Marcelo Auler
“Mais do que um candidato para 2018, precisamos de um discurso –pra já. No que acreditamos? O que temos de bom? O que faz de nós um povo único (como, aliás, são todos os povos, cada um à sua maneira)? Não é verdade que nada presta. Pense em pessoas, músicas, costumes, livros, objetos, paisagens, comidas. Tenho certeza de que você encontrará algo para se apegar. Temos que encontrar. Nós vivemos aqui. Somos 200 milhões. Não cabe todo mundo em Miami ou no Uruguai. Nossa única opção é arrumar a casa. Precisamos reinventar o Brasil“. (Da coluna de Antônio Prata – “Reinventar o Brasil” – na Folha de S. Paulo, domingo, 16/07).
Alertado por Audálio Dantas, no Facebook, cheguei à coluna de Antônio Prata e nela encontro as mesmas dúvidas que me surgiram após quinze dias em Brasília. Para onde vamos e como chegaremos lá?
Se hoje é quase una unanimidade o desejo do “Fora Temer”, o que fazer no Brasil pós Temer já não é algo que as pessoas saibam responder ao certo ou que consiga encontrar respostas e desejos idênticos. Sobram dúvidas. Incertezas. Volto ao pensamento de Prata:
“O mais triste da crise atual não é a perda da esperança na política, mas a perda da fé no Brasil. Um país é feito, em grande medida, de fé. A pátria é uma ficção que depende de que todos compartilhem de meia dúzia de mitos e ilusões”.
Em Brasília, a própria esquerda está atônita. Tem uma bandeira, que sabe inviável neste momento: a das diretas Já! Por sabê-la difícil sem grandes mobilizações populares, levanta-se dúvidas se o caminho é o Fora Temer! Alguns, ainda que a boca pequena, acham que é melhor ele sangrando do que Rodrigo Maia, que de tudo fará para não largar uma cadeira com a qual jamais sonhou um dia.
Resta, a mobilização contra a condenação de Lula. Algo que mobilizará a esquerda, mas não mexerá – ou, o que é esperado – dividirá a sociedade uma vez que a chamada direita vê nas pesquisas de opinião que indicam a persistente liderança do petista, um risco para os planos de quem quer permanecer no governo sem votos.
Mas, essa mesma direita, por sua vez, não sabe para onde caminha, pois lhe faltam bandeiras e, principalmente, lideranças. Fica a gritar contra a corrupção como se isso fosse algo que só a ela diz respeito. Esquece que o combate à mesma só teve início a partir dos próprios governos do PT enquanto nos de Fernando Henrique Cardoso se jogou estas questões para debaixo do tapete. Ou para a gaveta de Geraldo Brindeiro, que de Procurador-geral da República tornou-se Engavetador-geral, como bem definiu, à época, o então senador Pedro Simon (PMDB-RS).
Até que Fernando Henrique Cardoso levantou uma bandeira que poderia unir a todos. Por ele, Temer anunciava a sua renúncia, mas convocava antes uma antecipação da eleição de 2018, com intuito de se rever a legislação eleitoral. Uma espécie de Constituinte.
Como disse recentemente ao Blog a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, FHC mais parece “um homem a procura de uma conversa. Está mais interessado no seu currículo do que no país”. Tanto assim, que sua posição não repercutiu em nada dentro do partido em que ocupa a presidência de honra. Afinal, que político hoje, em especial da direita, incluindo tucanos, abrirá mão de um ano e meio de mandato em nome de buscar uma solução para a Nação?
Por não admitirem perder mandato, repentinamente esses políticos se vêm obrigados a apoiar um político que caminhava para o ostracismo junto com seu partido: Rodrigo Maia e o DEM. Ele, como mostramos em Na expectativa de uma opção tenebrosa!, na última eleição para deputado obteve, no Rio, 0,05% dos votos do eleitorado brasileiro.
