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PM mineira: extorsão, sequestro e tortura

Marcelo Auler (Matéria reeditada em 11/11/2017)*

L. E. após as torturas: sem dois dentes, com hematomas pelo corpo e um dedo da mão esquerda quebrado.

O sequestro do jovem L. E. S. A., de 22 anos, no início da noite de quarta-feira (25/10), por quatro soldados da PM de Minas Gerais, três deles identificados como Weidman Tadeu de Araújo Maia, Vitor Costa Santos e Yuri Salim Lima Salomão, é prova cabal não apenas de que a violência como prática policial espalhou-se pelo país. Mas também que as corporações a que pertencem tentam a todo custo acobertar os crimes que seus membros praticam. Sem falar do spiritus corpus que faz, nesse caso, por exemplo, a Polícia Civil, por conivência ou negligência, contribuir para encobertar os possíveis crimes dos chamados agentes da lei.

Não à toa que em dezembro de 1968, ao se recusar a assinar o famigerado Ato Institucional nº 5 – AI-5, o então vice-presidente da República, o mineiro Pedro Aleixo, alertou ao general de plantão da ditadura, Costa e Silva: “Presidente, o problema de uma lei assim não é o senhor, nem os que com o senhor governam o país. O problema é o guarda da esquina”.

Naquela época, o “problema” nem foi tanto o “guarda da esquina”. Mas, certamente, a impunidade dos militares e agentes da repressão que, no regime militar, prenderam ilegalmente, bateram, torturaram e mataram quem era da oposição, foi incentivo para nos dias atuais o “guarda da esquina” passar a ser mais um “problema”. Em todo o país a truculência policial é uma realidade.

L. é filho da militante feminista e ativista social M. A., de 51 anos. Isto, provavelmente, o salvou. Graças ao alerta que sua família fez, através de amigos e até de desconhecidos nas redes sociais tão logo ele foi levado de casa que, certamente, o fez sair vivo deste episódio. Embora totalmente machucado, sem dois dentes e com o dedo da mão esquerda quebrado.

Pelo que contou à advogada Cristina Paiva, da Comissão de Direito Humanos da OAB-MG, ao saberem que o seu “sequestro” estava sendo denunciado pela rede social, os PMs que tentavam extorqui-lo decidiram apresentá-lo a uma delegacia.

Oficializaram um flagrante de tráfico de drogas e porte de arma. Totalmente discutível com base nas informações divulgadas pela Assessoria de Imprensa da Polícia Militar de Minas e do que consta do auto de prisão em flagrante nº 1300536-16.2017.0.13.0024, registrado na Central de Flagrantes (Ceflan) 4, no bairro Alípio Melo, em BH.

São fatos estranhos a começar pela pequena quantidade da “substância análoga a cocaína” que a polícia diz ter encontrado com o rapaz, em “pinos”. Um deles achado, como consta do Flagrante, “dentro da sua calça”. L. foi preso trajando bermuda. Ela não possui bolso.

A pouca quantidade de droga, inclusive, levou a promotora Cláudia do Amaral Xavier pedir a concessão da liberdade provisória mediante aplicação de medidas cautelares, na audiência de custódia realizada na sexta-feira (27/10). Apesar de o rapaz já responder a dois processos sob a mesma acusação. O flagrante desta vez soou estranho.

L., ao ser preso, trajava bermuda, sem bolso.

O juiz Luiz Fernando Nigro Corrêa atendeu ao pedido. Estipulou diversas medidas a serem cumpridas pelo jovem, entre elas o uso de tornozeleira eletrônica. Mas, determinou também que se oficiasse à “promotoria dos Direitos Humanos, tendo em vista que o autuado alegou nesta audiência de custódia ter sofrido agressão no momento de sua prisão por quatro policiais militares”.

L. foi solto às 15rhs de sexta-feira, após colocar a tornozeleira. Deveria ter ido à Ouvidoria da Polícia, mas seu depoimento ficou para a segunda-feira.

 Extorsões rotineiras – Pelas denúncias do jovem, ao chegar ao portão de sua casa, vindo de um jogo de futebol, foi interceptado pelos três policiais identificados. Eles já tinham abordado outro grupo de rapazes. Destes outros, com os quais L. não teve contato, os militares extorquiram drogas, dinheiro e arma. Não os prenderam.

