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Marcelo Auler

Na Avenida João Soares, no bairro Xangri-lá, em Belo Horizonte, PMs torturaram dois dos três presos que conduziam. Para soltá-los, exigiram R$ 11 mil e armas. (Foto de Marcelo Auler sobre mapa do Google).

Pagos pela população para garantir a segurança de todos, um grupo de policiais militares de Minas Gerais atua na região periférica de Belo Horizonte extorquindo, mediante sequestro e torturas. Faz isso a céu aberto, à luz do dia. As vítimas são possíveis envolvidos em ações criminosas, notadamente no tráfico de drogas. Mas, não apenas supostos traficantes, que permanecem atuando em liberdade após os acertos com quem recebe para prendê-los.

Usando dos mesmos expedientes, esses policiais militares perseguem egressos do sistema penitenciário que vivem em liberdade condicional ou que já cumpriram suas penas. Destes, não há registro de que tenham voltado a delinquir. Ainda assim, são perseguidos, torturados e extorquidos. Em alguns casos, familiares também são vítimas desta milícia.

O Blog, durante os quatro dias em que visitou Belo Horizonte (BH), identificou dois dos lugares onde ocorreram torturas. Foi na quarta-feira, 08/11, que refizemos o percurso que constam de informações oficiais repassadas às autoridades.

Conforme noticiamos em PM mineira: extorsão, sequestro e tortura (27/10) e PM de MG na trilha da PM do Rio: e agora, Pimentel? (02/11), uma milícia é formada por militares do Batalhão de Rondas Táticas Metropolitana (ROTAM). Entre as mais temidas na Região do Distrito de Venda Nova (ao norte do município) está a “ROTAM do Coroa”.

Ela é formada, ao menos, pelo cabo Maia (Weidman Tadeu de Araújo Maia) e os soldados Vitor Costa Santos e Yuri Salim Lima Salomão. Um quarto policial não foi identificado em documentos oficiais, como o Registro de Defesa Social (Reds), o antigo Boletim de Ocorrência (BO). O envolvimento de outros membros da corporação não está afastado.

O pedaço de madeira (perna de três) usado para espancar os presos no dia 25 de outubro, permanecei na beira da Avenida João Soares, no dia 8 de novembro. Foto: Marcelo Auler

Água para lavar o sangue – O local mais ermo usado por eles para torturar é no bairro Xangri-lá. Nas margens da Avenida João Soares, uma região na qual praticamente não há residências. O bairro, inclusive, já foi apresentado como o de menor densidade demográfica na cidade.

A Avenida João Soares atravessa ainda o bairro Nacional. Nesta parte, na sua esquina com a Rua Maria Soares Chaves fica o supermercado Brasileirão. Ali, segundo informações já repassadas às autoridades da área de segurança de Minas Gerais, na quarta-feira, 25 de outubro, um dos militares da “ROTAM  do Careca” adquiriu no supermercado um galão de água mineral.

A água serviu para lavar o sangue de dois dos três homens que os policiais prenderam pela manhã. Eles estavam ensanguentados após serem torturados em um loteamento ermo, à beira daquela avenida, na sua parte menos movimentada.

No loteamento teria ficado ainda uma camiseta ensanguentada que os policiais obrigaram o preso a trocar. Mas ela não foi encontrada pelo Blog quando de nossa ida ao local.

Restava apenas um pedaço de pau – tipo perna de três, usada em obras – com o qual espancaram dois dos presos. Os mesmos que, depois, aceitaram pagar o que os policiais exigiam: R$ 20 mil e cinco armas. Caso não atendessem ao “pedido”, lavrariam flagrante contra os três por tráfico.

Na Rua das Pedrinhas, o carro da Policia com o Voyage de um dos presos, foi visto por moradores. Um deles recebeu ordem para voltar para a sua casa. (Foto: Marcelo Auler)

A prova que ficou no local – A droga – cocaína colocada no que, em Minas, chamam de “pinos” (pequenos invólucros de plástico como se fossem injeções) -, estava em poder dos próprios militares. Eles ameaçavam usá-la como se tivesse sido apreendida com os rapazes, que nada portavam no momento em que foram “detidos”.

