Para quem ainda tem alguma dúvida que impeachment é golpe…..
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Moreno se equivoca: MST também é parte – importante – no pacto.

Marcelo Auler

Manifestantes ligados a grupos sociais contra o impeachment: MST, CUT e Pequenos Agricultores estão acampados próximo à Esplanada dos Ministérios desde o último final de semana à espera da votação deste domingo. Foto:Elza Fiúza/Agência Brasil

Manifestantes ligados a grupos sociais contra o impeachment: MST, CUT e Pequenos Agricultores estão acampados próximo à Esplanada dos Ministérios desde o último final de semana à espera da votação deste domingo.
Foto:Elza Fiúza/Agência Brasil

Em setembro passado, no sábado dia 28, postei aqui três notas concordando com meu amigo Jorge Basto Moreno, colunista de O Globo. A primeira deles foi O Moreno tem razão (1): a promiscuidade tem que acabar. Hoje, sou obrigado a discordar totalmente dele.

Na sua coluna deste sábado (16/04)  ele critica a visita que Dilma Rousseff prometera fazer, na manhã de hoje, ao acampamento dos representantes dos movimentos sociais, entre os quais o Movimento dos Sem Terra (MST), junto ao Ginásio Esportivo de Brasília,

A visita não ocorreu. Dilma entendeu ser melhor ficar no Palácio recebendo políticos em busca dos votos que poderão consolidar sua vitória. Foi lamentável esta decisão. Não custava gastar meia hora que fosse, para se encontrar com representantes destes movimentos. Ao que tudo indica, Lula irá visitá-los.

Moreno, que equiparou esta visita da presidente a ida do presidente João Goulart ao comício da Central do Brasil, poucos dias antes do golpe civil/militar de 1964, entendeu que o gesto de Dilma inviabilizaria o pacto por ela proposto, após a vitória na votação de domingo. “É a volta ao seu leito ideológico original, mandando às favas qualquer tentativa de retorno à coalização com a direita”.

Grande equívoco prezado Moreno. Primeiro porque, se falamos em pacto, à mesa terão que sentar representantes de todos os setores da sociedade, inclusive e principalmente, os movimentos sociais que, queira-se ou não, aglutinam um maior numero de membro da sociedade, de cidadãos tão brasileiros como os empresários. Aliás, como Frei Betto e Leonardo Boff não cansam de dizer, o PT começou a se perder quando deixou de lado o diálogo com estes movimentos, que ajudaram a criar a a fazer crescer o partido. Manteve (o diálogo) apenas com as elites.

Aposto que se Dilma fosse visitar um grupo de ruralistas ao lado da sua amiga,a a ministra da Agricultura Kátia Abreu, Moreno não diria que ele estava colocando em risco o pacto prometido por fazer uma opção à direita. Não admiro Katia Abreu nem a truculência de muitos – não todos, ressalvo – dos empresários do chamado agronegócio. Mas reconheço que eles fazem parte da sociedade, são representantes do setor em que militam e, por isso, devem ser ouvidos. O que não se pode é privilegiá-los em detrimento dos pequenos e médios agricultores, da chamada agricultura familiar. E nos governos petistas, agronegócio, assim como banqueiros, receberam benefícios em demasia. Já os movimentos sociais foram deixados de lado. Cadê a reforma agrária, por exemplo?

João Pedro Stédile encontra o papa  Foto L'Oosservatore Romano

João Pedro Stédile encontra o papa
Foto L’Osservatore Romano

Liderança reconhecida – Além disso, Moreno não levou em conta outro fator muito importante que Lula e Dilma andaram esquecendo, como lembram Betto e Boff. A representatividade de um João Pedro Stédile junto a seu grupo é muito maior do que a de Kátia Abreu com os ruralistas. Tanto assim que, por duas vezes, ele foi chamado ao Vaticano para participar de debates sobre temas atuais e perspectivas econômicas dos excluídos. Por acaso Kátia Abreu teve convite semelhante?

