Quando, na visita de hora e meia que fez na tarde de segunda-feira (07/05), Leonardo Boff sugeriu a Lula que além da intercessão dos tradicionais santos e santas dos altares ele apelasse para “àquela que viveu e sofreu, santificou-se no cuidado da vida de seus filhos”, referindo-se a mãe do ex-presidente, dona Lindu, os dois, abraçados desabaram em um choro emocionado.
Boff, após ter sido barrado na porta da Polícia Federal, em 19 de abril, foi o primeiro religioso a estar com Lula nas chamadas visitas para Assistência Espiritual. Elas são fruto de uma negociação entre os advogados do ex-presidente e o superintendente da Polícia Federal no Paraná, Maurício Leite Valeixo. Ocorrerão sempre nas tardes de segundas-feiras.
Na próxima semana será a vez de dom Angélico Sândalo Bernardino, bispo emérito de Blumenau (SC). Ele também convive com Lula há 40 anos, desde a época em que o ex-presidente surgiu como líder metalúrgico. Período em que dom Angélico servia como bispo auxiliar de dom Paulo Evaristo Arns, em São Paulo.
Foi dom Angélico quem presidiu a Celebração Eucarística no aniversário de Marisa Letícia, em 7 de abril, horas antes de Lula se entregar à Polícia Federal. Na sequência, Lula espera receber a visita de outro velho amigo, o dominicano, Frei Betto. O pedido feito ontem à Boff já foi transmitido a Betto.
A emoção surgida no encontro desta segunda-feira entre quatro paredes acompanhou Boff mesmo depois de ele deixar o prédio da Polícia Federal em Curitiba, onde seu amigo de 40 anos está recolhido, cumprido antecipadamente a pena imposta por um processo viciado, sem provas e sem que a sentença tenha transitado em julgado, como manda a Constituição.
Na primeira tentativa de Rozalvo Finco gravar seu depoimento, o teólogo não escondeu a emoção:
Dona Lindu surgiu na conversa entre os dois amigos quando Boff lembrou a Lula a “essencial necessidade de cultivar o espírito na circunstância solitária” pela qual ele está passando naquela sala transformada em cela. Conforme o teólogo depois relatou a amigos mais próximos.
Boff então lembrou a fé da mãe do ex-presidente, dona Lindu, e recordou a frase que o filho dizia sempre ter ouvido dela: “lute Lula, lute sempre, nunca desista”.
Com essas recordações, o teólogo propôs que nos momentos de solidão Lula não se limitasse “a pedir a intercessão dos tradicionais santos e santas dos altares”, mas também à sua mãe.
Do ex-presidente, Boff ouviu a expectativa de que esse período na prisão tenha um significado maior:
“Essa prisão não deve ser em vão, deve ter um significado maior. Maior do que, eu, maior do que você. No sentido de resgatar a dignidade dos pobres, porque para isso eu entrei na política”.
Diante de tal depoimento, Boff confessou:
“Entrei abatido, pela situação total do Brasil. Escutando Lula, convivendo com ele, vendo o seu espírito para cima, eu saí fortificado. Sai com esperança (…) Eu saí de lá enriquecido, espiritualizado, pela força não só política dele. Pela força que vem de dentro. Uma espiritualidade de nível popular. Não é essa clássica que nós conhecemos. Mas essa que sente quando diz ‘vai com Deus’, ‘fique com Deus’, ‘que Deus lhe abençoe’.”
O encontro dos dois amigos provocou emoção mas também momentos de reflexão de ambos. “Quando nos encontramos e nos abraçamos como irmãos, choramos juntos”, admitiu Boff no vídeo gravado por Finco, o amigo que o acompanhou até a Polícia Federal e depois levou-o ao aeroporto.
“Moro supera a própria mentira” -Na definição de Boff, Lula está “extremamente animado, pra cima”. O próprio ex-presidente tratou de desmentir boatos que circulam há algum tempo, como relatou Boff no vídeo:
“Ele disse que ‘é mentira quando disseram que eu recebo todos os dias, de um soldado, injeção de insulina. É mentira”, complementando em seguida:
“A injeção que recebo, duas vezes ao dia, é o “Bom dia, Lula!” e o “Boa noite, Lula!”. Isso é uma injeção que me dá ânimo. Escuto perfeitamente a partir da minha cela“.
Boff insiste que Lula está muito bem. Segundo relata, o ex-presidente diz que “vai sair de lá mais fortificado, mais decidido e , mais ainda, que ele é candidatíssimo. Pediu que eu declarasse a todo mundo, ele é candidatíssimo”.
Lula, pelo relato do amigo, não perdeu a oportunidade de alfinetar o juiz Sérgio Moro, responsável pela sua condenação e pela antecipação de sua prisão:
“Se o juiz Moro apresentar uma única prova, um pequeno documento que seja, a respeito do triplex, ele renuncia e quer ser preso. Porque não há nenhum documento, não há nenhuma nota, não há nada. Ele mente e se supera na própria mentira.
