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Marcelo Auler

As perguntas de Cunha a Temer, censuradas pelo juiz Moro, podem ajudar a decifrar muitas coisas. Como prevê Gaspari, são "prenúncio do barulho". Forto Reprodução da Internet

As perguntas de Cunha a Temer, censuradas pelo juiz Moro, podem ajudar a decifrar muitas coisas. Como prevê Gaspari, são “prenúncio do barulho”. Forto Reprodução da Internet

Trago para os leitores o artigo de Elio Gaspari – Perguntas de Cunha a Temer são prenúncio do barulho de sua delação – publicado nesta quarta-feira em O Globo e na Folha de S. Paulo, numa análise do que significa as perguntas que Eduardo Cunha, da cela em que se encontra em Curitiba, pretendia fazer ao presidente Michel Temer.

Como se sabe, o juiz Sérgio Moro barrou 21 das 41 perguntas apresentadas pelo réu para serem feitas à testemunha por ele arrolada.

Moro considerou parte das questões como inapropriadas ou então sem pertinência com o objeto da ação penal. A decisão do juiz indeferindo as perguntas é desta segunda-feira (28).

Além de republicar aqui o artigo de Gaspari, abaixo apresento as 21 questões “censuradas” pelo juiz de Curitiba. Fica a sugestão aos coleguinhas que, no dia a dia, cruzarão com o presidente da República, que tentem obter dele as respostas. Nestes questionamentos podem surgir boas revelações e excelentes pautas elucidativas.

coluna elio gaspariPelo cheiro da brilhantina, as 41 perguntas de Eduardo Cunha a Michel Temer são o prenúncio do barulho que virá quando ele começar a colaborar com a Viúva, contando o que sabe. O juiz Sergio Moro barrou 21, argumentando que o presidente da República está fora do alcance de sua investigação, mas isso tem pouca importância, pois na lista há perguntas marotas.Por exemplo: “Qual a relação de Vossa Excelência com o sr. José Yunes?”. O advogado Yunes é um bom amigo de Temer, já se classificou como seu “psicoterapeuta político” e foi nomeado para a assessoria especial da Presidência. A relação de Sua Excelência com ele seria comparável à de Donald Trump com Stephen Bannon. Na pergunta seguinte, o doutor Cunha quis saber se Yunes já “recebeu alguma doação de campanha” para Temer ou para o PMDB, “de forma oficial ou não declarada”. Só Temer pode responder, mas Yunes já foi deputado pelo PMDB.

De bobo Cunha não tem nada. Ele lançou as perguntas sabendo que seriam rebarbadas por Moro e conseguiu o essencial: deixá-las no ar. Elas formam dois blocos, num há questões relacionadas com operações da Petrobras e no outro o doutor brinca de esconde-esconde com as tratativas do Planalto de Lula e Dilma Rousseff com o PMDB.

No bloco petrolífero, 21 perguntas tratam diretamente dos negócios da diretoria internacional da empresa ao tempo em que foi ocupada por Nestor Cerveró e Jorge Zelada, sob a influência do engenheiro João Augusto Henriques. As traficâncias de Henriques são conhecidas desde 2013, quando o repórter Diego Escosteguy divulgou sua declaração (gravada) de que “do que eu ganhasse (nos contratos internacionais) eu tinha que dar parte para o partido, era o combinado”. Conhecido como “diretor dos diretores” na Petrobras, Henriques era o comissário do PMDB na área. Essa denúncia foi anterior ao surgimento da Lava Jato. Falando à Polícia Federal, Henriques contou a trajetória de uma propina que caiu na conta secreta do deputado Eduardo Cunha.

O ex-presidente da Câmara insinua que Temer encontrou-se com Jorge Zelada em sua casa de São Paulo. Uma das perguntas é um primor de malícia: “Vossa Excelência tem conhecimento se houve alguma reunião sua com fornecedores da área internacional da Petrobras com vistas à doação de campanha para as eleições de 2010, no seu escritório político na avenida Antônio Batuira, nº 470, em São Paulo/SP, juntamente com o sr. João Augusto Henriques? Caso esta reunião tenha ocorrido, quais temas foram tratados? A nomeação do sr. Jorge Zelada para a Diretoria Internacional da Petrobras foi tratada?”.

Doze perguntas de Cunha supõem um implausível desconhecimento das relações do PMDB com Lula e Dilma Rousseff. Lidas ao contrário, indicam a exposição de um loteamento de cargos sob a coordenação de três deputados. Ele, Cunha, ficou com a área do Rio de Janeiro. Os dois blocos de perguntas encontram-se num episódio de rebelião da bancada do PMDB, pacificada depois de uma discussão em torno de nomeações para a Petrobras. Em todos os casos, Cunha quer saber se Temer sabia o que acontecia.

Eduardo Cunha não fez perguntas. Ele usou o episódio para informar ao distinto público que, na sua cela de Curitiba, julga-se o Senhor das Respostas.