No depoimento prestado no auto de flagrante, L. afirma:

a cerca de quinze dias atrás estes mesmos policiais haviam lhe pedido uma arma de fogo e conforme o DECLARANTE, eles disseram, “SE VOCÊ NÃO DER A ARMA VAMOS TE FORJAR”, QUE na data de hoje, os referidos policiais lhe abordaram, como dito acima, todos dentro de um Voyage e jogaram armas e drogas em sua conta; QUE durante a ação policial foi violentamente agredido pelos militares chegando a desmaiar; QUE, toda a ação violenta dos militares foram presenciadas por sua TIA M. A., D., AVÓ, SUAS IRMÃS N., Y., R., além de seu TIO P.; QUE O DECLARANTE e sua TIA M. A. toram (N. da R. tomaram) choque quando estavam dentro do Voyage, pois os militares queriam trazer o DECLARANTE dentro do referido Voyage; QUE afirma ser verdade sua versão, tanto que os militares sequer apreenderam o Voyage; QUE nunca tinha visto este veículo antes; QUE dos fatos ficou lesionado; QUE possui passagem pela polícia, não é usuário de drogas, trabalha como entregador”. (sic)

Por tudo o que foi levantado, trata-se de uma prática rotineira, naquela região, por estes policiais. Costumam fazer as extorsões no entorno do bairro Candelária, na capital mineira.

Desta feita, não aceitaram a alegação do rapaz de que não tinha nada a lhes dar. Foi quando partiram para a agressão já na residência dele, que foi toda revistada e revirada, inclusive com a destruição de utensílios e móveis. Uma possível reação de L. e da família provocou ainda mais violência.

No depoimento que M. A. postou na rede social, ela diz que ao defender o sobrinho um dos policiais lhe apontou uma arma. Ela o desafiou a atirar. Ele achou melhor recolhe-la ao coldre. M. A. não conseguiu, porém, evitar os choques. Não apenas em casa.

Também agrediram os familiares do jovem, como registra a queixa na 1ª Delegacia de Polícia, no bairro de Venda Nova, apresentada por R. R. A. do N. e S., de 17 anos, e  M. L. A.S., de 43 anos, respectivamente irmã e tia de L..

A tia, inclusive, decidiu não abandonar o sobrinho e postou-se no assento do carro. Tentou evitar que as agressões ao jovem continuassem. Quando os policiais, com L. e M. A., passaram na frente de um posto policial, ela gritou por socorro. Em consequência, recebeu choques com uma arma de Teaser. A mesma que usaram dentro da casa ao agredirem membros da família.

As denuncias no Facebook podem ter salvo L..

M. A. foi jogada para fora do carro. O rapaz, pelo depoimento à advogada, foi levado para um terreno com um matagal onde continuou a ser violentamente espancado. Aos três policiais que o sequestraram no Voyage juntou-se o quarto, que dirigia o carro oficial da polícia.

Origem do Voyage – Os sinais do espancamento, como se viu nas fotos, são claro. O próprio preso denunciou a violência que sofreu no momento do flagrante, tal como repetiu em juízo. Mas a delegada Ketlyn Miranda Rodrigues Soares não o encaminhou para exame. Não haveria exame de copo delito tal como todos hoje assistem acontecer com os criminosos do colarinho branco.

Quem determinou expressamente que o preso fosse a exame médico, na manhã de quinta-feira (26/10), foi o Ouvidor da Polícia de Minas Gerais, Paulo Alkmin. O laudo sairá terça-feira.

No flagrante, os policiais apresentaram armas e drogas. Segundo L. e outras testemunhas, elas pertenciam ao grupo de jovens abordado antes dele. Versão que Alkmin tenta confirmar.

Pelo que já levantou o ouvidor da polícia, é possível desvendar o mistério em torno do Voyage em que L. foi sequestrado. Seria de familiares de um dos jovens do grupo abordado pouco antes de L. . Ou seja, fruto de uma extorsão.

Curioso é verificar que, apesar de L. ter dito no depoimento que andou no Voyage, a delegada que registrou o flagrante não ter demonstrado interesse em saber do carro. Descobriria outra extorsão que, ao que parece, ocorrera momentos antes de L. ser pego.