Na definição de Boff, “se por um lado ele (Lula) se sente muito bem, por outro lado ele tem uma grande indignação. Mas ele recebe esta energia, que ele sente que vem do povo e, especialmente, da verdade que está dentro dele”. Na narrativa de Boff, Lula “acentuou, muito na linha de Gandhi, que a verdade tem a sua força intrínseca, ela vai se manifestar.
Ouviu ainda de Lula a promessa: “Eu vou voltar ainda para servir o povo brasileiro, especialmente os pobres. Quero que eles entrem no orçamento”
Por fim, o teólogo recomenda: “Fiquemos tranquilo, lutemos por Lula, pela democracia e, especialmente, pela liberdade …”
Ao deixar o prédio da Polícia Federal, Leonardo Boff foi presenteado pelo repórter fotográfico Eduardo Matysiak, autor da famosa foto que registrou, no dia 19 de abril o momento de solidão do teólogo sentado junto à guarita da entrada do estacionamento da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba.
Boff, ao lado do amigo Finco, recebeu um quadro com a imagem que rodou mundo e acabou denunciando a indiferença para com um idoso.
Juíza mantém queda de braço – Na mesma segunda-feira em que começaram as visitas de assistência religiosa, a juíza da Vara da Execução Penal de Curitiba, Carolina Moura Lebbos, manteve a queda de braço com a Câmara dos Deputados e a OAB, como noticiado aqui em Para isolar Lula, “República de Curitiba” briga com Câmara e OAB.
Ao manter a sua decisão de impedimento do deputado Wadih Damous de advogar na causa de Lula, ela usou o argumento apresentado pelo Ministério Público Federal da participação da Petrobras – empresa controlada pela União – no processo, como assistente de acusação:
“Não se olvide que o processo de execução penal constitui-se em decorrência da condenação criminal, sendo a ela vinculada, impondo-se como instrumento de garantia da ordem jurídica e da eficácia imperativa das normas penais. Nesse contexto, evidencia-se o impedimento de membro do Poder Legislativo Federal exercer a advocacia em favor do executado, condenado por crime contra a Administração Pública Federal e lavagem de dinheiro, inclusive com o dever de ressarcimento de danos causados em detrimento de sociedade de economia mista, a qual também participou do processo na qualidade de assistente de acusação, nos exatos termos do dispositivo legal acima transcrito“.
Do mesmo modo, ela manteve a decisão anterior impedindo a diligência que a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados havia decidido fazer e que, como noticiado na matéria citada acima, gerou um atrito entre os Poderes Legislativos e Judiciário, levando o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) a impetrar uma Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF 515), junto ao Supremo Tribunal. No despacho desta segunda-feira, a juíza, afastando até a possibilidade levantada pelo MPF de a Comissão especificar os motivos da diligência, manteve a proibição:
“Sem negar-se a relevância da atividade parlamentar, é certo, contudo, que o controle judicial (art. 66, Lei n. 7.210/1984), em hipóteses como a presente, afigura-se relevante e necessário, reitere-se, a fim de garantir o regular cumprimento da pena, a segurança da unidade e seus arredores e o adequado funcionamento da repartição pública, evitando-se a realização de atos não motivados em fatos concretos. Por fim, não obstante o Ministério Público Federal tenha se manifestado pelo prévio esclarecimento dos fatos por sua Excelência o Presidente da Comissão, entende-se que a medida se revelaria ineficaz. Cuidando-se de deliberação colegiada, a mera descrição de fundamentos não submetidos ao crivo dos Parlamentares não supriria o vício de motivação. Portanto, eventuais fatos que possam respaldar o pleito ora deduzido devem ser
concretamente apreciados pelo órgão colegiado e oportunamente, acaso acolhido o pedido,
submetidos ao crivo do Juízo da execução da pena”.
A juíza Carolina Lebbos também manteve a proibição da visita solicitada pela presidente da Comissão de Cidadania e Direitos Humanos do Parlamento do MERCOSUL.
Ela, porém, apesar do parecer contrário do MPF que defendia o atendimento por médicos do estado, concordou com a visita de dois médicos particulares indicados pela defesa do ex-presidente, assim como com a instalação de uma esteira ergométrica para Lula se exercitar, o que foi recomendação médica também.O aparelho já estava na Superintendência desde o terceiro dia após a chegada de Lula ali. Empoeirando, sem uso.
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4 Comentários
[…] primeira, na segunda-feira anterior (07/05) foi do teólogo Leonardo Boff, como mostramos aqui em Dona Lindu fez Lula e Boff chorarem abraçados. Na visita desta segunda-feira dona Lindu, mãe de Lula, voltou a ser lembrada, como relatou Barros […]
Essa juíza, assim como aquele a quem ela representa, o torquemada das araucárias, são o mal personificado; ambos fazem questão de se mostrarem algozes e carrascos nazifascistas em relação ao Ex-Presidente Lula e outras pessoas presas e /ou humilhadas por essa ORCRIM Fraude a Jato. Esses criminosos de Estado hão de pagar pelas maldades que cometem.
Excelente matéria, por aí vemos como nosso país carece de uma imprensa verdadeira e honesta.
Como sempre suas matérias são excelentes. E trazem informações verdadeiras e profundas, como esse diálogo do teólogo Leonardo Boff!