A desastrada entrevista da Polícia Federal sobre a Operação Carne Fraca conseguiu derrubar – pelo menos temporariamente – as exportações de carne do país. Aos poucos, porém, como o próprio juiz do caso, Marcos Josegrei, da 14ª Vara Federal de Curitiba, fez questão de esclarecer, descobriu-se que as investigações não eram sobre a qualidade da carne, mas as extorsões praticadas por fiscais do Ministério da Agricultura e as propinas pagas por frigoríficos e estabelecimentos industriais/comerciais. A explicação, porém, chegou tarde e o estrago estava feito. Grandes grupos como JBS e RBS foram diretamente atingidos.
Estranhamente, na hora em que apareceu uma outra grande empresa – o Grupo Madero, com sede no Paraná – revelando um cuidado que não teve antes, a Polícia Federal de Curitiba fez questão de apontá-la como vítima. Através de um de seus porta-vozes extra oficiais, o Estado de S. Paulo, delegados esclareceram:
“Dois fiscais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, alvos de mandados de prisão na Operação Carne Fraca, ‘apropriavam-se’ de hambúrgueres, picanhas e filés mignon do restaurante Madero. Segundo os investigadores, antes de exigir propina em dinheiro, os inspetores Renato Menon e Celso Dittert de Camargo se serviam à farta de carnes nobres“. (Estadão, 18 Março 2017, Fiscais da Carne Fraca ‘apropriavam-se’ de carnes nobres e propinas).
Pode ser mera coincidência. O Grupo Madero – que os federais fizeram questão de inocentar, ao contrário dos demais grupos – aparece nas páginas do Facebook do filme “Polícia Federal, a Lei é para todos” como um dos parceiros da produção do longa metragem, como mostra a foto acima. Verdade que a postagem é de novembro de 2016, mas isto significa que enquanto aconteciam as investigações da Operação Carne Fraca, policiais federais, como Igor Rosário de Paulo, o Delegado Regional de Combate ao Crime Organizado (DRCOR) da Superintendência do DPF no Paraná, frequentava o restaurante e se confraternizava com seu “chef” e os atores da filmagem. É de se questionar, àquela altura, já haviam inocentado o Grupo Madero? Por que a extorsão ao mesmo não foi divulgada na entrevista coletiva, mas somente dias depois? Iriam tentar esconder?
A página do Facebook não apenas revela um primeiro “parceiro” – ou “apoiador”, como eles preferem – do filme, algo que vem sendo guardado a sete chaves. Um outro jantar, só com atores, ocorreu em dezembro em restaurante do Grupo Madero.
As fotos do Facebook também demonstram que a estrutura da polícia Federal está sendo usada para as filmagens. E não apenas da Superintendência do Paraná. Quem conhece o velho e reformado prédio da Superintendência do Rio de Janeiro, onde outrora foi o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) da ditadura getulista, reconhece na foto ao lado a suntuosa sala do superintendente do Rio.
Não é só. Há ainda fotos de cenas gravadas com viaturas aparentemente oficiais do DPF. Aliás, o deputado Paulo Pimenta (PT-RS) até hoje não conseguiu resposta ao pedido de informações que protocolou em fevereiro, junto ao diretor-geral do DPF, Leandro Daiello, questionando como se deu a autorização para uso destes equipamentos, armas, o brasão oficial e o crachá da corporação.
Nesta quarta-feira (05/04) à tarde, ele e o deputado Wadih Damous (PT-RJ) darão coletiva em Brasília com novas cobranças. Prometem revelar, inclusive alguns nomes de agentes do DPF que viajaram, com carros da corporação, de Curitiba para São Paulo, no último carnaval, de forma a participarem da filmagem, como noticiamos em: Filme chapa branca, com verba pública.
Sem terem como convocar Daiello – apenas podem convidar servidores do segundo escalão -, os parlamentares convocarão o ministro da Justiça, Osmar Serraglio para esclarecer o que o diretor-geral não esclareceu.
Como esclarecemos na reportagem citada acima, os produtores do filme evitam falar nos patrocinadores do mesmo. Fazem mistério. Mas não esconderam que a versão a ser levada às telas será a oficial. Nada de levantar questões emblemáticas, como a do grampo encontrado na cela de Alberto Youssef no início da Operação, nem o papel de Meire Poza, tampouco a sindicância forjada presidida pelo delegado Mauricio Grillo. O filme, que classificamos de Chapa Branca, tentará solidificar junto à opinião pública que a Lava Jato ocorrem sem intempéries.
