“A família Lula da Silva agradece todas as manifestações de carinho e solidariedade recebidas nesses últimos 10 dias pela recuperação da ex-primeira-dama Dona Marisa Letícia Lula da Silva. A família autorizou os procedimentos preparativos para a doação dos órgãos.“
Com a nota acima, expedida pela família do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, confirma-se um trágico final da luta de Marisa Letícia Lula da Silva, nascida em 7 de abril de 1950, em São Bernardo do Campo (SP).
Vai-se uma guerreira, cuja vida foi sempre um transpor de barreiras, tanto na juventude, como na vida adulta, já na condição de esposa de Lula. Este, pela segunda vez passa por uma viuvez, Na primeira, quando perdeu a companheira, na hora do parto, por provável negligência médica, como descreve Denise Paraná, na biografia autorizada “Lula, o Filho do Brasil”, conforme copiei da reportagem Lourdes, o amor mineiro de Lula, de Paulo Narciso, no jornal mineiro Hoje em Dia.
Desta vez, não houve imprudência médica. Antes pelo contrário. Mas, como falamos aqui no texto publicado segunda-feira (27/01) – Marisa Letícia, a guerreira, descrita por Frei Betto -, após a internação dela por conta do Acidente Vascular Cerebral, certamente ela foi vítima de toda a perseguição que vinha sofrendo, assim como seu marido e filhos. Da matéria destacamos este trecho:
“Era um aneurisma congênito. Diagnosticado há dez anos, na época não preocupou os médicos. Mas, o que a medicina jamais será capaz de prever, é como reagem os seres humanos – qualquer um deles – a diferentes condições de pressão e temperatura ou, sobretudo, perseguições. Não resta dúvida, diante de tudo o que vem sendo feito com a família do ex-presidente Lula, e por mais que Marisa Letícia seja uma “guerreira” difícil de cair, ela agora não suportou”.
A convicção da “causa mortis” de Marisa Letícia não é apenas minha. Prova disso são as muitas postagens no Face Book, assim como as pichações feitas na madrugada desta quinta-feira (02/02) em vários pontos de Brasília, após a notícia de que seu quadro de saúde era irreversível. Marisa sofreu com tanta perseguição. Não que ela seja diferente dos demais e não pudesse ser investigada. Mas a investigação, claramente, virou perseguição. Quem mais teve conversas telefônicas com filhos vazadas ilegalmente? Na reportagem citada acima, que o blog publicou, mostramos, com a ajuda de Frei Betto, o sofrimento desta mulher que nasceu pobre, viveu como classe média de baixo poder aquisitivo e acabou se tornando a primeira dama do país, o que, sem dúvida, provocou inveja e despeito em muita gente. Pode ter cometido erros, como todos os seres humanos cometem, mas muito aquém de outras mulheres de políticos, ou figuras públicas da sociedade.
Dela, que conheci nos anos 80, quando morei em São Paulo, guardo muitas recordações. Mas a última foi, talvez, a mais engraçada, No dia da posse de Lula, no primeiro mandato de presidente, no Palácio do Planalto, após a transmissão do cargo, ela passa por mim e avisa em tom irônico: “Marcelo, a partir de agora só admito ser chamada de Excelência”.
Não se trata de uma questão de endeusar quem morreu, como alguns insinuam em postagens no Face Book, junto com o ódio (ou será despeita) que nutrem dela e de toda a família Lula. Mas de reconhecer que, como erros e acertos, ela foi uma guerreira ao vencer diversos desafios e ao apoiar, incondicionalmente, o marido em sua trajetória, mesmo sabendo que isso significava sacrificar a convivência dele com a família. O viu ser preso duas vezes, ser massacrado com mentiras relacionadas à vida pessoal dele na famosa campanha de 1989, quando Collor de Mello apelou para a baixaria pessoal.
Hoje vemos várias pessoas, em atitudes totalmente incompreensíveis e desumanas, que torciam contra a recuperação dela e, muito provavelmente, comemorarão seu passamento. Para estes, reproduzo aqui uma mensagem do Papa Francisco, recebida às 18Hs de esta quinta-feira, 02/02. Aprendam com ele.