Oficialmente, porém, para a Polícia Militar nada do que foi descrito por L. aconteceu. Ou, pelo menos, não da forma como ele contou. Em nota enviada na quinta-feira ao Blog, a versão é outra.

Tudo teria se dado dentro da lei e de acordo com as normas que “pregam os cadernos doutrinários da corporação”. A versão oficial, exposta na nota enviada ao Blog, fala do flagrante por tráfico de drogas e porte de arma.

Nela, além da versão diferente, destaca-se a promessa:

A Polícia Militar não irá coadunar com qualquer tipo de conivência com o tráfico e continuará seus esforços para livrar crianças, adolescentes e jovens, bem como nossa sociedade do mal do narcotráfico. (grifamos).

Nada falam, porém, de extorsões, sequestros e torturas. Tampouco explicam o que policiais fardados, em horário de serviço, faziam em um Voyage particular. Confira a integra:

A Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) esclarece que o fato ocorrido no bairro São João Batista trata-se de uma ocorrência de tráfico de drogas. Na intervenção policial foram apreendidas drogas, uma pistola com numeração raspada, um revólver com cinco munições e mais duas munições de calibre 32.

Vale ressaltar que a ação começou com os policiais observando a atitude suspeita de alguns indivíduos. Trata-se de um local conhecido no meio policial, onde ocorre tráfico de drogas. Os policiais se identificaram e abordaram um veículo que empreendeu fuga. Um dos indivíduos desfez de uma arma ainda na rua e foi contido já dentro de uma residência.

O indivíduo ficou em posição de desferir golpe de artes marciais, com socos, chutes e mordidas contra os militares, que ainda enfrentaram a resistência dos familiares. Os parentes do indivíduo empurraram os policiais e desferiram socos e tapas, para impedir abordagem. Como pregam os cadernos doutrinários da corporação, o indivíduo foi algemado e encontrado em sua calça 20 pinos contendo substância análoga a cocaína. Essa já é a terceira prisão do jovem, que foi encaminhado para o Ceflan 4, entregue pela PM para a polícia judiciária para os procedimentos legais.

A Polícia Militar não irá coadunar com qualquer tipo de conivência com o tráfico e continuará seus esforços para livrar crianças, adolescentes e jovens, bem como nossa sociedade do mal do narcotráfico. Os militares lesionados foram medicados e passam bem. A PM mantém contato constante com a Corregedoria da Polícia Militar, Ministério Público e demais entidades de transparência e apuração para esclarecer a sociedade sobre os fatos.

Att, Sala de Imprensa PMMG

O Blog ainda fez uma série de perguntas para a assessoria da PM-MG, por entender que a historia estava mal contada. Pelas respostas, o que se destaca de importante é que não há testemunha, fora os policiais, de que o rapaz tinha uma arma e jogou-a fora. Também os policiais dizem que o rapaz saiu de um Voyage – final de placa 7152, como consta do Boletim de Ocorrência – onde estavam outros indivíduos. Dos “outros indivíduos” não falam nada. Sumiram?

Na descrição do soldado Weidman no flagrante não há referencia à fuga do Voyage que a Nota Oficial descreve. Na sexta-feira, o ouvidor Alkmin descobriu ser o mesmo carro que os policiais usaram para transportar L. e sua tia. Fruto da extorsão anterior.

Percebe-se na nota e também nas respostas enviadas posteriormente ao Blog, a preocupação da Polícia Militar em caracterizar L. como traficante, com duas passagens pela polícia. Foi preso em flagrante por tráfico. Responde a processo. Mas não tem contra ele mandato de prisão. Essas passagens anteriores, para a PM, parecem justificar todo o resto.

É curioso também o fato de no flagrante a delegada Ketlyn ter aceitado que apenas um dos policiais militares prestasse depoimento. Foi o condutor do caso, Weidman. Os outros dois PMs apareceram na condição de testemunha. Testemunhas que nada testemunharam pois, em seus depoimentos, além da identificação consta os mesmos dizeres: “que retifica em inteiro teor o histórico do reds“. Reds, em Minas Gerais, é o Registro de Defesa Social, o antigo Boletim de Ocorrência (BO).

