Dúvidas e incertezas povoam a cabeça de muitos nestes tempos de golpes e contragolpes..Não apenas simples eleitores, mas também pessoas tarimbadas, que durante as décadas acumuladas na vida acompanharam de perto a política brasileiros. Muitos, ainda crianças, ou já adolescentes, viram a ditadura se instalar com o golpe civil-militar de 1964. E contra ela lutaram. Alguns até pegaram em armas, enfrentaram a repressão nas ruas e foram vítimas nos quartéis e centros de torturas. Destes, não poucos sucumbiram à barbárie.
Outros, por falta de coragem ou mesmo por opção de luta, a enfrentaram a seu modo, no dia a dia do trabalho – jornalistas, artistas, advogados – driblando (ou tentando driblar) a censura, alimentando campanhas pelo fim da tortura; denunciando as atrocidades; erguendo as bandeiras da Anistia, das Diretas Já e do retorno ao Estado de Direito, com uma Constituinte, que acabou acontecendo em 1988.
Todos, de uma maneira em geral, hoje se mostram perplexos com o que vem ocorrendo e, principalmente, com a apatia da população: Cansaço? Desesperança? Descrédito na Política? Este estado de DESânimo assusta ao mesmo tempo que leva ao questionamento: “Qual a saída?” Uma que será apresentada nesta quinta-feira (20/07), ao presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva.
Será ao meio-dia quando José Trajano, veterano coleguinha com anos de militância política e experiência jornalística, receberá, em São Paulo, “Na Sala do Zé“, Lula, para uma entrevista ao vivo, com transmissão pelo seu blog – aqui – e pelo Youtube. Com ele estarão o não menos experiente Juca Kfouri e ainda Carlinhos Vergueiro e Antero Greco.
A própria republicação das charges do Henfil (*) que marcaram época na luta contra a ditadura, não deixa de ser mais uma forma de indignação contra tudo o que acontece e que vem atingindo muita gente, inclusive, alguns bem escolados na luta contra a ditadura.
Sobre as incertezas que todos demonstram, abordamos aqui no blog em Temer, Maia, a esquerda e muitas incertezas! e outros também andaram escrevendo, uns já em maio passado.
Como, por exemplo, Frei Betto que, em artigo publicado em maio – Reclamar menos, atuar mais! – já dizia que não consegue sequer ver o túnel, quanto mais alguma luz. No texto, ele confessa:
“Não lembro de ter vivido conjuntura tão incerta. Na ditadura os atores, de um lado e outro, eram definidos. Agora não. Há um assombroso retrocesso no país, e é praticamente insignificante a reação de quem se lhe opõe.
A reforma trabalhista jogou por terra mais de 70 anos de conquistas laborais. A terceirização passou ao primeiro lugar. A reforma da Previdência condena os brasileiros mais pobres a uma vida toda de trabalho forçado, pois dificilmente terão sobrevida após 49 anos de aluguel de sua força de trabalho aos patrões, a preço salarial irrisório“.
Reclama ainda da falta de iniciativas no combate aos retrocessos políticos. Adverte que não bastam as discussões, protestos e queixas através das redes sociais. Em seguida, cobra a organização do povo para as eleições de 2018.
“Para se contrapor a essa conjuntura, não basta abastecer as redes sociais de ofensas, ironias, ressentimentos e piadas. É preciso organizar a esperança. Ter clareza de como proceder nas eleições de 2018 e qual o projeto de Brasil dos nossos sonhos“.
Ele adverte e, em seguida, indica um caminho:
“Eleições, contudo, não mudam um país. O que muda é o fortalecimento dos movimentos sociais, o aprofundamento ideológico à luz do marxismo, o resgate da utopia e a militância junto aos segmentos empobrecidos da população.
Buscar a alternativa socialista brasileira com visão crítica das experiências socialistas historicamente existentes.
Há que resistir a essa avassaladora cooptação feita pelo neoliberalismo. A direita avança no mundo todo. A desigualdade se acentua: oito indivíduos, segundo a Oxfam, possuem a mesma renda de 3,6 bilhões de pessoas, metade da humanidade.
