Foram dois dias de festa na capital paranaense. Certamente, a multidão que acorreu a Curitiba foi bem inferior aos 30 mil, segundo organizadores, ou 50 mil, na expectativa das autoridades – como descreveu a juíza da 5ª Vara da Fazenda Pública, Diele Denardin Zydek (veja em Lula em Curitiba: apesar da juíza, venceu o bom senso!) – anunciados. Mas isto não impediu a demonstração da força política de Lula, que recebeu apoio de pessoas dos mais distintos pontos do país – só do Piauí foram cinco ônibus com manifestantes.
Nas 48 horas que a cidade recebeu a chamada “onda vermelha” para a Campanha Nacional em Defesa de um Brasil Justo Para Todos e Para o Lula, o clima de festa predominou. Contrariou as expectativas dos que falavam nas possibilidades de tumultos e quebra-quebras, ou mesmo no impedimento de ir e vir dos cidadãos curitibanos. O impedimento, afinal, foi provocado pelas autoridades que cercaram o entorno do prédio da Justiça Federal com centenas de policiais militares. Foram elas, não os manifestantes, que afetaram a vida dos moradores e trabalhadores daquela região no bairro do Ahú.
Já o único incidente – atentado? – registrado no acampamento dos movimentos sociais, notadamente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e da Central Única dos Trabalhadores (CUT), ao que parece, não mereceu a atenção devida das autoridades policiais paranaenses. Um ato cometido contra cidadãos, que provocou ferimentos no pedagogo M.D, de 30 anos, da região de Guaíra (Noroeste do Paraná), é considerado crime contra a pessoa e deve gerar uma Ação Penal Pública Incondicionada. Ou seja, uma apuração criminal que independe da vontade das partes, sob pena de prevaricação das autoridades policiais.
Mas, até a manhã desta quinta-feira (11/05), parte das provas do atentado – cartuchos de alguns dos rojões disparados no início da madrugada de quarta-feira (10/05) – permanecia jogada ao relento, no chão do terreno ao lado da estação Rodoferroviária onde armaram o Acampamento da Democracia. Foram-se os manifestantes, que não provocaram nenhum incidente, mas ficaram os rojões disparados contra os mesmos, sem uma aparente preocupação da polícia – que deveria investigar o possível crime – de recolher as provas do que os militantes consideraram um atentado, como mostra a foto acima feita pelo Blog na manhã desta quinta-feira.
Autoridades da área de segurança do Governo do Estado do Paraná suspeitam desse “atentado”. Alegaram, entre outros motivos, desconhecerem o atendimento médico da vítima em hospitais públicos e até da existência de Boletim de Ocorrência do fato. Por esta suspeita, teria ocorrido um acidente, provocado pelos próprios membros dos movimentos sociais, que seriam responsáveis pela queima dos fogos.
Curiosamente, as autoridades mostraram preocupação em vistoriar os ônibus da caravana, provavelmente em busca de armas, já que apreenderam um enxadão e um facão de cozinha. Não se falou na existência de rojões.
Ao não visitaram o acampamento onde, na tarde da quarta-feira, dia em que de madrugada houve as explosões, o Blog localizou não apenas os rojões que aparecem na foto que abre essa reportagem, mas outros em áreas próximas, como mostram as fotos acima. Também foram encontrados tijolos, madeira e um cabo de vassoura dos dois que foram usados para montar quatro “baterias” de rojões. Tivessem ido ao acampamento, os policiais ouviriam testemunhos como o do militante que conduziu o Blog ao local, dentro da área usada para abrigar os militantes, de onde os rojões foram disparados, como mostramos no vídeo abaixo.
O Boletim de Ocorrência foi realmente feito, como informaram ao Blog policiais do 1ª Distrito Policial, no centro de Curitiba. Mas eles se recusaram a mostrá-lo, alegando que jornalista não é parte do caso. Depois, o discurso foi modificado: o BO foi encaminhado ao 6º Distrito Policial, no bairro do Cajuru, na jurisdição do qual fica a área do acampamento. Quando o Blog visitou o 6º Distrito, antes de passar na delegacia do centro da cidade, os policiais desconheciam o caso.
Na medida em que houve registro de uma ocorrência, inclusive com o encaminhamento da vítima a exames no Instituto Médico Legal (IML), nada justificaria o pouco caso da polícia civil que, segundos seguranças de uma empresa privada contratada pela CUT-PR para vigiar o acampamento, não apareceu naquela área. Esses seguranças também são testemunhas do fato. Um deles garantiu que os fogos não foram acionados pelos militantes acampados, mas por terceiros que invadiram o terreno. Nesta quinta-feira, porém, não souberam explicar o desaparecimento dos tijolos, da tábua e do cabo de vassoura, filmados pelo Blog na tarde de quarta-feira.
Pelo que o Blog apurou na manhã desta quinta-feira com estes seguranças, um carro da Policia Militar este no local à noite, circulou dentro do acampamento – teoricamente uma área privada – e ao ser retirar prometeu aumentar a ronda no entorno daquela área para evitar novos atentados. Isto de fato ocorreu, inclusive com rondas da Polícia Militar no Viaduto Colorado, que passa por cima do terreno, de onde também soltaram rojões.
As explosões dos rojões ocorreram nos primeiros minutos de quarta-feira, a primeira noite de funcionamento do Acampamento da Democracia, montado ao lado da Estação Rodoferroviária. Pela descrição de militantes e advogados dos movimentos sociais, pelo menos três pessoas invadiram o terreno por um buraco de um gradil de arame e dispararam dezenas de rojões em direção às barracas de plástico, nylon ou lona.
