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Por Arnaldo César

A milenar cultura japonesa ensina que o bem público pertence a todos. Por isso, é muito mais valioso que qualquer propriedade ou interesse particular.

A Reforma Política engendrada pelos nobres deputados é tal qual um Frankenstein

A Reforma Política engendrada pelos nobres deputados é tal qual um Frankenstein

 Lá, as calçadas costumam ser impecáveis. Às vezes, muito mais bem arrumadas do que o interior das residências. Os japoneses entendem que cuidar bem dos caminhos públicos é uma demonstração de respeito aos vizinhos. Sem contar que para eles quem mantém a calçada suja e esburacada é visto como um sujeito relaxado e irresponsável.

Esse discernimento da importância do público em relação privado é levado a sério naquela sociedade. Tanto que, volta e meia, um político, servidor público ou empresário, quando flagrado em traquinagens, prefere se autopunir, praticando haraquiri (a maneira que eles consideram honrosa de se matar, enfiando uma espada na barriga).

No Brasil, o entendimento dessa questão é, exatamente, ao contrário. Por aqui, entende-se que coisa pública não é de ninguém. Como não tem dono, pode-se fazer com ela o que bem entender. Especialmente, roubar, sonegar, invadir e depredar.

Neste século, ainda não temos nenhuma notícia de um funcionário do governo, político ou empreiteiro que tenham dado um tiro na cabeça (não somos afeitos às espadas) ou se atirado da Ponte Rio-Niterói por que foi pego com a boca na botija. Estamos na “Terra do Vale Tudo”. O sujeito comete toda a sorte de sordidez e, ao final, acaba recebendo o titulo de “cidadão honorável”.

Na última quinta-feira (09/07), o ínclito presidente da Câmara Federal, deputado Eduardo Cunha, apareceu nos principais telejornais, defendo como uma grande vitória da sociedade a medida que estabelece um parâmetro para os gastos de campanha.

Iracema Portella (PP-MA): R$ 7 milhões na campanha para defender os interesses dos eleitores? (Foto Reprodução)

Iracema Portella (PP-MA): R$ 7 milhões na campanha para defender os interesses dos eleitores? (Foto Reprodução)

Vejam que maravilha! Se o monstrengo sugerido como Reforma Política for sacramentado, nenhum candidato poderá gastar com sua campanha mais do que R$ 4,9 milhões. O valor foi decidido pelos próprios parlamentares que estipularam um teto equivalente a 60% dos R$ 7 milhões torrados, na eleição passada, pela deputada Iracema Portella (PP) do Piauí.

Decididamente, uma candidata que gasta R$ 7 milhões não está imbuída do sentimento público. Afinal, não há como explicar o investimento deste valor em um mandato de quatro anos. Para recuperá-lo, a deputada necessitaria receber cerca de R$ 146 mil por mês, isto é, 4,3  vezes mais dos R$ 33.700 que tem como salário mensal.

Não por outro motivo que muitos parlamentares transformam seus mandatos em uma espécie de bancada de defesa de empresas que patrocinam suas campanhas, deixando de lado o interesse maior dos eleitores. Não raro, muitos deles, em quatro anos militando em Brasília, conseguem o milagre de multiplicar por cinco a fortuna pessoal.

A Reforma Política engendrada pelos nobres representantes do povo brasileiro é tal qual um Frankenstein.

Estão construindo um monstro para substituir a coisa horrenda que habita os nossos parlamentos. Ou seja, insistem em trocar seis por meia dúzia.

Fazer com que a Câmara ou o Senado deixem de ser um enorme balcão de negócios, nem pensar. Persiste, portanto, o entendimento de que a coisa pública não tem dono. Por que, então, não se locupletar?

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