Ou, como disse Clóvis Rossi, na Folha de S. Paulo – Pode ser presidente quem não se elege nem prefeito?, teve eleição pífia para a prefeitura do Rio: “Maia foi apenas o terceiro colocado em 2012, com 95.328 votos ou 2,94%, um décimo do que obteve o segundo colocado (Marcelo Freixo, do pequeno PSOL). Ganhou, no primeiro turno, Eduardo Paes, do PMDB“.
Ainda assim, presidirá o país.
A se beneficiarem com toda essa situação está o chamado centrão, aquilo que de pior surgiu na vida pública nacional: políticos que, em qualquer situação, apoiam quem lhes oferecer melhores vantagens. Temer, segundo levantamento do partido Rede, como noticiou O Globo deste domingo (16/07), concentrou, só nas duas últimas semanas, o anúncio de programas e liberações de verbas que chegam a R$ 15,3 bilhões beneficiando políticos dispostos a passarem por cima de qualquer acusação para mate-lo no cargo.
Mas, se Temer cair, esses mesmos políticos não terão dificuldade de se ajeitarem com Maia. E vice-versa.
Por isso que muitos que defendem e lutam pela saída do presidente golpista, receiam o que virá depois: Maia. Um político sem liderança e sem expressividade, que fará o jogo daqueles que aceitarem apoiá-lo, ainda que em prejuízo da população. Tudo para sentar-se em uma cadeira de presidente da República com a qual jamais sonhou e na qual jamais terá chance novamente de se sentar. Corre o risco de, após fazê-lo, dela não querer sair. E combatê-lo poderá ser mais difícil do que a Temer, que já sangra.
O risco de Maia não querer sair da cadeira pode até aumentar, caso conte com apoio de políticos e parte da opinião pública que teme a reeleição de Lula, como indicam as pesquisas, apesar até da recente condenação com a qual Sérgio Moro, como se previa, lhe condecorou. Uma condenação que vem sendo criticada por juristas dos mais diversos matizes.
Estas críticas, como adiantou o Diário do Centro do Mundo – DCM, em artigo de Joaquim de Carvalho – Exclusivo: 100 juristas escreverão livro sobre os erros da sentença de Moro. Por Joaquim de Carvalho – estão sendo todas editadas em um livro a ser lançado dia 11 de agosto – dia do advogado – na Faculdade Nacional de Direito da UFRJ, provavelmente com a presença do próprio Lula.
Voltando às ameaças que continuarão existindo com Maia, já há quem questione, entre quatro paredes, em tom de sussurro para não ser ouvido: “não seria melhor manter Temer sangrando, escanteado, defendendo-se de cada nova acusação que surgirá?”
Novas acusações surgirão. Consistentes, ou não, dependerá de Rodrigo Janot, neste quase dois meses de seu final de mandato.
Recentemente, sem maiores repercussões, Hugo Marques, da Veja noticiou que Janot pediu ao ministro Marco Aurélio, do Supremo Tribunal Federal (STF), o desarquivamento do inquérito que deveria investigar o recebimento de propinas por parte de Michel Temer, no final dos anos 90, através do seu preposto na Companhia Docas do Estado de S. Paulo – Codesp, Marcelo Azeredo, caso por nós abordado aqui em diversas reportagens, entre elas PF investiga Temer por causas que PGR e STF relegaram. Uma investigação que dois antecessores de Janot não permitiram que fosse à frente: Geraldo Brindeiro (2001) e Roberto Gurgel (2011).
Embora aqueles crimes da década de 90 já estejam prescritos e o próprio presidente não possa responder por atos anteriores ao exercício do cargo que ocupa, ali há informações importantes que podem auxiliar na nova denúncia do Procurador Geral da República m torno de favores que Temer estaria recebendo da empresa Rodrimar.