Um dos artefatos, que militantes do MST identificaram como “busca-pé”, atingiu o teto da barraca ocupada pelo pedagogo, queimou o nylon e explodiu dentro da tenda na qual o rapaz dormia, pipocando. A explosão causou queimaduras no seu braço direito, costas e deixou o ouvido direito com zumbido. Paralelamente houve outras explosões – foram quatro disparos de baterias de rojões – sobre o acampamento no qual dormiam mais de duas mil pessoas. Milagrosamente, ninguém mais foi atingido.
Após a explosão, outro fato estranho ocorreu. De um carro branco, surgiu um homem filmando toda a área e a barraca atingida. Ele ainda fez algumas perguntas aos militantes acampados, mas depois sumiu misteriosamente.
O curioso é que as polícias – Rodoviária, nas estradas, e Militar, na cidade – mantiveram sob vigilância os manifestantes da chamada Campanha Nacional em Defesa de um Brasil Justo Para Todos e Para o Lula. Durante todos os dois dias helicópteros sobrevoavam Curitiba – não se descartando que um deles possa ser da TV Globo, que não consegue filmar do chão junto a movimentos sociais, por medo.
Na Praça Santos Andrade, no centro da cidade, onde os organizadores da manifestação montaram o palco no qual, na quarta-feira, Lula falou aos seus aliados e apoiadores, também o policiamento foi reforçado.
Enquanto isso, no acampamento, a segurança estava sendo feita por 20 agentes da firma particular contratada pela Central Única dos Trabalhadores e com “agentes de disciplina” da própria CUT e do MST. Não se viu policia militar no local. Tampouco no entorno do acampamento, o que poderia ter intimidado os possíveis provocadores.
Ao que parece, a explosão dos rojões será algo sem esclarecimento devido, não apenas pelo desinteresse demonstrado até agora pela polícia, mas também pela decisão dos movimentos sociais em “criarem um fato político” sobre este “atentado”. Desta forma, na manhã desta quinta-feira, os manifestantes retornaram para suas cidades de origem, como se nada tivesse acontecido. Os rojões atirados contra o acampamento – único incidente de toda a manifestação – serão apenas lembranças e histórias de quem participou da manifestação.
AOS LEITORES: Como é do conhecimento de todos, o Blog se sustenta com a ajuda de leitores. Em recente campanha, foram feitas doações para a viagem do blogueiro a Curitiba. Esta semana ele retorna à capital paranaense. Desde já agradecemos a quem puder colaborar com as despesas de mais esta viagem. Doações podem ser feitas, em qualquer valor, para M. Auler Comunicações e Eventos Ltda., CNPJ 05.217.326/0001-99, Banco do Brasil, Agência 3010-4 C/C 19.025-X. Atenciosamente. Marcelo Auler.
7 Comentários
[…] As caravanas chegaram à capital paranaense – ainda que não tenham sido os 50 mil que ela alardeou – e um grande acampamento foi montado no centro da cidade. Na época, registramos os fatos em postagens como Lula em Curitiba: monta-se um ringue; Lula em Curitiba: apesar da juíza, venceu o bom senso! e Curitiba: vão-se os manifestantes, ficam os rojões. […]
A polícia aqui do Paraná jamais vai investigar esse caso, a não ser que se conjuguem muitas forças de advogados populares. Só investigam o que lhes interessa. Mas vamos lá, é muito importante que seja esclarecido mais esse atentado contra movimentos sociais.
Como sempre tu vais a fundo Marcelo. Parabéns por mais essa. E cá entre nós estava D+ toda aquela galera o dia todo na praça . Na maior harmonia.
Guerra Híbrida contra a América Latina: depois do Brasil a Venezuela é o próximo alvo:
https://dinamicaglobal.wordpress.com/2017/05/12/a-guerra-hibrida-e-a-invasao-ja-nao-mais-silenciosa-da-america-latina-proximo-passo-a-venezuela/
Não sou a favor do Lula , nem contra. Eu sou totalmente contra a PUTARIA , desculpe o termo mas é isso mesmo, do que a mídia o Judiciário e o Ministério Público estao fazendo com ele através desses processos e dessa PUTARIA. O que eu esperava depois de 3 anos de queimação e assassinato da esposa dele , era no mínimo nessa audiência ter uma prova cabal de qualquer coisa contra o cara. Não tem . Nunca teve. O que tem é um monte de bandidos condenados que já se ligaram que se deduragem o Lula , hoje a palavra de um condenado vale como prova , eles vão pra rua com dinheiro no bolso ainda . Cadê a conta no exterior do Lula , igual dos outros . Porque o massacre , sem o mínimo de coerência ? Já deu essa merda toda é ridículo . Ontem ele foi questionado porque está processando delegados o MPF e o próprio Kuiz, se não era intimidação !!!! Que isso ? Não se pode processar ? São intocáveis , ungidos ? Ah vão se catar . Tchau .
[…] Fonte: Curitiba: vão-se os manifestantes, ficam os rojões | Marcelo Auler […]
[…] Marcelo Auler, em Curitiba, mostra que os manifestantes pró-Lula saíra, mas os rojões disparados na madrugada de terça para quarta, que feriram seriamente ao menos uma pessoa que foi exercer seu direito de opinião continuaram largados sobre o chão, próximo ao acampamento em que estava o MST. […]