Marcelo Auler
“Eu vou lá para aprender junto com o clero e junto com o povo a serviço. O bispo auxiliar aprende também, a vida é sempre um aprendizado”.
Com essa predisposição, o carioca Edson de Castro Homem, 66 anos, sacerdote há 37 anos, dez dos quais como biso auxiliar da Arquidiocese do Rio de Janeiro, assume hoje (27/06) a Diocese de Iguatu, no Centro Sul cearense – 380 km de Fortaleza – para a qual foi nomeado bispo pelo papa Francisco, no último dia 6 de maio. Uma grande festa está prevista para a sua posse nesta tarde, iniciando-se com um cortejo em carro aberto até a catedral de São José.
Na verdade, dois cariocas estarão “pastoreando” o rebanho de católicos da diocese que abrange 19 municípios e conta com 26 paróquia. Ao lado de dom Edson, muda-se para Iguatu o seminarista José Wallace Pessoa Pinheiro Neto, de 36 anos. Wallace desde os 14 anos dedica-se ao trabalho pastoral tendo atuado, entre outas, nas paróquias de São Tiago (no bairro do Lins de Vasconcelos), Santo Antônio dos Pobres (no Centro da cidade) e Nossa Senhora da Conceição e São José (no Engenho de Dentro).
Iguatu, (palavra indígena que significa água boa, rio bom) é banhada pelo Rio Jaguaribe, conta com 100 mil habitantes (censo de 2014) muito mais próxima de Juazeiro do Norte (157 KM), é um polo econômico na região. Foi grande produtora de algodão e, embora ainda tenha como força econômica a agricultura e pecuária, já possui mais de 70 industrias. É a terra natal do compositor Humberto Teixeira, parceiro de Luiz Gonzaga.
O novo bispo da diocese cearense tem é mestre em Teologia pela PUC do Rio (1979), doutor em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma (1981) e ainda graduou-se em mestre e doutor em Filosofia pela UERJ (respectivamente em 1996 e 2004). Mas, acima dos títulos acadêmicos está sua experiência em paróquias da região norte do Rio, isto é, junto as comunidades de classe média e as mais carentes. Como padre, esteve nas paróquias dos bairros de Inhaúma, Olaria, Honório Gurgel, Padre Miguel e Bangu (estas últimas, na zona Oeste).
Da mesma forma, Wallace tem se dedicado nos últimos anos ao trabalho com os moradores de rua, auxiliando o Monsenhor Gustavo Auler com quem trabalha há quase duas décadas. “A gente consegue ver Cristo nos irmãos e nos pequeninos. É um trabalho muito gratificante”, costuma dizer.
Conforme dom Edson já anunciou, Wallace, que concluiu no Rio o curso de Teologia, deverá ser ordenado padre na nova diocese onde atuará como auxiliar direto do bispo, com o qual trabalha há alguns anos..
Fundamentalismo autoritário – Dom Edson – quarto bispo a assumir a diocese de Iguatu – leva no currículo o trabalho em conjunto com toda a comunidade cristã. Por isso, não é surpresa quando promete “conhecer as forças vivas da Diocese com as quais trabalharei, juntos e unidos em Cristo, para a construção do Reino de Deus”. Ele e Wallace despediram-se do Rio no domingo passado (21/06) com uma missa concelebrada na Paróquia de Nossa Senhora da Conceição e São José, ocasião em que também autografou o seu recente livro “Santo Antônio” (Editora Trindade).
Na conclusão do livro, ao falar das pregações de Santo Antônio, dom Edson n~çao deixa de criticar algumas práticas sacerdotais muito comuns hoje em dia:
“Santo Antônio, quando falava ao povo, era pregador evangélico. Quer dizer, partia dos textos do Evangelho e os relacionava aos do Antigo Testamento, de modo livre e criativo, quase sempre através da interpretação do sentido literal e do recurso a alegorias, tipos, figuras com muita imaginação poética, Permitia-se certas liberdades próprias do discurso e conforme o gosto da época.
A interpretação antoniana contrasta com o fundamentalismo de certos pregadores contemporâneos. Embora quase sempre moralizante, a pregação de Santo Antônio é mais livre que a prisão ao texto de certos oradores televisivos ou midiáticos. Deixando-se aprisionar pelo texto, interpretam tudo ao pé da letra e acabam, sem dar conta, aprisionados à mensagem do texto que precisa ser liberta.
O fundamentalismo rejeita a categoria da ciência, o método histórico-cristão, os avanços da linguística para a interpretação textual. Ignora a intertextualidade dentro do conjunto das Escrituras, Prega o fideísmo, que é a fé sem a razão, sem a história e sem a cultura. Não considera o contexto histórico e social, os gêneros literários e a intenção dos hagiógrafos, isto é, do autor sagrado. é, do autor sagrado. Respeitar o texto, por isso se apega ao que lê. Porém, agride a intenção do texto”.
(…) Todo fundamentalismo é autoritário. Seu autoritarismo é perigoso porque nega ou impede à liberdade do Espírito que sopra onde quer. Gera fanatismo e rigorismo”.