Arnaldo César (*)
Onze em cada dez politicólogos, analistas e palpiteiros de toda a sorte são unânimes ao afirmar que o circo dos horrores, domingo (17/03), no plenário da Câmara dos Deputados é o mais fiel e inquestionável retrato do Brasil. Não é fácil desmontar tal constatação.
Afinal, o País assistiu, no horário nobre e em rede nacional, um dantesco espetáculo de canalhice, cinismo, hipocrisia, boçalidade, esperteza e fisiologismo. Para os que acharam pouco não podemos esquecer que houve apologia explícita ao nazi fascismo e à tortura. Isso tudo numa transmissão que começou por volta das 14 horas e se prolongou até às 22 horas.
Um show produzido, dirigido e apresentado pelo mestre de cerimônia Eduardo Cunha – PMDB/RJ. Um líder louvado em prosa e verso pela sua sagacidade. E, como muitos ali presentes detentor de uma vistosa folha corrida de malversação de dinheiro público, recebimento de corrupção e traficâncias de toda ordem. Tudo isso devidamente apurado e relacionado pela Procuradoria Geral da República – PGR.
Ele alcançou o quarto posto mais importante da República, o de presidente da Câmara Federal, guindado por 232.708 votos obsequiados, na eleição de 2014, pelos seus conterrâneos cariocas e fluminenses. É temente a Deus e um legítimo representante do povo.
Nazi fanfarão – O mesmo pode-se dizer de Jair Messias Bolsonaro do PSC/RJ, eleito no ano retrasado, com surpreendentes 464.572 sufrágios. Foi o campeão de votos no Estado do Rio. Na sua apresentação de domingo, ele homenageou um torturador histórico. Antes, porém, levou uma cusparada do seu colega parlamentar Jean Willys – PSOL/RJ – a quem havia ofendido no plenário da Câmara, dando sua contribuição ao circo. Gente fina esse Bolsonaro!
Os que não estão muito afeitos às manhas da política brasileira se surpreenderam com tantas estultices.
Alguns até pensavam que o desenvolvimento econômico das últimas três décadas teria contribuído para melhorar o quadro. Ledo engano.
A coisa piorou. E, muito. Quem antes se deliciava com a honradez de um Ulysses Guimarães, agora teve que contentar com malandragem de um Eduardo Cunha. Aquele que, volta e meia, era xingado por outros parlamentares com palavras nada edificantes do gênero: “ladrão” e “canalha”.
Retrocesso – Há várias explicações para tal retrocesso. Uma delas é a de que os cidadãos honestos, mais bem preparados e vocacionadas para a política querem distância dela. Preferem ganhar a vida e construir suas carreiras em outras labutas. Não bastasse o baixo nível no Congresso, a vida pública brasileira – desde o advento da Lei de Responsabilidade Fiscal – costuma ser cruel com aqueles que não são fisiológicos ou corruptos.
Os partidos que antigamente estavam calçados em ideologia, hoje, são balcões de negócio. A maioria dos que ingressam na carreira política pensa única e tão somente na maneira mais rápida de enriquecer. Ideologia e fidelidade de pensamento são coisas de “otários” e “românticos”.
No domingo todos viram quando o deputado carioca Luiz Carlos Ramos, atualmente no PTN, ocupou o microfone para dar o seu voto pelo impeachment. Ele manifestou-se em nome da “população de rua, que vive na rua e se procria na rua”. Ramos que faz questão de ser conhecido como “Homem do Chapéu”. Por duas décadas foi vereador na cidade do Rio. Ele chegou à Câmara graças a uma engenharia eleitoral marota e dos 33.221 votos de seus leitores da Zona Oeste da cidade. Podemos dizer, sem medo de errar, que a rigidez ideológica de Ramos é comparável à de uma cama elástica.
