A luta jurídica no processo que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é acusado de comprar e manter em nome de terceiros um apartamento no Guarujá, não sofreu modificações após o depoimentos dele, na quarta-feira, dia 10/05. Como disse Ricardo Kotscho, em 11/05, no artigo Tudo como dantes no front da Batalha do Triplex:
“Com os dois lados repetindo os mesmos argumentos desde o início do processo, o interrogatório nada alterou, por enquanto, onde mais interessa: nos autos. Nem Moro nem Lula vão mudar suas convicções e o que um pensa do outro (…)
É verdade que os dois lados pediram que novas testemunhas fossem ouvidas. Da parte da defesa de Lula, pode até ser interpretado como estratégia para prolongar o processo e evitar que haja tempo de uma dupla condenação até a próxima campanha eleitoral. Mas, quando os procuradores da República solicitam que se ouçam duas novas testemunhas, passa a ser um forte sinal de que ainda lhes faltam provas para conseguirem a tão almejada condenação do ex-presidente.
Não há como não reconhecer, porém, que ao impor a presença do ex-presidente em Curitiba – o depoimento podia ser por videoconferência – Sérgio Moro ajudou a solidificar a liderança do petista que ele, aparentemente, também quer condenar. Moro ofereceu o palco, e o mito Lula reapareceu, como Luis Nassif afirmou em O depoimento de Lula na Lava Jato. Nesse ponto, discordo do Kotscho, quando afirmou, no mesmo artigo:
“Todos saíram da audiência da mesma forma como entraram. Foi jogo jogado antes de começar”.
Se no front jurídico tudo ficou como estava, no lado político Lula saiu-se muito bem. Por cima. Graças a Moro, repita-se. Prova disso não foi apenas os milhares de brasileiras e brasileiros que se deslocaram até a capital paranaense, pacificamente – o que surpreendeu a muitos curitibanos, sem dúvida – em apoio ao ex-presidente.
A mobilização teve como meta evitar que Lula fosse preso, tese que o juiz só se preocupou em desmentir na hora que iniciou o interrogatório. Se nesse sentido ela pode ter sido desnecessária – algo que jamais se saberá ao certo – serviu, porém, como trunfo político, para solidificar a liderança do velho metalúrgico, como demonstrado no diálogo direto dele com os manifestantes, na Praça Santos de Andrade, no início da noite da mesma quarta-feira.
Foi um ato político, como os adversários de Lula gostam de acusá-lo. Mas também um sinal de que, como ele mesmo declarou, a sua liderança “está viva” e se preparando para voltar a disputar uma campanha eleitoral, concorrendo à presidência da República”.
Isso só será impedido caso seja preso – o que, hoje, se sabe que dificilmente ocorrerá – ou se estiver condenado em duas instâncias. Possibilidade que se torna mais difícil de acontecer diante do atraso que o processo terá como novos depoimentos e ainda pela demonstrada falta de provas concretas, uma vez que hoje se baseiam em delações premiadas feitas na pressão de quem quer ganhar liberdade. Independentemente das questões jurídicas, a perseguição que Lula diz ser vítima e a pressão da mídia tradicional, despertou nele o ímpeto do candidato, como deixou claro ao se despedir em Curitiba:
Pode-se discutir se Lula tem ou não culpa no cartório. Mas, de tudo o que veio a público até agora, nada se provou com relação ao triplex do Guarujá, assim como continuam sem ter provas de que o sitio de Atibaia, que ele usava, pertence à sua família. Com relação ao apartamento, ele próprio cobrou as provas que não apresentam:
Para muitos – entre os quais o Blog se inclui – o grande erro de Lula e de seu governo foi, no início da gestão, em 2003, ter optado pela governabilidade de coalizão, preferindo o apoio de partidos e parlamentares com os quais o PT não tinha afinidade. Poderia, com o apoio da força popular que ele dispunha, respaldar-se nela e impor um novo modo de fazer política no país. Mas optou pelo velho jogo político que sempre dominou as relações do Executivo com o Legislativo. Há quem garanta que a opção dele era a única e que graças a ela ele conseguiu os avanços, principalmente na área social.
O tempo mostrou, porém, que se foram os políticos “aliados de conveniência” – exceção daqueles cuja aproximação continua sendo por motivos ideológicos – mas a massa que o apoiava permanece, ainda que com defecções. Isto por ele manter com este público, como definiu no Ato Público em Curitiba, um relacionamento diferente de tradicionais políticos. Respaldado nesse apoio, ainda que contrariando a vontade de muitos, acredita que voltará ao poder e prometeu:
“Eu quero continuar merecendo a confiança dos filhos de vocês, porque eu hei de cuidar do destino deste país“
Não será algo fácil, pois como ele também lembrou, o massacre da mídia tradicional é muito grande. Tende a aumentar, como se tem visto, na medida em que ele continua dominando as pesquisas eleitorais. Foi quando lembrou as 12 horas de matérias negativas do Jornal Nacional, em 12 meses, no que definiu como:
“tentativa de que eu seja massacrado, antes que eu seja julgado“
Lula sabe que esta pressão continuará. Lembrou, inclusive, reclamando, do Bullying que seu neto, de quatro anos sofreu na escola, “por conta das mentiras que vocês inventaram”, como disse ter falado ao juiz e aos procuradores. Mas, enquanto não conseguem as provas que, teoricamente, poderiam lhe roubar o apoio popular, ele continua se fiando nos seus seguidores. Usa, é verdade, seu carisma, como poucos sabem fazê-lo atualmente.
Por exemplo, quando ao agradecer os presentes o apoio que lhe estavam dando e depois de insistir na tese de que “nunca, nesse país, alguém foi tão perseguido e massacrado como estou sendo nesses últimos anos”, prometeu aos ouvintes que se um dia cometer um erro,
“não quero ser julgado apenas pela Justiça, eu quero antes ser julgado pelo povo brasileiros“.
Mostrou isso no discurso quando garantiu que não seria digno do carinho do povo e do apoio dos movimentos sociais que ajudaram a organizar as caravanas a Curitiba, caso não estivesse falando a verdade, de que nada fez que possa se arrepender. Pelo que se viu, foi o suficiente para que ele continuasse merecendo o crédito dos que se aglomeraram na Praça Santos de Andrade, por horas seguidas, esperando por ele.
Tudo, pelo que ficou claro, dependerá de a Força Tarefa da Lava Jato conseguir, de fato, apresentar provas dos crimes que alegam que ele cometeu. Basear-se apenas em delações não terá efeito. Até porque, os próprios ministros do Supremo Tribunal Federal já deixaram claro que delação apenas é insuficiente para condenar alguém. Enquanto essas provas não surgem, o mito Lula continua a prevalecer, como ficou claro nesta outra parte do discurso.
AGRADECIMENTO: O Blog agradece a todos os leitores e amigos que contribuíram com do9ações que nos ajudaram a bancar a viagem a Curitiba, onde estivemos por quatro dias. Sem essa ajuda de todos não nos seria possível fazer reportagens como esta acima e as outras que enviamos de lá.
2 Comentários
Fora de pauta: em 2009 Ciro Gomes afirmou que retiraria sua candidatura a favor de aécio neves se o Mineirinho fosse concorrer com ele. Fala sério, dá pra comprar um carro usado deste sujeito?
https://caviaresquerda.blogspot.com.br/2017/05/ciro-gomes-deixaria-candidatura.html
[…] Confira a íntegra da análise aqui. […]