14 Comentários
[…] Justiça entendeu que o Madero foi vítima de extorsão. Nas palavras de Marcelo Auler, repórter que cobriu a Operação Carne Fraca, “revelando um cuidado que não […]
[…] que o Madero foi vítima de extorsão. Nas palavras de Marcelo Auler, repórter que cobriu a Operação Carne Fraca, “revelando um cuidado que não teve antes, a Polícia Federal de Curitiba fez questão de […]
Alguns servidores de Órgãos Públicos da Persegucao Penal em Curitiba tem um lema : Aos amigos tudo , menos a Lei, aos Inimigos nada, muito menos a lei . É público e notório. Impressionante a fraqueza de nosso sistema no qual permite o uso político partidário do Código Penal por servidores públicos e a incapacidade de correção a falta de limites no qual transformou delegados juízes e promotores em Inimputáveis . O filme é só mais um absurdo criado filho desse sistema.
Marcelo,
Já ouviu falar no “efeito Streisand”?
Se a defesa de Lula e os deputados do PT continuarem atacando o filme, eles acabarão por garantir que o filme será um sucesso.
Questionar a origem das imagens, ok.
Mas tentar censurar ou proibir — mesmo que tenham razão! — fará com que todos queiram ver o filme.
Portanto: chega de polemizar.
[…] próprio Sérgio Moro para que não fosse filmada a condução coercitiva de Lula. Marcelo Auler, em seu blog, informa que teria sido usada uma câmera oculta nas roupas de um dos agentes que participou do […]
Deputados apontam inúmeras ilegalidades cometidas pela PF na produção e financiamento de um filme para criminalizar o ex-Presidente Lula:
https://www.conversaafiada.com.br/politica/diretor-da-pf-mandou-delegado-buscar-grana-para-o-filme
[…] paranaense (coincidentemente, a rede de restaurantes apareceu na operação Carne Fraca como tendo pago propina a fiscais). Há ainda informações de que agentes da Polícia Federal teriam se deslocado até […]
Toda serie de reportagens evidenciam que a PF tem um comandante omisso e criminoso.
O principio da legalidade, no ambito administrativo, estatui que ao servidor publico só é autorizado a fazer aquilo que a lei expressamente autoriza.
Minha duvida é: Existe lei que autorize o senhor Leandro Daiello a empregar o efetivo e os materiais da PF para uso em filme?
Que vergonha de tanta ilegalidade!
A PF se tornou um monstro que nao responde requisicoes de infornacoes, que faz o que bem entende com seu efetivo e recursos, a exemplo da ilha gourmet do gise de Curitiba. A boca ficou torta a muito tempo com o caximbo!
Outra duvida minha é, se o Madero fornecia carnes e dinheiro para os funcionarios do Ministerio da Agricultura nao fiscalizar, ele cometeu o crime de corrupcao ativa e o delegado Mostarda nao os indiciou? Usou como colaboradores??? Pior, sera que solicitou alguma vantagem, do tipo patrocinar o filme da imoralidade da sede da sedicao, praticando assim o crime de corrupcao passiva ou concussao?
O Juiz Marcos Josegrei sera que esta sentindo o cheiro de carne podre desse cadaver da PF de Curitiba e Brasilia?
Ótima reportagem, como de hábito.
Mais do que demolir e reduzir a pó a ORCRIM da Fraude a Jato, a série histórica de reportagens está transformando em cadáveres os criminosos enquistados e encastelados na burocracia estatal brasileira. Marcelo Auler e outros abnegados jornalistas progressistas e independentes vêm desmascarando toda a máfia golpista enquistada e encastelada na burocracia do Estado, que usa dos cargos para desmontar o Estado Social e no lugar dele, usando métodos nazifascistas, implantar o ultra-neoliberalismo oligárquico, plutocrata, escravocrata, cleptocrata, privatista e entreguista, seguindo roteiro e ordens emanadas do alto comando internacional do golpe, que fica nos EEUU.
