Dentro do espírito de provocar o debate a partir deste espaço, republico aqui um texto do jornalista Mario Magalhães com uma bela análise da batalha travada na Câmara dos Deputados na noite de quarta-feira (06/05). Naquela noite, votou-se as primeiras mudanças propostas pela equipe econômica no que chamam de Reforma Fiscal. O debate gira em torno das modificações propostas por Dilma e os prejuízos que elas causa à classe trabalhadora.
É um assunto que não morre aqui, mas a contribuição do Magalhães é bastante importante.
“A verdadeira derrota de Dilma e do PT”
Mário Magalhães
Um observador interpretou os eventos de ontem na Câmara com alguns pitacos encimados pelo título “A vitória do governo Dilma”.
Somando os votos, que na maioria mantiveram a essência da medida provisória 665, a análise está correta. Afinal, os deputados se pronunciaram de acordo com a vontade do Palácio do Planalto.
Como não se conta a história somente confiando na matemática, minha leitura é inversa.
A presidente da República, que em campanha assegurou que não retiraria direitos dos trabalhadores nem que a vaca tossisse, consagrou uma orientação de segundo mandato que tem como um dos eixos o ataque a conquistas dos mais pobres e de quem vive do suor do trabalho, e não da atividade financeira parasitária.
Houve uma derrota política monumental de quem governa graças ao compromisso de melhorar, e não piorar, a vida dos que mais sofrem com a obscena desigualdade social do Brasil.
Tropeços no Congresso acontecem. A verdadeira derrota é abandonar quem se habituou ao abandono.
Parece suicídio.
Ricos ganham, pobres perdem
Nem a mais inspirada frase ou manobra regimental de prócer oposicionista faz tão mal ao governo Dilma Rousseff quanto as ações do governo Dilma Rousseff.
É preciso exibir muita cara de pau, indigência analítica e desonestidade intelectual para não reconhecer o caráter antissocial das decisões sufragadas ontem por PT, PMDB e outras agremiações.
Em conjunto com a medida provisória 664, as mudanças prejudicam o acesso ao seguro-desemprego, ao abono salarial, a pensões, a auxílio-doença, ao socorro aos pescadores impedidos de trabalhar em nome da justa proteção à natureza.
Ou seja, dificultam a sobrevivência de quem mais sobrevive do que vive.
No momento em que a transferência de renda pública para os bancos se multiplica, com o aumento da taxa de juros. Os balanços ostensivos das grandes casas bancárias contrastam com as garfadas nos assalariados. Os ricos ganham, os pobres perdem.
É legítimo e da democracia, embora injusto e covarde, defender que os trabalhadores paguem a conta da crise.
Porém, constitui fraude edulcorar o arrocho com o verniz de “ajuste”.
CUT denuncia ‘traição’
A base de Dilma, inclusive muitos deputados do Partido dos Trabalhadores que ontem votaram contra os trabalhadores, desfilaram pelas ruas em 13 de março.
Uma das bandeiras que mais tremularam naquela jornada convocada pela CUT e outras organizações se opunha às medidas provisórias 664 e 665, classificadas como daninhas aos mais pobres.
Quer dizer que agora as MPs 664 e 665, com um ou outro retoque, passaram a ser positivas para os trabalhadores?
Vale a célebre máxima fernandista “esqueçam o que eu escrevi” ou disse?
Nem o mais sofisticado malabarismo retórico é capaz de convencer ao sustentar tamanho desvario.
O apelo desfraldado na imagem lá no alto está na página oficial da CUT.
Cuja manchete nesta manhã era “Deputados traem a classe trabalhadora”.
Alguém considera que, ao se opor à ofensiva antissocial do governo Dilma, a CUT e centrais como a CSP-Conlutas trocaram de lado?
Continuam onde sempre disseram que estão.
PT contradiz programa de TV
A noite na Câmara teve outros contornos sombrios.
Na véspera, em seu programa na TV, o PT divulgara que “tem defendido que não se cortem direitos dos trabalhadores”.
Um dia depois, chancelou tal corte.
Por coincidência, também ontem o Senado regulamentou os direitos dos trabalhadores domésticos. Foi na administração Dilma, na primeira quadra, que as empregadas domésticas, categoria associada às heranças da escravidão, obtiveram avanços. O viço do mandato inaugural desbota.
Para atormentar os trabalhadores, o PT de Dilma se associou ao mesmo PMDB que atropelou na Câmara com o projeto de terceirização que configura um imenso golpe nos assalariados e contra o qual Dilma e seu partido se insurgem.
O governo, não sem razão, costuma se queixar de má vontade do jornalismo dominante. Pois ontem o grosso do jornalismo esteve a favor das iniciativas de Dilma e seu ministro Joaquim Levy.
