Por que um Blog?
Enfim, rendo-me. Confesso que não foi fácil. Afinal, prestes a completar 60 anos em agosto próximo, e com mais de 40 como repórter em diferentes órgãos de imprensa em várias modalidades – rádio, jornal, periódicos, revistas e algumas passagens por televisão – ceder ao jornalismo eletrônico não foi tranquilo.
Verdade que há algum tempo uso a página do Face Book para divulgar textos que antes publicava, como autônomo, em revistas e jornais cujas demandas foram reduzidas por conta da crise econômica que atinge indiscriminadamente as empresas de comunicação. Com este clima, e dezenas de colegas recém-desempregados, as esperanças são pequenas de se conseguir sustento ainda na função de repórter, tal como ocorreu desde o final de tarde do dia 20 de janeiro de 1974 quando inicie como estagiário no Sistema Globo de Rádio, no Rio de Janeiro.
Rendo-me, portanto, à realidade. Mesmo com a experiência acumulada, dois Prêmios Esso conquistados (1992/1993), o reconhecimento obtido junto às fontes e aos colegas de profissão, sei que não há mais espaço na chamada grande imprensa para os já denominados “velhos profissionais”. Ainda que consciente que a velhice está distante.
Como não pretendo pendurar as chuteiras, até pela necessidade premente de sobreviver, nem quero, por enquanto, passar para o outro lado do balcão, como dizemos no meio jornalístico nos referindo àqueles que estão em assessorias – sem enxergar nenhum demérito em que exerce tal função – me resta buscar novos caminhos e continuar correndo atrás da notícia, o que gosto de fazer.
Daí surgiu, inclusive por apoio e incentivo de minha ex-companheira, Beatriz Barros de Oliveira Christo, a opção pela página eletrônica, o Blog. Nele, dividindo o tempo com outras atividades – hoje, na Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro (CEV-RJ) -, espero não apenas publicar reportagens preparadas para outros meios de comunicação, como aquelas que não despertarem interesse em outros espaços.
Abro caminho para dar vazão às muitas informações que me chegam, graças às incontáveis fontes cuidadosamente cultivadas como repórter e que ainda não me abandonaram, apesar do meu afastamento do jornalismo diário. É também uma forma de retribuir a atenção e a confiança que depositam em mim. Embora signifique que voltarei a importuná-los cobrando aquilo que mais me atrai: boas notícias.
Em uma homenagem póstuma a um dos grandes amigos que fiz na carreira, José Roberto Alencar – o Zé Alencar – tenho a perspectiva de usar a página para republicar matérias e artigos que constituem meu portfólio, narrando as peripécias e dificuldades na apuração das mesmas. Copio assim o que Zé Alencar fez em vida ao escrever “Sorte & Arte” (Editora Alfa Ômega), descrevendo suas epopeias ao apurar algumas das muitas reportagens que assinou. No meu caso, entendo que ao narrar os “bastidores” das matérias que fiz não estarei falando apenas de curiosidades, mas descrevendo o clima que o país e o jornalismo viviam na época. Estas narrativas compõem, portanto, uma visão particular da história contemporânea. Além do efeito didático/pedagógico que podem exercer naqueles que insistem em ingressar em uma profissão cujo futuro, sem dúvida, é bastante nebuloso. Será como um repassar de experiência que, quando eu era “foca”, aprendi na convivência com colegas mais antigos dentro das redações.
Não pretendo, porém, fazer deste espaço uma via de mão única. Com a ajuda da Priscila Silva e do Luiz Barros, primos e afilhados, que através da Sailor Web desenvolveram o blog, minha intenção é transformá-lo em um ambiente de debate democrático, com participação de leitores, fontes e amigos, inclusive e especialmente com ideias divergentes, na melhor tradição de um Estado Democrático de Direito. Para tanto, conto com a participação de todos, não apenas lendo, mas divulgando-o, contribuindo com ideias, criticas, sugestões e, principalmente, opiniões.