As 21 das 41 questões barradas por Moro*

– No início de 2007, no segundo governo do Sr. Luiz Inácio Lula da Silva, houve um movimento na bancada de deputados federais do PMDB visando a sua pacificação e isso incluiu a junção dos grupos antagônicos. Vossa Excelência tem conhecimento se isso incluiu o apoio ao candidato do PT à presidência da Câmara com o compromisso de apoiá-lo como candidato no segundo biênio em 2009?

– Vossa Excelência tem conhecimento de acordo para o então líder da bancada, Sr. Wilson Santiago, concorrer à Primeira Secretaria e o Sr. Henrique Alves assumir a liderança?

– Vossa Excelência tem conhecimento da nomeação do Sr. Geddel Vieira de Lima para o Ministério da Integração Nacional, do Sr. Reinhold Stephanes para o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e do Sr. José Gomes Temporão para o Ministério da Saúde?

Cunha questiona se Temer foi responsável pela indicação de Moreira Franco para a vice presidência da CEF. Todos sabemos que foi.

Cunha questiona se Temer foi responsável pela indicação de Moreira Franco para a vice presidência da CEF. Todos sabemos que foi.

 – Vossa Excelência indicou o nome do Sr. Wellington Moreira Franco para a Vice-Presidência do Fundos de Governo e Loterias da Caixa Econômica Federal?

(Veja, a propósito: O primeirão da lista)

– Vossa Excelência tem conhecimento se na coordenação do Centro-Oeste, coordenada pelo Sr. Tadeu Filippelli, couberam as indicações do vice-presidente de Pessoa Jurídica da Caixa Econômica Federal e da vice-presidência de Governo do Banco do Brasil?

– Vossa Excelência foi comunicado pelo Sr. Nestor Cerveró sobre uma suposta proposta financeira feita a ele para sua manutenção no cargo?

– Caso Vossa Excelência tenha sido comunicado pelo Sr. Nestor Cerveró, quem teria feito a proposta e qual foi a vossa reação? Por que não denunciou?

– Quantas vezes Vossa Excelência esteve com o Sr. Jorge Zelada?

– Vossa Excelência recebeu o Sr. Jorge Zelada alguma vez na sua residência em São Paulo/SP, situada à Rua Bennett, 377?

– Caso Vossa Excelência o tenha recebido, quais foram os assuntos tratados?

Nas questões de Cunha ele tenta mostrar o relacionamento de Temer com João Augusto Henriques (à direita), que Gaspari lembra, ironicamente, que era conhecido como "diretor dos diretores" e com Jorge Zelada. Foto reprodução internet. de

Nas questões de Cunha ele tenta mostrar o relacionamento de Temer com João Augusto Henriques (à direita), que Gaspari lembra, ironicamente, que era conhecido como “diretor dos diretores” e com Jorge Zelada. Foto reprodução internet. de

– Vossa Excelência recebeu alguém para tratar de algum assunto referente à área internacional da Petrobrás?

– Vossa Excelência encaminhou alguém para ser recebido pelo Sr. Jorge Zelada na Petrobrás?

– Vossa Excelência encaminhou algum assunto para ser tratado pela Diretoria Internacional da Petrobrás?

– Vossa Excelência tem conhecimento sobre a negociação da Petrobrás para um campo de petróleo em Benin, na costa oeste da África?

– Vossa Excelência conhece o Sr. João Augusto Henriques?

– Caso Vossa Excelência conheça, quantas vezes esteve com ele e sobre quais assuntos trataram?

– Vossa Excelência sabe de alguma contribuição de campanha que tenha vindo de algum fornecedor da área internacional da Petrobrás?

Cunha cobra informações de Temer com o advogado José Yunes, seu amigo pessoal, assessor na Presidência da República e uma daquelas figuras que atuam nos bastidores da política paulista

Cunha cobra informações de Temer com o advogado José Yunes, seu amigo pessoal, assessor na Presidência da República e uma daquelas figuras que atuam nos bastidores da política paulista

– Vossa Excelência tem conhecimento se houve alguma reunião sua com fornecedores da área internacional da Petrobrás com vistas à doação de campanha para as eleições de 2010, no seu escritório político na Avenida Antônio Batuira, nº 470, em São Paulo/SP, juntamente com o Sr. João Augusto Henriques?

– Qual a relação de Vossa Excelência com o Sr. José Yunes?

– O Sr. José Yunes recebeu alguma contribuição de campanha para alguma eleição de Vossa Excelência ou do PMDB?

– Caso Vossa Excelência tenha recebido, as contribuições foram realizadas de forma oficial ou não declarada?

6 Comentários

  1. C.Poivre disse:

    Questionamentos possíveis sobre este “juiz” surgem ao se reler matéria publicada no DCM, sobre a recusa da Universidade Estadual de Maringá, onde, supostamente,o juizeco se formou, em lhe conceder o título de doutor “honoris causa” e de também não concordar com a condição imposta pelo mesmo para dar uma palestra para eventuais incautos na UEM:

    http://www.diariodocentrodomun

    1ª) Como uma pessoa com “parcos conhecimentos de lingua estrangeira” pode dar palestras no Exterior ou mesmo frequentar cursinhos, como os tais treinamentos da CIA?

    http://jornalggn.com.br/notici

    2ª)
    Por quê que a própria UEM, onde supostamente este energúmeno teria se diplomado, fala em “graduação desconhecida”. Como uma universidade pode não saber quem se formou com um diploma dela? E por quê este misterioso curso de Direito no qual teria se diplomado é omitido em seu paupérrimo Curriculum Lattes?