Fidelidade – Em duas décadas de militância política, este ex-cabo do Exército e vendedor de carnês do “Baú da Felicidade” passou por sete diferentes partidos políticos. A saber: PMDB, PDT, PDC, PTdoB, PSDC, PMB e PTN. Como conciliou conceitos tão dispares como: socialismo, social democracia, defesa dos direitos das mulheres e democracia cristã só o Criador sabe.
A presidente Dilma e o PT são seguidamente acusados de estarem sendo traídos, agora, por gente que, num passado bem recente, recebiam cheios de mesuras nos palácios de Brasília. Em parte isso é verdade. Mas, quando se enxerga o quadro como um todo se vê que não tinham maiores alternativas.
Desde 1985, quando libertamo-nos de uma ditadura de 21 anos, os eleitores brasileiros não concedem aos mandatários vencedores a maioria das cadeiras no Senado e na Câmara Federal. Para governar são obrigados a conciliar, a fazer alianças, com as demais 34 agremiações.
E, se não rezar por essa cartilha, perderá a governabilidade. Ficará imobilizado nas casas legislativas. Aí de que quem se irritar com essa situação! Corre o risco de ser enxotado do Planalto, como estão fazendo com Dilma. Com motivo justificável ou sem motivo algum.
E, ai vem o terceiro e último dilema desta equação. Para dar sentido a tal maluquice em que se transformou a política brasileira só uma reforma de cabo a rabo. Mas, como fazer isso com esses políticos que estão aí? Como tirar o docinho da boca de gente da envergadura moral de um Michel Temer, Eduardo Cunha, Elizeu Padilha, Moreira Franco e etc. etc. e tal?
Pelo visto, isto só se resolve com uma revolução. Nem que seja só de costumes.
(*) Arnaldo César é jornalista
3 Comentários
De:
Ricardo Terto
19 de abril às 12:02 ·
Eu cresci na periferia.
Não tô falando da Penha, que né. Tô falando de Itaim Pta, Guaianases, Vila Curuçá. E os Jardins
– Campos; Quermesse da La Patita, tocava SAMPA CREW, tinha roleta valendo maço de cigarro e terminava em treta coletiva SEMPRE)
– Nazaré; final do 2626/10 ou o Expresso Oriente da Zona Leste,
CONGELA A IMAGEM QUE EU LEMBREI DE UM NEGÓCIO MUITO IMPORTANTE:
Você Xóvem de 18 anos, pergunta pra sua mãe como era o transporte público em sp pré Marta Suplicy e especialmente um fenômeno chamado BOLINHO que tinha principalmente no Terminal Pq Dom Pedro. DESCONGELA
como era no alto, os campinhos eram ideais para o esporte mais popular do país. Obviamente estou falando de EMPINAR PIPA. Eis o motivo porque JD. Nazaré jamais será bombardeado: eles tem uma bateria anti-aérea formada por carretel de linha e cerol de adamantium. Pode vir míssil da Córeia que os Pariu que será devidamente APARADA NO CORTANTE.
– dos Ipês; Ah… a descida da morte. O nome já entrega mas se trata de uma rua tão íngreme que funcionava como um rampão aonde seres boludos desciam de Pangaré, sabe essas bicicletas que hoje os hipsters amam porque são VINTAGE? Então, o nome delas é PANGARÉ (e sempre será, ok?). Daí os caras desciam a rua de pangaré sem freio e ainda soltavam as mãos. Quer dizer, freio até tinha mas era no Rider, Havaiana não dava conta.
Alguns não conseguiam frear e iam morrer lá dentro da lojinha de garrafa de desinfetante e amaciante? Sim.
Mas se ninguém morresse não haveria pra quê chamar de Descida da MORTE, dã. Afe vocês.
Entre outros jardins, como morávamos de aluguel, minha família pingou aqui e ali uns bons anos. Ainda bem que eu não conheço a periferia de sp só por GIF e Meme né, porque tem gente que o máximo de experiência é tirar foto em frente de grafite no BECO DO BATMAN, da Vila Madalena. E andar de Pangaré sem usar o nome apropriado.
