Na quinta-feira, um amigo do blog foi ao Theatro Municipal do Rio disposto a assistir “um programa de excelência”, conforme descreveu a própria secretária de Cultura do Rio, Eva Doris Rosental, no encarte com a programação do espetáculo, Acabou frustrando-se e constatando algo inusitado: o desaparecimento de toda a Orquestra Sinfônica da casa.
“Apoteose da Dança”, um programa que reúne “duas coreografias contemporâneas, promovendo o encontro de dois momento da produção da música de concerto”, ainda conforme o programa vendido no teatro a R$ 10,00, atraiu um bom público. O espetáculo, que permanece em cartaz nesta sexta-feira (09/10) , domingo e segunda-feira (11 e 12/10) divide-se em duas partes, A abertura com “Age of Innocence” (A era da Inocência) uma obra de Edwaard Liang, datada de 2008. A ela seguiria a Sétima Sinfonia (de 1999) de Uwe Schotz.
Ambas apresentações, conforme o anunciado,com o Ballet e a Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal sob a regência do maestro Tobias Volkmann. Foi a oportunidade que “Formiga”, o amigo do blog, achou ter encontrado para ouvir ”ao vivo”, pela primeira vez, a peça de Philip Glass, um compositor moderno, além da Sétima de Beethoven, essa sua velha conhecida.
Na hora do espetáculo, porém, a surpresa inusitada: não havia orquestra no fosso, mas áudio em gravação. A orquestra desapareceu, No lugar colocaram duas caixas de som e, ainda por cima, o som estava muito mal reproduzido. Não sabiam os organizadores do espetáculo que na plateia estava o Formiga, ou melhor, José Claudio Barbedo, que durante 30 anos (1967-1997) dominou as mesas de áudio do Sistema Globo de Rádio, onde fez o diabo em termos de som, vinhetas, transmissões, e tudo do gênero. Ou seja, entende bem do assunto. O testemunho dele:
“Não acreditei no que estava vendo/ouvindo. Nem me liguei no balé, de tão irritado. E o som da gravação era mal reproduzido, duas caixas colocadas nas laterais do palco, duas caixas para baile-funk, que tocam alto e distorcem todo o som. A peça, ironicamente, se chama “Age of Innocence”. E eu fui pego na minha inocência…”
Ele ainda tentou fotografar as caixas de som, mas foram retiradas mais rápido do que o tempo que levou até as mesmas. No fosso, encontrou dois músicos. E do fagotista, soube que não estava previsto – apesar de anunciado – a orquestra durante a primeira peça. Sequer ela ensaiou o número. Apareceria apenas para a Sétima de Beethoven.
Foi quando ele comprou o programa em busca de alguma indicação sobre o áudio gravado da primeira apresentação. Mas nada no folheto indicava isso, ao contrário o anunciado era a Orquestra do Teatro Municipal, regida por Tobias Volkman. Em seguida, o relato dele:
“Pergunto à recepcionista que vende o programa porque não havia nada anunciado no programa – e em qualquer outro lugar – sobre uma das peças não ser “ao vivo”, ser gravada, e ela nem sabia disso. Peço para chamarem um responsável pelo teatro, e só conseguem localizar o pobre locutor (não, não peguei o nome dele, mas tem boa voz), que me mostra como anunciou o espetáculo da noite e, após ler o programa comigo, concorda que sim, tudo dá a entender que as duas peças, a do Phil Glass e a do Beethoven, serão executadas com a orquestra do Teatro Municipal “ao vivo”. Me sinto perdendo a inocência. Eu, “senior citizen” (pago meia entrada por isso), sendo lesado, aos 65 anos, pelo Governo do Estado, pelo Pezão – afinal de contas, tá lá o nome dele, mais Chico Dornelles, no programa do teatro.
Síntese: sumiram com uma orquestra de 100 músicos por metade de um espetáculo no Theatro Municipal. Seguindo assim, podiam ter anunciado que é o “Balé do Municipal”, e apresentarem um FILME do Corpo de Balé, já que apresentam a orquestra em gravação.
Os bailarinos? Cara, nem vi, de tão p… que estava. Mas foram aplaudidos.
Será que só eu que ainda noto que sumiram com uma orquestra de 100 músicos?”
Cheretando o programa em casa, descubro, na última página, antes da segunda contra-capa, escrito em letras bem miúdas, algo intitulado “Repertório”, com nomes das obras, nomes de regentes, nomes de gavadoras…. Tá, defina “repertório” para mim, por favor. Será que foram os CDS, ou LPS, ou FITAS, ou MP3, MP4, FLAC, WAV, o cacete, de onde tiraram o péssimo áudio que reproduziram, em vez de colocar a orquestra movida a arco, sopro, cuspe e porrada em pele?”
Fica, portanto o alerta a quem pretende ir ao Municipal neste final de semana ouvir a música de Philip Glass: não há orquestra, mas gravação mal feita e mal reproduzida. Isto, apesar de o Theatro Municipal contar com toda uma sinfônica. Alguém está lesando o publico.
1 Comentário
Mas que esculhambação!!