Ao compartilhar aqui o texto escrito pela jornalista Heloisa Aruth Sturm no site Journalism in the Americas, destaco que muito embora o eixo principal da reportagem seja a censura que este blog vem sofrendo, ela mostra que, no Brasil, as proibições ditadas pelo judiciário, não são fato isolado. Há, porém, um “esquecimento” dos fatos passados.
Ninguém mais comenta, por exemplo, a censura imposta judicialmente a O Estado de S. Paulo, desde julho de 2009, a pedido da família Sarney. Ela impediu o jornal paulista de noticiar a operação policial que investigou Fernando Sarney, filho do senador José Sarney. Mais grave é que o caso, prestes a completar sete anos, está no Supremo Tribunal Federal (STF). Aguarda julgamento.
Cita ainda a proibição sofrida pela ONG Repórter Brasil de divulgar notícias sobre um resgate de trabalhadores em condições análogas às de escravo. Levantamento feito pelo Centro Knight para o Jornalismo nas Américas mostra que, somente entre 2012 e 2013, o país registrou 25 casos em que os tribunais foram utilizados como instrumentos de censura.
Trata-se, com temos insistido por aqui, de um cerceamento a um direito constitucional do cidadão, qual seja, o de receber informações livres, sem censura. Assim sendo, a questão transcende às 10 matérias que o blog foi obrigado a suspender por decisões do 8º e do 12º Juizados Especial de Curitiba, a pedido dos delegados federais da Lava Jato Erika Mialik Marena e Maurício Moscardi Grillo. A censura via judiciário, tem se tornado prática e, por isso, merece ser combatida por todos. Abaixo a reportagem do site mantido pelo Centro Knight para o Jornalismo nas Américas da Universidade do Texas em Austin (EUA).
O jornalista carioca Marcelo Auler está lutando na Justiça contra uma medida autoritária imposta pelos próprios tribunais: a censura prévia. Ele está impedido de publicar críticas à atuação da Polícia Federal, além de informações sobre supostas irregularidades ocorridas durante as investigações policiais relacionadas à operação Lava Jato. As decisões judiciais foram proferidas em caráter liminar, sem que tenha sido concedido direito de defesa ao jornalista.
Para Marcelo Auler, trata-se de uma ameaça não só ao seu trabalho jornalístico, mas à imprensa brasileira como um todo.
“É o jornalismo que está em jogo. As pessoas têm todo o direito de entrar na justiça e reclamar do que eu escrevi, e eu tenho a obrigação de provar que o que eu escrevi é verdade. Isso eu faço, isso eu não me incomodo de fazer. Eu tenho provas de tudo o que escrevi. Pode até se discutir se tem questão de interpretação ou não, o que não pode é censurar.”
Por determinação de dois Juizados Especiais de Curitiba, dez reportagens tiveram que ser retiradas de seu blog e futuras publicações sofrem censura prévia. A primeira decisão, proferida em 30 de março pelo juiz Nei Roberto de Barros Guimarães, atendeu ao pedido da delegada federal Erika Mialik Marena e determinou a suspensão de duas matérias publicadas em março deste ano, na qual Auler menciona o envolvimento da delegada no vazamento de informações sobre a Operação Lava Jato.
A segunda decisão, proferida pela juíza Vanessa Bassani, determina a retirada do ar de oito matérias publicadas entre novembro de 2015 e abril deste ano, que mencionam a atuação do delegado Maurício Moscardi Grillo (Trecho que o blog está impedido de transcrever).
A decisão judicial ainda proíbe a publicação de futuras reportagens, determinando que o jornalista “se abstenha de divulgar novas matérias em seu blog com conteúdo capaz de ser interpretado como ofensivo ao reclamante” (neste caso, o delegado Moscardi).
Marcelo Auler afirma que está recorrendo das decisões, e que o próximo passo será ingressar com uma reclamação junto ao Supremo Tribunal Federal, já que as decisões judiciais colidem com posicionamento anteriormente emitido pelo STF.
De acordo com o ministro aposentado do STF, Carlos Velloso, a decisão da juíza Bassani é uma violação ao que está previsto na Constituição. “A censura prévia deixou de ter vigência no país e passou a ser inadmitida constitucionalmente com a Constituição Federal de 1988, porque antes havia brechas legais que a autorizavam. Portanto, faz quase 28 anos que a prática é vedada no Brasil”, afirmou Velloso ao site Consultor Jurídico (lei aqui e aqui)
A advogada Márcia Mialik Marena, representante dos delegados federais, não atendeu aos contatos feitos por este blog. Em nota enviada ao jornal Folha de S. Paulo, ela afirmou que os delegados respeitam o jornalismo investigativo, independentemente se positivos ou negativos em relação à Operação Lava Jato.
Ela afirmou ainda que Auler, “mais do que criticar, passou a, reiteradamente, acusá-los de crimes, sem que tenham, em momento algum de sua trajetória profissional, respondido procedimento disciplinar ou criminal.”
