O jornalista Jorge Bastos Moreno é daquelas pessoas que não costumam fazer inimigos. Quando eles aparecem é mais por opção dos outros do que dele próprio. Que o diga o “Coisa Ruim” que até hoje faço questão de desconhecer quem é.
Eu o conheci em Brasília, em 1978, e quase dividimos um mesmo apartamento. Em final de 1980 mudei-me para São Paulo, nossas vidas profissionais nos afastaram, mas ficou a amizade e o respeito por ele como jornalista muito bem informado e grande amigo de todos.
Cheguei a frequentar algumas saborosas festas em sua casa como, em dezembro de 2000, a da despedida de Marcelo Deda (PT/SE) da Câmara dos Deputados para assumir o posto de prefeito de Aracaju (SE). Foi seu primeiro cargo no Executivo. Depois ele foi por duas vezes eleito governador do estado, cargo no qual faleceu, prematuramente, em 2013.
A festa, na verdade, reunia a chamada corte de Brasília, da qual Moreno fala em uma das notas da Coluna do Moreno deste sábado (28/11), no jornal O Globo. Estavam lá, em momentos diferentes, para não se encontrarem e o caldo não transbordar, os senadores Jáder Barbalho (PMDB/PA) e Antônio Carlos Magalhães (PFL-DEM/BA), no auge da briga que os dois travaram. Tudo devidamente administrado pelo anfitrião.
Na coluna de hoje, três notas merecem compartilhadamento, o que faço com satisfação.
Na primeira delas, ele chama atenção para certas práticas de Brasília que precisam mudar. Não vou nem discutir as chamadas reuniões da corte, das quais o próprio Moreno protagonizou muitas, com a maestria que lhe é peculiar.
Mas sim a fórmula como se indicam ministros para tribunais superiores (cuja aprovação depende do Sernado), ou mesmo para Tribunais Regionais Federais (livre escolha da Presidência da República, mas que sempre é influenciada por apoios políticos).
Ambas acabam levando o candidatoa a correr gabinetes no Congresso, ou aceitar que algum parlamentar do seu Estado o faça.
Lembro aqui o caso do hoje desembargador do Tribunal Regional Federal da 2ª Regiao (Rio de Janeiro e Espírito Santo) – TRF-2, Aluísio Gonçalves de Castro Mendes que, em 2011, aparecia pela terceira vez na lista de indicações. Ainda assim, viu – e não impediu – o deputado Hugo Leal (hoje PROS/RJ) correr uma lista de apoio entre deputados federais das bancadas flunminense e capixaba. Prática que poucos candidatos atualmente não adotam.
Na hora da nomeação, Dilma Rousseff simplesmente rejeitou promovê-lo ao se deparar com o nome do deputado federal Jair Bolsonaro (PP/RJ) entre os políticos que apoiavam o então juiz federal. Mendes jamais tinha falado sequer com Bolsonaro que também não o conhecia e só apoiou-o para atender a Maia.
Oficial reformado do Exército, Bolsonaro é reconhecidamente um político de direita. Como tal, protagonizou na tribuna da Câmara os mais virulentos discursos contra o passado político e a própria honra da presidente. Isto, que nenhuma relação guardava com a nomeação de Mendes – mais do que justificada não apenas pelo tempo de magistratura como pelo preparo para a função – acabou interferindo indevidamente.
A sua nomeação para a cadeira que hoje ocupa no TRF-2 só ocorreu por interferência do STF em um Mandado de Segurança impetrado por entidades de classe dos magistrados. No Mandado discutiu-se se a Presidência da República poderia ou não rejeitar o nome que aparecesse pela terceira vez na lista. Os ministros entenderam que não e garantiram a posse no cargo.
Este caso demonstra com perfeição porque se precisa, como prega Moreno, modificar as regras adotadas atualmente. Função no Judiciário não pode ter interferência de políticos.
Abaixo a primeira nota da coluna que compartilho hoje. Veja também:
O caso Delcídio Amaral deve provocar profunda reflexão entre os ministros do STF sobre a necessidade de blindagem maior, que evite exposições como a que foram vítimas pela suposta bazófia do senador.
Não raro, a Suprema Corte se mistura à corte de Brasília, ficando vulnerável a contatos com lobistas dos mais variados interesses.
É incompreensível, por exemplo, que ministros do Supremo, principalmente os que cuidam da Lava-Jato, compareçam a casamento de filho de advogado de um dos senadores investigados na operação, como ocorreu recentemente.
O convite à promiscuidade começa na origem: o ritual do indicado à vaga do Supremo de percorrer gabinetes dos senadores em busca de votos.
Obedeça-se à regra da sabatina em plenário, onde, aí sim, podem mostrar que estão habilitados a, por notório saber jurídico e reputação ilibada, ocupar as vagas para as quais estão sendo indicados.
3 Comentários
[…] notas concordando com meu amigo Jorge Basto Moreno, colunista de O Globo. A primeira deles foi O Moreno tem razão (1): a promiscuidade tem que acabar. Hoje, sou obrigado a discordar totalmente […]
O jornalista Jorge Bastos Moreno é um daqueles que, ao se ler a assinatura em qualquer texto, ou nota, nos leva a beber na sua fonte. Bom saber que, enfim, alguém da imprensa , da estatura dele, critica a forma como se nomeia juízes para os tribunais. É preciso mudar a forma dessa escolha com urgência, pois na lide forense encontramos, inclusive, julgadores flagrantemente despreparados para a função. É a chamada desonestidade intelectual, assunto lembrado à boca miúda nos corredores do judiciário…
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