A denúncia estampada, na edição de quinta-feira (18/10), da Folha de S.Paulo nada mais foi do que a comprovação de uma tragédia anunciada.
No dia 8 de agosto passado, em Eleições 2018, terreno fértil para os “piratas da informação”. este blog alertou seus leitores sobre os riscos que rondavam a eleição presidencial que se iniciava.
Na época, o índice de eleitores indecisos batia o patamar dos 50%. Um terreno mais do que fértil para a atuação dos chamados “bucaneiros da comunicação”. Estamos falando daqueles que lançam mão de notícias falsas – as popularíssimas “fake news” – para direcionar o resultado de uma votação.
Como denunciou na quinta-feira a repórter Patrícia Campos Mello, na Folha, um grupo de 156 empresários ligados à candidatura de Jair Bolsonaro (PSL-RJ) patrocinou empresas especializadas em “comunicação digital” para inundar com mentiras, ameaças e ódios os endereços eletrônicos de centenas de milhares de brasileiros que utilizam as redes sociais, em especial o aplicativo WhatsApp.
Esse mini documentário de 8,2 minutos abaixo, copiado da página do Jornal O Badernista, mostra didaticamente como usam as “fake news” para destruir adversários políticos. Vale à pena conferir.
Em mensagem postada no Twitter, na mesma quinta-feira (18/10), o diretor do instituto de pesquisa de opinião pública “Datafolha”, Mauro Paulino, fez questão de esclarecer que a manipulação por parte da campanha do candidato da extrema-direita era perceptível desde o primeiro turno.
Isso, de certa forma, explica a surpreendente distância que o postulante nazifascista conseguiu em relação ao seu adversário mais próximo, Fernando Haddad (PT-SP), na passagem de um turno para o outro. Foram 46,03% dos votos válidos contra 29,28%.
“Estamos indo para o Brasil” – Não precisa ser pesquisador do “Datafolha” para saber que se repetiriam nas eleições brasileiras os mesmos truques cibernéticos aplicados nos Estados Unidos, por ocasião da eleição de Trump, em novembro de 2016.
Naquele mesmo ano, em junho, a Inglaterra realizou um referendo para decidir sua saída da Comunidade Econômica Europeia. O plebiscito ficou conhecido como “Brexit”. Isso para ficar apenas nos dois casos mais vistosos nos quais o uso das “fake news” fraudaram escandalosamente os resultados dos pleitos mencionados.
Por trás dessas velhacarias escondem-se o bilionário norte-americano Robert Marcel e seu sócio Steve Bannon. Ex-analista de sistema da IBM, Marcel ganhou rios de dinheiro, especulando com os chamados “fundos abutres” nas bolsas de valores mundo afora.
Já Bannon, uma mistura de jornalista, publicitário e articulador político, projetou-se no mundo dos poderosos dos Estados Unidos como editor de um site de notícias de extrema-direita. Ele e Marcel controlam, na Inglaterra, a famigerada Cambridge Analytica, empresa especializada em construir perfis psicossociais de usuários das redes na Internet.
Cacifado por Robert Marcel e sua filha Rebeca, Bannon assumiu a posição de principal estrategista da campanha de Trump. Os três convenceram o atual presidente dos Estados Unidos a usar os serviços da Cambridge Analytica, em 2016. Com a vitória, ele alçou ao cargo de conselheiro chefe do presidente republicano. Não durou muito tempo. Menos de um ano depois, bateu de frente com o chefe e acabou demitido com a pecha de “traidor”. Hoje, vive de dar conselhos a políticos conservadores.
O deputado federal por São Paulo, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), recém-eleito com 1,8 milhão de votos, esteve, no início de agosto passado, com Steve Bannon, em Nova Iorque. Foram, inclusive, fotografados juntos. Eduardo não escondeu de ninguém essa aproximação com o sujeito que hoje também é conhecido como o “rei das fake news”. O próprio Bannon, dias depois, num evento público em Nova Iorque, avisou: “estamos indo para o Brasil”.
Tagarela contumaz – A Folha fala que um grupo de empresários de direita estaria pagando, aqui no País e no exterior, para que consultorias especializadas providenciassem o envio das mensagens falsas em favor de Bolsonaro. O mais notório deles é o dono da rede de lojas de departamento Havan, Luciano Hang.
Luciano é uma figura folclórica no meio empresarial do Sul do País. Obcecado pela cultura norte-americana, costuma decorar a frente de suas lojas com enormes reproduções da estátua da Liberdade. Recentemente, as autoridades eleitorais puxaram-lhe as orelhas por estar constrangendo seus funcionários a votar no deputado/capitão.
Aliás, não é de hoje que o Sr. Hang está às voltas com a Justiça. Além de aparecer nas páginas do matutino paulista com um dos financiadores das tramoias que colocaram o tresloucado capitão na liderança da corrida presidencial, o dono da Havan, em 2003, foi condenado pela Vara Criminal Federal de Florianópolis, a 13 anos e 9 meses, pelo crime de lavagem de dinheiro e sonegação.
À medida em que se coloca luz nos subterrâneos da atual campanha, estima-se que 156 empresas em quase todos os estados brasileiros forneceram dinheiro para se custear o esquema criminoso de disseminação de calúnias contra Fernando Haddad e o seu partido, o PT.
