Na expectativa de furarem qualquer tentativa de o antigo ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, o tenente coronel Mauro Cesar Barbosa Cid, manter-se em silêncio durante seu depoimento nessa terça-feira (11/07) na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito do 8 de Janeiro, parlamentares governistas já apresentaram inúmeros requerimentos de convocações e levantamento de dados, em um verdadeiro cerco à família do oficial do Exército. Tentarão com isso pressioná-lo a falar.
São pelo menos quatro requerimentos de convocações para levar a esposa do coronel, Gabriela Santiago Ribeiro Cid, a sentar-se na cadeira dos depoentes da CPMI. Ou seja, irão expô-la nacionalmente através das redes de televisões e da imprensa de um modo em geral, algo que certamente não agradará ao marido.
Os requerimentos são de autoria dos deputados Rogério Correa (PT-MG) – Requerimento nº 886/2023 (07/06); Rafael Brito (MDB-AL) – Requerimento nº 985/2023 (16/06); e Duarte Jr. (PSB-MA) – Requerimento nº 1170/2023 (30/06). O quarto é assinado pelo senador Fabiano Contarato (PT-ES) – Requerimento nº 1143/2023 (29/06).
A justificativa apresentada por Correa é de que Gabriela “foi alvo de uma busca e apreensão pela Polícia Federal e é investigada no inquérito que apura também os crimes de infração de medida sanitária preventiva, associação criminosa e corrupção de menores.” Trata-se da falsificação de carteiras de vacina que seu marido fez para permitir que o casal e as filhas viajassem.
Correa lembra que ao investigar os falsos dados no cartão de vacina, a polícia acabou descobrindo no celular do oficial “indícios de planejamento e estudos jurídicos que sustentariam possível golpe de estado.” Dessa forma, considera importante seu depoimento, pois Gabriela pode ter tido “acesso a conteúdo extraído do telefone celular de Mauro Cid que revelam suposto planejamento e tentativa de golpe de Estado, em mensagens contidas no aparelho e também na nuvem”.
Já Duarte Jr., Brito e Contarato relacionam a convocação às conversas por aplicativos entre Gabriela e Ticiana Haas Villas Bôas, filha do general Eduardo Villas Bôas. São diálogos encontradas pela Polícia Federal no celular da esposa do coronel Mauro Cid. O senador petista lembra que as duas falaram sobre incentivarem “uma invasão em Brasília com a participação dos caminhoneiros”. Reproduz que, em 2 de novembro, “Ticiana escreveu à Gabriela dizendo ‘tem que ter alguém que articule isso com os protestantes. E isso tem que vir dos caminhoneiros’.“ Mas Gabriela contestou:
“Não vai ser dessa forma. Como você falou, a orientação tem que ser outra. Os caminhoneiros têm que ser orientados“. No prosseguimento da conversa, a esposa do tenente coronel insinuando que seria um pedido de Bolsonaro: “Sim, foi o que pediu o presidente. E acho que todos que podem devem vir para Bsb. Invadir Brasília como no 7 de setembro, e dessa vez o presidente com toda essa força agirá.”
Já o deputado maranhense, destacou no requerimento que na sua conversa com Ticiana, Gabriela “expressa a necessidade de uma nova eleição e do uso do voto impresso, afirmando a necessidade de se ‘pressionar o Congresso’”. Por sua vez, o deputado alagoano reproduz a frase de Gabriela na conversa com Ticiana em que ela manifesta a necessidade de um novo pleito eleitoral e o uso do voto impresso, onde diz: “Estamos diante de um momento tenso onde temos que pressionar o Congresso”. Explica, por fim: “a Sra. Gabriela pode ter diversas evidências para colaborar com o deslinde das investigações nessa comissão.”
Os três parlamentares, em momentos distintos, também protocolaram requerimentos de convocação da filha do ex-comandante do Exército. Brito apresentou o Requerimento 1056 / 2023 em 22 de junho; três dias depois Contarato protocolou o seu – 1142 / 2023. O de Duarte Jr. – 1171 / 2023 – deu entrada no dia 30 de junho.