Em dezembro passado, ao editar no blog um artigo de Boff sobre Stédile  – Compartilho: “O Natal do “capeta” abençoado pelo papa    – dizíamos sobre o maior líder do Movimento dos Sem Terra:

“Stédile esteve reunido no Vaticano pela primeira vez em dezembro de 2013, conforme noticiamos na revista Carta Capital em fevereiro de 2014, na reportagem O Cajado de Francisco. Ali, junto com outras lideranças dos movimentos sociais, participou do encontro que debateu “A Emergência dos Excluídos”.

Em outubro de 2014, o papa voltou a reunir cem organizações populares do planeta, das associações camponesas aos cocaleiros, dos catadores de lixo aos movimentos cooperativos, para um encontro em que o debate foi em torno de “Terra, Casa e Trabalho”. E lá estava Stédile de novo”.

Ou seja, não faz sentido falarmos em pacto nacional no Brasil e não levarmos à mesa os líderes de movimentos sociais e populares, com representatividade reconhecida internacionalmente, inclusive por aquele que tem se destacado como o mais importante líder político/religioso da atualidade, o Papa Francisco.

Volto a insistir – apesar de alguns leitores, cujos comentários admiro, não pensarem igual e talvez até me criticarem -, os governos do PT erraram ao abandonarem o diálogo e as bandeiras dos movimentos sociais. Os mesmos movimentos sociais que nunca os abandonaram, como o acampamento de Brasília demonstra. Pois, na hora do aperto não são os ruralistas liderados por Kátia Abreu, nem os banqueiros e empresários, que vão se solidarizar e brigar pela manutenção da Democracia e do Estado de Direito.

Estes (ruralistas, banqueiros e empresários), estão em suas fazendas ou casas de praia curtindo seu final de semana, enquanto os militantes dos movimentos sociais – MST, Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, Via Campesina, CUT e demais sindicalistas,entre outros -, abrem mão do mesmo final de semana para, acampados e, provavelmente mal instalados, se fazerem presente e ajudarem a pressionar os políticos para não cometerem mais um golpe contra a Democracia.

Desculpe, Moreno, mas desta vez você pisou na bola.

3 Comentários

  1. João de Paiva disse:

    Caro Marcelo Auler,

    Na ocasião que você elogiou o colega, eu o critiquei por isso. Eu sabia que Moreno não tinha razão nem naquele momento e muito menos agora. Por questão de amizade e de ter trabalhado com ele você talvez não tenha percebido que ele, Jorge Bastos Moreno, está do outro lado do muro, do lado errado da Política e da História.

    Há alguns meses deixei de debater com colegas e amigos, pois tenho certeza de que eles estão do lado errado; e não quero perder a amizade deles. É bom que você, um jornalista profissional, independente, sério, reconheça que comete erros e auto-enganos. Eu e muitos leitores denunciamos que a Lava a Jato era instrumento dos golpistas para enfraquecer o governo e permitir o golpe midiático-jurídico-parlamentar. Você e outros jornalistas independentes custaram a admitir isso. Hoje a trama e os artífices do golpe (parlamento brasileiro, CIA, NSA, Pentágno, Dep. de Estado dos EUA, MPF e PGR, PF, sérgio moro e outros juízes -inclusive do STF) está clara como o sol do meio-dia.

    Sobre reconhecer erros e auto-enganos, vale a máxima: antes tarde do que nunca.

  2. Infelizmente, não creio que a vitória contra os golpistas possa sensibilizar Dilma Rousseff.
    Já andou declarando pacto sem vencedores ou vencidos, e isso quer dizer claramente dar mais um gás aos golpistas derrotados, para que se reúnam novamente em nova tentativa.
    Quando é que está senhora vai aprender, meu deus??
    Dilma, você já apanhou demais daqueles que não te querem, olha pra cá, pro povo, pra esquerda, muda essa política econômica ridícula, acabe com esse modelo neoliberal de gestão, corte essas alianças espúrias. O processo de Impeachment serviu para separar claramente o joio do trigo, golpistas de aliados e oposicionistas honestos.
    A hora é agora!

  3. Francisco de Assis disse:

    Marcelo, seu amigo Moreno não passa de um lambe-cu dos Marinho e de Temer. Desculpe a crueza, mas infelizmente é assim que é. E Moreno não virou (e há muito tempo) menino de recado privilegiado do golpista canalha Temer à toa, ele sabe muito bem que será bem recompensado se o golpe, que auxilia, vingar.

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