Muitos brasileiros estão se perguntando o que fazer diante de tal constatação? Há quem defenda a suspensão das eleições. Juristas que estiveram com Haddad, na quinta-feira (18/08), saíram do encontro prometendo ingressar com uma ação junto ao Superior Tribunal Eleitoral pedindo o adiamento do pleito. O candidato petista chegou a sugerir a prisão de empresários. Já a direção do PDT pediu a anulação do pleito.
A Corte para qual apelam agora sempre soube que este problema iria acontecer. Mas, para o desespero geral, não tomou providência alguma para prevenir a epidemia de “fake news” que dominou as eleições de 2018.
A ministra Rosa Weber que preside, atualmente, o TSE está nas mesmas condições de uma freira que entrar, por engano, num prostíbulo. Choca-se com o que vê. Mas, não toma nenhuma iniciativa para conter a esbórnia.
Seu antecessor no cargo, o ministro Luiz Fux, trombeteou muito contra ao uso de notícias falsas. Chegou inclusive a prenunciar a possibilidade de o pleito vir a ser suspenso se os candidatos não maneirassem no uso deste novo recurso de comunicação. Tagarela contumaz, apenas produziu ameaças ocas e um amontoado de caras e bocas.
Passou a responsabilidade de prevenir e esclarecer as notícias falsas aos grandes grupos privados de comunicação. Com esta tarefa exige investimentos na contratação de hardwares, softwares e jornalistas especializados em apuração de informação, os veículos que assumiram compromissos com TSE decidiram resolver a parada a golpes de marketing.
Brasil: próxima vítima – Promoveram algumas campanhas publicitárias de esclarecimento público sobre o tema e escalaram alguns gatos pingados para esclarecer o que era mentira e o que era verdade num emaranhado intransponível de informações. Deu no que deu.
O marqueteiro André Torreta também cantou a pedra do que iria acontecer nas eleições deste ano. Desde o início do ano, ele se apresentava junto aos caciques dos principais partidos políticos locais como o representante exclusivo no Brasil da empresa inglesa Cambridge Analytica. Trata-se de uma das pioneiras na utilização da tecnologia espúria para manipular resultados eleitorais e uma das responsáveis pela vitória de Trump, nos Estados Unidos, em 2016.
“O WhatsApp será a nossa principal ferramenta de convencimento do eleitorado. Ela é terra de ninguém. Não dá para controlá-la como passaram a fazer com o Facebook”, ensinou o bruxo local das “fake news”.
A dica oferecida por Torreta coincidiu com o vendaval do escândalo “Cambridge Analytica”, em meados deste ano. As denúncias de fraudes praticadas pela empresa inglesa-americana atingiram em cheio o Facebook. As ações da maior plataforma da Internet com 1,2 bilhão de usuários espalhados pelo mundo tombaram nas principais bolsas de valores. Algo na casa dos US$ 16 bilhões.
Por sinal, o dono do Face, o garoto prodígio Mark Zuckerberg, foi chamado às falas pelo Senado norte-americano, em agosto passado. Em seu tumultuado depoimento na Comissão de Tecnologia e Comunicação daquele parlamento, mostrou-se, na época, preocupado com o que poderia vir a acontecer nas eleições brasileiras. Disse textualmente (numa tradução livre): “se não forem tomadas medidas corretivas, agora, o Brasil será a próxima vítima das “fake news”.
Quem estiver interessado em saber como Trump e seu exército de assessores conseguiram manipular o resultado da disputa com Hillary Clinton recomenda-se a leitura do livro: “Fear – Trump in the White House”, do premiadíssimo repórter Bob Woodward, lançado em setembro passado.
Woodward é um dos repórteres mais respeitados do mundo. Ao lado do seu colega Carl Bernstein, produziu no Washington Post o conjunto de reportagens que levou o então presidente Richard Nixon a renunciar, no início dos anos 70, o cargo de homem mais poderoso do mundo. Foi tragado pelo escândalo que ficou conhecido como: “Watergate”.
A obra “Fear” – cuja a tradução em português significa “Medo” – é tão rica em detalhes sobre a maneira inescrupulosa e desleal com que a direita norte-americana atua nos meandros da política, que Trump teve que demitir seis de seus mais influentes assessores, depois que o trabalho de Woodward chegou às livrarias. Entre eles, estava o indefectível Steve Bannon.
Luiz Fux e sua sucessora Rosa Weber – assim como os demais diretores do TSE – devem ter tomado conhecimento destes alertas de Zuckerberg e Woodward. Como todos os burocratas que se prezam, seguiram as “sábias” recomendações do chefe Fux. Ou seja, chutaram a questão para debaixo do tapete e foram repousar cientes do dever cumprido.
Em uma nação, onde a judicialização da política e a politização do judiciário viraram moeda corrente, não é de se admirar que o resultado destas eleições presidenciais– seja o qual for – também acabe parando nos tribunais. E, neste caso, é bom preparar os ânimos dos cidadãos de boa-fé: esperem tudo dos nossos doutos magistrados, menos Justiça.
(*) Arnaldo César é jornalista e colaborador deste blog.
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2 Comentários
As ameaças da besta fascista que, além disso, vai confiscar sua poupança:
https://youtu.be/y-eODs-LO-w
https://www.youtube.com/watch?v=4PVBv9keE9s kkkkk a esquerda não para de passar vergonha, boa tentativa, mais meu voto continua sendo do Bolsonaro.