Na descrição de Weidman foi o soldado Vitor quem encontrou – “dentro da calça” que L. não trajava – pinos contendo substância análoga a cocaína. Pelo visto, na Central de flagrantes ninguém reparou o preso de bermudas.

Weidman, o declarante, disse ainda que encontrou a pistola “ao realizarmos buscas no local utilizado como fuga do autor, no ponto inicial da suspeição, onde estava parado o Voyage”. Não descreve, nem lhe perguntaram, em que momento esta arma foi encontrada.

Já o soldado Yuri, ainda nas palavras de Weidman, “encontrou um revólver municiado com cinco munições e duas munições de calibre 22”. Não há, porém, nenhuma explicação de onde e em que condições isto ocorreu.

A ausência de um depoimento detalhado dos dois policiais que serviram como “testemunha” sem nada testemunharem demonstra, no mínimo, certa preguiça da delegada.

Também seria mera preguiça o fato de ela, mesmo depois de L. ter falado que ficou lesionado, não se preocupar em apurar as denúncias do jovem? Ou se pode pensar em conivência? O depoimento do preso, certamente por ele ser apontado como criminoso, foi, na verdade, mera formalidade. Não uma fonte de informação para uma investigação mais efetiva.

Minas Gerais tem um governador petista, Fernando Pimentel. No seu secretariado está Nilmário Miranda, justamente na Secretaria de Direitos Humanos. Apresenta qualificado passado em prol da causa. Estava em férias, decidiu sexta-feira suspendê-la, muito em consequência desse caso.

O trabalho iniciado por Alkmin, o Ouvidor da Polícia, começa a render frutos. Na segunda-feira, ouvirá L., sua mãe e sua irmã. Tudo o que apurou até o momento ele encaminhou para o setor do Ministério Público Estadual encarregado dos Direitos Humanos.

Falta o governo cobrar providencias das Polícias.

Da Civil, para que aja com maior interesse na condução das investigações.

Da Militar, não apenas a punição dos envolvidos mas, principalmente, o afastamento deles dos serviços de rua. São ameaça a ordem pública e, provavelmente, a ao desenrolar das investigações. Do contrário, faltarão testemunhas. Por medo.

(*) Após permanecer quatro dias em Belo Horizonte, o Blog constatou que L.E.S.A. e sua tia M.A. foram vítimas de atrocidades policiais sem estarem envolvidos em nenhuma atividade ilícita ou criminal. Diante desta constatação, a reportagem foi reeditada para substituir seus nomes por suas iniciais, como forma de preservá-las.

Aos leitores– Esta é mais uma reportagem típica do Blog por oferecer informações detalhadas, confirmadas por documentos e depoimentos. O tipo de matéria jornalística que leva tempo e exige um trabalho redobrado. Foram dois dias e três noites garimpando informações, cruzando dados, lendo documentos para chegar ao texto final. Ao me dedicar a histórias mais longas, abro mão do noticiário factual, para o qual muitos dos meus colegas já dão a devida atenção. Por isso, nossa sobrevivência é mais difícil, pois acabamos atraindo menos leitores. Dependemos quase que exclusivamente da contribuição dos leitores, admiradores e apoiadores. Se aprovar, compartilhe, divulgue e podendo, contribua com qualquer valor com o Blog. Veja ao lado nossa conta para as doações. Desde já agradecemos.

11 Comentários

  1. […] applied since, are applied to persecute peaceful protesters. Family members of activists are being kidnapped and tortured by the police. Meanwhile, Charles Koch sponsors a neo-fascist group to promote bullying against teaching history […]

  2. M. L. A. S, disse:

    Sou a M. L.. A tia do L..
    Não sou bandida. Tenho curso superior e trabalho para o Governo de MG.

    É triste ver pessoas como a Glaucia dizendo isto. Sou mulher, negra e moro na periferia. Isto é razão para terem me dado choque elétrico quando abraçava meu sobrinho?
    Isto é razão para quebrarem o dedo dele e o nariz algemado?

    Não houve drogas. Não havia armas em minha casa.

    O difícil entre tantas coisas é ver a sociedade julgar-nos a todos como bandidos. Não somos!
    Por favor, não aumente a tristeza que já está grande demais no meu peito.

