No segundo turno das eleições municipais do Rio de Janeiro não há espaço para a neutralidade. Ou melhor, mesmo quem quiser aparentá-la, estará fazendo uma opção: a de deixar a política fluminense entregue nas mãos do mesmo grupo que há anos a domina e levou estado e município à bancarrota! Nem mesmo a Igreja Católica pode se omitir sob pena de não cumprir o que o papa Francisco apregoa conforme o Pe. Gegê lembra em seu artigo que reproduzimos abaixo:
“prefere uma Igreja “em saída” e até uma Igreja lameada por ter a coragem de enfrentar os desafios históricos do que uma Igreja preguiçosa e medrosa sentada no sofá macio da suposta neutralidade”.
Na tarde deste sábado, dia 08/10, a campanha de Marcelo Freixo promoverá o encontro da Diversidade Religiosa. Nele, representantes de diversas religiões debaterão a situação política da cidade e tomarão partido nas eleições. Será às 14h00 na Praça Afonso Pena, na Tijuca, uma vez que o TRE impediu que fosse feito no Clube Municipal.
A proposta é construir uma cidade plural com respeito à liberdade e diversidade religiosa através da garantia do Estado Laico, onde sejam respeitadas todas as manifestações de crer e de não crer e em que a intolerância e o fundamentalismo religioso não tenham vez.
Do encontro participarão Leonardo Boff (Teólogo), Mãe Beata de Yemanjá, Mãe Márcia de Oxum, Prof. Dr. Michel Gherman (Pesquisador do núcleo de estudos árabes e judaicos da UFRJ), Padre Ricardo Rezende (diretor do Movimento Humanos Direitos e doutor em Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia pela UFRJ), Pastor Felipe dos Anjos (Igreja Batista da Redenção), Luis Backer (Umbandista e representante do Movimento Axé pela Democracia), André Decotelli (Pastor Batista), Mozart Noronha (Pastor Luterano), Henrique Vieira (Pastor Igreja Batista do Caminho), Ronilson Pacheco (Teólogo e Escritor), Ivanir dos Santos (Babalawo e interlocutor da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa – CCIR) e Luciane Maria Quintanilha Falcão (professora e membro do Observatório da Laicidade do Estado – OLE).
Neste segundo turno, por concorrerem um candidato de esquerda – que, diga-se, está longe de ser o comunista que come criancinhas como apregoam seus adversários – e um enrustido pastor Evangélico – cuja vida política sempre esteve ligada à sua prática religiosa – muitos católicos, sacerdotes principalmente, acham que não podem se intrometer.
Não percebem que ao deixarem tudo como está fazem o jogo do grupo que domina o poder político do Rio de Janeiro, isto é, Jorge Picciani, Sérgio Cabral, Eduardo Cunha, Eduardo Paes, que hoje está no PMDB de Michel Temer, mas amanhã poderá estar no partido que lhe interessar e lhe permitir se beneficiar dos bens públicos..
No artigo abaixo, reproduzido no blog com autorização do seu autor, o Padre Gegê mostra que não há espaço para omissão. Que cada liderança religiosa, seja de que credo for, reflita bem sobre o momento político que o Rio de Janeiro vive e leve seus fieis a refletirem sobre isso. Sem omissão. Sem medo. Uma tarefa defendida pelo próprio papa Francisco, como lembra no artigo o Padre Gegê:
“Esperamos, pois, que ter a coragem evangélica de preferir uma IGREJA “suja de lama” no sentido de uma IGREJA disposta a percorrer caminhos novos e desafiantes não seja apenas uma disposição de nosso Papa, mas uma característica de todo e qualquer cristão, sobretudo das autoridades eclesiásticas”.
Os sacerdotes que cultivamos o campo das ciências, independente da área de investigação e construção do conhecimento, sabemos bem que a NEUTRALIDADE científica é um MITO e, por isso, um discurso desprovido de plausibilidade; podemos dizer que é uma narrativa ideológica.
O que se afirma em termos de ciência se estende a quaisquer campos da vida e da atividade humanas, inclusive a RELIGIOSA.
Desse modo, também as IGREJAS (e quaisquer confissões religiosas) por mais que desejem, ideologicamente, um lugar de neutralidade histórica estarão sempre e em toda parte atravessadas por interesses e opções, assumidas ou não.
Essa é uma condição próprio do ser humano no mundo, condictio sine qua non do obrar histórico. O campo da política não foge à essa irremediável regra.
Por essa razão, declarar-se neutro ou em estado de abstenção em face de exigências eleitorais, por exemplo, também implica assumir lugares e escolhas com impactos no processo civilizatório.
Se assumimos que não somos anjos (o que não desmerece nossa atividade evangelizadora e nem nossa plataforma de salvação em Jesus Cristo), estamos, ao mesmo tempo, assumindo que o mundo ou a sociedade é o lugar tenente do exercício da FÉ e só a partir dele, com ele e nele podemos marchar como IGREJA peregrina rumo à Pátria definitiva – supremo desejo de nossa alma.
O Papa Francisco nos adverte acerca do desafio inalienável de cuidarmos da Terra como bons guardiões/guardiãs, e isso é uma tarefa que demanda discernimentos cautelosos à luz da FÉ , compromissos efetivos e engajamentos corajosos.
Nesse sentido, o Papa, de forma desconcertante, publicamente afirma que prefere uma Igreja “em saída” e até uma Igreja lameada por ter a coragem de enfrentar os desafios históricos do que uma Igreja preguiçosa e medrosa que sentada no sofá macio da suposta neutralidade foge do MUNDO como o diabo da CRUZ.
Em muitos momentos históricos a Igreja deixa a triste impressão de que sofre de pânico mórbido ou de uma terrível fobia de perder-se nas estradas tortuosas do MUNDO.
O Papa Francisco teve coragem e sinceridade evangélicas de falar de possíveis e reais patologias de estruturas eclesiásticas que entristecem o Espírito e já não mais fecundam a terra de novos sonhos e altaneiras possibilidades.
Esperamos, pois, que ter a coragem evangélica de preferir uma IGREJA “suja de lama” no sentido de uma IGREJA disposta a percorrer caminhos novos e desafiantes não seja apenas uma disposição de nosso Papa, mas uma característica de todo e qualquer cristão, sobretudo das autoridades eclesiásticas.
Não será fugindo do MUNDO que chegaremos ao CÉU e nem será fugindo das possíveis poças de lama da história que faremos jus as vestes brancas do CORDEIRO. A salvação trazida por Cristo não é e nem nunca será um trabalho asséptico…
Para lidar cristicamente com o MUNDO é preciso dispensar LUVAS e ter a disposição de por as MÃOS NA MASSA e, quando necessário for, as MÃOS NO VOTO (Com Cristo, por Cristo e em Cristo!).
*Pe. Gegê , Geraldo José Natalino é pároco da Igreja de Santa Bernadete, em Higienópolis (zona Norte do Rio e mestre em Teologia Sistemático-Pastoral pela PUC-RIO.
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