O que muitos não entendem é que Marisa estava sempre lá, apoiando o marido, defendendo-o, inclusive do assédio dos jornalistas. Assim como ele fazia também com relação a ela, como descreveu em seu Face Book Aziz Filho, que com ela esteve uma única vez. Ele era repórter do Jornal do Brasil. O encontro foi em uma praia de Natal, no final de uma Caravana da Esperança do então futuro candidato à presidência, Lula, em 1992. Transcrevo abaixo seu depoimento e também a nota de solidariedade de Dilma Rousseff. Vá em Paz Marisa, você agora, realmente, virou uma estrela:
“Ela deixou que nos sentássemos com eles, mas sem fotografá-los em trajes de banho. Lula já tinha uma barriguinha de respeito. Demos risadas de coisas simples, dilemas de casamentos, filhos, as “sirigaitas” que davam no pé do Lula no sindicato. Eu fiquei zonzo com poucas caipirinhas, ela era mais dura na queda. Estava sempre de prontidão para defender o marido da imprensa, dos adversários, das sirigaitas. Depois eu soube que os coleguinhas se divertiam quando ela ligava à noite para o Palácio do Planalto mandando o presidente encerrar o expediente e ir pra casa. É a lembrança que carrego de dona Marisa Letícia: singela, bonita, sincera, leal, uma alma bem brasileira. O Evandro conseguiu tirar algumas fotos roubadas, dona Marisa até riu para a câmera, e até hoje ele não me deu nenhuma cópia. Já pensei em matá-lo por isso.(Depoimento de Aziz Filho ),
Nota de Dilma Rousseff: “Estamos juntos, presidente Lula, agora e sempre”
Hoje é um dia triste para todos nós, que conhecemos e admiramos Dona Marisa Letícia. Sabemos do amor e da força que sempre emprestou ao presidente Lula. Uma mulher de fibra, batalhadora que conquistou espaço e teve importante papel político. Dona Marisa foi o esteio de sua família, a base para que Lula pudesse se dedicar de corpo e alma à luta pela construção de um outro Brasil, mais justo, mais solidário e menos desigual, desde as primeiras reuniões sindicais na Vila Euclides, passando pela fundação do PT e da CUT, até a chegada à Presidência da República. Nos últimos meses, ela e o presidente Lula foram vítimas de perseguições e experimentaram na pele grandes injustiças. Imagino que a dor de Lula agora é insuportável. Mas tenho certeza que ele saberá superar este momento difícil, recebendo de todos nós, seus companheiros e admiradores, e do povo brasileiro, muitas preces e orações, repletas de carinho e solidariedade. Estamos juntos, presidente Lula, agora e sempre. Dilma Rousseff.
Para não me tornar repetitivo, deixou aqui o link da reportagem que, com a ajuda de Frei Betto, homenageamos Marisa logo após sua internação: https://marceloauler.com.br/marisa-leticia-a-guerreira-descrita-por-frei-betto/
(*) Matéria reeditada às 18:20, do dia 02/02, para acerto da data da disputa eleitoral de Lula com Fernando Collor (1989), sobre a qual me alertou o sempre atento leitor João de Paiva, ao qual agradeço, e acréscimo de uma foto do Papa Francisco que me foi enviada e que vem a calhar nesse momento que o país vive.
3 Comentários
[…] Fonte: Marisa: a guerreira, realmente virou uma estrela! | Marcelo Auler […]
Parabéns ao repórter por pelo profissionalismo e humanidade que sempre demonstrou e continua a demonstrar. Essa reportagem do “Hoje em dia”, que nunca foi lá essas coisas, já que sua linha editorial era a do dono, Newton Cardoso, é uma preciosidade, contém imagens e relato raros; embora contenha algumas imprecisões – a mais importante que notei foi em relação ao número de meses de gestação de Maria de Lourdes, que num depoimento de Lula é dado como de 7 e noutro como de 8 meses. Como é extensa, fiz uma primeira leitura na diagonal. Para lê-la com calma e atenção, fiz questão de imprimi-la; ainda hoje pretendo fazer essa leitura atenta.
Quanto à esta reportagem de Marcelo Auler, faço uma pequena observação. Lula disputou a eleição com Collor em 1989 e não em 1998. Em 1997, um ano antes da eleição, houve o episódio – cabalmente comprovado – de compra de votos para aprovação da EC da que permitiu a reeleição de FHC. Como já expus em comentários, das três eleições que Lula disputou e perdeu, apenas a de 1994 – na esteira do Plano Real -n transcorreu de forma limpa.
Você tem toda razão João de Paiva, inclusive trabalhei – GRATUITAMENTE – na campanha de 1989. Vou corrigir imediatamente. Foi confusão por estar envolvido com outra reportagem longa que estou editando. Abraços e obrigado. O erro foi consertado e acrescentei uma foto do Papa Francisco muito significativa nesse momento que vivemos. Vale ir conferir. Peço desculpas a todos pelo erro. Marcelo Auler