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Arnaldo César  (*)

Michel Temer, Renan Calheiros e Eduardo Cunha, todos estão às voltas com denuncias de caixa 2. Agora querem anistia...... Foto reprodução

Michel Temer, Renan Calheiros e Eduardo Cunha, todos estão às voltas com denuncias de caixa 2. Agora querem anistia…… Foto reprodução

Começa a se espraiar pelos bastidores de Brasília a ideia de uma anistia ampla, geral e irrestrita para os políticos as voltas com as suas respectivas prestações de contas de campanha.  Trata-se de um escárnio em seu mais alto grau de pureza. Alguns juristas já estão vindo a público para dar ares de seriedade à traquinagem.

Admitem a hipótese, desde que os “faltosos” concordem em pagar uma multa pelo dinheiro desviado.

Por enquanto, o absurdo vem sendo tratado à boca pequena. Alguns colunistas da grande imprensa, cheios de dedos, tratam do assunto com reservas. O momento não é propicio. O melhor seria falar sobre isso depois do bota fora da presidente Dilma, previsto para o início de setembro.

A sugestão desta absurda “anistia aos corruptos” desnuda de vez as verdadeiras razões pela qual a presidente, legitimamente eleita, está sendo impiedosamente golpeada. Do seu pretenso substituto, o insosso Michel Temer, ao mais insignificante dos ministros indicados por ele, todos têm contas a acertar com a Justiça.

O mesmo pode-se dizer de seus algozes nos parlamentos. Eduardo Cunha – que pilotava a Câmara Federal e iniciou naquela Casa todo om processo de impeachment – tem uma coleção seis processos no Supremo Tribunal Federal. Seu confrade no Senado, Renan Calheiros, acumula outros 12.

Estamos falando apenas do STF. Outras ações por fraude, adulteração de documentos, peculato, crimes ambientais e etc. não estão computadas nesta estatística. Se tudo for levado em consideração, Eduardo Cunha, por exemplo, responde a algo como 22 diferentes processos.

Aécio Neves e José Serra, apesar do beijo, são tucanos que não se bicam. Mas haverão dfe jogar juntos por uma anistia que salve os dois das delações que estão surgindo. Foto: reprodução

Aécio Neves e José Serra, apesar do beijo, são tucanos que não se bicam. Mas jogarão juntos por uma anistia que salve os dois das delações que estão surgindo. Foto: reprodução

Isso também não leva em consideração a enxurrada de denúncias que irão surgir contra Temer e seus “parceirinhos” no Congresso e no ministério com as delações premiadas dos dirigentes das megas empreiteiras Norberto Odebrecht e a OAS.

Depois das encrencas dos R$ 10 milhões que a Odebrecht entregou em dinheiro sonante nas mãos dos comparsas de Temer, são igualmente vistosos os R$ 23 milhões colocados na conta corrente do atual chanceler, José Serra, uma das figuras de proa do PSDB.

O próprio interino usurpador já admitiu publicamente que a presidente não cometeu os crimes de responsabilidade pelos quais está sendo acusada. Seus pecados, de acordo com o constitucionalista Temer, são de ordem política. E, por isso, será catapultada do Palácio do Planalto.

Não vem ao caso, invocar o que está escrito na Constituição em vigor no País. Ela, como bem deveria saber o ex-professor de direito constitucional, não prevê impeachment por razões políticas. Na lógica dos golpistas os interesses políticos estão acima da lei, da ordem e da vontade dos 54 milhões de brasileiros que elegeram Dilma.

“República dos Ladrões” já se transformou numa logomarca do momento em que estamos vivendo na política nacional. Estigmatizar o golpe e os seus autores não resolve nada. O problema é que a opinião pública, a única força capaz de acabar com tanta patifaria, está apática.

Assiste toda a sorte de vilanias como se estivesse na frente da televisão se divertindo com uma das muitas novelas globais. A democracia brasileira, construída com todo esforço e sofrimento por várias gerações, está indo para o ralo. Boa parte dos cidadãos – sejam de esquerda ou de centro – perdeu o ânimo de se indignarem.

Quando setembro chegar, não será surpresa que a insensatez de uma “anistia” aos políticos corruptos ganhe corpo e passe a ser tratada no “Jornal Nacional” como: “uma das medidas mais eficazes para pacificar este País tão polarizado pela crise política”.

O Brasil não merece tamanha idiotice.

(*) Arnaldo César é jornalista

4 Comentários

  1. Christina disse:

    Sentia a falta dos artigos do Arnaldo César !
    Claros , limpos e assertivos .