De fato, no flagrante lavrado à noite envolvendo um quarto personagem preso à tarde, consta que “foi realizado busca pessoal no autor pelo SD VITOR, sendo encontrado dentro de sua calça pinos contendo substância análoga a cocaína”. (sic). Como informamos na postagem PM de MG na trilha da PM do Rio: e agora, Pimentel?, o preso trajava bermuda. Sem bolso.

Nem sempre os policiais da “ROTAM do Careca” buscam lugares isolados para espancar suas vítimas. Naquela mesma quarta-feira, antes de se dirigirem ao bairro Xangri-lá, pararam com o Voyage, cujo final de placa seria 7152, junto com o carro oficial da ROTAM, na Rua das Pedrinhas, no bairro São João Batista.

Uma rua repleta de residências. De uma dessas casas a moradora admitiu ao Blog – e a mais duas testemunhas – ter presenciado os dois carros estacionados em um pequeno lote vazio. No dia de tais fatos, ao perceber a moradora a lhes observar, um dos policiais lhe ordenou:

Pode voltar para casa, não tem nada para ver aqui“.

Ter, tinha. Como um pedaço de pau, parecido com um cabo de vassoura, que permanecia jogado ao chão quando o Blog esteve ali. Teria sido usado para espancar os presos.

Na Rua das Pedrinhas, quinze dias depois da passagem dos policiais com os presos, o Blog localizou um pertence de uma das vítimas. Foto: Marcelo Auler

Não apenas o pedaço de pau foi deixado no local. No meio do mato do pequeno lote baldio estava uma caixa para guardar cartões de visitas. Era de um dos presos. Amassada, porém ainda em bom estado.

Prova insofismável que o seu dono andou por ali. A não ser que a polícia prove que aquela caixa, perdida no meio de um mato, na rua onde uma cidadã assistiu no dia 25 de outubro um carro da polícia estacionar junto com um carro particular, foi deixada ali em outra ocasião.

O que, certamente, será uma coincidência incrível. Principalmente por que o dono da caixa diz que foi preso, naquele dia, por policiais que lhe levaram àquela rua. Quais os motivos que o levariam a falar isso se nem mesmo detido ele ficou?

Testemunha contraria flagrante – O curioso é que desde o dia 27 de outubro, por conta das queixas registradas e por determinação do promotor Luiz Gustavo Gonçalves Ribeiro, que no Ministério Público Estadual exerce o controle externo da Polícia, a Corregedoria da Polícia Militar “investiga” esse caso. Ao que se nota, porém, não foram a campo.

Sequer percorreram os locais indicados pelas vítimas. Do contrário, teriam recolhido provas e testemunhos de que a versão dada pelos policiais não confere com o que de fato deve ter ocorrido naquela quarta-feira.

Um exemplo desta discrepância entre o que fala a polícia e o que realmente pode ter ocorrido está no flagrante registrado pelo cabo Maia. Ele, pelas descrições e pela patente – os demais são soldados – é o “comando” da guarnição.

Ao relatar a prisão de um jovem – o quarto abordado naquele dia, único a ser efetivamente preso – que vivia em liberdade condicional, descreve-a como tendo ocorrido em uma situação totalmente diferente do que o Blog ouviu de testemunhas que não têm ligação com os fatos e seus personagens.

A prisão, segundo sua descrição, deu-se após os policiais abordarem “vários indivíduos em atitude suspeita em um veículo VW Voyage de cor cinza, conseguindo visualizar apenas o final da placa 7152, na esquina de uma rua, local conhecido no meio policial por ser utilizado para o comércio de drogas ilícitas; (…) momento que um dos suspeitos empreendeu fuga desrespeitando as ordens legais emanadas pelos policiais“.

A versão dos policiais no flagrante não confere com a descrição que o Blog ouviu de testemunhas nos locais visitados.

Na quarta-feira (08/10), o Blog não apenas ouviu o testemunho da moradora da Rua das Pedrinhas que presenciou, pela manhã, o Voyage com a guarnição da ROTAM estacionados em um lote baldio daquela rua. Ou seja, um testemunho que já desmente a versão da fuga relatada pelo cabo Maia.