Unidos pelo arrocho contra os mais fracos, arautos do governo vibraram junto com jornalistas e propagandistas radicalmente oposicionistas.
No plenário da Câmara, parlamentares com inegáveis serviços prestados à cidadania foram xingados por figuras sinistras e pelegos manjados.
O nonsense é que os valentes deputados de outrora se debatiam pela retirada de direitos de quem trabalha.
Panelaço na favela
A desaprovação recorde de Dilma não foi inventada por instituto de pesquisa, como se sabe muito bem nos bastidores do Palácio do Planalto.
A presidente batalhou na campanha com discurso pela esquerda, antes de enviesar pela direita em 2015. Na favela Santa Marta, aqui no Rio, teve morador batendo panela anteontem.
Ao desprezar sua base social, o governo se vê mais sozinho para resistir ao golpismo desvairado dos que recusam a soberania da decisão dos eleitores.
De concessão em concessão, o governo não fica mais forte. Fragiliza-se.
O próximo passo talvez seja ceder maiores fatias do pré-sal. Enganam-se os governantes que pensam que isso saciará certas sedes. Ao contrário, estimulará a gula quem historicamente nunca quis o petróleo sob o controle do Estado.
O Brasil melhorou
É igualmente preciso exibir muita cara de pau, indigência analítica e desonestidade intelectual para não reconhecer que a vida da esmagadora maioria dos brasileiros melhorou de 2003 para cá.
Sim, a distribuição de renda foi excessivamente moderada, houve o mensalão, os lucros pornográficos dos bancos, a indústria definhando, a recusa em distribuir a terra.
Sobre corrupção, que sempre favorece os ricos contra os pobres, é impossível saber se disparou ou o que cresceu foi o combate à roubalheira.
Mas basta olhar para os indicadores de emprego, carteira assinada, crédito, passageiros nos aeroportos, número de universitários, negros nas universidades, miséria e pobreza reduzidas em milhões de brasileiros para perceber a evolução.
O que o governo Dilma _ faz atenção aos novos números do desemprego_ é ameaçar um patrimônio que não é de Lula, de Dilma do PT e seus aliados. É um patrimônio do Brasil e dos brasileiros.
Quem diz que os deputados, a serviço do Planalto, traíram os trabalhadores não é ninguém com má vontade com o governo.
É a CUT.
A CUT, controlada por petistas, sabota o governo?
Texto de Mário Magalhães – http://blogdomariomagalhaes.blogosfera.uol.com.br/2015/05/07/a-verdadeira-derrota-de-dilma-e-do-pt/
13 Comentários
É verdade que as ações da Presidenta vai acabar com o partido dos trabalhares, porém já sabiam que a nossa presidenta era mais elite, casa grande, mas tem uma coisa que ninguém questiona ou fala parece que existi uma pacto silencioso para que não se toque neste quesito o seguro-desemprego é muito mau usado e muitas vezes até o trabalhador também mau intencionado, e assim os outros benefícios e isso é verdade, também não tirou, deixou com um prazo mais longo, eu conheço filho de comerciante que trabalhou três meses de carteira assinada pelo o próprio pai e passou seis meses recebendo seguro-desemprego, assim com a pensão de viuvez que também tenho conhecimento de casamento relampego com um dos conjuge nos seus últimos dias de vida só para que alguém fiquei com a pensão , e são muitos casos de corrupção neste ninho…
Primeiro, meus agradecimentos ao jornalista Marcelo Auler por forjar mais este espaço de informação e diálogo. Desejo-lhe todo sucesso.
O Governo do PT foi um marco na História do Brasil. Não há dúvidas. Me lembrei agora da primeira vez que vi uma menção ao PT num livro didático do ginásio. Nossa! Ficamos tão felizes. Que vitória! E quando a Luiza Erundina ganhou, quanta esperança, meu Deus! Quanta alegria! Votávamos no Eduardo Jorge e Roberto Gouveia. Foram excelentes mandatos. Quanta gente boa, honesta, digna eu conheci. E eu era só uma criança. Mas, empolgava-me pra defender tudo aquilo. Fazia toda boca de urna. Participava, em princípio a reboque de minhas irmãs mais velhas, de tudo que era manifestação, movimento, assembleia, greve, manifestação… A democracia parecia uma festa. Todo mundo tinha certeza de que lado estava, aparentemente.
