No dia 28 de abril compartilhei aqui um artigo de Luís Fernando Veríssimo com o título Do iluminado Veríssimo: A Segunda vítima e na abertura escrevi o que repito agora ao republicar a coluna dele no jornal O Globo desta quinta-feira (22/09). Mudo apenas a penúltima frase: “Na veia de um Congresso Nacional que deve envergonhar a todos”.
“Sei que muitos já devem ter compartilhado o artigo de hoje do mestre e incomparável Luís Fernando Veríssimo. Mas não resisto à tentação de republicá-lo, pois acredito que muita gente que deixou de ler jornais não o acompanhe e esta crônica merece ser repercutida. É clara, límpida e direta. Na veia de uma sociedade que não pode se envergonhar de ser o que é e precisa enxergar direito o que está em volta e o que está por detrás das intenções verbalizadas.”
Ah, sim, antes do “não preciso falar mais nada” que escrevi da outra vez, faço uma ressalva a quem quiser me atacar. Não estou defendendo roubalheiras, corrupção, ou qualquer outro crime, tenham sido eles cometidos por petistas ou não petistas. E são muitos os não petistas com discursos moralistas e passados tão ou mais sujos que alguns petistas. Quem fez qualquer destas coisas tem que responder judicialmente, mas jamais ser Justiçado no sentido estrito da palavra. Respeite-se o Estado Democrático de Direito. Agora sim: “não preciso falar mais nada”.
Li que o programa de interiorização de médicos, inclusive médicos de outros países — a maioria de Cuba —, tem sido um sucesso, depois de veementemente combatido na sua implantação. Um dos resultados desta e de outras iniciativas na mesma área é que diminuiu o índice de mortalidade infantil no país, talvez o principal parâmetro para se julgar um governo. O programa da casa própria não alcançou todas as suas metas, mas alcançou o bastante para dar moradia decente a milhares de famílias. O acesso à educação superior democratizou-se como nunca antes. O Bolsa Família tirou muita gente da miséria.
O que estas e outras medidas de inclusão social têm em comum é que representam o que os neoliberais mais odeiam, que é a intervenção de um Estado centralizador no que, segundo eles, deveria ser tarefa do mercado.
O Temer já disse que não vai mexer em nenhum dos programas sociais deixados pelo PT, mas, cedo ou tarde, mesmo contra a sua vontade, a lógica de uma opção pela austeridade e pelo Estado mínimo o levará a trair sua vontade, se é que ela existe mesmo.
Você não vai para a cama com a Fiesp esperando manter sua virtude.
Se o que o PT deixou na sua longa passagem pelo governo foi fruto de contabilidade criativa, corrupção e tudo o mais que lhe atribuem, às vezes com gráficos e power point, também foi fruto de uma clara priorização de carências sociais inédita na nossa história.
Isto não é uma defesa do rouba mas faz, é uma lembrança que a passagem do PT não deixou só lixo, deixou pelo menos uma tentativa de diminuir a desigualdade e a injustiça social que nos assolam.
É difícil encontrar entre os analistas econômicos do país um defensor do Estado keynesiano. Para ter algum tipo de respaldo na crítica ao nosso conservadorismo reacionário, deve-se recorrer a estrangeiros, gente como o Paul Krugman, o Joseph Stiglitz e agora o Thomas Piketty, que chama a austeridade pregada pelo capital financeiro pelo seu nome verdadeiro, um ardil para o status continuar quo, num mundo dominado pelo neoliberalismo.
(*) Crônica publicada nesta quinta-feira (22/09) no jornal O Globo