O chamado “establishment brasileiro” desceu do Olimpo, nesta quinta-feira (dia 25/05), e mandou publicar páginas inteiras nos principais jornais do País conclamando, inicialmente, pelas reformas e depois pela paz. As duas principais federações das indústrias, a FIRJAN e a FIESP, estão incomodadas com o clima de convulsão social que está tomando conta das ruas no eixo Rio/Brasília/São Paulo.
Os industriais fluminenses – representados pela Firjan – usam e abusam do cinismo ao pregar que “o País saberá lidar com os últimos a acontecimentos de forma a manter intacta a prioridade de aprovar reformas constitucionais”. Talvez, essa frase pudesse ser interpretada como algo assim “façam a bagunça que quiserem fazer, mas não deixem de aprovar a reforma da previdência e a trabalhista”.
A coirmã paulista – a mesma que patrocinou uma revoada de patos infláveis pelo Centro de São Paulo durante as campanhas pelo impeachment de Dilma Rousseff – foi mais específica: lançou uma campanha nacional pela reforma política.
Por esses vistosos anúncios percebe que as elites empresariais brasileiras continuam retrógadas como sempre foram. Só conseguem olhar para os seus próprios umbigos. Agem como se não tivessem sido os patrocinadores da maior crise política-econômica-institucional que já enfrentou em sua história.
Não é necessário ser um político para entender que quem corrompe, pagando propinas para os políticos e governantes, são justamente as empresas. Ou os irmãos Batista da Friboi não são empresários? Flagrados no bem bom da roubalheira do dinheiro público, FIESP e FIRJAN, cobrem-se com as roupas das Vestais e vem a público protestar por “Reforma Política Já”.
Nas entrelinhas de seus reclames de páginas inteiras deixam transparecer que não estão interessados em “Diretas Já”. Querem fazer uma faxina nos meios políticos. Só depois disso, os brasileiros poderão ir às urnas para escolherem, obviamente, o “almofadinha” paulistano que irá tocar o País.
O manifesto da FIESP também tem suas frases capciosas. Uma delas: “uma reforma que devolva ao cidadão o sentido de estar bem representados pelos políticos por eles eleitos”. Será que essa assepsia política considera que o PT e Lula continuam representando segmentos importantes do eleitorado brasileiros?
Do Olimpo, onde vivem as vestais, os provedores do golpe e da camarilha de Michel Temer não demonstram maiores preocupações com a imundice que se aboletou do poder. Também não apresentam qualquer sugestão de como removê-la.
Convenhamos, bradar pela “Reforma Política Já”, através de gordos anúncios, é insuficiente para banir os golpistas do Planalto!
São inócuas campanhas deste quilate. Especialmente, se as reformas continuarem sendo enfiadas goela abaixo dos trabalhadores – aqueles que efetivamente irão pagar essa conta. Mesmo porque, no panegírico desta quinta-feira, não há menção alguma à dívida que o setor empresarial tem com a previdência social da ordem de R$ 480 bilhões.
Como é de praxe, a “família Fiespiana” também aproveitou para fazer chantagens. Com lágrimas de crocodilos nos olhos, trovejou, em negrito: “Quatorze milhões de desempregados não podem mais esperar”. Se a reforma política por eles desejada avançar, significa que os empresários voltarão a contratar, no dia seguinte?
A confusão em que o País está mergulhado exige doses cavalares de seriedade e bom senso. Oportunistas já há de sobra.
(*) Arnaldo César é jornalista e colaborador do Blog.
1 Comentário
É preciso denunciar o óbvio,pois alguns não conseguem enxergá-los e outros querem ocultá-los. Boa matéria. valeu.