Enquanto reina um silêncio absoluto em torno da permanência ou não do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no prédio da Superintendência do Departamento de Polícia Federal do Paraná (SR/DPF/PR), onde ele está recolhido desde sábado (07/04), junto ao governo do Estado, agora comandado pela ex-vice-governadora, Maria Aparecida Borghetti (PP), uma antipetista declarada, avançam as negociações em torno do acampamento de militantes a favor do ex-presidente.
A saída de Lula do prédio da Polícia Federal, além de reivindicada abertamente pelo presidente do Sindicato dos Delegados da Polícia Federais do Paraná, SinDPF/PR, Algacir Mikalovski – um defensor de Bolsonaro e candidato derrotado, pelo PSDC, nas eleições de 2014 e 2016 -, tem sido comentada em conversas mais reservadas. Nesta sexta-feira (13), um novo pedido – desta feita à Justiça Federal – foi encaminhado pela Procuradoria Geral do Município. Usa dos mesmos argumentos do SinDPF/PR: transtornos aos moradores e funcionários da polícia.
Sem nenhuma confirmação oficial por parte seja da Justiça Federal ou do DPF, os rumores correm soltos. Todos giram em torno da ida do ex-presidente para um prédio de uma das Forças Armadas, uma vez ele ter sido comandante em chefe das mesmas o que lhe daria o direito a prisão especial. Responsável pela condenação, Sérgio Moro, em deferência ao cargo que ele ocupou, lhe garantiu uma “sala reservada, uma espécie de Sala de Estado Maior”. A vara de Execução Penal, porém, não se manifestou ainda sobre o assunto.
Um pedido de esclarecimento foi encaminhado pelo Blog à juíza Carolina Lebbos, que reponde pela Vara de Execução Penal. Mas, na tarde desta sexta-feira ela tinha em mãos cinco petições relacionadas a Lula. Entre elas estava o pedido do PDT para que o ex-governador Ciro Gomes fosse vê-lo, assim como o ofício do Senado Federal comunicando a decisão aprovada em plenário de uma vistoria às acomodações do preso, pela Comissão dos Direitos Humanos (CDH). Sem falar na petição apresentada pela Procuradoria do Município de Curitiba.
Banho de sol – Na própria Polícia Federal onde, como mostramos na reportagem Lula na PF-PR: estadia com data marcada? circulou um memorando pela intranet impedindo o acesso ao quarto andar do prédio entre o dia da chegada do ex-presidente e 21 de abril – nada mais foi falado. Tampouco houve explicação sobre o 21 de abril estipulado como período em que o acesso ao quarto andar será limitado. O ex-presidente ocupa um quarto naquele andar, no qual também funciona o Núcleo de Inteligência Policial (NIP).
Nas conversas de bastidores, dois possíveis locais para a transferência são apontados. O primeiro no bairro de Pinheirinhos, onde ficam várias guarnições do Exército, inclusive o comando da 5ª Divisão. Outro local citado seria o 2º Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta), que fica junto ao aeroporto militar de Bacacheri, no bairro que leva o mesmo nome. Mas tudo continuava como especulação.
Na quarta-feira Lula começou a ter direito a banho de sol. Ficou apenas uma hora, por conta do forte calor. Na quinta-feira não usou desse direito para poder permanecer mais tempo com seus três filhos – Fábio, Lurian e Luiz Cláudio, e o neto Thiago. A visita foi feita em dois períodos, dentro do tempo delimitado pela polícia (de 10H00 as 17H00), em um total de seis horas.
Nesta quinta-feira ele voltou ao banho de sol. Para isto, Lula é levado ao terceiro andar onde há um espaço aberto normalmente usado pelos servidores, que ali tomam café e conversam. Dele não se tem visão da rua. Mesmo que houvesse visão externa, o local fica do lado oposto de onde está o acampamento. Está um andar acima do local onde os demais presos são recolhidos e tomam o banho de sol.
