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Arnaldo César, de Porto Alegre (RS)

Porto Alegre reuniu mais de 70 mil pessoas no comício de terça-feira, sem incidentes (foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula)

Porto Alegre, a “Capital da Democracia” despertou na manhã desta quinta-feira (25/1) com um gosto amargo na garganta. Que a condenação do presidente Lula seria confirmada pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) era uma possibilidade admitida por muitos.

O que não esperavam era o tom de vingança com que os três desembargadores condenaram o ex-presidente, aumentando inclusive a pena para 12 anos e um mês. Exceção fica por conta daqueles que torcem pela prisão do ex-presidente e que chegaram a comemorar em ruas da cidade. Não foi nenhuma manifestação expressiva.

A capital do Rio Grande do Sul experimentou, nos últimos cinco dias, um clima de guerra tamanho o aparato policial que tomou conta da cidade. Na Praia das Belas, onde fica o Tribunal, foi feito um cerco de mais de 3 quilômetros. Por lá transitaram, nestes dias, polícias da Brigada Militar, Polícia Civil, Polícia Judiciária, Cavalaria de Brigadianos, Força Nacional, Polícia Federal, Corpo de Bombeiros e  Polícia Rodoviária Federal. Sem contar que as guarnições das Forças Armadas na região ficaram de prontidão.

Situação previsível, desde que o prefeito tucano Nelson Marchezan Júnior, de forma espalhafatosa, quis convocar tropas federais para a cidade. A realidade mostrou, mais uma vez, que foi mero factóide.

Isso não chegou a incomodar a cidade que seguiu com a sua rotina normalmente. O que destoava era um número maior de pessoas circulando pelas ruas do Centro, trajando camisas vermelhas ou carregando nas costas a bandeira de partidos de esquerda.

Jovens sendo presos na quarta-feira por protestarem pacificamente contra a sentença. Prisão destoou do clima de tranquilidade da cidade. (Foto Mídia Ninja)

Tamanho aparato militar, contudo, serviu apenas para prenderem, na noite de quarta-feira (dia 24/01), um grupo de 13 mulheres e três homens, do movimento Levante Popular da Juventude que ousaram protestar contra a decisão dos desembargadores do TRF-4. Não faziam nada de mais do que cantar pelas ruas versos de protesto.

Altamente politizada, Porto Alegre, como bem diz o seu nome, recebeu 70 mil manifestantes, na “Esquina Democrática”, no Centro Histórico, com muita alegria. Nenhum incidente que pudesse tirar o sono da multidão de 3 mil homens armados que tomaram conta da cidade nestes dias. Todos, diga-se de passagem, fortemente armados e com as cabeças cobertas por tocas ninjas.

A síntese do sentimento pós-julgamento, talvez, tenha sido feita pelo ex-governador Olívio Dutra, um dos mais queridos líderes das esquerdas gaúchas e até do chamado povão sem maior engajamento político:

“Não estamos tristes. Estamos envergonhados com tanta parcialidade vinda dos tribunais”.

A direita gaúcha também teve oportunidade de se manifestar. Comandada pelo MBL seus militantes navegaram pelo rio Guaíba, na terça-feira (22/01), com um boneco inflável do pichuleco (Lula vestido de presidiário) amarrado em uma enorme barcaça. Antes de atracarem, nas margens próximas ao comício, os manifestantes foram detidos. Evitou-se um confronto.

Ao contrário dos garotos do Levante Popular, porém, ninguém do MBL foi parar na delegacia de polícia. Como a documentação da embarcação estava em ordem, apenas pediram para que se retirassem do local.

Movimentos populares acamparam no Parque Harmonia, próximo ao prédio do TRF-4, sem aceitarem provocações. (Foto: Marcelo Auler)

Militantes do MST, da CUT e de movimentos sociais, que acamparam em torno do Anfiteatro Por do Sol (no Parque Harmonia, na orla do Guaíba), proximidades do TRF-4, também deram demonstração de maturidade. O tempo todo mantiveram suas caravanas de várias partes do País entretidas com palestras, shows e comícios. Em nenhum momento aceitaram provocações. Nem mesmo quando 400 cavalariços da Brigada Militar rondaram o acampamento, no dia do julgamento.

Passado, este momento, vida que segue, como preconiza Ricardo Kotscho que na sua coluna de hoje constata: Na Justiça da Lava Jato não há surpresas: tudo preparado para condenar Lula.

Ou como apregoou a presidente do PT, Gleise Hoffmann, nos vários eventos em que compareceu em Porto Alegre, nos últimos três dias, “independente do resultado deste julgamento, resta-nos lutar. Temos muitas lutas pela frente”.

Ou ainda, como improvisaram a garotada da Mídia Ninja e do Levante Popular:

“É, se aqui estamos cantando esta canção,
É porque viemos defender a nossa tradição,
E, dizer bem alto que a injustiça dói,
Nós somos madeira de lei que cupim não corrói.”
(*) Arnaldo César é jornalista e colaborador deste blog.

AGRADECIMENTO – Marcelo Auler e Arnaldo César agradecem aos leitores, colaboradores e incentivadores do Blog que, acreditando no nosso trabalho, investiram nele nos ajudando financeiramente nesta viagem que fizemos a Porto Alegre (RS). Graças à ajuda de muitos nossas despesas foram cobertas. Esperamos ter correspondido às expectativas de todos aos quais dedicamos esses cinco dias de trabalho, na cobertura de um momento que, temos certeza, entrará para a História do Brasil. Esperamos continuar contando com a colaboração de todos com suas leituras, comentários, críticas e compartilhamentos.

4 Comentários

  1. Alexandre Costa disse:

    Os versos acima não constitui improviso. Fazem parte de um belo frevo composto por Capiba e símbolo das lutas da esquerda pernambucana. Chama-se “Madeira que cupim não rói “.

  2. Maria Aparecida disse:

    Marcelo Auler, faltou nos informar o que aconteceu com os jovens do Levante Popular da Juventude!

    Foram presos e ninguém os socorreu?

    Continuam presos?

    Se continuam presos, a tal “polícia” dá algum justificativa para isso?…

  3. Fernando vecchio Pereira! disse:

    Neste momento de vergonha nacional os juízes da “justiça” Brasileira nos envergonham perante todos os países do mundo!!!!!! Brasil república de bananas!!!! Os juízes Brasileiros com apenas 10% de juízes honestos casaram com os políticos desonestos, bandidos e corruptos; resultado; nasceu o Moro e o TRF4!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

  4. Carlos Augusto De Bonis Cruz disse:

    Essa foi a primeira batalha, das muitas (e difíceis) que virão. Mas parece (!?) que o PT e os movimentos populares acordaram e já enxergam uma triste verdade: não há conciliação! Não podemos esquecer o que fizeram, fazem e farão, de seus nomes, cargos, omissões e participações. Não podemos aceitar a falsa conciliação que foi a Anistia. Não foram penalizados, e sim protegidos. Eu agradeço a vcs por me mostrar a realidade, negra realidade. Não tenho medo. Tenho vergonha.

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