Nenhum desses requerimentos foi apreciado. Portanto, ainda não há uma decisão sobre essas duas convocações, o que pode facilitar ainda mais qualquer negociação com o depoente dessa terça-feira. Há uma expectativa de que ele possa resolver falar para evitar a exposição pública da mãe de suas três filhas menores.
O cerco, porém, deverá ser maior. Na sexta-feira passada (07/07) a senadora Eliziane Gama (PSD-MA), relatora da CPMI, protocolou sete pedidos direcionados à Receita Federal e outros tantos ao Banco Central levantando os sigilos fiscais e bancários do próprio tenente coronel e de seis de seus familiares, a saber: a esposa Gabriela, o pai, o general Mauro Cesar Lourena Cid, os irmãos, Daniel e Agnes Barbosa Cid, de Karen Cid de Avillez e da cunhada Mauricea Santiago de Melo.
Na justificativa para tais solicitações, a relatora diz que as informações são importantes na investigação de “possíveis financiadores das atividades que culminaram com os eventos do dia 8 de janeiro”. Lembra que, como noticiado, o irmão de Mauro Cid teria operado “milícia digital” contra as eleições, disseminando ainda fake news. Por isso, diz ser “necessário saber os negócios que a família tem no exterior para, posteriormente, investigar o caminho do dinheiro que pode levar aos financiadores do golpe tramado”.
Enquanto o senador Jorge Kajuru (PSB-GO) reforçou o pedido dos dados bancários do coronel (Requerimento nº 1023 / 2023), o deputado Duarte Jr. Foca seu requerimento no pai do mesmo, o general Mauro César Lourena (Requerimento nº 1183 / 2023), lembrando que o mesmo foi companheiro de Bolsonaro desde a Academia Militar de Agulhas Negras (Aman).
A relatora também está querendo se debruçar sobre as conversas que Mauro Cid teve, inicialmente pelo e-mail funcional da Presidência da República, com outros militares ligados à Ajudância de Ordem do ex-presidente Bolsonaro. Nesse sentido propôs que a CPMI requeira diretamente ao Palácio do Planalto a “quebra e a transferência do sigilo telemático, de 01/01/2022 até o presente, de todo o conteúdo relativo às contas de e-mail institucional” do próprio tenente coronel e de mais oito militares.
Relaciona o coronel da reserva Marcelo da Costa Câmara, ex-assessor do ex-presidente, que também é apontado como responsável pela “ABIN paralela” criada dentro do palácio – “um serviço de inteligência paralelo do Planalto, aonde conduziu investigações e fez dossiês que causaram a demissão de ministro” Câmara estaria envolvido ainda no episódio das jóias trazidas da Arábia Saudita.
Outros que poderão ter o sigilo telemático quebrado são o major da Força Aérea Brasileira, Daniel Lopes de Luccas; o capitão de corveta Jonathas Diniz Vieira Coelho; o capitão do Exército Danilo Isaac Calhares; os tenentes Adriano Alves Teperino e Osmar Crivelatti; o segundo tenente Cleiton Henrique Holzschuk. Todos trabalharam na Ajudância de Ordem junto com Mauro Cid, ou assessoraram diretamente o ex-presidente. Por fim, a senadora incluiu o sargento Luís Marcos dos Reis, também envolvido no esquema da falsificação da carteira de vacinação de Bolsonaro e de sua filha.
O capitão de corveta Vieira Coelho, segundo o requerimento da senadora, no início da pandemia da Covid-19 foi quem intermediou uma visita do então deputado federal Luiz Miranda (DEM-DF) ao Palácio Alvorada, em pleno fim de semana, para que ele alertasse ao presidente sobre uma encomenda superfaturada da vacina Covaxin.
A quebra de todos esses sigilos poderá clarear esse os militares, além de tramarem um golpe na expectativa de manter Bolsonaro no poder, também financiaram e/ou incentivaram os atos de terrorismo praticados no dia 8 de janeiro.
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