Ministério da Justiça nega omissão sobre TIs indígenas
10 de abril de 2025

Marcelo Auler

Na expectativa de evitar nova crise, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva convocou, de forma extraordinária, os reitores de universidades e institutos federais para reunião às 08h00, na terça-feira (27), no Palácio do Planalto. O “convite”, que surpreendeu, foi feito pelo ministro da Educação, Camilo Santana.

A convocação inesperada levou reitores e reitoras a cancelarem compromissos marcados nas suas instituições. Na percepção de alguns, o governo percebeu que pegou super mal essa contenção de despesas. Como as reações e os protestos mais fortes surgiram nas universidades, convocou-as para conversar.

Os protestos surgiram com o anuncio de que os repasses para as entidades federais serão retardados. Informação que precedeu o anúncio da área econômica, na quarta-feira (21), do contingenciamento de R$ 30 bilhões no orçamento.

Apesar da convocação para o encontro com o presidente Lula, as expectativas são limitadas: “acho que darão uma recuada sem deixarem claro que é recuada”, expos um cientista social envolvido na briga por verbas. Ele não acredita que o recuo atenderá às necessidades: “dificilmente recomporão tudo que retiraram. Duvido que cancelem a medida”, insiste, pontuando em seguida:

“Infelizmente a verdade é que o capital tem mais poder de fogo. No caso do IOF o governo recuou, mas no caso das universidades não se espera que recue muito”.

SBPC e ABC protestaram em nota

O anúncio dos “atrasos” nos repasses levou a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC), através de seus presidentes, Renato Janine Ribeiro e Helena Bonciani Nader, em 19 de maio, divulgarem nota pública – “Corte Orçamentário Ameaça a Sobrevivência das Universidades Federais e o Futuro do País” – em que alertam para a situação preocupante:

“A decisão de liberar apenas no final do ano um terço dos recursos previstos inviabiliza o funcionamento básico dessas instituições, comprometendo de forma severa o funcionamento das universidades federais brasileiras, bem como afetando diretamente a manutenção de suas atividades administrativas, acadêmicas e científicas ao longo do ano”, diz a nota, que destaca ainda a importância das pesquisas

“Mais de 90% da pesquisa científica brasileira é resultado das pesquisas realizadas nas universidades públicas do país. A limitação orçamentária imposta não apenas ameaça a continuidade das pesquisas, como também compromete a formação de profissionais altamente qualificados, essenciais para o desenvolvimento econômico, social e tecnológico do país. Ao adiar e diminuir significativamente a liberação de recursos, o governo dificulta o funcionamento dessas instituições, comprometendo sua capacidade operacional.”

 Começa a faltar remédios e comida

A corroborar o alerta sobre os riscos das instituições pararem de atender, o Instituto de Psiquiatria (IPUB) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na terça-feira (20/05), tornou público que “pela primeira vez em sua história está sem medicamentos para distribuir aos seus pacientes ambulatoriais. Estamos sem recursos para manter nossas atividades acadêmicas e assistenciais”.

Na sua nota o IPUB destaca ainda “A verba do PRHOSUS destinada aos hospitais universitários não chegou e não há previsão de chegada.

Achamos importante que a população da nossa cidade tome conhecimento do que está ocorrendo. Estamos tentando junto a própria UFRJ, ao Ministério da Educação (MEC) e ao Ministério da Saúde (MS) Receber aquilo que nos é de direito, mas até agora não tivemos nenhuma resposta”.

Na quinta-feira os protestos ocorreram no Conselho Universitário (Consuni) da UFRJ. Ali, a enfermeira Luciana Borges, que além de representar os servidores administrativos no Conselho é a coordenadora de Comunicação do Sindicato dos Trabalhadores na UFRJ (Sintufrj), citou que por falta de comida houve a recusa de pacientes no Instituto Ginecologia, do Hospital Universitário:

“Nós chegamos à suspensão, dia 16 de maio, da internação dos pacientes, tanto clínicos como cirúrgicos, do Instituto de Ginecologia, por conta da interrupção do fornecimento da alimentação pela empresa do Nutrinorte”. E acrescentou: “Verificamos o comprometimento da saúde devido a esse déficit orçamentário, impactando diretamente na saúde da nossa população”.

A conselheira anunciou a presença de pacientes do Hospital Universitário que informaram que o aparelho usado na radioterapia está quebrado há mais de 15 dias, sem previsão de reparo.

Lembrou que muitos pacientes vêm de outros municípios, mesmo sem tratamento são obrigados a ficar na cidade o dia inteiro esperando o transporte e nem são avisados de que o tratamento está suspenso. “Precisamos de uma intervenção imediata sobre esses cortes. Não dá mais para aguardar”, pontuou

A Nota Pública da SBPC e ABC ainda alerta que a redução de verbas para as universidades poderá colocar em risco outra das principais políticas públicas do governo Lula que é a inclusão social dos mais pobres através do processo de cotas.

Como ressalta a nota, os jovens mais pobres poderão sofrer tambem caso a politica de ctas seja afetada, uma vez que as “universidades públicas são a porta de entrada para milhares de estudantes pobres, negros e periféricos que dependem delas para romper o ciclo da desigualdade”.

Hospitais Universitários atingidos

Na sexta-feira (25/05), em entrevista no programa Brasil Agora da TV 247, Janine Ribeiro além de reafirmar tudo isso, ele lembrou que o contingenciamento das verbas das universidades, ainda que não atinja salários, suspende diversas outras despesas. Falou, por exemplo, dos alunos bolsistas, muitos dos quais dependem desse auxilio para sobreviverem .

Mas tambem reforçando as críticas feitas pelo IPUB da UFRJ, Janine Ribeiro lembrou no programa que o número de pessoas prejudicadas em atendimentos médicos poderá ser bem maior do que se imagina:

“Parte importante dos atendimentos de saúde no Brasil é feita pelos hospitais que pertencem a universidades (…) há um número muito grande de hospitais universitários no Brasil que estão no orçamento do ministério da Educação e no orçamento do ministério da Saúde aparecem parcialmente. O efeito do corte não é apenas para professores e pesquisadores afeta também essa galera toda que precisa de atendimento nesses hospitais, como no caso das doenças psiquiátricas no Rio”.

 

 

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