A greve do dia 28 começa a mostrar resultados, ainda que não totalmente como deseje a maioria da população brasileira. O susto que governistas e parlamentares tomaram com a mobilização – a maior já ocorrida em termos de braços cruzados dos trabalhadores, já faz senadores anunciar que vão rever a Reforma Trabalhista, aprovada de forma açodada na Câmara dos Deputados.
O próprio Projeto de Reforma da Previdência, que o Senado aprovou, na Câmara começa a sofrer mudanças, como se verificou na tarde de quarta-feira (03/05) ao ser apreciado pela sua Comissão Especial. São mudanças ainda pouco significativas, aquém do que a população deseja e passando ao largo de um maior debate com a sociedade, em especial os sindicatos e movimentos sociais organizados.
Mais importante, porém, é que, o governo que após dar um golpe para chegar ao poder tentar empurrar essas mudanças goela abaixo da sociedade, se viu obrigado a novo recuo com relação a data de votação desse projeto. Apesar de aprovar o texto principal, a Comissão Especial não conseguiu apreciar os destaques com emendas ao projeto original, algumas das quais douram a pílula, apresentando pequenas modificações que ainda não satisfazem à classe trabalhadora.
A oposição continua empenhada em impedir a votação do projeto, aprovado por 22 votos na Comissão Especial, no plenário da Câmara – último passo para a lei depois ser sancionada por Michel Temer. Por isso, é importante a pressão dos eleitores, trabalhadores, movimentos sindicais e sociais organizados e das igrejas que já se manifestaram contra a mudança na previdência como está sendo proposta. UM passo importante é divulgar quem votou a favor dela, denunciando esses deputados publicamente (veja lista abaixo).
Derrubar as duas reformas pode ser o primeiro passo para se chegar a uma mudança de governo. É preciso, sem violência, impedir essas votações, na Câmara (Projeto da Previdência) e no Senado (Reforma das Leis Trabalhistas). Esse é o caminho para mostrar que este governo não consegue governar e que, portanto, deve cair por falta de legitimidade. Abaixo o artigo de Wadih Damous.
No dia 28, os trabalhadores e trabalhadoras do Brasil fizeram história. Cerca de 35 milhões de brasileiros participaram da greve geral e das manifestações convocadas pelas centrais sindicais e movimentos sociais.
Agora, a luta pela reconquista da democracia alcança outro patamar. O caminho é em linha reta até que os coveiros do regime democrático sejam derrotados e os direitos da classe trabalhadora e do povo respeitados.
O povo protagonizou a maior greve geral já ocorrida no país porque não aceita que a camarilha de bandidos que se instalou no Palácio do Planalto continue roubando seu dinheiro e seus direitos; porque sabe que as reformas de Temer destroem seu presente e comprometem seu futuro; porque não tolera um governo que já produziu 14 milhões de desempregados; porque despertou para a urgência de pôr um freio na entrega das riquezas nacionais aos estrangeiros.
O sucesso da greve representa uma amarga derrota para o monopólio midiático brasileiro liderado pela Globo. Além do papel destacado no consórcio do golpe, a mídia velhaca dita a agenda do governo golpista e aplaude entusiasticamente as reformas trabalhista e previdenciária mesmo diante de todas as evidências de que elas levarão de roldão as mais comezinhas conquistas históricas da cidadania, da legislação trabalhista de Vargas aos governos de Lula que tiraram da miséria 40 milhões de pessoas, passando pela Constituição cidadã de 1988.
A cobertura da greve geral feita pelos veículos das Organizações Globo atingiram as raias do ridículo e do patético. Não que se esperasse quaisquer resquício de respeito a premissas básicas do bom jornalismo, há muito abandonados pelo conglomerado da família Marinho, mas classificar um movimento de envergadura nacional que mobilizou milhões de trabalhadores como mera “baderna sindical” é de uma pobreza de espírito de dar dó. O Brasil todo ou participou ou viu a greve acontecer diante de seus olhos. Mas a Globo aposta na autoimolação, na desmoralização completa.
Deu gosto circular pela cidade do Rio acompanhando a greve e os atos promovidos pela classe trabalhadora. Seja no Aeroporto Santos Dumont, obrigado a cancelar dezenas de voos, no Sindicato dos Estivadores, cujos trabalhadores enfrentaram de cabeça erguida a invasão da polícia a serviço do capital e da reação; no ato dos enfermeiros e demais servidores da saúde do Instituto de Traumatologia e Ortopedia ou no Palácio Guanabara e na ALERJ, lado a lado com os servidores no protesto contra a roubalheira e o não pagamento dos salários, pude testemunhar a força e a determinação classista e patriótica que impulsionaram a greve.
Os resultados já se fazem notar. Senadores nos emitem sinais de que a aprovação da reforma trabalhista no Senado não será propriamente um passeio no parque, uma vez que um grande número deles não se curvará ao lixo votado na Câmara.
As centrais sindicais serão chamadas a opinar e o debate será retomado. O governo caminha também para a derrota com seu projeto de reforma da Previdência. Tudo indica que os bandidos não terão apoio suficiente para aprovar o fim da aposentadoria das pessoas.
No fim do dia, a Polícia Militar dissolveu de forma criminosa a manifestação pacífica convocada pelas centrais sindicais e movimentos sociais. Agindo como jagunços os policiais despejaram bombas a granel sobre a multidão, chegando ao ponto de jogá-las no palco onde eu me encontrava junto com outros colegas parlamentares, dirigentes sindicais e dos movimentos sociais.
Em mais uma demonstração cabal de que vivemos em pleno estado de exceção, a PM não só acabou com protesto legal, pacífico e amparado pela Constituição da República, como perseguiu as dezenas de milhares de homens e mulheres que tentavam deixar o local atirando-lhes bombas e balas de borracha.
Essa ação truculenta e fascista dá bem uma dimensão do nível de degradação a que chegou o governo Pezão. Não bastasse chafurdar no fundo do poço da corrupção e da incompetência, o governo do estado vai adquirindo notório saber no quesito agressão covarde a gente que luta por uma sociedade mais justa e igualitária.
(*) Wadih Damous, deputado federal, ex-presidente da OAB-RJ, ex-presidente da Comissão Estadual da Verdade (CEV) do Rio de Janeiro.