Marcelo Auler
Compartilho aqui um texto de Frei Betto que já andou circulando em outros canais e sites, mas que merece ser lido e meditado pelo maior numero de pessoas. Os grifos no texto sãos meus.
QUAL UTOPIA? O QUE FAZER?
Frei Betto
Essas duas interrogações movimentam os grupos de oração que assessoro. Diante da depressão cívica que assola o Brasil, há que recorrer à lâmpada de Diógenes e buscar luz no fim do túnel.
Utopia significa quimera, o que não se pode alcançar. Eduardo Galeano a comparou ao horizonte: quanto mais se caminha rumo a ele, mais ele se afasta. No entanto, ele norteia os nossos passos. O termo foi cunhado por Thomas Morus, santo católico, no livro de mesmo título publicado na Inglaterra, em 1516.
“Que fazer?” é o titulo do livro de Lênin, editado em 1902 para motivar os comunistas russos à revolução vitoriosa em 1917.
As duas indagações nos interpelam hoje. Responder à primeira não é difícil: queremos outros mundos possíveis, onde não haja injustiça e no qual sejam partilhados os frutos da Terra e do trabalho humano. Só à poderosa minoria que desfruta da desigualdade social não interessa o colapso do capitalismo neoliberal.
Os cristãos, em decorrência de sua fé, têm a obrigação moral de não se conformar com esse mundo. Devemos centrar a esperança no Reino de Deus que, para Jesus, não era apenas uma instância pós-morte, mas um projeto a se realizar no futuro histórico.
Por isso, Jesus foi condenado como prisioneiro político. Pregou, sob o reino de César, outro reino…
Porém, “que fazer?” É mais fácil listar o que “não fazer”: compactuar com a opressão e a corrupção; aceitar discriminações; sobrepor a competitividade à solidariedade; ferir a ética e contrariar os direitos humanos etc.
Quanto ao fazer, cabe a cada um, dentro de seu contexto e segundo suas possibilidades, dar respostas efetivas. Considero tarefa imediata organizar a esperança. Reforçar movimentos sociais que defendem os direitos dos mais pobres, animar jovens a abraçar a utopia, fomentar educação popular na formação de novos protagonistas sociais.
É preciso resistir à tentação de descartar o partido político como mediador entre sociedade civil e Estado. Para equacionar problemas de convivência social, o ser humano ainda não inventou outro recurso melhor do que a política. Quem tem nojo da política é governado por quem não tem. E tudo que os políticos safados esperam é que tenhamos bastante nojo da política.
Para mediar a relação sociedade civil e Estado também não se criou outra instância melhor fora dos partidos. São eles que sistematizam nossos anseios de cidadania em programas e projetos a serem administrados e realizados pelo Estado.
Se um partido desce ladeira abaixo após perder a identidade que o diferenciava, para melhor, dos demais partidos, não haverá quem acione a luta interna para que o partido retorne a seus princípios originários?
Os novos partidos serão capazes de evitar os erros cometidos pelos que trocaram o projeto de Brasil pela ambição de poder?
Repito: é hora de deixar o pessimismo para dias melhores. O mistério pascal ensina que a vida sempre prevalece sobre a morte, ainda que as aparências indiquem o contrário.
Frei Betto é escritor, autor do romance policial “Hotel Brasil” (Rocco), entre outros 59 livros.
2 Comentários
Boa sorte e longa vida a seu BLOG MARCELO, COMPANHEIRO (NO BOM SENTIDO), JORNALISTA (TAMBÉM NO BOM SENTIDO):
Sobre o texto de Frei Beto “QUAL UTOPIA? O QUE FAZER?”:válido, lúcido, autêntico, inserido no contexto, como se diria no velho e bom O PASQUIM
“O otimista é um tolo, o pessimista, um chato, bom meso é ser realista esperançoso” Ariano Suassuna
E Brechet:
O Analfabeto Político
O pior analfabeto
é o analfabeto político
ele não ouve, não fala, não participa
dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida,
o preço do feijão, do peixe, da farinha,
do aluguel, do sapato, do remédio
depende das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro
que se orgulha e estufa o peito
dizendo que odeia a política.
Não sabe o imbecil
que da sua ignorância política
nascem a prostituta, o menor abandonado,
o assaltante e o pior de todos os bandidos:
o político vigarista, pilantra, corrupto
e lacaio das empresas nacionais e multinacionais
Bertolt Brecht (1898 – 1956), teatrólogo, escritor e poeta alemão
Meu amigo Jorge Sá de Miranda Netto que bom lhe ler por aqui. Apareça mais, contribua com suas postagens inteligentes. Obrigado pelo carinho. abraços