O Voyage que o cabo Maia no flagrante disse ter fugido, segundo testemunhas, foi abordado e apreendido na Rua Rosa Zandona, no bairro Candelária (BH) – Foto: Marcelo Auler

Mais ainda. Na Rua Rosa Zandona, no bairro da Candelária, aos fundos da Panificadora Mais, o Blog encontrou outra testemunha que viu o carro Voyage estacionado, defronte ao nº 10 daquela via, por volta de 08h00, na mesma quarta-feira (25/10).

Nele, segundo a testemunha, estavam dois dos quatro personagens que a ROTAM “prendeu” ao longo do dia. Os policiais, portanto, encontraram o carro estacionado. Ao abordarem os dois – e não “vários indivíduos” – não houve fuga. Mas, prisão.

 Arma na árvore florida – Foram os primeiros a ser detidos, sem resistência. A partir de então, os militares assumiram a direção do carro particular que pertence (ou pertencia) a um dos presos.

Em seguida, o carro da polícia e o Voyage pararam na porta da panificadora onde o terceiro personagem foi abordado e preso. Também não portava drogas, nem armas. Trata-se também de um egresso da penitenciária, que cumpriu sua pena por tentativa de latrocínio.

Naquele ponto da Rua Pedra do Indaiá há, pelo menos, duas câmeras de segurança. Mas, até a data em que o Blog percorreu o mesmo roteiro – 15 dias após o episódio -, ninguém da policia ou da Corregedoria havia procurado comerciantes em busca de possíveis filmagens que tenham captado alguma das cenas ali ocorridas.

Durante toda a manhã e o início da tarde daquela quarta-feira (25/10), a “ROTAM do Careca”, que teoricamente deveria estar patrulhando as ruas da zona Norte de Belo Horizonte, ficou conduzindo três pessoas e tentando extorquir dinheiro das mesmas. Com duas, obtiveram êxito. Mas, ainda assim, não conseguiram tudo que pediram. Teriam recebido R$ 11 mil e duas armas.

Na Rua João Wesley, no bairro São João Batista, os policiais teriam recolhido uma arma que estava em um saco plástico. Será o mesmo encontrado pelo Blog, naquele canteiro, 15 dias depois? Foto: Marcelo Auler

Um terceiro, que também apanhou muito, ao que parece foi libertado sem nada pagar. Isso, porém, só ocorreu depois que os policiais estiveram na Rua João Wesley, no bairro São João Batista. Ali, junto ao pé de uma florida árvore recolheram, em um saco plástico, uma arma. Estava enrolada na camisa que antes era usada pelo terceiro elemento a ser preso naquela manhã. Depois, foi jogada à margem de um córrego que passa na região.

Quem a deixou na árvore foi um dos rapazes presos no Voyage. Após a seção de torturas em Xangri-lá, ele foi liberado para buscar a “encomenda” (dinheiro e armas). Fez a entrega em duas parcelas.

Valor pago a menos – Só que não levou os R$ 11 mil para o cabo Maia que, com mais dois militares, permaneceu no Voyage com o dono do carro. O mesmo que prometeu o “pagamento” que seu parceiro saiu para buscar.

Com medo de voltar a ser preso, o rapaz preferiu ir até o veículo oficial onde apenas o motorista permanecia com o terceiro preso e com o rapaz que foi detido à tarde. Assim, entregou somente os R$ 11 mil e fugiu, sem que o militar pudesse correr atrás dele.

Na visita do Blog à Rua João Wesley, no pé da mesma árvore estava um pedaço de saco plástico rasgado. Não há como saber se nele a arma foi guardada. Mas estava lá, no meio das plantas, meio que escondido.

O quarto rapaz – que na descrição do cabo Maia foi preso após tentar fugir do Voyage – na verdade foi buscado em sua residência. Egresso do sistema penitenciário, no qual cumpriu pena por tráfico de drogas, estava em liberdade condicional.

Já tinha sido preso e espancado quinze dias antes. Segundo documentos oficiais, há até laudo médico comprovando que já naquela vez ele foi vítima de espancamentos/torturas. Cobravam o mesmo de sempre: arma e dinheiro.

