“Senti muito o desaparecimento de Fidel porque era um amigo muito intimo, uma pessoa com que eu tive sempre uma amizade muito próxima, desde 1980, quando eu o conheci na Nicarágua Sandinista.
A última vez que estivemos juntos foi no dia 13 de agosto, deste ano de 2016, quando ele completou 90 anos. Estive na casa dele em Havana e depois fomos ao Teatro Karl Marx, onde lhe prestaram uma homenagem. Lembro que ele entrou sem nenhum apoio, caminhando, desde a porta até a poltrona que ocupou.
Na verdade, perdemos o último grande líder político do século XX, capaz de aglutinar as forças progressistas do mundo. Felizmente hoje substituído pelo Papa Francisco.
O Fidel deixa como legado uma nação pequena, uma ilha do Caribe, que antes era o prostíbulo dos Estados Unidos, controlado pela máfia, e hoje, qualquer coisa que ocorra em Cuba merece destaque internacional, pela soberania, independência e, sobretudo, pela resistência à pressão dos EUA que tentou anular a Revolução Cubana, durante estes últimos 57 anos.
Mais uma vez, como diz a Bíblia, David venceu a pressão de Golias.
Fidel, realmente, merece todo elogio por ter sobrevivido ao êxito da própria obra, que foi a Revolução Cubana. Ele é o único líder político, revolucionário, do século XX, que sobreviveu tanto tempo à própria obra, nenhum outro teve esse privilégio.
Deixa uma nação em que, apesar das dificuldades vividas devido ao bloqueio dos Estados Unidos, mas tem toda a população tem assegurada os três Direitos Humanos fundamentais. Pela ordem: alimentação, saúde e educação. Além de poder exercer sua solidariedade internacionalista, ao remete médicos e professores para mais de cem países do mundo, inclusive o Brasil.
Aqueles que criticam Cuba não se satisfazem. São aqueles que gostariam que o futuro de Cuba fosse o presente de Honduras, da Guatemala, do Panamá, onde há desigualdade, miséria, máfias, drogas.
Cuba tem muitos problemas. Mas, ninguém jamais mostrou uma foto de família morando debaixo da ponte. Por isso, Cuba pode assentar, na entrada do aeroporto um cartaz dizendo: esta noite 200 milhões de crianças dormiram nas ruas do mundo. Nenhuma delas é cubana. Qual outro país da América Latina pode ostentar um cartaz semelhante. Nenhum deles.
Então, Fidel, deixa um legado de Justiça, de conquistas sociais, um legado de independência e soberania e solidariedade mundial.
Morreu El Comandante Fidel Castro, figura polêmica, a quem sempre admirei e mais ainda depois de visitar Cuba por duas vezes: a primeira delas como turista, acompanhada dos amigos Lu Rodrigues, Glória Nogueira e Walter Diogo, quando celebramos a chegada de 2000 em Havana, que comemorava também os 40 anos da sua Revolução, fato que já permitiu conhecer e aprovar muito do que Fidel fez naquela ilha.
Mas foi um ano depois, quando retornei à Havana como integrante de um grupo de oração composto por mais de 30 amigos, dentre os quais frei Betto, que realmente conheci aquele povo e seu modo de vida.
Na ocasião, visitei desde hospitais, escolas, uma fazenda onde acontecia a colheita de uma safra de laranjas, a fantástica escola de cinema que têm, bares famosos como La Bodeguita e o mais emocionante: fui à uma reunião na assembleia em que pediam pela volto do menino Elian, àquela altura ainda em Miami.
Nesse dia pude conhecer Castro pessoalmente, apertar sua mão e até tirar fotos suas. Posso afirmar: só quem teve a oportunidade de viver a experiência que vivi, sabe o significado desse homem que, agora, tenho certeza, já descansa a merecida paz de Cristo.
Os anticomunistas que confundem dignidade humana com pobreza e dificuldades, certamente vão continuar a renega-lo. Já, eu, lamento muito sua partida. Desde 2006, quando ficou doente e entregou o governo cubano ao irmão Raul Castro, muita coisa já mudou na ilha: algumas para melhor, outras nem tanto assim.
Mas tenho certeza: o povo que deve a ele sua educação e saúde, jamais o esquecerá. Ele se foi, mas suas ideias não passarão! Viva Fidel Castro hoje e sempre!!!
(*) Depoimento de Frei Betto ao Blog;
(**) Em 1985, após entrevistar Fidel Castro por 23 horas, Frei Betto lançou a primeira edição do livro Fidel e a Religião, abordando a infância do comandante, os conflitos com a Igreja, a religiosidade do povo, entre outros temas. Desde sua publicação, naquele ano, o livro foi editado em 32 países e 23 idiomas. Somente em Cuba, vendeu 1,3 milhão de exemplares.
(***) Marilda Varejão é jornalista.
2 Comentários
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Lembranças da juventude.Início da década de 60, eu então com 16 anos, ouvia as transmissões da Rádio havana Cuba em idioma portugues.Meu pai não gostava da minha escolha auditiva,porém na casa dele, no rádio dele,jamais impediu as minhas escolhas.Essa atitude me fez conhecer o que é ser um verdadeiro democrata e me trouxe um grande ensinamento que trago comigo até hoje. “Rádio Havana Cuba, transmitindo de Cuba, território livre da América”
Fidel, você é eterno, descande em paz com seus grandes companheiro, Che, cienfuego, e outros herois. Sds.