Na teleconferência dos chefes de estados do G-20, na quinta-feira (26/03), Bolsonaro fez um pronunciamento rápido. Tinha 15 minutos para falar. Utilizou apenas oito. Defendeu a tese de que temos que preservar as vidas e os empregos e fez merchandising da substância cloroquina indicada para o tratamento de lúpus e malária e que foi usada, em caráter experimental, nos casos terminais do corona vírus.
O Ministério das Relações Exteriores não divulgou a transcrição da fala do presidente do Brasil. Alegou que houve problemas técnicos na transmissão. Há quem especule que o amontoado de imbecilidades proferidas por Bolsonaro fez corar até o seu fidelíssimo chanceler, Ernesto Araújo.
Não é nada disso. Bolsonaro chegou aonde chegou proferindo tolices. O que aconteceu, na quinta-feira, é que seu filho Carlos, o pitbull 02, não se afeiçoou com o tom diplomático da fala do pai.
Na ausência do chefe da Secretaria de Comunicação Social – Secom -, Fabio Wajngarten, acometido pela epidemia, “Carluxo” assumiu as rédeas da pasta. Passou a ditar todos os passos do pai, neste momento desesperador de Covid-19.
O que Bolsonaro teria dito na reunião, à distância, das 20 economias mais poderosas do mundo poderia comprometer – ou confundir – os aliados para a campanha que foi lançada, naquela mesma noite, conclamando a população ir para as ruas defender o fim do isolamento social.
A campanha publicitária tomou conta da Internet com a mensagem de que “o Brasil não pode Parar”. Com o “Gabinete do Ódio” funcionando a todo o vapor sob o comando do “filho problemático” do Presidente, o governo quer tornar a campanha ainda maior, a um custo de R$ 4,9 milhões. Com ela, o Brasil mergulha na mais grave polarização da sua história.
Os brasileiros estão sendo instados a escolher ficar em casa e não ser alcançado pelo vírus implacável ou atender ao apelo dos alucinados que ocuparam o Planalto e acabar engrossando as estatísticas de infectados e mortos.
Em outra teleconferência realizada na terça-feira (24/03), com governadores do Sul e do Sudeste, o embate entre Bolsonaro e mandatário de São Paulo, João Dória, desnudou a razão pelas quais a Nação está metida neste dilema entre a vida e a economia.
Dória acusou Bolsonaro de só pensar na reeleição em 2022. Bolsonaro reagiu com o argumento idêntico. Só que no caso quem só pensa em 2022 é ocupante do Palácio Bandeirantes.
Os repórteres Naira Trindade e Gustavo Maia, revelaram na edição do dia 27 de O Globo, que o “02” teve um “papo reto” com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Não fez bem aos ouvidos da família Bolsonaro o “papo” do ministro em relação ao isolamento horizontal como meio de se proteger da doença.
Pelas atitudes do ministro no decorrer desta semana, dá para afirmar que ele depois do tal “papo” passou a pensar com carinho no chamado isolamento vertical. Aquele que sugere que apenas a população com mais de 60 anos fique enclausurada. Os demais regressam para as atividades normais.
Desde os seus primeiros passos na política brasileira, ainda como vereador do município do Rio de Janeiro, nos anos 90, Bolsonaro sempre se caracterizou como um personagem bizarro. Esteve – e continua estando – na contramão da história.
Ele vive e cresce através de um confronto. É incapaz de articular ou construir qualquer ação política que não seja um conflito. O melhor exemplo disso foi o desastrado pronunciamento que fez à Nação, na terça-feira (24/03). Não se conteve. Agrediu de maneira grosseira a Rede Globo e o médico Dráuzio Varela.
Não há, portanto, com o que se admirar das grosserias e insanidades dele. O mais grave é o comportamento dos setores progressistas da sociedade. Abúlicos não sabem quando desencadear o movimento nacional pela destituição do parvo que comanda a Presidência da República.
Está claro, agora, que a postura pendular das esquerdas em relação ao impeachment terá um preço: milhares de vidas surrupiadas pela irresponsabilidade de um mandatário tresloucado.
(*) Arnaldo César é jornalista e colaborador deste blog.
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