  2. C.Pimenta disse:

    Paiva, aqui vai um excelente texto sobre o fascismo entranhado no MP brasileiro do qualificado portal “Justificando”:

    http://www.justificando.com/2016/08/16/o-ministerio-publico-tem-sido-o-grande-representante-do-fascismo-na-sociedade-brasileira/

    • João de Paiva disse:

      Obrigado, C. Pimenta.

      Ontem tive a oportunidade de lê-lo, já que reproduzido pelo Fernando Brito, no Tijolaço. Mais do que ler, fiz questão de gravar digitalmente e fazer uma cópia impressa. Sabe como é: quando há um golpe de Estado, com a conivência e participação da burocracia estatal (PF, MP e PJ), a perseguição política, a repressão e a censura são armas de uso imediato por parte dos golpistas. Afinal um golpe só se estabelece pela força, pela perseguição política aos opositores, censura aos jornalistas independentes e repressão aso movimentos sociais e reivindicatórios que denunciam o golpe e os golpistas. O próprio Marcelo Auler, perseguido e censurado pelos delegados da SR/DPF/PR, que cometeram ilegalidades criminosas, denunciadas e provadas em reportagens publicadas neste blog, é um exemplo do que cada um de nós pode sofrer neste período de trevas em que o Brasil mergulhou.

  3. João de Paiva disse:

    Prezado articulista, prezados leitores.

    Tenho conclamado jornalistas e ‘blogueiros’ independentes, responsáveis pelos blogs e portais que fazem o verdadeiro jornalismo, em tempos de internet e redes sociais, a convidar juristas, advogados, delegados e policiais federais aposentados, e mesmo procuradores e alguns juízes que prezam pelo Estado Democrático e pelo respeito às Leis e à Constituição Federal, para que esses ‘operadores do Direito’ escrevam artigos contundentes contra os atores do golpe de Estado, sobretudo os que integram ORCRIMs institucionais, de que participam policiais federais, procuradores do MP e juízes; um exemplo clássico desse tipo de ORCRIM é a operação Farsa a Jato, a mais perigosa quadrilha em atividade no País.

    Certamente muitos dos leitores deste blog devem ler também o que é publicado no portal GGN. Quem lê os comentários que posto lá deve ter percebido que sobre a olimpíada e sobre a reação e percepção que observo nas pessoas, ao caminhar pelas ruas e praças do centro do Rio, é de apatia e indiferença. Eu fiz essa observação em resposta a um comentário indignado de outro leitor do GGN, que erroneamente via euforia e empolgação do público com os jogos olímpicos, como que ignorando o golpe de Estado e curso no País.

    A mídia criminosa e golpista, O PIG/PPV, conseguiu desmobilizar as camadas pobres e trabalhadoras, mas não conquistou o apoio delas para o golpe. Todas as pesquisas feitas com a turma que vestiu verde e amarelo, pedindo a destituição da presidenta Dilma, mostraram que o público que foi à Av. Paulista, a Copacabana e outros espaços públicos nas grandes cidades brasileiras, convocado pela globo, não era composto pelos estratos da base social, ou seja, dos trabalhadores assalariados de baixa renda, dos desempregados e excluídos social e economicamente. Além da elite plutocrática, os que foram às ruas em favor do golpe eram integrantes de classe média e média-alta, arrogantes, mal informados, analfabetos políticos, sociais e históricos, embora cheios de títulos acadêmicos (Aliás, o pior tipo de analfabeto político, social e histórico é este composto por pessoas arrogantes, que se acham mais inteligentes e bem informadas que as outras ou que, pelo fato de terem mais anos de escolaridade formal, consideram ter opinião mais qualificada ou de maior valor que a das pessoas com menso anos de estudo formal.)

    Nos parágrafos finais deste artigo, o jornalista Arnaldo César crava a mesma conclusão por mim escrita no comentário-resposta, que postei no GGN. Portanto precisamos mobilizar as massas, retirando-as da letargia, da apatia e da indiferença. E só conseguiremos isso mostrando o mal que o governo golpista representa e os direitos que eles estão tirando dos mais pobres e das classes trabalhadoras. Isso tem de ser feito todos os dias, em todos os locais possíveis: nos ônibus, nos trens, nos metrôs, nas ruas, nas praças, nas filas de banco e de repartições, nos tetros, nos cinemas, nas escolas, nos canteiros de obra, no campo, nos assentamentos, na periferia, nas favelas.. Enfim, em todos os locais onde haja pessoas dos estratos sociais mais pobres e secularmente excluídos, os maiores perdedores e as maiores vítimas desse governo golpista e suas quadrilhas políticas e institucionais, que se locupletam das riquezas do País e que se portam como vassalos do grande império, onde está o alto comando do golpe.

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