Entidades jornalísticas emitiram notas de repúdio às decisões judiciais. A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo afirmou que a proibição de publicar futuras reportagens é uma medida grave, “que configura censura prévia – medida inconstitucional e incompatível com uma democracia plena”.
Segundo a Associação Brasileira de Imprensa, as medidas judiciais representam um “perigoso precedente”, já que recorrem a mecanismos de controle da expressão do pensamento característicos da ditadura militar. “Na visão da ABI, as autoridades que se sentiram ofendidas pelo blog dispõem de outros instrumentos legais para se socorrerem das acusações a elas endereçadas, sem a necessidade de vivificar procedimentos de caráter autoritário que se acreditavam sepultados para sempre com o fim do regime de 1964”, diz o comunicado da entidade
Apesar de expressamente proibida pela Constituição Federal, a censura tem sido prática recorrente nas decisões de juízes de tribunais de primeira e segunda instância, que determinam não só a retirada de textos já publicados, mas também a divulgação de futuras reportagens.
No ano passado, a ONG Repórter Brasil foi impedida de divulgar informações sobre um resgate de trabalhadores em condições análogas às de escravo. Levantamento feito pelo Centro Knight para o Jornalismo nas Américas mostra que, somente entre 2012 e 2013, o país registrou 25 casos em que os tribunais foram utilizados como instrumentos de censura.
Um dos casos emblemáticos é o do jornal O Estado de S.Paulo, que está sob censura há quase sete anos. Em 31 de julho de 2009, o periódico foi proibido de divulgar informações sobre uma operação da Polícia Federal na qual era investigado o empresário Fernando Sarney, filho do senador José Sarney. A censura prévia determinada em 2009 pelo desembargador Darcio Vieira foi mantida em 2013, e processo aguarda decisão do Supremo Tribunal Federal.
O Brasil ocupa a 104ª posição no ranking mundial de liberdade de imprensa, de acordo com a organização Repórteres sem Fronteiras.
9 Comentários
[…] é de hoje que o Brasil conhece a censura judicial, como o próprio Auler recordou e o jornalista Carlos Eduardo Lins da Silva já havia apontado em longo artigo publicado em 2010. […]
[…] Gaspari: “O ‘CALA-BOCA’ VAI BEM, OBRIGADO”; Da Folha de S.Paulo: Operação Censura; Jornalismo nas Américas: “a censura (no Brasil) tem sido prática recorrente”; O repúdio à Censura ao blog continua no Brasil e no exterior; ABI e Abraji protestam contra a […]
[…] Por Marcelo Auler, em Seu blogue – […]
Minha solidariedade ao Marcelo Auler e meu repúdio a estes juízes que, a meu juízo, mancham o Judiciário com esta censura prévia.
Já sobre a vaza jato, a atitude partidária da pf, dos procuradores o do sergio moro é flagrante. Querem o que? Processar todos os brasileiros que sabem disto e comentam isto…..? Deixem de dar motivos para notícias que não são do agrado deles e as notícias que não são do agrado deles deicxarão de existir. Simple. O resto é censura e é vergonhoso para o Brasil.
PERANTE A LEI, SERRA ESTARIA IMPEDIDO DE SER CHANCELER:
http://www.redebrasilatual.com.br/blogs/helena/2016/06/inaptidao-de-serra-para-as-relacoes-exteriores-contraria-ate-a-lei-brasileira-2430.html
[…] no Blog do Auler, que é nosso dever apoiar e manter, se queremos jornalismo […]
[…] Fonte: Jornalismo nas Américas: “a censura (no Brasil) tem sido prática recorrente” | Marcelo… […]
[…] Fonte: Marcelo Auler. […]
E o PJ brasileiro é oligárquico e plutocrata, o que agrava ainda mais a situação dos que fazem o verdadeiro e honesto jornalismo. Quando as figuras objeto de reportagens desabonadoras são integrantes da oligarquia plutocrata, o PJ se põe como censor e perseguidor dos jornalistas que as produzem, mesmo que sejam absolutamente verdadeiras e calçadas em robustas provas. Ao contrário, quando figuras públicas progressistas é que são alvo de reportagens acusatórias, o PJ se põe ao lado de jornalistas veículos que as produzem e publicam; um exemplo disso são as as injúrias, calúnias, difamações e outros crimes de que têm sido vítimas pessoas públicas da Esquerda Política Brasileira, como a presidente Dilma, o ex-presidente Lula e outros líderes do PT e dessa Esquerda, como José Dirceu, José Genoíno, Luiz Gushiken, Fernando Pimentel, dentre outros. A esgotífera “óia” publicou há anos publica calúnias e difamações contra Lula e Dilma e jamais o PJ a condenou por isso. Uma vergonha e um absurdo. Para não ficar apenas no campo político-partidário, cito os casos da Escola Base e da chacina de Unaí*.
*No caso de Unaí, até hoje os assassinos – latifundiários que também dominam a política local, ou seja, integrantes da oligarquia plutocrata – não foram julgados e condenados em definitivo. Embora não tenha havido aí censura ao trabalho da imprensa, esta não se empenha no deslinde do caso.