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Marcelo Auler

Ademar Trocki perdoou a dívida de R$ 800,00 em troca do assassinato de Pasqualin, líder do MST (Foto: reprodução Facebook)

Uma dívida de R$ 800,00. Menos do que um salário mínimo. Este foi o valor acertado pelo vigilante Ademar Trocki para assassinarem Ênio Neudi Pasqualin, líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) no assentamento Ireno Alves dos Santos, em Rio Bonito de Iguaçu, região central do Paraná. Trocki sequer desembolsou esse dinheiro. Apenas perdoou a dívida antiga contraída com ele por um dos executores do assassinato.

Foi por conta destes R$ 800,00 que um dos executores, cujo nome ainda não foi revelado pela polícia, ceifou a vida de um pai de família de apenas 48 anos de idade. Casado, desde 1995 com Adriana Pasqualin, construíram uma família de três filhos que lhes deram uma neta, ainda pequena. Todos ficaram órfãos. Já as 972 famílias que se distribuem pelos 16.852 hectares do Assentamento Ireno Alves dos Santos, perderam um importante aliado. O local é um antigo latifúndio que em 17 de abril de 1996 foi ocupado por 12 mil pessoas – Pasqualin e seus familiares entre eles. Por decreto assinado em 1998 no governo de Fernando Henrique Cardoso, foi oficialmente legalizado.

O assassinato, como noticiamos em Pasqualin do MST: execução anunciada por WhatsApp, ocorreu por volta de 20H00 do sábado, 24 de outubro, na porta da sua casa. Ao abri-la, atraído pelos latidos dos cachorros provocados pela presença de estranhos, ele foi atingido por um tiro no ombro. Ainda tentou refugiar-se em casa, junto aos familiares que estavam reunidos naquela noite. Mas a porta foi arrombada pelos dois homens – ao contrário da versão inicial, que falava em três – contratados por Trocki. A execução do crime, como narramos na reportagem anterior, deu-se longe dali.

O primeiro pistoleiro preso foi o que devia o dinheiro a Trocki. A equipe do delegado Marcelo Trevisan, da 2ª Subdivisão Policial de Laranjeiras do Sul, cidade distante 25 quilômetros de Rio Bonito do Iguaçu, o identificou e o localizou, na sexta-feira, dia 20 de novembro. Estava no município de Chopinzinho, onde reside.

Executores desconheciam a vítima 

O corpo foi achado a 12 quilometros do assentamento; o carro há 120 quilômetros (Foto: reprodução redes sociais)

Logo admitiu sua participação no crime e entregou o nome do parceiro na execução e do mandante do crime. A polícia mantém a identificação dos presos sob sigilo, mas o blog Olho Aberto Paraná identificou Trocki em reportagem veiculada quinta-feira (26/11). Este Blog confirmou a identificação com autoridades do Paraná.

Levado de casa na noite daquele sábado, Pasqualin foi encontrado na manhã de domingo, morto, caído às margens de uma estrada vicinal de Rio Bonito de Iguaçu, a 12 quilômetros de distância do assentamento.

A camionete S-10, cor grafite escuro, placa BBE 8493, de propriedade de Gilson de Oliveira, genro de Pasqualin, foi achada depois, em Mangueirinha, município distante 120 quilômetros de onde ela foi roubada na noite anterior. Os dois executores do crime ainda roubaram dos familiares do líder do MST celulares e alguns pertences. Mas não estavam ali para cometerem um latrocínio (assalto que resulta em homicídio). Era um crime por encomenda.

A partir da primeira prisão, o delegado. Trevisan soube que os executores do assassinato sequer conheciam Pasqualin. Receberam uma foto dele no dia do crime, por parte do contratante. Que também emprestou as armas usadas no assassinato e ainda deu carona para os pistoleiros chegarem ao assentamento Ireno Alves dos Santos. Depois os encontrou em Mangueirinha, a 120 quilômetros de Rio Bonito de Iguaçu, onde abandonaram a camionete roubada. 

Versões diferentes

Para os dois pistoleiros, segundo relatou o delegado, Trocki alegou estar vingando à morte de um irmão.  Adir Trocki, de 31 anos, foi encontrado morto, em 1 de junho de 2019, dentro de uma camionete Sportage, na estrada de acesso à comunidade Eucaliptos, Assentamento 1º de Maio, também em Rio Bonito do Iguaçu. Sua morte é mais um dos muitos crimes não solucionados pela polícia. Pouco se sabe ainda de seus envolvimentos antes de ser assassinado, o que para alguns poderia explicar seu assassinato. O delegado, porém, já afirmou que o Pasqualin não tinha nenhuma relação com o crime.

O segundo executor e Trocki foram presos quinta-feira (26/11). O pistoleiro, embora residisse também em Chopinzinho, foi localizado em São Marcos, cidade do Rio Grande do Sul. Não há informação do que o motivou a praticar o crime, pois não de falou em pagamento a ele.

Pasqualin: homenagem de familiares e amigos (reprodução do Facebook)

Trocki já residiu em Rio Bonito de Iguaçu, onde até teria trabalhado na prefeitura, segundo consta do seu Facebook. No site do Tribunal Regional Eleitoral do Paraná consta que Ademar Trocki concorreu à Câmara de Vereadores da cidade, pelo Partido Verde. Recebeu apenas 36 votos, o que correspondeu a 0,45% dos votos válidos. A polícia o encontrou no município paranaense de Pato Branco.

Nas explicações do delegado Trevisan, a morte de Pasqualin foi provocada por conta de uma “animosidade que o contratante teria com a vítima em razão de algum problema na distribuição de lotes com o irmão dele, que teria sido prejudicado… o local não era adequado, ou teria sido expulso do local”. Para Trocki, ainda no relato do delegado, “seu irmão teria direito a um outro local e então havia essa rusga”. Nessas suas explicações, feitas por vídeo, Trevisan diz que o irmão de Trocki que foi assassinado não é o mesmo que teria tido o problema em assentamento do MST.

Apesar de a polícia, com a identificação e prisão dos três, entender que o caso está apurado, há dúvidas sobre isso entre militantes do MST do Paraná. Inicialmente todos sabem que Pasqualin não teve envolvimento com qualquer ato de violência. Era uma pessoa pacífica. Inclusive quando familiares seus foram vítimas de violência brutal, jamais buscou ou mesmo falou em vingança por conta própria. Deu queixa na delegacia deixando a apuração do caso à própria polícia.

Também preocupa aos militantes o fato de familiares de Pasqualin ainda receberem ameaças, assim como outras lideranças do movimento ou mesmo pessoas próximas e engajadas com o movimento. No entendimento de alguns deles, pode haver participação de outras pessoas no crime. Querem que o Ministério Público Estadual, que desde o assassinato vem acompanhando par e passo a investigação do assassinato. Receiam, agora, com a prisão dos envolvidos, reações e vinganças. Tal como a que levou a vida de Pasqualin.

 

 

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1 Comentário

  1. Ricardo R Figueira disse:

    Terrível mais uma morte por encomenda. Até onde vão os mandantes e os assassinos! A questão agrária persiste como um sério e secular problema nacional.

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