Agora vem a parte boa. Você deve estar pensando agora em todo aquele estereotipo da periferia e me vendo jogar bola feita de meia suja e sacola de supermercado, numa rua pintada para a copa do mundo de 94, enquanto uma tia descabelada na frente de um portãozinho enferrujado chama o UELSON pra casa com a cinta na mão. Ok, tinham esses momentos também Regina Casé mas tinham outras coisas. Por exemplo
A primeira vez que joguei MAGIC *dê uma pausa dramática aqui* THE GATHERING, foi na periferia. Isso em 98 certo, pré era Nerd Bazinga. A primeira vez que li Jorge Luis Borges e Maiakovski, foi numa biblioteca em Itaquera.
E Cês me desculpem dessas festas de vocês aí com sistema de som 5.1 e frigobar, mas fui iniciado no mundo das festas com 5 caixas todas de GRAVE, ou seja, um inovador sistema 0.5 e o primor químico que seria possivelmente banido pela ANVISA vinha de uma caixa de isopor. E o povo ouvia Prodigy. Era música de “bate-cabeça”.
E Dê Menos Crime – Fogo na Bomba.
Colei com um monte de gente. Com góticos nas “Ruínas” (o que sobrou de um casarão que foi demolido). Com os crentes da Universal, quando eu era crente da Universal. Com os nerds RPGistas. Com roqueiros de violão e vinho Sangue de Boi, que aceitavam todo mundo, de grunge a black metal, mas new metal não.
Tocar new metal no bagulho você já tava tirando.
Bem estou falando disso tudo porque o tempo passou e assim. Conheci umas pessoas.
Inteligentes.
Bem intencionadas.
Nova esquerda.
Textão Embasado.
Beco do Batman.
Respeito o seu Lugar de Fala.
NUNCA
DESBICOU
UMA
PIPA.
Bom, eu tentei colar com essa galera. Porque afinal, eu já tinha lido e visto e pensando tanta coisa que. E tinha o lance do crescimento econômico que teve uma época aí e banda larga e tal. Um dia escreverei sobre ser Indie Pobre. É bem hilário mas deprimente também. Hehe.
As diferenças de acesso uma hora pesam a parada toda. Tipo eu posso falar do álbum novo do artista x, mas sobre ir ao Primavera Sound com o dinheiro que GUARDOU no último semestre. Comigo que tava bom ir pra GUARULHOS colar em festinha. Bem, nessa hora da conversa eu ficava calado e percebia o tamanho do estranhamento de estar ali.
Esse estranhamento de ser alguém moldado na periferia sem o estereotipo de ser da periferia. Sendo que isso também é ser da periferia. Hoje eu gosto desse estranhamento. Moro no centro graças a meus dois empregos mais o da minha esposa mas não sou “um cara do centro” (o baixocentro é surreal de morar também, mas isso é uma outra história).
Eu colei com essa galera DOBEM
e em sua maioria são as pessoas mais hipócritas que eu já conheci em toda a minha vida. Eu não disse más, nem ruins. Disse hipócritas.
Uma coisa que todos temos em certa medida.
Só que eles dão uma extrapolada.
Eles não sabem que são hipócritas, porque dentro de uma bolha, tudo é coerente à bolha. Vai pensando aí depois.
Essas pessoas que uma vez eu vi num SIMPÓSIO SOBRE CULTURA NEGRA reclamar sobre o excesso de COMUNIDADE participando do evento, e uma vez levantada a questão decidiram formar um grupo que iria DEBATER a possibilidade com reuniões TRIMESTRAIS. Ninguém me contou eu estava lá, sendo o estranho.
Essas pessoas se recusam a sair da bolha. A bolha com frigobar e som 5.1.
Por isso a periferia não foi às ruas nem pra pedir a saída e nem defender governo nenhum. E nem vem com esse papo aí que se eu te teletransportar para o Lajeado você em 2 segundos vai estar clamando para Deus vir em forma de Uber te salvar. Quando você vê moleque piranha na linha amarela você dá uma afastadinha sim. Até quem é da periferia dá uma afastadinha porque os moleques são chatos mesmo.