Desta vez, correu risco de vida, mas acabaram por lhe imputar um flagrante de tráfico. Apresentaram os “pinos” com substância análoga à cocaína. Na casa nada foi encontrado. Os “pinos”, portanto, seriam os mesmo que os outros três personagens, naquela manhã, viram um dos policiais retirar de debaixo do seu colete.

Também o acusaram de porte de arma. Usaram uma das que lhes foram repassadas pelos dois presos naquela manhã dentro do Voyage. O pagamento da extorsão.

Redes sociais salvam o rapaz – Na abordagem na casa deste quarto rapaz, os PMs, com o cabo Maia à frente, não usavam o carro da polícia. Estavam no Voyage que confiscaram nos fundos da padaria no início daquele dia.

Reviraram tudo sem nada encontrar. Ainda assim, o levaram. Só não contavam que sua tia fosse junto. Alertada que não se tratava de viatura oficial, postou-se no banco traseiro do carro. Foram obrigados a conduzi-la. Permaneceu até as proximidades do 49º Batalhão da Polícia Militar de Minas, no bairro São João Batista.

Ao passar pelo quartel, a tia gritou por socorro. Levou choques elétricos e, à força, foi colocada para fora do Voyage. Aconteceu nas proximidades do Clube Lareira, na Rua Visconde de Taunay, no mesmo bairro São João Batista.

Já o jovem foi levado a uma casa abandonada nas proximidades do clube, conforme anotações feitas pelas autoridades de Minas. Ali, voltou a apanhar.

Contraditoriamente, a tia do rapaz que achou que o acompanhando o protegeria, salvou-lhe a vida ao ser retirada do carro. Encontrada pela irmã, a mãe do jovem preso, foram à 4ª Delegacia Policial (Venda Nova).

Pretendiam registrar o “sequestro” além das violências que os policiais aplicaram na tia e na irmã do jovem. (A mãe estava fora da casa). Mas o Reds feito foi somente das agressões cometidas por “três homens trajando farda da PM”, tal como consta do registro.

Antes de irem à delegacia, porém, denunciaram o “sequestro” do rapaz através do Facebook para Grupos e Movimentos dos quais participam. Como o das Mulheres Negras.

Os policiais saíram da casa da família com o jovem e sua tia, segundo alguns registros, por volta de 15h30. A tia foi expulsa do carro, nas proximidades do Clube Lareira, pouco depois das 16H00.

O jovem, como consta das informações, teria passado pela casa abandonada, nas proximidades do clube. Ali, teve um desmaio, ao ser novamente espancado. Ao se recuperar, os policiais lhe deram a roupa – estava apenas de cueca – e mandaram que corresse. Ele não obedeceu. Teve medo de ser assassinado pelas costas.

Do bairro Candelária, onde foi a ocorrência. a UPA mais próxima é a da Venda Nova. Mas, os policiais optaram pela da Pampulha, a 22,8 Km, ou 49 min. de distância, segundo o Google.

Foi no exato momento em que o telefone de um dos policiais tocou. A ligação lhe informou  que o “sequestro” do rapaz por policiais militares fardados era noticiado nas Redes Sociais. Isso os teria feito mudar de ideia. Decidiram registrar oficialmente a prisão por porte de arma e trafico de drogas. Não fosse a ligação, o rapaz poderia estar morto.E desaparecido. Como Amarildo, da Rocinha.

Mistério da UPA – Antes de o levarem à Central de Flagrantes, passaram em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Os militares alegam ter sofrido lesões corporais na agressões cometidas pelo jovem e seus familiares.

A passagem pela UPA guarda alguns mistérios.

Segundo o flagrante, o atendimento foi feito pela médica Ana Elisa Diniz (CRM 63.171). Foram registradas fichas do preso (nº 173) e dos três policiais (do nº 174 ao 176).

Nenhum tratamento foi dispensado ao jovem. Nada foi revelado, também, sobre uma fratura do “dedo mindinho” da sua mão esquerda. Por conta dela, submeteu-se a uma cirurgia. Ao que parece, esta fratura, assim como a do nariz, não foram vistas no atendimento da UPA da Pampulha. Se as viram, não dispensaram qualquer tratamento.