  3. C.Poivre disse:

    Médico denuncia situação de calamidade extrema em hospital de Mato Grosso, onde trabalha:

    https://youtu.be/qYWDB-0PnAA

  4. Giordano disse:

    Quando se trata de políticos de partidos da direita, aí grande parte da população acha desculpa pra malas de dinheiro, com imagens e gravação de voz feitas pela PF; helicóptero apreendido por tráfico; gravação de temer com joesley sobre a continuidade de propina pra Eduardo cunha; nada disso importa.
    Quando se trata de jovem, preto e pobre, principalmente, aí a “culpa” já é posta como uma marca de origem.
    Preconceito de mentes deterioradas por subserviência, ignorância e má fé.

  5. João de Paiva disse:

    Como mineiro, que tem parentes que moram na região de Venda Nova, que já moraram inclusive no Bairro São João Batista, citado pela leitora defensora de uma PM que comete crimes, devo dizer que ela, assim como outros milhares de outros brasileiros, se deixam influenciar pelos programas policialescos de Rádio e TV e pelo discurso dos que pregam a violência policial como estratégia de combate ao crime. A ela e a outros que se deixam enganar por esse discurso nazifascista recomendo conhecer as famílias que foram vítimas da violência policial e que perderam filhos, sobrinhos, irmãos, netos ou amigos, que acabaram mortos por “forças de segurança pública”, que no papel e no discurso têm a missão de proteger as pessoas.

    Na Rádio Itatitaia, trabalhava um tal de Laudívio Carvalho, que se elegeu deputado com o mesmo discurso desses soldados, cabos, sargentos, capitães, majores e coronéis da PM que são entrevistados pelos Datena da vida. Laudívio se elegeu deputado federal com esse discurso que a leitora Glaucia repete no comentário dela. Policiais civis e delegados conseguiram entrar para a carreira política usando o mesmo tipo de discurso. Sou capaz de apostar que a leitora citada é ouvinte da Rádio Itatiaia, leitora das páginas policiais de jornais e revistas e telespectadora dos programas policialescos. Se dependesse dos veículos de mídia da capital mineira, esse caso provavelmente seria engavetado, como aconteceu com tantos outros.

    Os maiores traficantes, os verdadeiros chefes, não moram nas periferias. Alguns deles ocupam altos escalões nos três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), assim como nas polícias e forças armadas do aparato estatal. Mas sobre isso a leitora Glaucia nada fala. Será que ela não sabe quem é Zezé Perrella e quais são as pessoas poderosas com quem ele tem relações pessoais, políticas e negociais?

    Quem mora próximo a alguma favela e tem olhar jornalístico e sociológico presencia, rotineiramente, certas operações da PM (batidas policiais) feitas exclusivamente (ou principalmente) para extorquir pessoas que comercializam pequenas quantidades de droga e/ou praticam furtos. No varejo do tráfico há muita violência e crueldade, como sabemos. Mas nas periferias das grandes cidades brasileiras não há fábrica de armas. Quem fornece esse armamento aos traficantes do pequeno e médio varejo? Por que é tão fácil verificar a presença de armamento pesado, alguns de uso exclusivo das polícias e outras FAs, nas mãos de varejistas do tráfico de drogas?

    Extorsão, violência e abuso de autoridade são crimes corriqueiros para quase todas as polícias brasileiras.

    Por fim meus parabéns ao Jornalista Marcelo Auler, pela coragem e disposição em fazer um trabalho que os jornalistas do meus estado se negaram a fazer.

  6. Wellington disse:

    Tudo isto é muito triste. Ver uma mãe e familiares defenderem um jovem envolvido com drogas (usuário/ trafico) já com outras passagens policiais como descrito no texto e, o pior, pelo visto todos acham normal, ao invés de buscarem tratamento para que ele deixe essa vida.

    O 11º anuário de segurança divulgado hoje mostra que os jovens envolvidos com drogas e o crime, de forma geral, morrem com tenra idade no confronto com a polícia ou pelos demais criminosos e, depois não adianta a família chorar, gritar, fazer carreatas, manifestações, etc, pois os índices vem aumentando ano a ano. Lembrem-se que a vida só dá uma safra…

  7. Gilberto disse:

    glaucia você é milica?????