Será mais um caso que levará o presidente golpista a mobilizar sua tropa de choque, recursos de emenda parlamentares e cargos para conseguir evitar a autorização da Câmara para o Supremo Tribunal Federal (STF) analisar a abertura de uma Ação Penal contra Temer, o que provocaria seu afastamento do cargo por 180 dias.
Na quinta-feira (13/07), ele obteve uma primeira vitória na CCJ ao conseguir 40 votos recusando a autorização da primeira denúncia pelo crime de corrupção passiva. No plenário da casa, aonde a discussão será retomada em agosto, serão necessários 342 votos para que a autorização passe. Ou seja, a Temer, basta contar com o apoio de 172 deputados que nem precisam expor sua cara, basta se ausentarem na hora da votação.
Ele tem esses apoios.
Ainda assim, não tem tudo garantido. A dúvida é se terá como colocar no plenário 342 deputados, quórum mínimo para iniciar a discussão. Como muitos deputados, acovardados, não querem se expor beneficiando um presidente impopular, a menos de um ano das eleições, a questão do quórum para abrir a sessão passa a ser uma interrogação.
Como a oposição não conta ainda com 342 deputados que autorizem o processo, ela tende a não contribuir com o quórum para viabilizar a abertura sessão. A não ser que surjam as mobilizações populares e, principalmente, a pressão sobre os deputados nesse recesso de julho, quando eles, teoricamente, “retornam às suas bases”. Tudo, incerteza.
Volta-se então ao discurso de Prata:
“Mais do que um candidato para 2018, precisamos de um discurso – pra já (…) Precisamos reinventar o Brasil”.
3 Comentários
Por que não retornar a normalidade ou seja, o STF anular o impeachment? … Pois a Dilma só cometeu pedaladas fiscais, coisa que todos presidentes cometeram, até essa praga aí, Michel Temer, já cometeu grandes pedalas fiscais, inclusive transferindo rios de dinheiro para abastecer essas emendas parlamentares, que esse dinheiro cairá nos bolsos dos parlamentares, e de onde veio esse dinheiro? Essas pedaladas nunca prejudicou à nação?…Agora,elas, as pedaladas estão prejudicando, pois se tratam de fins escuso e criminoso. Portanto, o retorno da Dilma, seria a volta da normalidade e o retorno da democracia e o retorno da nossa liberdade,e, em 2018 a gente iria praticar mais atos dentro da lei e da democracia… Anula STF para que tenhamos democracia e os nossos direitos sejam restabelecidos.
Qual a saída para a CRISE??? Leiam este texto!
https://rebeldesilente.wordpress.com/2017/07/20/morrer-e-uma-certeza-como-morrer-e-uma-escolha-eu-escolhi-a-minha-e-voce/
Quando nascemos, já estamos CONDENADOS À MORTE.
Que seria a vida então, que uma oportunidade de como se escolher a “forma” que se deseja morrer?
Para mim, “é melhor morrer que perder a vida”!!!
Se outros preferem ser lembrados como COVARDES, vendo seus irmãos não terem direito a nada, vivendo como escravos para manter os PRIVILÉGIOS de uma ELITE CRIMINOSA, que vive na OPULÊNCIA, me envergonho deles.
Seria necessário que se lembre que, quando morrermos, não levaremos nada em nossas mãos e que todas as riquezas que acumulamos são apenas ilusões que ficarão para trás?
Quem se acovarda, pode não saber, mas já está MORTO, conquanto, deixou de viver.
Péssimo com Temer; péssimo com Maia. Não há escolha que não seja a das eleições diretas, em que os brasileiros possamos escolher quem irá governar o País. E as eleições tem de ser não somente para a presidência da república, mas também para TODO o Congresso Nacional (100% das duas casas).
Para evitar reações de governadores e prefeitos, nos estados e municípios mantém-se o calendário atual. Para um STF que estuprou a CF/1988 em favor do golpe e da plutocracia, é moleza pacificar a situação política cm essa alteração na legislação eleitoral.