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Arnaldo César (*)

A futura PGR, Raquel Dodge, nem sentou praça e já comete um deslize destes. (Foto:  Marcelo Camargo/Agência Brasil)

A futura PGR, Raquel Dodge, nem sentou praça e já comete um deslize destes. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Quem se der ao trabalho de desbravar os volumosos “Diários da Presidência” do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (Companhia das Letras) perceberá que a maioria do que foi decidido intramuros dos palácios de Brasília jamais chegou ao conhecimento da opinião pública. Seja o governo populista, neoliberal ou golpista, no Brasil governa-se de costas para o povo.

Nestes seus “Diários” FHC zomba de muitos jornalistas gente boa e dos donos de grandes veículos de comunicação pelo tanto que são desinformados e arrogantes. Na versão do ex-presidente, menos de 20% do que acontece nos palácios chegam ao conhecimento daquela ínfima minoria de brasileiros que lê jornais e revistas, assiste telejornais ou ouve rádios para ficar bem informado. Na sua visão um tanto ressentida, “a nossa mídia só se interessa por intrigas, fuxicos”.

Em um cenário destes é fácil compreender a razão pelas quais um mandatário impostor como Michel Temer repete o mesmo erro quantas vezes isso lhe for conveniente. Quase lhe apearam do poder porque se encontrou no “escurinho” do Palácio Jaburu com o seu corruptor, Joesly Batista, para tratar de assuntos ligados à propinagem.

Na última terça-feira (dia 08/08), na calada da noite (22hs), o presidente golpista investigado por corrupção passiva, organização criminosa e obstrução da Justiça reuniu-se com a futura procuradora-geral da República, Raquel Dodge, no mesmo Palácio Jaburu. Fora da agenda. Ela teria ido lá trocar um dedo de prosa com o intruso sobre a solenidade de sua posse, no dia 18 de  setembro vindouro.

Não dá para acreditar que Raquel seja tão ingênua assim para ter caído numa armadilha tão marota. Por mais mal informado que seja, o distinto público não engoliu um subterfúgio tão esfarrapado.  A futura procuradora nem sentou praça na PGR e já comete um deslize destes!

Pelo ponto de vista daqueles que vivem na “Ilha da Fantasia do Planalto Central” isso não tem a menor importância. Raquel esteve com o mandatário acusado de corrupção a pedido do amigo e protetor dele, Gilmar Mendes. Isso mesmo, aquele ministro do STF que aparece nas páginas dos jornais vilipendiando seus pares de tribunal ou se esgueirando pelos jardins do Jaburu, em confabulações igualmente escusas.

Indignar-se com episódios de tal quilate é perda de tempo.

O que a opinião pública acha de um magistrado atuando politicamente não tem a menor importância. Às favas com a moral e a ética. Não é à toa que Temer coleciona um índice de rejeição de 93% e continua pimpão no Palácio do Planalto.

Não se espantem se daqui alguns dias, o espúrio receber no escurinho do Palácio alguém do quilate de um Fernandinho Beira Mar para confabularem sobre os altíssimos níveis de violência no Rio de Janeiro.

A galhofa, o cinismo e o desrespeito pela coisa pública é a pedra de toque de Temer e a camarilha entronizada por ele no Planalto.

Nós, jornalistas, não podemos tirar o corpo fora disso. Parte expressiva da grande mídia deixou de fiscalizar e se transformou em cúmplices. Basta ver o ar de felicidade com que o apresentador Alexandre Garcia saldou a vitória de Temer, na Câmara Federal, naquela fatídica quarta-feira em que os parlamentares negaram a autorização para o impostor ser investigado pelo STF.

A empulhação do voto distrital que garante a permanência daqueles deputados que já têm mandato é outra atrocidade que será enfiada goela-abaixo de todos nós. O que o povo pensa sobre isso é apenas um detalhe. Ou melhor, um detalhe meramente desprezível.

(*) Arnaldo César é jornalista e colaborador da coluna.

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