    • C.Poivre disse:

      Se é milica, não sei, mas certamente é coxinha:

      A ORIGEM DO TERMO “COXINHA”

      “Quando estou entre meus amigos eu costumo relatar uma historieta acerca da gênese da expressão “coxinha”. Hoje, depois que um amigo me pediu para contá-la novamente, eu achei que seria uma boa hora para registrá-la por aqui para que todos vcs pudessem conhecê-la.

      O nome/ termo “Coxinha” veio de uma gíria já existente há décadas na cidade de São Paulo e que antes designava apenas um xingamento direcionado aos policiais. “Encarregados de fazer a ronda, eles se alimentavam de coxinha em bares e lanchonetes – e, em troca, garantiam a segurança local.” Prestavam, em meio ao seu turno de serviço público, um bico de segurança momentânea a certos comerciantes que lhes ofereciam como pagamento apenas migalhas (coxinha e café coado).

      Esses policiais costumavam e ainda costumam espantar das portas das padarias e similares os pivetes e os jovens moradores das comunidade locais. Eles costumavam e costumam espantar/afastar jovens que muitas vezes cresceram juntamente com seus irmãos e que por vezes frequentaram ou frequentam as mesmas escolas que eles frequentaram. Ou seja, são todos conhecidos, têm o mesmo berço econômico e social.

      Tais jovens, ao serem “afastados/espantados” para longe dos estabelecimentos comerciais guardados pelos policiais ficavam furiosos e gritavam para os tais policiais: “seu coxinha, vc sabe que eu não sou bandido. Vc me conhece. Vc está defendendo esse cara em troca de uma mísera coxinha. Coxinha, coxinha!” Ou seja, o coxinha, naquele contexto, era um Xingamento dirigido a um policial que se escondia de sua própria condição (pobre, favelado e sem estirpe, mas que enganado por seu uniforme, pensava ser igual ou próximo ao rico comerciante e o avesso dos jovens pobres que ele espantava do local).

      A expressão coxinha passou então a ser sinônimo daquele que defende um status quo ao qual ele não pertence. Ele defende os ricos, pensa ser rico, mas na verdade é um objeto a serviço dos ricos. Um instrumento para subjugar os seus iguais. O coxinha nunca terá o poder de um Aécio, dos Marinho ou de qualquer outro milionário ou mero empresário, mas ao defendê-los, o coxinha julga ser igual a eles.

      Esses milionários não reconhecem o coxinha como seu par em igualdade, mas sim como um instrumento barato que defende e garante que ele (milionário) sempre tenha mais e mais.

      O coxinha (na acepção primeira) é o policial que faz segurança na frente das padarias: defende o rico comerciante, acha q é amigo do dono da padaria, mas no fundo é apenas um instrumento barato. Esse policial vira as costas para os seus iguais, impede-os de esmolar por ali, usa da força para tira-los do campo do rico comerciante. Mas, caso uma desventura aconteça e esse policial venha a perder o seu emprego, esse rico comerciante não lhe garantirá direitos, nem comida e nem apoio. De modo oposto, os seus iguais, a sua comunidade, certamente lhe oferecerão o apoio necessário e até farão alguma rifa para ajudar sua família a não passar fome.

      É isso: o coxinha é aquele que luta por alguém que nunca, jamais irá garantir-lhe os direitos de que ele precisa. O coxinha é o enganado. O termo se generalizou e passou a descrever o cara que pensa que um governante rico e poderoso irá construir melhorias para os trabalhadores, quando na verdade esses trabalhadores receberão desse tipo de governante apenas migalhas.

      O coxinha pensa que é classe dominante. Ele se uniformiza à classe dominante: usa camisa polo de marca, já foi aos states, comprou casa e SUV financiados, critica as cotas e os nordestinos, fala mal do SUS e da ignorância da faxineira. O coxinha é o policial uniformizado na porta da padaria que pensa ser diferente dos jovens da comunidade. O coxinha é o cara que põe gel no cabelo e sai por aí esnobando o seu brega Rolex e pensa ser igual ao CEO da multinacional. Ambos enganados, ambos coitados, ambos à mercê da fuga de suas origens.