Talvez as autoridades já tenham requisitado os laudos e prontuários do atendimento para confirmarem o que houve. Teria sido falha médica? Ou outro mistério estaria por detrás dessa ida a UPA?

O mistério maior, porém, está na escolha feita pelos policiais. Eles optaram pela UPA do bairro da Pampulha distante, pelo menos, 22,8 quilômetros (segundo o Google) do bairro da Candelária, de onde teoricamente levaram o jovem direto para o atendimento.

Ainda pelo Google, a distância cai para 13 quilômetros se os policiais tiverem saído das proximidades do Clube Lareira, no Bairro São João Batista, local onde a tia foi expulsa do carro e, segundo registros, o jovem foi levado a uma casa abandonada.

Independentemente de terem saído do bairro Candelária ou do São João Batista, ambos ficam a menos de um quilômetro da UPA Venda Nova. Não há, no registro do flagrante, nenhuma explicação para um socorro médico tão distante. E, pelo jeito, ineficiente.

No flagrante também não há explicação para a entrada dos policiais no atendimento médico às 17H56. Teoricamente, logo após a “prisão do jovem com armas e drogas na sua casa”, no bairro Candelária, o levaram direto para a UPA.Saíram da casa entre 15H30 ou 16H00.

Cabe lembrar, no flagrante não consta que usaram o Voyage, pois este, na descrição do cabo Maia, fugiu. O que significa que, a respeitar o registrado no flagrante, levaram aproximadamente duas horas no deslocamento em viatura policial. Pelo Google, um carro comum – sem direito a furar sinal e andar em faixas especiais – gastaria, em média, 40 minutos.

Este intervalo de tempo é apenas mais uma prova de que a versão oferecida pelos policiais não coincide com a realidade dos fatos. Isso faz aumentar a suspeita que eles andaram com o preso por outros locais. Corroborando a versão da casa abandonada, como consta dos registros junto às autoridades. Mas, por óbvio, não é citada no flagrante. Tal como não citaram a passagem pela Rua das Pedrinhas. Nem as prisões de outras três pessoas, no entorno da Panificadora Mais. Logo, pode-se desconfiar que tudo foi montado.

Não é difícil descobrir realmente quem mente nessa história. Por tudo o que o Blog levantou em apenas quatro dias em Belo Horizonte, a versão oficial dos PMs não se confirma.

É estranho, por exemplo, que quatro policiais militares, teoricamente em serviço, passem o dia inteiro conduzindo presos, espancando-os e os extorquindo sem que seus superiores notem a ausência do policiamento.

O GPS do carro da polícia deve indicar por onde ele anda. Não há vigilância nesse sentido?

Para confirmar o que houve de fato, basta recorrer ao GPS. Pelos celulares dos policiais, também será possível levantar onde andaram. As antenas informam. Assim como, pelo celular de um dos presos, que não foi devolvido ao dono e continua em poder dos militares.

Basta haver interesse em realmente apurar o que se passou.

Afinal, a se confirmar esta história, policiais militares que recebem para reprimir o crime estão simplesmente o incentivando para, através de extorsões, se beneficiarem.  É preciso uma explicação oficial. Rápida. Bem como punição exemplar, caso confirmem as denúncias. E rápida. Com ela, talvez até surjam novas histórias de horror como estas.

Só não é possível se deixar que em Belo Horizonte, terceira maior cidade do país, a polícia torture. Seja na rua, ou escondido. À luz do dia, ou durante a noite.

Cabo Maia e PM não respondem – Na sexta-feira (10/11/2017), ao retornarmos de Belo Horizonte para o Rio, enviamos à Assessoria de Imprensa da Polícia Militar de Minas um e-mail pedindo explicações. Mas, até o domingo, não houve manifestação por parte daquela assessoria. Na mensagem questionávamos:

Bom dia, voltarei a abordar o caso do jovem que já foi motivo de reportagem no meu blog – www.marceloauler.com.br.

