Na definição do vice-presidente no exercício interino da Presidência da República, Michel Temer, o assassinato do soldado da PM de Roraima, Hélio Vieira Andrade, a serviço da Força Nacional no Rio de Janeiro, foi um “lamentável acidente, mas que foi imediatamente combatido“.
Ainda que a palavra “acidente” em uma das definições do dicionário Houais seja “qualquer acontecimento, desagradável ou infeliz, que envolva dano, perda, lesão, sofrimento ou morte”, a primeira das previsões dele é “acontecimento casual, inesperado, fortuito“. O assassinato do policial não teve nada de casual, inesperado ou fortuito.
Logo, ao pé da letra e da definição de Houaiss, acidente foi o que ocorreu, por exemplo, com a ciclista holandesa Annemiek van Vleuten ao sofrer uma queda no domingo , 7 de agosto, na disputa da prova do ciclismo de estrada nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Ou o infortúnio vivido pela ginasta olímpica Jade Barbosa, na quinta-feira diz 11, quando no meio de sua apresentação final do individual geral feminino, na Arena Olímpica da Barra.
Usando o próprio dicionário Houaiss, a melhor definição para o assassinato do policial é simplesmente “atentado”: “infração das disposições legais; ato criminoso ou tentativa de sua perpetração contra pessoas, ideias etc.; ato ofensivo; violação”.
Até por não ter sido a primeira vez que isso ocorreu no mesmo local. Nos arquivos policiais do Rio e da própria imprensa há outros casos idênticos: no último dia 17 de junho, por exemplo, Maria Lucila Barbosa, de 49 anos, foi atingida na perna direita após sair da Avenida Brasil e acessar a Vila do João.
O carro em que estava, tal como aconteceu com o carro da Força Nacional que transportava o soldado Andrade, procurava o caminho da Linha Amarela e, por engano ingressou na comunidade da Vila do João dominada pelo tráfico. Foi também o que aconteceu, em 8 de junho de 2013, com o engenheiro Gil Augusto Barbosa, de 53 anos, baleado na cabeça ao entrar por engano na mesma comunidade.
Ao que parece, não fii a primeira vez e nem será a ultima. Na quinta-feira (11/08), um dia após o atentado ao carro da Força Nacional, o motorista de uma transportadora de São Paulo, Vinícius Nascimento Junqueira, esteve na mesma situação. Seguia pela Linha Amarela e entrou por engano na Vila do João, onde foi recebido a tiros. Conseguiu fugir e chegar à Avenida Brasil, com o caminhão perfurado a bala.
Isto mostra que não se trata de algo fortuito, um acaso, um acidente. Mas, atentados corriqueiros em uma das áreas da cidade ainda dominada pelo tráfico, mesmo depois de o Complexo da Maré – conjunto de 18 comunidades às margens da Baía de Guanabara, tr sido ocupado por 13 meses por forças militares do Exército e da Marinha.
O descompasso do vice-presidente que exerce interinamente o cargo de presidente por conta do golpe do impeachment chegou ao ponto dele decretar luto oficial de três dias pela morte do soldado. Sem tirar o direito de se respeitar a vítima, homenageá-la e dar todo o conforto à sua família, o luto oficial é questionável.
Afinal, durante os 15 meses – com um gasto de R$ 560 milhões – em que forças do Exército, com o auxílio da Marinha, ocuparam o Complexo da Maré (2014/2015) o cabo Michel Mikami, do Exército, de 21 anos, morreu, em 28 de novembro de 2014, atingido por uma bala na cabeça no confronto com criminosos. Ele estava em missão oficial. Nem ele, nem os oito civis mortos, alguns inocentes, durante esta ocupação foram sequer lembrado na nota publicada em 30 de junho de 2015, pelo ministério da Defesa, ao anunciar a saída dos últimos 3 mil homens das duas forças militares daquele território urbano.
Não houve luto decretado. Apenas a lamentação de sempre do governo como na nota do então governador do Rio, Luiz Fernando Pezão: “Minha solidariedade à família do militar, que perdeu a vida na defesa da paz. Vamos perseguir até o fim a pacificação na Maré e em outras comunidades do Rio. Nada nos fará recuar”.