Mas você sente CULPA Emoticon grin.
Você sente culpa de ter hábitos burgueses mas ser de esquerda.
Você que senta na Fradique pra discutir rolezinho.
Você está numa bolha.
Daí tem dois perigos:
1- O perigo de uma única história.
(ver https://www.youtube.com/watch?v=wQk17RPuhW8 )
2- Não atingir essas pessoas que existem além dos GIFs E que vão continuar no fundo cagando para política E que continuam vivendo cada um por si E que não conhecendo a própria força nao se mobilizam E não entenderam ou não se identificaram com seus textões embasados E que como resultado nós temos
O Congresso Brasileiro.
Porque não há vácuos no poder.
Por me sentir burro perto do floreio acadêmico de vocês e de auto-estima ferrada eu quase, quase me alienei. Quase desisti da politica, de ambientes culturais, quase desisti de fazer cinema.
Quando fui numa galeria e fiz um comentário sincero sobre uma pintura e vocês dobem, com vestido de estampa Frida Kahlo e cabelo Elis Regina, me olharam com repulsa diante da minha ignorância cultural, eu quase desisti de ir a museus. E hoje que eu entendo um pouco mais posso afirmar que a pintura era mesmo uma BELA BOSTA.
Quando te chamei, você um cara dobem que tem uma MONOCELHA, e não é outra referência à Frida, pra tocar num bar na Penha, nem tão periférica assim e você RIU DA CASA DAS PESSOAS eu quase desisti.
Quando você dobem riu porque eu levava MARMITA, essa eu tenho que escrever de novo – M A R M I T A – na mochila para a faculdade porque de lá eu ia trabalhar mais 10 horas e queria economizar o VR, eu quase desisti. Hoje é claro que existe um segmento de marmita hipster e comida caseira é a tendência.
Quando você dobem, preocupado com a classe trabalhadora, óculos de bibliotecária e camiseta dentro da calça, veio comprar uma calça MADE IN VIETNAM na loja que eu trabalho e ficou putaço porque acabou seu número. Num. Domingo. Oito. Da. Noite. Eu quase desisti.
Eu não desisti porque gosto de ser. Estranho.
Agora, imagine quanta gente, você esquerdão que se faz, SE FAZ, não conseguiu fazer desistir quando elas tentaram se aproximar de alguém que se vendia como uma ponte entre uma vivência que ele tem e uma cultura que ele pretendia ter?
Às vezes foi num comentário. Às vezes foi na falta dele. Às vezes foi ficar no vácuo. E a pessoa se sentiu burra e estranha e desistiu. Nem todo mundo gosta de ser estranho. Pareceu que isso de “cultura”, “política” e “debate”, não eram para ela. Eram para pessoas inteligentes como vocês.
Então receba esse Congresso.
Continuem com os perfis irônicos, isso aí. E excluam viu, todos que tiverem opiniões diferentes. Cite um Foucault mesmo para invalidar um comentário de alguém que estudou em escola pública. Coloque-o no lugar dele. Receba os likes. Receba os “mitou”. Sobe hashtag no twitter que é lá que o povo está viu.
Vai lá periferia e chama todo mundo de ISENTÃO, falou?
Dá, uma, zoada, em, quem, não, sabe, usar, vírgula, direito. #nem #hashtag
Mas aí, receba esse Congresso também.
Pela família, Deus e Angra dos Reis.
OU
Talvez seja a hora de sair da bolha. E ficar mais estranho.
Câmara dos Horrores: fale com um deputado que votou “sim” no mesmo baixo nível dele
https://www.youtube.com/watch?v=1ciMC4eJKVg
A única solução plausível É elegemos uma constituinte exclusiva para discutir e formular a reforma política e eleitoral. Que, espero, reduza o número de partidos e também de deputados , deputados estaduais e vereadores evrespectivos assessores. Votação em dois turnos para deputados, sendo o primeiro turno em listas e o segundo nos candidatos mais votados.