos foram gastos R$ 180 milhões. Já se ela custa R$ 20 milhões por ano, ou mais, como garantem outros, essa conta chega a R$ 400 milhões em duas décadas. Daria para despoluir a Lagoa, melhorar a ciclovia, reforçar o policiamento da área e ainda sobraria troco para continuar fazendo uma bela árvore de Natal.
O tema deste ano poderia até servir de inspiração: “Natal da Renovação”. Que tal renovar os valores, os conceitos e as prioridades e investir de verdade neste patrimônio da cidade?”
A íntegra do artigo pode ser vista em: http://projetocolabora.com.br/cidades/quanto-custa-a-arvore-de-natal/
2 Comentários
eu quero saber quanto custa a árvore da Lagoa
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