Na verdade, nada o fizeram avançar. Até hoje a instalações da UPPs naquele complexo formado por 16 comunidades, que abrigava, à época, mais do que os 129.770 habitantes contabilizados pelo Censo de 2010 do IBGE, não saiu da promessa das autoridades. Nem a perspectiva de realizar os Jogos Olímpicos , fez o governo investir como deveria na área.
O luto oficial pode ser entendido de forma diversa, como mostra Luís Nassif na reportagem Os motivos para transformar o soldado baleado em herói nacional, no Jornal GGN. O governo interino precisa buscar inimigos e por isso tenta criar heróis.
Isto fica claro nas palavras de outro membro deste governo interino, o ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Sérgio Etchegoyen. Ele se reuniu com outras autoridades ligadas a área de segurança na sexta-feira (12/08) e concluiu que “não há ajustes a se fazer no esquema de segurança da Olimpíada Rio 2016”. O general, um prócer do Estado Milita, da linha dura, que sempre apoiou e continua elogiando a ditadura militar que vigorou no país a partir de 1964, afirmou não concordar com a análise de que houve mais preocupação com ameaças externas – em alusão ao terrorismo, em uma referência à Operação Hashtag ( leia, a propósito, Defensora recorre ao Supremo contra isolamento dos “terroristas tupiniquins”) – do que internas, no planejamento da segurança da Olimpíada. “A Olimpíada é muito maior. O espírito olímpico superou o espírito de porco”, concluiu o general.
A preocupação com a segurança interna foi tanta que mesmo após o atentado que vitimou o soldado Andrade – apesar de o presidente interino ter dito que “houve ação imediata das forças estaduais e federais” em represália ao ataque – que as buscas pelos responsáveis pelo assassinato não deram em nada. A não ser imagens para TVs e jornais divulgarem com a Força Nacional e a Polícia Militar ocupando novamente a Comunidade. Não só não encontraram os responsáveis como ainda não evitaram que o caminhão de Junqueira fosse baleado.
Descompasso também na Olimpíada – Mas, o descompasso do presidente interino avança também com relação ao desempenho do Brasil nessa Olimpíada mostrando que ele não acompanha como deveria o desempenho do Brasil. Certamente por estar, na verdade, mas preocupado em consumar o golpe que derrubou a presidente eleita com 54 milhões de votos para ele poder usurpar a cadeira de presidente, à qual jamais chegaria se não fosse pelo golpe.
Temer, ao diminuir a questão da seguranç em um ritmo normalíssimo, com muitos brasileiros ganhando medalhas. Tenho a absoluta convicção que as olimpíadas farão com que o Brasil seja mais uma vez reconhecido pelo mundo.”
Se o presidente interino estiver sendo bem informado saberá que o reconhecimento que vem sendo feito do país no exterior versa muito mais sobre o golpe que ele ajudou a protagonizar do que o espírito olímpico propriamente dito.
Mas, até mesmo quando ele fala que os Jogos Olímpicos “estão transcorrendo em um ritmo normalíssimo, com muitos brasileiros ganhando medalhas”, demonstra quer não acompanha direito o que ocorre no Rio. Até o momento em que este artigo está sendo escrito, domingo (14/08) pela manhã, o quadro de medalhas conquistadas por brasileiros resume-se a 5: um ouro, da fantástica Rafaela Silva: uma prata, de Felipe Wu; e dois bronzes no Judô, de Mayra Aguiar e Rafael Silva. A quinta medalha nos será dada por Robson Conceição, no boxe, já que nesta manhã ele derrotou o cubano e chegou à final na sua categoria. Poderá ser ouro ou prata.
Mas, ainda assim, as perspectivas não são de grandes melhoras, até por já terem terminado as disputas em natação e nenhum medalha ter sido conquistada pelos nossos representantes. Mas, o que importa aqui, é que até com relação ao que acontece nos ginásios e arenas do Rio, Temer mantém-se descompassado.
* Editado às 14:00 Hs, para acertar o estado de origem do soldado Helio Vieira de Andrade. Ele é de Roraima e não Rondônia, como escrevemos anteriormente. Aos leitores e aos familiares dele, meu pedido de desculpa.
2 Comentários
Calado, o traidor-golpista-usurpador-corrupto, michel temer, é um poeta. Mas se abre a boca, mais do que o poetastro que concebeu “Anônima intimidade”, revela-se o anão moral e político, o ser mesquinho, desprezível que ele é.
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