      Essa é a história da gênese da expressão coxinha e que eu desencravei há alguns anos em uma das tantas pesquisas que fiz por São Paulo.

      Coxinhas são aqueles que viverão ao sabor das migalhas frias acompanhadas de café coado. A eles restará sempre e tão somente a azia e a má digestão, pois quem se iguala ao diferente recebe o que esse diferente acha que ele merece: coxinhas frias e nunca uma CLT.”

      (Texto de Márcia Tigani, médica psiquiatra, escritora e poetisa)

  8. GLAUCIA disse:

    O texto é romântico igual novela das 9, porém acredito que a população já esteja saturada dessa inversão de valores, onde os agentes da lei são cobrados, processados e julgados pelos pseudo defensores dos direitos humanos, que movem céus e terra para defenderem os bandidos.

    É lamentável ler uma notícia coberta de parcialidade como essa. É óbvio q deve se enfatizar que esse indivíduo, colocado por diversos ângulos como vítima é sim, um bandido que atinge a sua terceira prisão pelo crime de tráfico de drogas.

    Se alguém tem q ser cobrado nessa história é a justiça, que permite q tal pessoa circule livremente pela sociedade sem quitar o seu débito perante a lei.

    Faça um texto exigindo que se cumpra os direitos humanos para as vítimas do tráfico, para as mães que choram vendo o filho escravizado nas drogas, para aqueles que morreram com as armas compradas pelo tráfico, para as milhares de pessoas assaltadas na região de venda nova, para os diversos proprietários de veículos q tiveram uma arma de fogo apontada pra sua cabeça e seu veículo localizado no bairro São João Batista.

    Sentado atrás de uma mesa é fácil falar, porém quem conhece a realidade da vila São João Batista, onde mora muita gente boa, mas o pouco que é ruim consegue contaminar todo o bairro, sabe qual é a realidade, do tráfico, do roubo, de bandido armada, da opressão de não poder ver nada nem ouvir nada.

    Então para alguém q conhece todas essas mazelas de perto, só posso dizer um grande PARABÉNS aos policias que mesmo sem morar nesse bairro se importam com os cidadãos de bens que aqui estão. Os traficantes são bandidos, vcs são heróis, que merecem voltar pra casa após o serviço, por isso nao se intimidem com publicações hipócritas nem com DH corruptos.

    Pq se vcs nao fizerem nada o mau sempre vai prevalecer.

    • Mattos Gonçalves disse:

      Gláucia, não é possível confundir combate ao crime com o crime em si. O fato de policiais representarem o Estado não lhes dá o direito de torturar, extorquir e matar. Se alguns têm uma visão romântica em relação a traficantes, você parece tê-la em relação à polícia. Não se ilud, combater os maus policiais é tão importante quanto combater outros tipos de bandidos. É a melhor forma de proteger a sociedade e os policiais honestos, que merecem respeito e admiração e não devem ser confundidos com a escória da corporação.

  9. C.Poivre disse:

    Será que alguém ficou surpreso com as revelações de Marcelo Auler? Acho que não pois esta é a rotina das polícias militares estaduais que adoram agredir covardemente os mais fracos, como fizeram contra os professores do Paraná, contra o jovem Mateus em Goiás que “viu a vó pela greta”, a chacina de um grupo de jovens em SP que ía para uma festa cujos corpos foram ocultados numa cova precária, assim como a que ocorreu numa favela do Rio em que policiais descarregaram suas armas de fogo contra jovens trabalhadores que estavam dentro de um carro, fora os muitos outros crimes que permanecem e permanecerão não revelados pois as vítimas preferenciais da polícia são pessoas pobres que não têm a quem recorrer e vivem intimidadas por policiais violentos, que abusam de seus uniformes porquê há uma ditadura midiático-judicial no país que equivale ao AI-5 do regime militar pois implantou um Estado Policial no Brasil. Portanto é muito pertinente a lembrança do protesto do político mineiro Pedro Aleixo (que se prestou a ser vice do militar de plantão na presidência à época) contra o AI-5, que tinha sido advogado militante e portanto conhecia muito bem a figura simbólica do “guarda da esquina” e do que ele é capaz quando se sente acobertado pelos poderosos da hora.

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