Durante este período em que o ex-presidente é levado ao terceiro andar, toda a área é isolada para que nenhum servidor o veja. Na tarde desta sexta-feira Lula estava bem disposto, embora permaneça com sentimento de indignação, sem se conformar com a prisão. Mantém-se, porém, bastante sereno.
Até o banho de sol de quarta-feira, Lula ficou todo o tempo no quarto onde além de livros, recebe as cartas que lhes são endereçadas por militantes e partidários de todo o pais. As primeiras cartas foram entregues pela polícia a seus advogados. Mas já se tornou habitual a própria polícia levá-las aos ex-presidente. Todas, sem exceção são abertas antes de serem entregues. Também foi mantida no quarto a televisão – só para canais abertos – que o juiz Sérgio Moro autorizou para que ele assistisse, no domingo passado, o Corinthians ganhar seu 28º título pelo Campeonato Paulista.
Para atender recomendação médica, a defesa de Lula solicitou à SR/DPF/PR autorização para ele utilizar uma esteira ergométrica. Embora o pedido já tenha sido autorizado, ainda não terminaram as negociações para a instalação e o uso por ele. Lula faz exercícios diariamente sem qualquer aparelho, dentro do quarto.
Pressão do prefeito Greca – Em paralelo à situação de Lula, o governo do Estado está mantendo uma negociação com os movimentos sociais e partidos políticos em torno do acampamento. O encarregado desta negociação é o assessor para assuntos fundiários, da Casa Civil do Estado, Hamilton Seriguelli. Trata-se do mesmo assessor que encaminhou as negociações em maio e em setembro do ano passado, quando das concentrações de militantes nos dias em que Lula foi prestar depoimento ao juiz Sérgio Moro.
Não houve incidentes no acampamento e , mesmo entre moradores, há um divisão. Alguns, independentemente de posições políticas, até ajudam, oferecendo espaços, permitindo o banho, cedendo energia elétrica – ainda que mediante a colaboração para o pagamento das contas – e até permitindo que toldos e plásticos sejam. Outros, aparentemente em menor número, são os contrários ao acampamento. Impedem o uso da calçada em frente às suas residências e tentam forçar a retirada dos manifestantes daquele local.
A colaboração da população de Curitiba fica demonstrada com a doação não só de alimentos, água mineral, material de higiene. Há grupos de pessoas que se cotizam, por exemplo, para a compra de botijões de gás para as cozinhas.
Na quinta-feira a governadora, com Seriguelli ao lado, recebeu os manifestantes e coordenadores do acampamento. Candidata à reeleição e mulher do ex-ministro da Saúde, Ricardo Barros – que tentará se reeleger para a Câmara Federal – a governadora Maria Aparecida prometeu até um governo “transparente e humanista”.
Enquanto a prefeitura tenta – como aconteceu nas outras manifestações públicas a favor de Lula – impedir a presença dos manifestantes, Seriguelli costura acordos dentro do governo estadual, fazendo prevalecer o diálogo. Com estes entendimentos e também a colaboração dos próprios movimentos populares, das vezes que Lula atraiu estas “caravanas” na capital paranaense nada transcorreu de anormal por parte dos “visitantes”.
Uma das negociações em andamento era de retirar das ruas com residências as barracas com as cozinhas, transferindo-as para um local próximo. Também passaram a respeitar o silêncio a partir de 20H00, não mais às 22H00. Ainda se negociava a permanência ou não de outras barracas, como as dormitórios. O certo é que a vigília permanecerá, enquanto Lula estiver ali. Transferindo-o, a vigília também se transferirá.
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4 Comentários
[…] Fabio em Curitiba: silêncio sobre Lula; negociação pelo acampamento […]
Quando MBL acampou na Paulista, ninguém falou nada……….
Vi uma postagem interessante de um leitor do DCM: caso o acampamento tenha que ser mesmo transferido para 10 km de distância, os militantes podem usá-lo apenas à noite ficando durante o dia nas imediações do prédio da PF.
[…] Curitiba: silêncio sobre Lula; negociação pelo acampamento https://marceloauler.com.br/silencio-sobre-lula-negociacao-pelo-acampamento/ […]