Aparentemente…
Aquela coisa de que o poder corrompe, de que a ocasião faz o ladrão, sei não. Os que saíram do PT continuam honestos e respeitados. Luiza, Eduardo, Roberto (não sei se você saiu, mas não se tem mais notícias), um abraço pra vocês. Obrigado por contribuírem pra minha educação. Mas, esta memória afetiva que, tenho certeza, também construíram com o partido, não os impediu de se afastarem. É preciso força moral pra isto. É preciso ter vergonha. E liberdade, muita liberdade.
Que digam o que disserem de vocês, que critiquem as razões de seu rompimento. Não ligo. Política não se faz com coação moral, com destruição de reputações. As coisas acontecem. E poucos hoje têm coragem, liberdade e autonomia em relação ao PT pra se posicionarem de fato diante das atitudes do Governo. O PT não vai minguar. Vai se afirmar, como sempre. Vai mudar em nome da “causa”. Nenhum partido no Brasil acaba por falta de ideologia. Apenas o sonho, a esperança. Estes começam a partir das ideias, dos princípios e da confiança. Só a traição pode romper os vínculos. Agora eu sei. Não queria falar de coisas ruins, só lembrar das boas. Mas, isto me fez refletir porque, com o tempo, estas lembranças não foram suficientes pra me motivar a filiar-me, embora sempre tenha votado e acompanhado. É o medo da grande traição, já que as pequenas que a forjaram vêm ocorrendo desde há muito. Eu também vi isto. E por isto, nunca julguei os que tomaram outros rumos.
Acho que estou de luto.
Caro Edgar, não há motivo para luto e sim, para reflexão. Aprendi que há um sentimento generalizado pelo “rei”. Primeiro nos ensinaram que Deus é o ser supremo; depois que os Reis eram os representantes de deus na Terra; depois nos chamaram a atenção para algumas personalidades e pensamos que, nossos eleitos resolveriam nossos problemas. ledo engano. Está na hora de outro ditado entrar no cotidiano: “é o olho do dono que engorda a boiada”, ou algo assim: em um relacionamento duradouro as partes tem que cuidar uma da outra. O PT precisa ser a soma de todos seus membros, políticos profissionais, ou, não. Lembre-se: Deus ajuda quem cedo madruga.
Palavras de um líder do PDT: “O cargo do ministério é de livre escolha da presidente da República. Ela nomeia e demite na hora que ela quiser. Nós não vamos nos render de forma nenhuma a pressão para ter cargos em troca dos nossos princípios.”
Muito legal se fosse essa também a posição de muitos políticos brasileiros…
Não vi nenhuma analise sobre o impacto das mediadas “impopulares” da Presidente sobre o seguro desemprego, atacam as mudanças como se elas realmente significassem uma grande perda para os trabalhadores, o que eu vejo no dia a dia são “trabalhadores” se vangloriarem de entrar e sair de empresas para ficarem as custas do seguro. Por favor me informem onde estou errando no meu entender? Agora ficar viúva aos 24 anos e receber pensão vitalicia? Cá pra nós, é vergonhoso não é?
Por favor, entendam o “viúva” como “viúva/viúvo”
Concordo.
Mas o grande ajuste está sendo feito pelo nivel escandaloso da SELIC. Novamente e sem nenhuma razão econômica somos o peru de natal da vez, como diz o Delfim.
Quem paga é o assalariado e quem ganha é a finança, nacional e estrangeira.
De outro lado, imposto sobre a renda, as grandes rendas, não tem aumento; as grandes transferências patrimoniais permanecem isentas e o o CARF segue livrando os endinheirados de pagar impostos. Vá um assalariado não pagar um centavo de IRenda e já fica na malha, já os graudos livram bilhões, na maior tranquilidade visto a sonegação não ter ônus civil, basta sonegar e esperar o próximo Refis . . .
Ô Dilma, isso não é um “malfeito” ?
Cadê você ?
Eu votei só prá te ver !
Concordo com você. Já trabalhei em vários Departamentos de Recursos humanos e cansei de ouvir: Faço acordo com o patrão, devolvo os 40% da multa rescisória, recebo o seguro-desemprego e arrumo um emprego “por fora”. A fraude e corrupção acontece em todas as camadas sociais.
Deixe a hipocrisia de lado. Vamos combinar, o que estamos vivendo é um cerco contra o Brasil.
À quem interessa a derrota de Dilma e a destruiçao do Brasil??
Artigo publicado pelo Carta Maior – A CIA e sua simpatia pela campanha contra Dilma.
Sibá Machado, chefe da bancada de deputados do PT, falou da proximidade entre Aécio Neves e venezuelanos acusados de conspiração e de sua desconfiança do envolvimento da CIA no Brasil.
