A parcialidade que Sérgio Moro mostrou como juiz responsável pela Lava Jato curitibana, ocasião em que direcionou aos petistas – em especial ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – todo o foco daquela operação, agora reaparece no exercício da função de ministro da Justiça e Segurança Pública do governo Bolsonaro. Um governo eleito por conta do impedimento da participação do ex-presidente petista na eleição de 2018.
Não há sequer disfarce, quando Moro seleciona a quem a Polícia Federal deve investigar. Atualmente busca aqueles que atacam Bolsonaro. Ocorreu com Lula, por conta de uma declaração que o ex-juiz, hoje ministro, considerou ofensiva ao presidente da República que o alçou ao Executivo. Em despacho de novembro de 2019, o atual ministro pediu que ele fosse enquadrado na famigerada Lei de Segurança Nacional por ter dito que o atual governo é presidido por um “miliciano”. Moro ainda tentou desmentir tal fato, mas documentos provaram o contrário do que disse.
Em fevereiro, o ministro deu guarida a um pedido de inquérito formulado por um Instituto Conservador de São Paulo, o que levou a Polícia Federal investigar os organizadores do coletivo punk Facada Fest – um festival de música punk – realizado no Pará. Foi uma demonstração de que, no seu atual cargo, resolveu decidir o que pode ou não ser divulgado. Para ele, “publicar cartazes ou anúncios com o PR (Presidente da República) ou qualquer cidadão empalado ou esfaqueado não pode ser considerado liberdade de expressão. É apologia ao crime, além de ofensivo”. Falta convencer disso os ministros do Supremo Tribunal Federal, que defendem a total liberdade de expressão.
Nessa sua preocupação de defender a imagem do presidente que o alçou da província curitibana ao planalto central, Moro busca crimes onde não existe, mas não os enxerga quando ele acontece à vista de todos. Com repercussão nacional. Por exemplo, os ataques de milícias digitais. Inclusive quando elas atingem seus aliados, que os defenderam quando atacado pela perseguição e parcialidade nos processos envolvendo petistas.
É o caso da jornalista Vera Magalhães que o venera desde os tempos em que atuou na Rádio Jovem Pan. Ela ainda inaugurou sua participação no programa Roda Viva, em 20 de janeiro, dando palco ao ex-juiz. Vilipendiada nas redes sociais pelos eleitores/seguidores da família Bolsonaro, a jornalista não teve da parte de Moro – pelo menos publicamente – qualquer gesto ou palavra de apoio. Tampouco ele se preocupou em providenciar junto à Polícia Federal investigação sobre os detratores da mesma.
Vera, como o próprio Estadão noticiou, viu criarem uma “conta falsa” em seu nome no WhatsApp com mensagens fraudadas, distribuídas também em outras redes sociais. Além disso, publicaram uma cobrança de 2015 do colégio onde estudam seus filhos. Tudo como forma de constrangimento à jornalista e ao seu trabalho.
Não se trata, portanto, de meras postagens críticas ao seu trabalho. Mas sim de uma forma direta de tentar intimidá-la com ameaças e vilipêndios pelas redes sociais, disseminando falsidades. Isto sim é atentar contra a Liberdade de Expressão e a liberdade de imprensa. Logo, um crime.
Sendo um crime – certamente muito mais caracterizado do que nas supostas ofensas de Lula a Bolsonaro, ou nos cartazes de gosto duvidoso da festa punk – tais fatos deveriam ser motivos de o ex-juiz, hoje ministro, providenciar uma investigação isenta e aprofundada pela Polícia Federal. Quem postou? Quem a ameaçou? quem publicou reproduziu tais ataques?
Mas, muito provavelmente, Moro sabe que uma investigação a fundo em torno de ataques digitais e combate a fake news vai esbarrar em milícias digitais a serviço do governo do presidente ao qual ele hoje atende, inclusive buscando mostrar serviço ao tentar perseguir quem o critica.
Milícias que, muito provavelmente são comandadas e/ou insufladas por membros deste mesmo governo, quando não pela própria família presidencial. Afinal, é público, que os filhos de Bolsonaro administram perfis digitais que produzem mensagens parecidas. Não estariam por detrás de mais estes ataques? Moro teria coragem de levar à fundo uma investigação como esta?
Recordemos que pai e filho atacaram, muito recentemente, a jornalista Patrícia Campos Mello reverberando falsidades ditas por um dos operadores que deflagraram fake news nas redes sociais. A repórter foi atacada por expor publicamente um dos responsáveis pelos disparos de campanhas eleitorais via rede digital. Atacadas com mentiras.
Ainda assim, apesar de todas as evidências da falsidade do que foi dito contra a jornalista, tanto o presidente, como seu filho deputado federal, tratou de dar eco às acusações e aleivosias, inclusive de cunho sexual. O pai, inclusive o fez em tom de chacota.
Da mesma forma que o presidente tentou desvalorizar o trabalho de Vera Magalhães, quando esta denunciou que ele zapeou a convocação para as manifestações de 15 de março.
Bolsonaro tem o direito de criticar o trabalho de qualquer jornalista. Não, tentar esconder o que é fato. Recorrer às mentiras, como fez e acabou ridicularizado.
Já seu ministro da Justiça não pode deixar passar batido crimes como os de intimidações às pessoas. Menos ainda quando se trata de uma tentativa de prejudicar a liberdade de imprensa, preceito constitucional. Quando deixa de agir em horas como essas, apenas mostra que continua sendo parcial. Escolhe sempre quem atacará ou defenderá. Geralmente, fazendo as escolhas erradas.
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