Gostaria de saber o que a PMMG apurou sobre as denúncias do jovem e de seus familiares de que houve tortura, sequestro, espancamento, uso de um carro não oficial e flagrante montado? Em que pé se encontra a investigação?
Em tempo: qual a situação dos policias militares envolvidos? Continuam “tirando serviço” normalmente? Foram afastados do policiamento nas ruas? Desde já agradeço tais esclarecimentos“.

No domingo (12/11/2017), ao redigirmos esta reportagem o Blog telefonou para o celular do Cabo Maia Falamos com o próprio, que confirmou ser quem procurávamos. Diante do questionamento sobre as acusações de tortura e extorsões a ligação caiu ou foi desligada.

Ainda assim, o Blog insistiu. Encaminhou pelo WhatApp uma mensagem, às 09H58:

Prezado Cabo Maia, aqui o jornalista Marcelo Auler que tentou falar com o senhor pelo celular e a ligação caiu (ou terá sido desligada?). Continuo querendo lhe ouvir sobre as acusações que, segundo consta, foram feitas às autoridades de Minas Gerais envolvendo seu nome e de seus companheiros de Rotam, por práticas de tortura e de extorsão a quatro elementos, no dia 25 de outubro. Havendo interesse em se manifestar, o senhor pode me mandar mensagem por aqui. Tenho interesse em lhe ouvir. Atenciosamente, Marcelo Auler

À tarde, uma nova tentativa foi feita, às 13H41. Ambas as mensagens foram lidas, mas não mereceram resposta. Desta segunda vez, fizemos um alerta:

“Senhor Cabo Maia, um lembrete. Eu continuo esperando sua manifestação. Porém, gostaria de alertar que as minhas mensagens trocadas com o senhor estão sendo remetidas a diversas autoridades de Belo Horizonte, do Rio e de Brasília. Lembro isso para que o senhor saiba que se algum dos envolvidos nessa triste história for atropelado por um velocípede, as pessoas saberão a quem responsabilizar. Atenciosamente. Marcelo Auler”.

Continuaremos aguardando uma explicação, se não da Polícia Militar, do governo petista de Fernando Pimentel.

 

 

Aos leitores e seguidores – Esta é mais uma reportagem exclusiva do Blog, dentro da nossa proposta de trazer informações diferenciadas e detalhadas, É um trabalho que demanda tempo e dedicação. Para realizá-lo, investimos em uma viagem de quatro dias a BH. O Blog, como é publico, se sustenta com a participação dos leitores, seja com a divulgação/compartilhamento do que publicamos, para atrair mais leitores, ou com doações financeiras que ajudam em nossos gastos (como desta viagem) e na nossa manutenção. Aqueles que enxergarem nisso uma forma de investimento em um noticiário independente, podem ver no anuncio ao lado como contribuir com qualquer valor para ajudar a cobrir essas despesas e na sobrevivência do site. Desde já renovamos nosso agradecimento aos que já contribuem e aos que vierem a fazê-lo.

22 Comentários

  1. […] de Belo Horizonte que denunciamos pela pratica de torturas contra um jovem naquela cidade – PMs de MG torturam a céu aberto; de dia. Ali o Blog contou com o trabalho dos advogados Cristiane Pereira, Humberto Marcial Fonseca, […]

  2. C.Poivre disse:

    Auler, restou uma dúvida: é a “ROTAM do Coroa” ou a “ROTAM do Careca”? Ou são duas quadrilhas disputando os mesmos tipos de crimes?

  3. […] Clique aqui e leia detalhes no Blog do Marcelo Euler […]

  4. Graça Lago disse:

    Excelente, Marcelo. Você percebeu a notícia, por trás das mensagens da rede social. Lição pra esse incipiente jornalismo dos dias atuais. Tenho orgulho de ter formado na rede que ajudou a salvar a vida desse jovem. Grande abraço e parabéns.

  5. ELCID GOMES disse:

    ESTOU VENDO QUE EM TODOS OS COMENTÁRIOS JÁ CONDENARAM OS PM’s.

    CONSTITUIÇÃO FEDERAL 1988
    SER.5°- LVII – ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória.

