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Arnaldo César (*)

Em outubro, Jair Bolsonaro assinou um Termo de compromisso com a Constituição por iniciativa do presidente da ABI, Domingos Meireles (Foto: Divulgação)

No dia 17 de outubro passado, Jair Bolsonaro e Fernando Haddad assinaram um termo de “Responsabilidade e Respeito a Constituição do Brasil” proposto pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI). Fizeram isso quando disputavam o segundo turno das eleições presidenciais. Dias depois, o documento foi registrado em um cartório carioca.

No terceiro parágrafo deste texto, há uma manifestação expressa de defesa da democracia, da liberdade de imprensa e consequentemente do direito de informar e ser informado.

 A tinta da caneca Bic com que o hoje presidente Jair Bolsonaro firmou o tal Termo da Responsabilidade da ABI nem havia secado e ele juntamente com seus filhos e demais correligionários davam curso a uma série de ameaças, chantagens, grosserias e cerceamento do exercício do jornalismo.

Lembram-se, Bolsonaro fugiu do debate com a Haddad na TV Globo, alegou que ainda convalescia da facada que levara em um comício em Juiz de Fora? O que não o impediu, contudo, de dar uma entrevista exclusiva de 25 minutos para a Rede Record, parceira de primeira hora da candidatura do capitão.

O fato de ter “amarelado” diante de um confronto direto com o candidato petista não foi perdoado por alguns grandes veículos da mídia. Através das redes sociais, o filho mais novo do presidenciável do PSL, o “Zero Três”,  Carlos Bolsonaro, praguejou. Entre outras coisas, prometeu se vingar acabando com “as farras das verbas publicitárias” quando o pai estivesse no Planalto.

Na posse de Bolsonaro, jornalistas foram impedidos de circular pelo Congresso e colocados confinados, sem qualquer estrutura. (Foto do site http://abcdmaior.com.br)

Só os querubins, loucos e inocentes de toda a ordem acreditaram que Jair Bolsonaro iria cumprir um ponto sequer dos compromissos que lhe foram apresentados pela ABI.

No festivo dia 1º de janeiro, na posse do vencedor do pleito, os jornalistas escalados para cobrir o evento foram tratados como “furiosos animalejos”.  Cercados em “chiqueirinhos” nos Palácios do Planalto e do Itamaraty tiveram que ficar sentados no chão por seis horas, sem direito a uma misera cadeira ou banheiro, até que os eventos começassem.

Equipes de reportagens francesas e chinesas ficaram tão indignadas com o tratamento dispensado pelo novo governo que abandonaram a cobertura como uma forma de protesto. Essa maneira “gentil” de tratar os profissionais de imprensa ganhou o mundo.

Três semanas depois, durante a conferência de Davos, na Suíça, o novo mandatário do Brasil deu mais uma demonstração do apreço que dedica à verdade, à democracia e, por tabela, à liberdade democrática.

No discurso de abertura do convescote que reúne banqueiros e investidores de todos os quadrantes, Bolsonaro garantiu que o seu governo “primará pela democracia e as liberdades individuais”. É bem verdade que quando falou isso seus olhos estavam absortos no infinito, suas mãos tremiam e as palavras eram emitidas aos solavancos.

Tradicionalmente, os governantes mimoseados com a honra de fazer o discurso inaugural do Fórum Internacional, concedem uma entrevista coletiva.  Bolsonaro prometeu que estaria no Centro de Imprensa de Davos, acompanhado de seus ministros Paulo Guedes, Sérgio Moro e Ernesto Araújo.

Quarenta minutos antes, os quatro escafederam-se. Não deram as caras. Assessores do presidente justificaram a ausência – ou fuga – como uma represália “às condutas inapropriadas dos jornalistas brasileiros”.

Bolsonaro e sua clã não gostaram da mania dos profissionais em fazer pergunta sobre o filho Zero Um, Flávio Bolsonaro, e suas traquinagens na Assembleia Legislativa do Rio e suas ligações com o “Escritório do Crime”, uma milícia de matadores de aluguel que atua na Favela do Rio das Pedras, na Zona Oeste do Rio.

Ataque do ministro da Educação ao colunista Ancelmo Góis, de O Globo (Reprodução do Facebook)

Um festival de estupidez contra a mídia é percebido por todos os cantos por onde o novo governo se manifesta. Na última quarta-feira, porém, o ministro da Educação, o colombiano Ricardo Vélez Rodríguez, manda publicar nos domínios do MEC, no Facebook, um texto escrito todo ele em caixa alta, no qual acusa o colunista de O Globo, Ancelmo Góis, de ser agente da KGB.

Na Internet quando se escreve com letras maiúsculas é sinal de que se está gritando. A razão de tanta fúria e ódio contra um dos mais respeitados e sérios jornalistas da imprensa brasileira é uma nota sobre a TV INES.

Trata-se de um canal de televisão na WEB, mantido pelo Instituto Nacional dos Surdos – INES, entidade subordinada ao MEC. O colunista de O Globo informou que haviam sido retirados da grade de programação e do site da TV INES, 16 biografias de filósofos de esquerda do tope de Karl Marx, Marilena Chauí,  Antônio Gramsci, Antônio Névoa e etc.

Vélez Rodríguez que, no tempo em que vivia na Colômbia se orgulhava de ter sido trotskista, acusou o governo do famigerado Michel Temer de ter providenciado tamanha estupidez.

Ancelmo Gois provou, porém, que a retirada das biografias aconteceu no dia 4 de janeiro. Ou seja, três dias depois do agora reacionário Vélez Rodríguez (indicado para o posto pelo astrólogo de extrema direita, Olavo de Carvalho) ter sido entronizado no MEC.

Repleta de erros ortográficos e de concordância, a nota é uma inovação no que diz respeito à desconsideração com a liberdade de imprensa. A estrutura oficial de um órgão público, mantido com recursos da União, foi utilizada para atacar e constranger um profissional da imprensa.

Não esperem coerência deste governo. Atitudes pendulares são a marca dos que ocupam o poder, neste momento. Bolsonaro, seu vice Hamilton Mourão e todos os ministros vão sempre fazer, em público, juras de amor eterno à democracia. Só que no escurinho dos gabinetes, farão tudo para torpedeá-la.

Hitler e seu ministro de propaganda, Joseph Goebbels costumavam dizer que: “controlar os jornais e os jornalistas é o mesmo que dominar a mente da população”. Bolsonaro tem dado mostras que acredita, tenazmente, neste primado.

Este é o Brasil que nos aguarda!

(*) Arnaldo César é jornalista e colaborador deste blog.

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