    3ª) Como se pode dar uma palestra num ambiente acadêmico, no caso a UEM, sem que sejam permitidas perguntas? Ou ele não estaria familiarizado com o que é um ambiente acadêmico, apesar de ter feito um doutorado-relâmpado (2 anos!) sobre o qual também pouco se sabe?

    Não é muito mistério sobre a trajetória de um “juiz” federal?
    Aliás como ele conseguiu passar no concurso de juiz? Alguém já averiguou isso?

  2. Luiz Carlos P. Oliveira disse:

    O Lindbergh detonou o Moro no Senado. Depois o Pimenta passou o trator nele. Será que ele aprendeu ou vai continuar sendo a autoridade-mor do Brasil?

  3. Ari Morato disse:

    O João de Paiva falou a mais pura verdade. Todas as mais cristalinas verdades!

  4. Luiz Carlos P. Oliveira disse:

    E, ao que parece, não são perguntas, SÃO AFIRMAÇÕES. O Temer deve estar acuado.

  5. Luiz Carlos P. Oliveira disse:

    JOÃO DE PAIVA: perfeito! Todos sabemos que o Cunha tem um arsenal para derrubar a maioria da Câmara, do Senado, dos Ministérios, do Judiciário e até o o próprio Temer. E ele vai usá-lo, caso não tenha apoio destes que planejaram esse golpe insensato à Presidente Dilma. É só uma questão de tempo. Tempo que levará para algum “ilustre” do STF conceder-lhe um HC.

  6. João de Paiva disse:

    Prezados,

    É claro que as perguntas são maliciosas. E Elio Gaspari não foi o primeiro a perceber isso. Mesmo assim, continuo a considerar patética a decisão do “juiz” sérgio moro, censurando mais da metade delas, alegando não ser pertinentes ou usando a fragílima alegação de que “o Sr. ‘presidente da república’ não está sendo investigado” ou ainda que as perguntas não guardem relação com os casos de corrupção de que eduardo cunha é acusado. Ora, até o mundo mineral sabe que eduardo cunha e michel temer são sócios do golpe e de uma séria de falcatruas, inclusive envolvendo a Petrobrás, nomeações para cargos nessa empresa e recebimento de propina de fornecedores que celebraram contratos com estatal petrolífera.

    sérgio moro sabe que michel temer poderia tranqüilamente responder às maliciosas perguntas de eduardo cunha, por meio de seus advogados, evitando se auto-incriminar. Portanto estou certo de que sérgio moro agiu em defesa de michel temer, como se o traidor-golpista-usurpador-corrupto profissional fosse defensável por um juiz de 1º grau.

    eduardo cunha, por meio das perguntas maliciosas e provocadoras, que sugerem – até mesmo revelam – as falcatruas estreladas por ele e por michel temer, põe em prática aquilo que se tornou sua especialidade: a chantagem política explícita. EC manda um recado direto a michel temer: “se você não mexer os pauzinhos, para aliviar minha barra, sou capaz de entregá-lo aos abutres e derrubá-lo da presidência que usurpou graças a mim”.

    elio gaspari, o dos infinitos chapéus (como sempre nos lembra PHA), finge uma coragem, independência e ousadia que sabemos ser tão verdadeiras como uma cédula de R$7,00. Se EG escreveu essa coluna e ela foi publicada na FSP e no OG, é porque os donos desses veículos aprovaram o texto. O tratamento ‘vip’ dado a eduardo cunha, esposa e filha (tanto pelo stf, por sérgio moro e toda a quadrilha da Fraude a Jato) indicam que esse psicopata tem munição para derrubar muita gente, nos três poderes; além disso eduardo cunha é totalmente blindado e preservado pelo PIG/PPV. Basta comparar como EC é tratado na mídia comercial, comparado a figuras do PT, acusadas de crimes menos graves e sem a abundância de robustas provas, como é o caso do ex-deputado e ex-presidente da Câmara.

    Notem os leitores que nenhuma imagem de EC na prisão foi vazada no PIG/PPV, pela PF ou pelo MPF. Ele teve a cabeça raspada? Foi fichado como se fez com sérgio cabral filho? Todas as quadrilhas institucionais que patrocinaram o golpe (PIG/PPV, Fraude a Jato, quadrilhas políticas do PSDB, PMDB, PPS, DEM, etc.) têm uma grande dívida com o ‘dudu’, que juntamente com gilmar mendes (com quem teve um encontro no ano passado, tramando o golpe) são os homens mais poderosos da república bananeira em que o Brasil foi transformado.

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