    A maioria dos comentários estão insinuando de que todos os integrantes da corporação da PMMG são desonestos, mas ao meu ver se trata de um caso isolado a ser apurado.

    A PMMG é uma das polícias com raros casos de desvios de conduta de seus integrantes, não é atoa que é considerada a melhor polícia do Brasil.

    Não façam pré-julgamentos precipitados.

    Creio que em breve veremos outro POST, no qual o denunciante terá que se retratar a nível Nacional, além de ter que reparar os danos para muitos destes profissionais da PMMG, que, sem terem culpa, também foram incluídos como criminosos.

    • João de Paiva disse:

      Isso é outra ameaça velada ao Jornalista Marcelo Auler? Quem tem de reparar os danos causados à população, ao usar recursos públicos (pois os policiais são pagos com dinheiro dos impostos que a população trabalhadora paga) para cometer crimes de extorsão, tortura, ameaças de homicídio e homicídios consumados é essa “gloriosa” PM que você tanto bajula.

      Quando dizemos que as polícias são corruptas, violentas e criminosas não estamos afirmando que 100% dos que nelas trabalham sejam delinqüentes, corruptos, torturadores, agentes de extorsão ou homicidas.

      Marcelo Auler é Jornalista Profissional, pessoa séria e competente, habituado a investigar e reportar notícias sobre os bastidores das polícias. Os leitores do blog puderam acompanhar a série histórica de reportagens por meio das quais ele desmascarou, desnudou o núcleo curitibano lavajateiro, em especial a SR-DPF/PR. Marcelo Auler transformou essa SR da PF num cadáver insepulto cujas entranhas pútridas e fétidas foram expostas à luz solar; os abusos, ilegalidades e crimes cometidos por DPFs da SR-DPF/PR foram denunciados com farturas de provas. Alguns dos delegados promoveram então uma perseguição judicial contra o jornalista; mas, aos poucos, um por um, vaia sendo desmascarado e os processo judiciais vão sendo derrubados. Uma das que processou o jornalista, censurando reportagens, é a delegada Érika Mialik Marena, essa mesma que juntamente com o corregedor Rodolfo Hickel do Prado, é responsável pela morte do reitor da UFSC, Professor Luiz Carlos Cancellier de Olivo, ocorrida no dia 2 de outubro deste ano.

      Não serão familiares, simpatizantes ou mesmo policiais da ativa ou da reserva da PM-MG que intimidarão esse bravo Jornalista de continuar a realizar o trabalho dele, que se mostra de utilidade pública.

    • C.Poivre disse:

      Não se pode fazer como a Fraude a Jato de Curitiba que prende sem a vítima ter sido ouvida previamente por intimação judicial e condena sem provas. Mas, mesmo a mídia fazendo que pode (e o que não pode) para esconder os incontáveis crimes cometidos por policiais em nosso país, crime de pequena, média e grande gravidade, os homicídios acabam aparecendo por denúncias de familiares das vítimas. São recentes os casos do estudante Mateus de Goiânia que foi agredido brutalmente por um PM e correu real risco de morte, da chacina de jovens que íam para uma festa em Carapicuíba-SP, o extermínio de 5 jovens que se achavam dentro de um carro quando foram disparados mais de CEM TIROS pelos policiais da PM contra jovens sem ficha criminal, ou seja, são tantos os casos de envolvimento de PM’s em crimes que se fizer uma pesquisa no Google associando as palavras “PM+chacina” aparecem de 500 MIL LINKS fazendo referências a crimes de policiais militares. Então, por causa de criminosos que se abrigam sob o teto das PM’s estaduais, é quase instintiva a tendência em prejulgar os envolvidos. Eis alguns deles:

      http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2015/12/mais-de-100-tiros-foram-disparados-por-pms-envolvidos-em-mortes-no-rio.html

      https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2016/11/11/pm-foi-2-vezes-a-local-onde-estavam-corpos-de-chacina-mas-nao-os-encontrou.htm

      http://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/chacina-com-12-mortos-no-cabula-foi-planejada-por-pms-como-vinganca/

      https://www.cartacapital.com.br/sociedade/em-tres-dias-pm-de-salvador-matou-15-jovens-negros-5479.html

  6. Xhyko disse:

    Ué ….então não é só a polícia militar do Rio de Janeiro que se associa?