Ricardo Kotscho, em seu Balaio do Kotscho, também lança a mesma questão no artigo: “Qual é a saída? É viver um dia de cada vez?“. Ele se confessa incrédulo, sem saber o que fazer. Aponta para a apatia do povo em geral até em coisas mais corriqueira: como, por exemplo, a morte de cidadãos em São Paulo por conta do frio, sem provocar qualquer indignação .
“Não basta cobrar providências dos poderes públicos, que alegam falta de recursos para tudo, menos para comprar votos e salvar a própria pele.
Será que não temos nada a ver com isso? Vamos ficar todos encolhidos em casa debaixo de cobertores esperando o inverno e a crise passarem para ver o que sobrou?“
Kotscho relaciona a apatia da sociedade com o descrédito e o desinteresse na vida política do país, fazendo então uma advertência:
“Quando a alienação e o egoísmo imperam nas relações humanas, fica mesmo mais difícil encontrar uma saída para o conjunto da sociedade.
Se todo mundo passar a cuidar só da própria vida e do futuro da família, quem é que vai zelar pelos destinos da pátria comum?
O problema de quem não quer mais saber “falar de política” é que acaba sendo governado por quem gosta muito de política para fazer negócios e manter seu poder a qualquer preço.
No final da história, quem acaba pagando este preço somos todos nós, cada vez mais endividados“.
Uma resposta a Kotscho está no mesmo artigo de Betto, ao abordar a discussão entre a vida pessoal e a preocupação com o social:
“Temos apenas duas escolhas: cuidar de nossa vida biológica, como estudar para obter emprego e, graças ao salário, sustentar a família, esperando que a sorte não nos empurre para a pobreza; ou imprimir à vida um sentido biográfico, histórico, ao assumir a militância da luta por justiça, liberdade e defesa intransigente dos direitos humanos.
Não nos basta informação. É preciso investir em formação, de modo a construir uma alternativa de sociedade que, a meu ver, deve consistir no ecossocialismo“.
Nem assim, porém, Betto se mostra confiante. Demonstra isso na pergunta com que fecha o artigo. Algo que muita gente se questiona diante da falta de perspectiva de uma eleição direta e de todas as tentativas de impedirem a participação de Lula em uma disputa eleitoral ou, ao que parece, até de sobreviver dignamente, como ficou claro com o bloqueio indevido – como se constata em Eugênio Aragão: despacho de Moro que sequestra bens de Lula ‘é uma chicana’.
Há uma pergunta, como mostrou Betto, no ar:
“Fora Temer? E o que colocar dentro?”,
A entrevista de hoje a Trajano é uma boa oportunidade para Lula ajudar a descobrir qual a saída que teremos.
(*) Charges do Henfil que recorrentemente publicamos no Blog, , estão sendo reeditadas por seu filho, Ivan, na campanha pela volta da democracia no país, desde o golpe que derrubou Dilma Rousseff e que agora caça direito dos trabalhadores. Estas charges, imprensas em camisetas e outros produtos estão disponíveis na Loja da Graúna.
1 Comentário
Qual a saída para a CRISE??? Leiam este texto!
https://rebeldesilente.wordpress.com/2017/07/20/morrer-e-uma-certeza-como-morrer-e-uma-escolha-eu-escolhi-a-minha-e-voce/
Quando nascemos, já estamos CONDENADOS À MORTE.
Que seria a vida então, que uma oportunidade de como se escolher a “forma” que se deseja morrer?
Para mim, “é melhor morrer que perder a vida”!!!
Se outros preferem ser lembrados como COVARDES, vendo seus irmãos não terem direito a nada, vivendo como escravos para manter os PRIVILÉGIOS de uma ELITE CRIMINOSA, que vive na OPULÊNCIA, me envergonho deles.
Seria necessário que se lembre que, quando morrermos, não levaremos nada em nossas mãos e que todas as riquezas que acumulamos são apenas ilusões que ficarão para trás?
Quem se acovarda, pode não saber, mas já está MORTO, conquanto, deixou de viver.