Existem estudiosos e pensadores que consideram o atual golpe de Estado como sofisticado. Um deles, especialista em semiótica e comunicaçõ diz isso, como vocês podem conferir acessando http://jornalggn.com.br/blog/wilson-ferreira/guerra-total-na-crise-politica-com-os-filmes-policia-federal-e-real-por-wilson-ferreira. Só concordo em parte com esses estudiosos, já que a ‘sofisticação’ de que falam só existe naqueles que conceberam a trama e que estão no alto comando internacional. Os golpistas de Pindorama, além de canalhas, são trapalhões, amadores, ególatras, sabujos de uma mídia também golpista e criminosa. Nem mesmo o PIG/PPV – a menos bronca das ORCRIMs golpistas – mostra essa sofisticação que alguns estudiosos insistem em lhe atribuir.
PF, MPF, PGR, STF (com destaque para Gilmar Mendes), Justiça Federal (com destaque para sérgio moro, marcelo bretas, ricardo leite, josegrei, desembargadores do TRF4, dentre outros) estão na lama e fossa fétidas; apenas os celerados, os analfabetos políticos, os que se deixaram cegar e manipular pelo ódio disseminado pelo PIG/PPV, os nazifascistas, os de má índole e de má-fé acreditam ou idolatram esses burocratas.
Os jornalistas, blogueiros, articulistas, pensadores e estudiosos comprometidos com as causas sociais, com o futuro do País, são hoje perseguidos exatamente pelo fato de que os golpistas – apesar de deterem os poderes do Estado, inclusive e sobretudo o do aparelho repressor – não conseguiram emplacar a narrativa oficial, que afirma que o golpe não foi golpe. Na imprensa internacional o golpe é tratado pelo que de fato é: um golpe de Estado.
O Brasil democrático, que pensa, expôs as entranhas fétidas dos golpistas. Não vejo sofisticação alguma nas ações das quadrilhas políticas e burocráticas que sustentam apóiam o governo ilegítimo. Os caciques do PSDB, do PMDB, do PPS, do DEM, do PP e de outras siglas apoiadoras do golpe estão caindo de podres. Apodrecidos aos olhos dos brasileiros bem informados e de boa índole estão também o STF, o MPF, a PGR e o PGR, assim como o TRF4, sérgio moro e vários outros juízes federais que agem de forma sincronizada com os golpistas da política. Paulo Skaf, FIESP, Steinbruch, Flávio Rocha e centenas (talvez milhares ) de outros empresários que participaram ou apoiaram as ações golpistas estão desmascarados, desacreditados, enlameados.
A entrega do comando da Odebrecht aos estadunidenses, o fatiamento e a entrega da Petrobrás aos estrangeiros, o desmonte da previdência social e da CLT, o congelamento dos investimentos públicos por duas décadas, o desmanche do SUS, do Mais Médicos, o desmonte dos programas nuclear e aeroespacial, assim como do programa de defesa, tudo isso está muito claro para os brasileiros pensantes. O alto comando fica no exterior e evita sujar as mãos. Já os encarregados designados pelo ACI são canalhas e criminosos amadores, que chutam a porta, em vez de arrombá-la usando chave-mestra.
Se no passado não era possível escrever a História ou descrever fatos históricos enquanto eles se passavam, o mesmo não se pode dizer neste século XXI. Eu percebei a trama do golpe já em 2005 (com a farsa do mensalão) e depois em 2013, com as chamadas ‘jornadas de junho-julho’. Disse e escrevi, enquanto ocorriam as manifestações. O golpe que se consumou em 2016 foi desmascarado, está exposto e claro. Historiadores, cientistas sociais e políticos, assim como cidadãos atentos, observadores e bem informados estão escrevendo a História em tempo real. Nem mesmo com uma ditadura aberta ou com o uso dos meios audiovisuais os golpistas conseguirão impor sua versão oficial – de conquistadores, vencedores, opressores.
Jamais na República de Curitiba alguém amigo dos delegados comete crime. Imagina.
Quer dizer Auler que o sanduicheiro curitibano dos delegados foi “extorquido” e pagaram proppina por isso, enquanto os outros pagaram propina tb mas foram enquadrados em corrupcao passiva ? sera que a contrapartida foi financiar o filme deles mesmos ? será que avisaram o cara que ia ter uma operacao e mandaram ele “denunciar” que pagava fiscais ? que fase, hein…
Um escárnio. Rua e cadeia pra esses agentes do Estado. Os verdadeiros criminosos, não quem eles perseguem!…
[…] Parceiro no filme, inocentado na Carne Fraca […]
[…] Parceiro no filme, inocentado na Carne Fraca […]