  7. C.Poivre disse:

    O suposto leitor do blog q se identifica como Marcelo Pereira (?) ameaça abertamente o jornalista Marcelo Auler já q policiais criminosos nunca são punidos o ameaçador se coloca na mesma condição de imunidade. É o resultado lógico da impunidade secular dos verdadeiros criminosos.

  8. João de Paiva disse:

    Parabéns pelas magníficas reportagens. Como mineiro, sinto vergonha da imprensa mineira, que se mostra incapaz, omissa ou conivente com os criminosos de farda, de paletó, de colete e de toga, omitindo-se de fazer a investigação e denúncia jornalística.

    Com essas três reportagens Marcelo Auler desmascara uma das milícias criminosas na PM-MG, que se mostra muito parecida, no que se refere à corrupção e violência contra pessoas pobres e da periferia. Aquele engodo de que apenas a PM do RJ é violenta, corrupta e assassina cai por terra. As PMs (mas também as outras polícias), em todos os estados, distrito federal e territórios brasileiros são muito parecidas: todas elas são extremamente violentas, corruptas e cometem crimes bárbaros, como tortura, assassinato, roubo e extorsão.

    Conclamo os leitores a colaborar com o blog, para que o bravo Jornalista Marcelo Auler possa continuar seu trabalho, que se mostra um serviço de utilidade pública de inestimável valor.

  9. Marcelo Pereira disse:

    Quero ver vc provar isso na justiça, escrever qualquer merda e “entender” como prova é fácil, prepara o bolso hein. Tem q entregar essa merda de pais pro PT mesmo, assim instalam logo o Comunismo, é o q essa população merece.

    • João de Paiva disse:

      As provas constam da reportagem. Quem precisa provar as versões falsas e pré-fabricada e a PM corrupta e assassina de MG. Calado você é um poeta.
      Não pense que Marcelo Auler se intimida com comentaristas bravateiros, mesmo os que usam farda.

    • Hooger Ventura disse:

      Bravateiro de merda. Quem defende bandido bandido é, pior ainda se for bandido de farda.

  10. deia disse:

    Quando terá fim esse escandaloso racismo institucional? A todo momento recebemos denuncia tortura praticada pelo poder publico.

  11. Re disse:

    Nossa, temos resquícios demais da ditadura.
    Há um vídeo circulando no fb que mostra policiais batendo em mulheres que tentam impedir o massacre de um homem por esses policiais, uma das mulheres recebe um tapa tão violento que cai longe, a outra gira no chão depois do golpe que recebe do PM e é imobilizada. O engraçado é que só as mulheres procuraram intervir, havia outros homens no local, só olhando.

  12. EMIL disse:

    KKK ISTO É ANTIGO. SÓ AGORA DESCOBRIRAM? A JAGUNÇADA DO DOPS TÁ AINDA NA ATIVA AQUI EM MG. VIVA O CANGAÇO MINEIRO.

  13. Elizabeth Sussekind disse:

    Marcelo Auler, parabéns pela excelente reportagem.
    Além de tudo o que demonstra, fica claríssimo como as autoridades superiores teriam condições de investigar e interromper quadrilhas de criminosos dentro das corporações. Se quisessem, se fossem livres para chegar aos companheiros e acusá-los, fazendo-os responsabilizá-los por seus crimes.
    Não resta dúvidas de que os órgãos de correição e controle devem ser ocupados por profissionais de fora da corporação, absolutamente independentes e íntegros. E corajosos.

    • Marcelo Auler disse:

      Concordo em numero gênero e grau Elizabeth Sussekind. E ainda não abordei outra questão crucial nesse caso: a mudança da legislação por esse governo temeroso que devolve à Justiça Militar os crimes praticados contra civis. Abraços Marcelo Auler

  14. […] de lá, da capital mineira que  Marcelo Auler traz, em seu blog, uma história terrível: policiais militares espancando e torturando traficantes (ou supostos […]

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