“Washington apoia o movimento de desestabilização do governo de Dilma? Foi que o este diário perguntou a políticos e acadêmicos brasileiros que, invariavelmente, responderam que “sim”, mas quase todos sob condição de anonimato. Alguns solicitaram o sigilo alegando carecer de provas, outros, possivelmente, por temor às chicotadas da imprensa, que ridiculiza esse tipo de especulação relacionada à intervenção norte-americana.
O Brasil vive sob um estado de sítio midiático, onde se difama sumariamente qualquer um que apoie o governo, denuncie o golpe branco ou insinue que a presidenta recebe apoio externo. O chefe da bancada de deputados do PT, Sibá Machado, não se coíbe diante das críticas da imprensa tradicional e responde sem papas na língua ao que indagamos sobre uma eventual conexão estadunidense. “Tem que ser muito inocente para supor que uma campanha de desestabilização como essa não recebe nenhum tipo de apoio de fora. Chama a nossa atenção que nenhum dos meios de imprensa investigue esse tema, quando é bastante lógico pensar que tudo isso está manipulado desde altas esferas”.
Para ler artigo completo, acesse o link – http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/A-CIA-e-sua-simpatia-pela-campanha-contra-Dilma/4/33424
Oi.!
Só ontem é que soube que havia gente nova no front. O Brito do Tijolaço falou sobre voce, Marcelo.
Seja muito bem vindo !
Vou espalhar aos quatro cantos a notícia da sua chegada.
Ganhamos mais um espaço para debater questoes importantes e, também, dar publicidade da necessidade da auditoria da dívida pública brasileira – externa e interna – um tema dos mais importantes e cruciais para o país. Aliás, para os que estiverem lendo esse comentário, já aproveito para deixar o link de um vídeo atualíssimo que trata do maior problema brasileiro – a dívida publica da Uniao e seus estados federados – que, sem auditoria, fará com que o Brasil morra pobre e miserável.
Assistam, por favor, aos vídeos !
Palestra de Maria Lúcia Fattorelli, auditora da Dívida Cidadã, sobre os reflexos da dívida pública nas nossas vidas e a necessidade da auditoria da dívida para possibilitar ao Brasil e ao seu povo aquilo que ele realmente merece – soberania e justiça social.
https://www.youtube.com/watch?v=4YvIGZ2NQMA
Quer saber sobre a origem do confisco da Previdencia dos servidores do estado do Paraná? Quer saber sobre as privatizaçoes do patrimonio público que foram e estao sendo implementadas pelo governo brasileiro? Acesse também –
Palestra Maria Lucia Fattorelli — Dívida pública e o endividamento dos estados.
https://www.youtube.com/watch?v=e98Q80A6SYo
Sem dúvida, politicamente, as medidas de “ajuste” são uma derrota ao governo Dilma e um estelionato político.
Mesmo sendo de esquerda como sou tal constatação é inegável.
O “ajuste”nos moldes como proposto e executado é um ataque aos desfavorecidos. A turma da finança embolsa juros escandalosos e, para controle da inflação, inócuos. Valem apenas para atração de capitais especulativos para equilibrar a conta cambial.
Mais valeria a emissão de papeis em reais vinculados ao dolar, com juros americanos ou pouco mais, sendo liquidados quando da saída dos “investidores”. Quem entrasse estaria especulando com seus riscos. Não entrando dolar haveria depreciação do real, favorecendo as exportações. Alguma transferência para os preços internos entra na inflação do ano perdido de 2015. Custaria menos às contas do governo e não traria desestímulos ao setor produtivo.
Correto o raciocínio ?
Mas de qualquer forma o governo perdeu o ímpeto e agora vai a reboque de políticas oportunistas e deletérias como o “ajuste” sobre os mais pobres.Já dizia o Armínio Fraga que “algum desemprego era necessário” . . .
Os ricos, sempre protegidos, continuam bradando contra o governo e, para não perder o costume, sonegando sob a proteção legal.
Aos poucos a esquerda vai arriando as bandeiras, sitiada pela mídia livre, leve e solta.
O descrédito é tanto que até ministro de estado tem política para a Petrobras em flagrante desacordo com a orientação da presidente.
É um ajuste leviano. Para os rentistas houve um aumento de 100% na taxa de juros. Nos últimos 14 meses a taxa selic pulou de 7 para quase 14. Para o trabalhador arrocho e desemprego e fator previdenciário.
É como disse o poeta:
Vi. Vi muitas pedras.
Sobre os mesmos ombros.
Concordo! É difícil defender um governo assim. Traição ninguém esquece! Parece exercício do “duplipensar” do Orwell. Se a Dilma quiser acabar com o PT é só deixar o ministro neoliberal comandar a economia por mais um par de anos. Depois vai ser difícil juntar os cacos!